“Matar um homem é uma coisa infernal. Você tira tudo o que ele tem, e o que poderia ter um dia.” – William Munny
Certa vez, no início da década de 1990, fui ao Cine Marabá, localizado na Avenida Ipiranga, centro de São Paulo, para assistir um filme de western chamado “Os Imperdoáveis” (Unforgiven, 1992). Western é um dos gêneros cinematográficos que mais aprecio, juntamente com o Horror, Ficção Científica e Guerra.
Sou um apreciador de cinema e já assisti quase 400 filmes em tela grande e o interessante é que, com “Os Imperdoáveis” aconteceu um fato inédito até então e único até hoje: entrei na sala de exibição, vi o filme de 131 minutos, ao terminar levantei-me da poltrona, iniciei a caminhada pelo longo corredor até a saída e..., antes de sair resolvi sentar novamente em outra poltrona e inevitavelmente conferi o filme mais uma vez (naquela época podia-se fazer isso tranquilamente, não existiam os complexos cinemas que invadiram as grandes cidades, e os quais não permitem ver uma sessão após a outra do mesmo filme, a não ser que se pague novamente). Esse acontecimento apenas comprovou o incrível fascínio que o filme exercia sobre os apreciadores de western.
Os filmes sobre o fascinante velho oeste americano estavam em baixa naquela época, pois praticamente não estavam sendo produzidas fitas sobre o tema. O assunto estava bem desgastado, tendo seu ápice no passado com dezenas de filmes extraordinários que marcaram a história do gênero no cinema. Dezenas de clássicos imortais, ou mesmo uma enormidade de filmes menores com produções de baixo orçamento, já tinham sido lançados e todos os elementos característicos já haviam sido largamente e muito bem explorados. O drama dos índios expulsos de suas terras, os confrontos entre eles e os soldados da cavalaria americana, a corrida em busca de ouro, as cidades violentas e sem lei, os solitários pistoleiros assassinos e frios, os ranchos e grandes fazendas, a condução de gado, o início das ferrovias, os assaltos aos bancos, os xerifes, diligências, cavalos, bares, prostitutas, whisky, enforcamentos, duelos, tiroteios, brigas, cadeias, caçadores de recompensas, tudo já havia sido filmado à exaustão em centenas de excepcionais e divertidos filmes ao longo principalmente dos anos 1930 a 1970.
Porém, o multifuncional Clint Eastwood resolveu revitalizar o western e produziu, dirigiu e estrelou o clássico moderno “Os Imperdoáveis”, com um excelente roteiro de David Webb Peoples que traz os elementos típicos do gênero numa história ambientada em 1880 sobre um famoso pistoleiro aposentado que se vê obrigado a voltar à ativa para ganhar dinheiro e garantir o sustento de seus filhos pequenos.
William Munny (Clint Eastwood) foi um criminoso bêbado e assassino cruel no passado, mas agora ele vive num pequeno sítio com seus dois filhos, Will (Shane Meier) e Penny (Aline Levasseur). A esposa Claudia, a responsável por fazê-lo parar com a bebida e largar a vida de crime, morreu há três anos, e Munny tenta cuidar de seus filhos com uma criação de porcos. Os negócios vão mal quando coincidentemente aparece um jovem chamado “The Schofield Kid” (apelido dado em função da marca do revólver que usa), interpretado por Jaimz Woolvett, que lhe oferece a oportunidade de ser seu parceiro para ganhar uma recompensa de US$ 1 mil. A tarefa era matar dois vaqueiros, Quick Mike (David Mucci) e Davey Bunting (Rob Campbell), que haviam retalhado o rosto de uma prostituta, Delilah Fitzgerald (Anna Thomson), na pequena cidade de Big Whiskey, no Wyoming. A recompensa era oferecida por outras prostitutas, lideradas por Strawberry Alice (Frances Fisher), além de Silky (Benerley Elliott), Faith (Lusa Repo-Martell), Little Sue (Tara Dawn Frederick) e Crow Creek Kate (Josie Smith), as quais trabalhavam num bar de propriedade do cafetão Skinny Dubois (Anthony James).
Munny aceita o desafio e convida um antigo parceiro de crimes no passado, Ned Logan (Morgan Freeman), e juntos partem para a missão de executar os vaqueiros. Como concorrente para ganhar a recompensa aparece também um famoso e trapaceiro pistoleiro inglês, English Bob (Richard Harris), acompanhado de um jornalista que estava escrevendo sua biografia sensacionalista, W. W. Beauchamp (Saul Rubinek). Porém, o inglês logo é expulso da cidade por um antigo desafeto, Little Bill Daggett (Gene Hackman), atual xerife de Big Whiskey e personalidade muito conhecida por sua bravura e habilidade com o revólver.
Daggett é o arquétipo do homem “durão” do velho oeste, temido por todos, conhecido por sua ficha com uma alta contagem de mortos, e defensor da lei num estilo próprio, utilizando-se de violência para resolver os problemas e incidentes. Ao surrar e expulsar o pistoleiro English Bob de sua cidade, ele passou a ser acompanhado agora por Beauchamp, que decidiu abandonar o inglês mentiroso (suas façanhas eram “inventadas”) e preferiu entrevistar o xerife Litlle Bill, que também tinha muitos casos para contar.
O experiente xerife sempre dizia que num tiroteio vencia na maioria das vezes quem tivesse a cabeça mais fria, com controle do medo e reações, para estudar a melhor forma de agir. A rapidez no gatilho nem sempre significava a vitória.
E isso era verdadeiro e a principal virtude de Munny, principalmente após ter abandonado a vida de criminoso e assassino há dez anos, e consequentemente perdido parte de seus reflexos e habilidades de matador. Formando um novo grupo com o jovem Kid (que era míope e nunca havia matado alguém) e o experiente parceiro Logan, eles rumam para realizar sua árdua tarefa de assassinar os homens que machucaram a prostituta e enfrentam uma série de problemas e situações desfavoráveis para conseguir o objetivo.
“Os Imperdoáveis” tem tudo que um bom filme de western necessita ter: um pistoleiro cruel, um xerife “durão”, uma pequena cidade, um bar com prostitutas, e um acerto de contas. Com uma bela fotografia de montanhas, planícies e vales, além de sequências filmadas à noite e com chuva forte, o filme reserva cenas antológicas que mesmo feitas na década de 1990 merecem e devem figurar entre as mais significativas da história do gênero (tanto que a fita ganhou o cobiçado prêmio “Oscar” em quatro categorias: melhor filme, direção, montagem e ator coadjuvante para Gene Hackman).
A sequência do tiroteio passada num bar, envolvendo Munny sedento de vingança e o xerife Little Bill com seus assistentes, é fenomenal e inesquecível, parcialmente retratada pelos diálogos abaixo:
Little Bill: “Você é William Munny, do Missouri, matador de mulheres e crianças.”
Munny: “Isso mesmo. Já matei mulheres e crianças. Já matei quase tudo que anda ou rasteja. Estou aqui para matar você, Little Bill. Pelo que fez com Ned.”...
Little Bill: ... “Eu não mereço isso... morrer assim. Estou construindo uma casa.”
Munny: “Merecer não tem nada a ver com isso.”
Little Bill: “Verei você no inferno, William Munny.”
Munny: “Sim.”...
Munny: ... “Agora vou sair daqui! Quem aparecer na minha frente, vai morrer! Qualquer desgraçado que atirar em mim, não só mato ele, mato a mulher dele, todos os amigos dele e queimo a casa dele! É melhor ninguém atirar!”
“Os Imperdoáveis” tem um elenco principal formado por quatro grandes nomes do cinema, os quais por si só já despertam interesse em conhecer qualquer filme em que participam. Clint Eastwood criou sua própria produtora, a “Malpaso”, e com esse clássico moderno do western ele definitivamente comprovou seu talento com ator e até diretor. Gene Hackman é um ator característico de papéis com personagens intensos, “durões”, com performances sempre convincentes. Morgan Freeman forma ao lado de Samuel L. Jackson e Denzel Washington o pódio dos melhores atores negros da atualidade na indústria de cinema dos Estados Unidos. E o veterano ator irlandês Richard Harris sempre foi responsável por atuações marcantes em sua consagrada carreira como nos dois primeiros filmes da popular saga de fantasia do bruxo “Harry Potter” (“Harry Potter e a Pedra Filosofal”, 2001, e “Harry Potter e a Câmara Secreta”, 2002), como o professor Dumbledore. Infelizmente ele morreu em 25/10/02 aos 72 anos, deixando um legado de filmes que imortalizaram sua imagem no cinema.
Concluindo este artigo como forma de tributo e homenagem, vou utilizar um pequeno trocadilho, mas que ilustra perfeitamente o conteúdo desse texto: “Imperdoável” é não assistir e reverenciar “Os Imperdoáveis”...
“Os Imperdoáveis” (Unforgiven, 1992) – avaliação: 9,5 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 09/12/05)
Os Imperdoáveis (Unforgiven, Estados Unidos, 1992). Warner Bros. / Malpaso. Duração: 131 minutos. Disponível em vídeo VHS e DVD no Brasil pela “Warner”. Direção e produção de Clint Eastwood. Roteiro de David Webb Peoples. Fotografia de Jack N. Green. Música de Lennie Niehaus. Elenco: Clint Eastwood, Morgan Freeman, Gene Hackman, Jaimz Woolvett, Saul Rubinek, Frances Fisher, Anna Thomson, David Mucci, Rob Campbell, Anthony James, Tara Dawn Frederick, Benerley Elliott, Lusa Repo-Martell, Josie Smith, Shane Meier, Aline Levasseur.
Certa vez, no início da década de 1990, fui ao Cine Marabá, localizado na Avenida Ipiranga, centro de São Paulo, para assistir um filme de western chamado “Os Imperdoáveis” (Unforgiven, 1992). Western é um dos gêneros cinematográficos que mais aprecio, juntamente com o Horror, Ficção Científica e Guerra.
Sou um apreciador de cinema e já assisti quase 400 filmes em tela grande e o interessante é que, com “Os Imperdoáveis” aconteceu um fato inédito até então e único até hoje: entrei na sala de exibição, vi o filme de 131 minutos, ao terminar levantei-me da poltrona, iniciei a caminhada pelo longo corredor até a saída e..., antes de sair resolvi sentar novamente em outra poltrona e inevitavelmente conferi o filme mais uma vez (naquela época podia-se fazer isso tranquilamente, não existiam os complexos cinemas que invadiram as grandes cidades, e os quais não permitem ver uma sessão após a outra do mesmo filme, a não ser que se pague novamente). Esse acontecimento apenas comprovou o incrível fascínio que o filme exercia sobre os apreciadores de western.
Os filmes sobre o fascinante velho oeste americano estavam em baixa naquela época, pois praticamente não estavam sendo produzidas fitas sobre o tema. O assunto estava bem desgastado, tendo seu ápice no passado com dezenas de filmes extraordinários que marcaram a história do gênero no cinema. Dezenas de clássicos imortais, ou mesmo uma enormidade de filmes menores com produções de baixo orçamento, já tinham sido lançados e todos os elementos característicos já haviam sido largamente e muito bem explorados. O drama dos índios expulsos de suas terras, os confrontos entre eles e os soldados da cavalaria americana, a corrida em busca de ouro, as cidades violentas e sem lei, os solitários pistoleiros assassinos e frios, os ranchos e grandes fazendas, a condução de gado, o início das ferrovias, os assaltos aos bancos, os xerifes, diligências, cavalos, bares, prostitutas, whisky, enforcamentos, duelos, tiroteios, brigas, cadeias, caçadores de recompensas, tudo já havia sido filmado à exaustão em centenas de excepcionais e divertidos filmes ao longo principalmente dos anos 1930 a 1970.
Porém, o multifuncional Clint Eastwood resolveu revitalizar o western e produziu, dirigiu e estrelou o clássico moderno “Os Imperdoáveis”, com um excelente roteiro de David Webb Peoples que traz os elementos típicos do gênero numa história ambientada em 1880 sobre um famoso pistoleiro aposentado que se vê obrigado a voltar à ativa para ganhar dinheiro e garantir o sustento de seus filhos pequenos.
William Munny (Clint Eastwood) foi um criminoso bêbado e assassino cruel no passado, mas agora ele vive num pequeno sítio com seus dois filhos, Will (Shane Meier) e Penny (Aline Levasseur). A esposa Claudia, a responsável por fazê-lo parar com a bebida e largar a vida de crime, morreu há três anos, e Munny tenta cuidar de seus filhos com uma criação de porcos. Os negócios vão mal quando coincidentemente aparece um jovem chamado “The Schofield Kid” (apelido dado em função da marca do revólver que usa), interpretado por Jaimz Woolvett, que lhe oferece a oportunidade de ser seu parceiro para ganhar uma recompensa de US$ 1 mil. A tarefa era matar dois vaqueiros, Quick Mike (David Mucci) e Davey Bunting (Rob Campbell), que haviam retalhado o rosto de uma prostituta, Delilah Fitzgerald (Anna Thomson), na pequena cidade de Big Whiskey, no Wyoming. A recompensa era oferecida por outras prostitutas, lideradas por Strawberry Alice (Frances Fisher), além de Silky (Benerley Elliott), Faith (Lusa Repo-Martell), Little Sue (Tara Dawn Frederick) e Crow Creek Kate (Josie Smith), as quais trabalhavam num bar de propriedade do cafetão Skinny Dubois (Anthony James).
Munny aceita o desafio e convida um antigo parceiro de crimes no passado, Ned Logan (Morgan Freeman), e juntos partem para a missão de executar os vaqueiros. Como concorrente para ganhar a recompensa aparece também um famoso e trapaceiro pistoleiro inglês, English Bob (Richard Harris), acompanhado de um jornalista que estava escrevendo sua biografia sensacionalista, W. W. Beauchamp (Saul Rubinek). Porém, o inglês logo é expulso da cidade por um antigo desafeto, Little Bill Daggett (Gene Hackman), atual xerife de Big Whiskey e personalidade muito conhecida por sua bravura e habilidade com o revólver.
Daggett é o arquétipo do homem “durão” do velho oeste, temido por todos, conhecido por sua ficha com uma alta contagem de mortos, e defensor da lei num estilo próprio, utilizando-se de violência para resolver os problemas e incidentes. Ao surrar e expulsar o pistoleiro English Bob de sua cidade, ele passou a ser acompanhado agora por Beauchamp, que decidiu abandonar o inglês mentiroso (suas façanhas eram “inventadas”) e preferiu entrevistar o xerife Litlle Bill, que também tinha muitos casos para contar.
O experiente xerife sempre dizia que num tiroteio vencia na maioria das vezes quem tivesse a cabeça mais fria, com controle do medo e reações, para estudar a melhor forma de agir. A rapidez no gatilho nem sempre significava a vitória.
E isso era verdadeiro e a principal virtude de Munny, principalmente após ter abandonado a vida de criminoso e assassino há dez anos, e consequentemente perdido parte de seus reflexos e habilidades de matador. Formando um novo grupo com o jovem Kid (que era míope e nunca havia matado alguém) e o experiente parceiro Logan, eles rumam para realizar sua árdua tarefa de assassinar os homens que machucaram a prostituta e enfrentam uma série de problemas e situações desfavoráveis para conseguir o objetivo.
“Os Imperdoáveis” tem tudo que um bom filme de western necessita ter: um pistoleiro cruel, um xerife “durão”, uma pequena cidade, um bar com prostitutas, e um acerto de contas. Com uma bela fotografia de montanhas, planícies e vales, além de sequências filmadas à noite e com chuva forte, o filme reserva cenas antológicas que mesmo feitas na década de 1990 merecem e devem figurar entre as mais significativas da história do gênero (tanto que a fita ganhou o cobiçado prêmio “Oscar” em quatro categorias: melhor filme, direção, montagem e ator coadjuvante para Gene Hackman).
A sequência do tiroteio passada num bar, envolvendo Munny sedento de vingança e o xerife Little Bill com seus assistentes, é fenomenal e inesquecível, parcialmente retratada pelos diálogos abaixo:
Little Bill: “Você é William Munny, do Missouri, matador de mulheres e crianças.”
Munny: “Isso mesmo. Já matei mulheres e crianças. Já matei quase tudo que anda ou rasteja. Estou aqui para matar você, Little Bill. Pelo que fez com Ned.”...
Little Bill: ... “Eu não mereço isso... morrer assim. Estou construindo uma casa.”
Munny: “Merecer não tem nada a ver com isso.”
Little Bill: “Verei você no inferno, William Munny.”
Munny: “Sim.”...
Munny: ... “Agora vou sair daqui! Quem aparecer na minha frente, vai morrer! Qualquer desgraçado que atirar em mim, não só mato ele, mato a mulher dele, todos os amigos dele e queimo a casa dele! É melhor ninguém atirar!”
“Os Imperdoáveis” tem um elenco principal formado por quatro grandes nomes do cinema, os quais por si só já despertam interesse em conhecer qualquer filme em que participam. Clint Eastwood criou sua própria produtora, a “Malpaso”, e com esse clássico moderno do western ele definitivamente comprovou seu talento com ator e até diretor. Gene Hackman é um ator característico de papéis com personagens intensos, “durões”, com performances sempre convincentes. Morgan Freeman forma ao lado de Samuel L. Jackson e Denzel Washington o pódio dos melhores atores negros da atualidade na indústria de cinema dos Estados Unidos. E o veterano ator irlandês Richard Harris sempre foi responsável por atuações marcantes em sua consagrada carreira como nos dois primeiros filmes da popular saga de fantasia do bruxo “Harry Potter” (“Harry Potter e a Pedra Filosofal”, 2001, e “Harry Potter e a Câmara Secreta”, 2002), como o professor Dumbledore. Infelizmente ele morreu em 25/10/02 aos 72 anos, deixando um legado de filmes que imortalizaram sua imagem no cinema.
Concluindo este artigo como forma de tributo e homenagem, vou utilizar um pequeno trocadilho, mas que ilustra perfeitamente o conteúdo desse texto: “Imperdoável” é não assistir e reverenciar “Os Imperdoáveis”...
“Os Imperdoáveis” (Unforgiven, 1992) – avaliação: 9,5 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 09/12/05)
Os Imperdoáveis (Unforgiven, Estados Unidos, 1992). Warner Bros. / Malpaso. Duração: 131 minutos. Disponível em vídeo VHS e DVD no Brasil pela “Warner”. Direção e produção de Clint Eastwood. Roteiro de David Webb Peoples. Fotografia de Jack N. Green. Música de Lennie Niehaus. Elenco: Clint Eastwood, Morgan Freeman, Gene Hackman, Jaimz Woolvett, Saul Rubinek, Frances Fisher, Anna Thomson, David Mucci, Rob Campbell, Anthony James, Tara Dawn Frederick, Benerley Elliott, Lusa Repo-Martell, Josie Smith, Shane Meier, Aline Levasseur.