Viagem Fantástica (1966)


Quatro homens e uma mulher embarcam na mais fantástica , espetacular e aterrorizante viagem de suas vidas...

No início dos anos 1980, a famosa “Sessão da Tarde” da “TV Globo” exibia com frequência uma infinidade de nostálgicos clássicos, filmes “B” e outras raridades do cinema de ficção científica do passado, os quais povoaram a nossa imaginação com as mais fantásticas aventuras já concebidas pelo Homem, seja na exploração rumo ao infinito espaço sideral, ou para regiões misteriosas e esquecidas pela humanidade em nosso próprio planeta, ou ainda para o espaço interno, nas profundezas de nossos oceanos, ou até no interior do próprio corpo humano.
Filmes como “Planeta Proibido” (1956), “O Planeta dos Macacos” (68), “Destino: Lua” (51), “A Máquina do Tempo” (60), “O Dia Em Que a Terra Parou” (51), “A Guerra dos Mundos” (53), “Guerra Entre Planetas” (55), “Viagem ao Fundo do Mar” (61), “O Mundo Perdido” (60), “Vampiros de Almas” (56), “Viagem ao Centro da Terra” (59), “A Terra Que o Mundo Esqueceu” (75), “Cidade Submarina” (62), “A Bolha Assassina” (58), “Vinte Mil Léguas Submarinas” (54), “O Homem dos Olhos de Raio-X” (63), “O Incrível Homem Que Encolheu” (57), “Robur, o Conquistador do Mundo” (61), “A Mosca da Cabeça Branca” (58), e muitos outros mais, foram responsáveis por uma quantidade incomensurável de satisfação e puro entretenimento na frente de uma televisão, em momentos que devem ser o máximo possível resgatados, compartilhados, reverenciados e enaltecidos para manter suas memórias e legados eternos na história do cinema fantástico.
Fazendo parte dessa seleta galeria de preciosidades temos também “Viagem Fantástica” (Fantastic Voyage), uma pérola de ficção científica produzida em 1966 mostrando a incrível jornada de uma expedição científica à bordo de um submarino nuclear miniaturizado, através do complexo interior do corpo humano.

Um importante diplomata e cientista, Dr. Jan Benes (Jean Del Val), é o único possuidor de um conhecimento indispensável para o sucesso de um projeto científico militar, disputado pelas principais nações da guerra fria, os Estados Unidos e o “outro lado” (como sempre se referiam à antiga União Soviética e os países da “Cortina de Ferro”, nunca citando nomes). Uma vez decidindo apoiar os americanos (aqueles que acreditam em Deus e nas suas maravilhosas criações, assumindo o óbvio lado do “bem”, na visão deles), ele é recepcionado pelo governo num cuidadoso esquema de segurança, mas que ainda assim não pode evitar um atentado terrorista que feriu gravemente o cientista, deixando-o com um perigoso coágulo sanguíneo no cérebro.
Para salvar sua vida, a única forma encontrada pelos militares americanos foi colocar em prática um projeto desenvolvido secretamente, que consiste na miniaturização de um submarino nuclear levando uma equipe científica selecionada com o objetivo de navegar no interior do corpo do cientista ferido e tentar dissolver o coágulo com disparos precisos de laser. O maior problema é que a missão não pode exceder o tempo de sessenta minutos, pois a partir daí o processo de encolhimento inicia uma reversão automática.
A missão de salvamento é liderada na base de controle por oficiais de alta patente como o General Alan Carter (Edmond O´Brien) e o Coronel Donald Reid (Arthur O´Connell), e a equipe de resgate é comandada pelo chefe Dr. Michaels (Donald Pleasence), como o navegador que além de interpretar os mapas precisa também superar um problema com claustrofobia. Completando o time de especialistas temos ainda o cirurgião cerebral Dr. Peter Duval (Arthur Kennedy) e sua jovem assistente Cora Peterson (a belíssima Rachel Welch), responsáveis pela remoção com laser do coágulo, o projetista e piloto do submarino “Proteus”, Capitão Bill Owens (William Redfield), e finalmente o Dr. Grant (Stephen Boyd), um agente do serviço secreto americano, perito em comunicações e exímio mergulhador, encarregado pela segurança da missão.
A partir daí, com o submarino e sua tripulação reduzidos a um tamanho microscópico, eles embarcam numa “viagem fantástica” no interior do corpo humano, encarando uma infinidade de desafios e mistérios desconhecidos através da corrente sanguínea do célebre cientista, com direito a passagens turbulentas pelo coração, paradas obrigatórias nas regiões do pulmão e ouvido, e enfrentando tentativas de sabotagem durante a perigosa missão, além de ataques furiosos de glóbulos brancos e anticorpos.

“Viagem Fantástica” é um típico exemplar das divertidas produções de ficção científica das décadas de 1950 e 60, mais especificamente aquelas que com um orçamento mais generoso e contando com um elenco expressivo, tentavam traduzir em maravilhosas imagens mais uma incrível aventura até então apenas existente na imaginação dos escritores.
É inevitável o envolvimento com o fascinante show de imagens coloridas do sangue e órgãos internos do corpo humano, levando a humanidade em mais uma viagem pelos caminhos desconhecidos da ciência, após explorar os mistérios das estrelas, a imensidão dos oceanos e as regiões perdidas do nosso planeta. Como toda produção da época, não podiam faltar a sofisticada base secreta militar, localizada em um complexo subterrâneo, as salas de controle com enormes computadores repletos de luzes piscando, o sempre recorrente conflito de poder da guerra fria, com a paranóia nuclear, os atentados terroristas e crimes de sabotagem, além de uma equipe científica encarregada de uma perigosa missão.
Para reforçar o deslumbramento vivido pelo cirurgião Dr. Duval frente às maravilhas que estava presenciando no interior do sofisticado corpo humano, ele fez um comentário especial sobre sua primeira impressão ao navegar pelas veias e artérias no início da viagem: “Os filósofos medievais estavam certos. O Homem é o centro do Universo. Estamos no meio do infinito, entre o espaço interno e o sideral. E não há limites para ambos.”
E também outro pronunciamento quando estava próximo ao cérebro:
“Mesmo que todos os sóis que iluminam os corredores do Universo brilhem menos ante às chamas de um único pensamento, proclamando a glória incandescente: a infinita mente do Homem.”

Curiosamente, “Viagem Fantástica” esteve dois longos anos em produção, utilizando as mais modernas técnicas de efeitos especiais da época, os saudosos anos 1960, e seus idealizadores fizeram questão de ressaltar a importância e grandiosidade do projeto colocando uma nota na abertura do filme onde “agradecem os muitos médicos, técnicos e cientistas pesquisadores, cujo conhecimento e visão ajudaram a guiar a produção do filme”.
O famoso autor de Ficção Científica russo Isaac Asimov (1920/1992) escreveu uma excelente novelização do filme, e posteriormente, um novo livro intitulado “Viagem Fantástica II – Rumo ao Cérebro”, que era para ter se transformado em filme mas o projeto não foi realizado.
“Viagem Fantástica” foi lançado no Brasil em vídeo DVD pela “20th Century Fox Home Entertainment Brasil”, numa rara oportunidade dos apreciadores de enriquecerem suas coleções com mais essa relíquia do cinema fantástico, tendo como ponto negativo apenas a pobreza do material extra que traz apenas um trailer promocional sem legendas em português. “Viagem Fantástica” também recebeu os títulos alternativos de “Microscopia” e ”Strange Journey” em sua distribuição ao redor do mundo.
O cineasta americano Richard Fleischer (1916 / 2006) é dono de uma vasta filmografia onde se aventurou algumas outras vezes no gênero fantástico como em “Vinte Mil Léguas Submarinas” (54), com Kirk Douglas, “Terror Cego” (71), com Mia Farrow, “No Mundo de 2020” (73), com Charlton Heston, “Conan: O Destruidor” (84), com Arnold Schwarzenegger, e “Amityville 3: O Demônio” (83).
O escritor Jerome Bixby, autor da história na qual o filme foi baseado, faleceu aos 73 anos em 1998. Sua contribuição para o cinema fantástico inclui roteiros para as séries de TV “Além da Imaginação” (1959/64) e “Jornada nas Estrelas” (1966/68).
O elenco de “Viagem Fantástica” é uma reunião de grandes nomes do cinema na época destacando-se o ator inglês Donald Pleasence (falecido em 1995 aos 75 anos), mais conhecido como o incansável psiquiatra Dr. Loomis em cinco filmes da franquia do psicopata Michael Myers criada em 1978 por John Carpenter com “Halloween – A Noite do Terror”. Sua participação em filmes de horror e ficção científica é notável numa carreira com quase 200 títulos, destacando a raridade “A Carne e o Diabo” (1959), “Circo dos Horrores” (60), “THX 1138” (71), “Estranhas Mutações” (73), “Tales That Witness Madness” (73), “Vozes do Além” (73), “Drácula” (79), “The Monster Club” (80), “Fuga de New York” (81), “Sozinho no Escuro” (82), “Drácula em Veneza” (86), “Príncipe das Sombras” (87) e “Enterrado Vivo” (89), entre outros mais.
A atriz americana Rachel Welch nasceu em 1940 em Chicago, Illinois e no mesmo ano em que atuou em “Viagem Fantástica” também participou da ficção científica “1000 Séculos A.C.”, da produtora inglesa “Hammer”.

Unindo a imaginação do Homem e a magia da câmera como nunca antes... Levando você numa aventura onde ninguém jamais havia experimentado antes

“Viagem Fantástica” (Fantastic Voyage, 1966) – avaliação: 8 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 08/12/05)

Viagem Fantástica (Fantastic Voyage, Estados Unidos, 1966). 20th Century Fox. Duração: 100 minutos. Direção de Richard Fleischer. Roteiro de Harry Kleiner, a partir de adaptação de David Duncan para a história de Jerome Bixby e Otto Klement. Produção de Saul David. Música de Leonard Rosenman. Fotografia de Ernest Laszlo. Edição de William B. Murphy. Direção de Arte de Dale Hennsy e Jack Martin Smith. Elenco: Stephen Boyd (Dr. Grant), Rachel Welch (Cora Peterson), Edmond O´Brien (General Alan Carter), Donald Pleasence (Dr. Michaels), Arthur O´Connell (Coronel Donald Reid), William Redfield (Capitão Bill Owens), Arthur Kennedy (Dr. Peter Duval), Jean Del Val (Dr. Jan Benes), Barry Coe, Ken Scott, Shelby Grant, James Brolin, Brendan Fitzgerald, Brendan Boone.