Um dos grandes clássicos do cinema de horror de todos os tempos, “Halloween – A Noite do Terror” (Halloween, 1978) foi um dos precursores dos filmes com “serial killers”, introduzindo o psicopata Michael Myers e sua enorme faca, que ao lado de Jason Voorhees (“Sexta-Feira 13”), Freddy Krueger (“A Hora do Pesadelo”) e Leatherface (“O Massacre da Serra Elétrica”), está imortalizado na galeria dos famosos monstros modernos do cinema. Criação do cineasta John Carpenter, responsável por inúmeras produções de ficção científica e horror, que é a sua especialidade, “Halloween” impulsionou toda uma safra de filmes de psicopatas ao longo dos anos seguintes, e também uma longa sequência de continuações, numa das mais populares e rentáveis franquias do gênero.
A história começa na pequena cidade americana de Haddonfield, Illinois, numa noite em 1963 quando um estranho menino de apenas seis anos de idade, Michael Myers, se apossa de uma enorme faca de cozinha e ataca violentamente sua irmã Judith que ainda estava despida após um rápido relacionamento sexual com seu namorado que havia se retirado pouco tempo antes. O garoto, fantasiado de palhaço e com uma máscara cobrindo o rosto, desfere vários golpes mortais com sua faca banhando de sangue a irmã mais velha de forma aleatória. Após o criminoso ato, ele sai para fora de casa no momento em que chegam seus pais de carro e o encontram segurando a faca ensanguentada e após tirar a máscara, constatam seu olhar frio e completamente fora da realidade.
Após o crime, ele é internado num hospício numa cidade distante 250 Km porém ainda em Illinois (Smith´s Grove), e lá fica por 15 longos anos, sob a tutela do psiquiatra Dr. Sam Loomis (interpretado pelo grande ator Donald Pleasence). Porém, na noite de 30 de outubro de 1978, no famoso Halloween (a festa do dia das bruxas nos Estados Unidos), quando o Dr. Loomis e uma enfermeira assistente chegam no hospital psiquiátrico para cumprirem uma decisão judicial e levarem Michael Myers para um interrogatório policial (o que seria bem difícil, pois o psicopata nunca disse uma única palavra no cárcere), eles são surpreendidos por uma fuga dos pacientes do manicômio e Myers consegue escapar utilizando o carro do psiquiatra (mais tarde em um diálogo do Dr. Loomis com o responsável pelo hospício, o roteiro tentou explicar essa gafe alegando que alguém havia ensinado o psicopata a dirigir).
O esperto maníaco se dirigiu então para sua cidade natal de Haddonfield, trocando de roupas na estrada ao atacar e matar um motorista de um furgão, e se instalando na sua antiga casa, agora abandonada e considerada pela vizinhança como assombrada. Ele fica rondando a região, violando o túmulo de sua irmã roubando a lápide de pedra do cemitério, matando a fome comendo literalmente um cachorro, e roubando uma máscara e facas de um armazém, além de espionar as ações de uma jovem estudante, Laurie Strode (interpretada pela “scream queen” Jamie Lee Curtis, papel que impulsionou sua carreira e que a marcou para sempre).
Laurie é babá nas horas de folga e motivo de gozação para seus amigos devido à timidez com namorados, e ela sente-se constantemente observada por um vulto estranho quando está na escola, casa ou rua, e que mais tarde saberia que era Michael Myers que retornava para continuar seu legado de sangue, atacando e matando violentamente três de seu amigos e perseguindo-a implacavelmente. Para combater o psicopata, estava em seu rastro o incansável Dr. Loomis, que veio à Haddonfield para avisar as autoridades locais de sua suspeita do retorno de Myers ao local do antigo crime.
Após muita correria e gritos, Laurie é salva do psicopata pelo Dr. Loomis que dispara vários tiros de revólver no assassino despencando-o do alto de um sobrado para o jardim e... o maníaco desaparece para poder continuar sua saga no cinema... (aliás, o filme que veio a seguir começa exatamente nessa última cena do original, algo raro e bem criativo).
A despeito das inúmeras e inevitáveis falhas de roteiro e clichês habituais do gênero, “Halloween” é considerado hoje um clássico por ser um dos pioneiros na introdução de psicopatas “imortais” e “indestrutíveis” no cinema e pela criação das hoje populares franquias de filmes de horror com suas séries intermináveis. Para se ter uma idéia, a saga “Sexta-Feira 13”, iniciada em 1980 num filme dirigido por Sean S. Cunningham, está hoje com dez partes e ainda tem uma produção de 2003 de um filme “crossover” envolvendo um confronto entre o psicopata Jason Voorhees e seu rival Freddy Krueger, de outra franquia de sucesso, “A Hora do Pesadelo”.
O diretor John Carpenter, hoje cultuado por uma legião de fãs de seus inúmeros filmes de FC &Horror, é sempre lembrado por ser o responsável por “Halloween” e criador de Michael Myers. Ele nasceu em 16 de janeiro de 1948 em New York e sua carreira tem sido delineada pelo gênero fantástico em filmes como “Dark Star” (1974), “Fog – A Bruma Assassina” (79), “Fuga de New York” (81), “O Enigma de Outro Mundo” (82, refilmagem do clássico de 1951 “O Monstro do Ártico”), “Christine - O Carro Assassino” (83, baseado em livro de Stephen King), “Starman – O Homem das Estrelas” (84, que virou série de TV), “Os Aventureiros do Bairro Proibido” (86), “O Príncipe das Sombras” (87), “Eles Vivem” (88), “Memórias de um Homem Invisível” (92), “À Beira da Loucura” (94), “A Cidade dos Amaldiçoados” (95, refilmagem do clássico de 1960 “Aldeia dos Amaldiçoados”), “Fuga de Los Angeles” (96), “Vampiros” (98) e “Fantasmas de Marte” (2001).
O ator Donald Pleasence interpretou o mesmo personagem (Dr. Loomis) durante todos os filmes da série Halloween, exceto nas partes 3 (cujo filme está fora do ambiente de Michael Myers) e 7 e 8 (filmados após sua morte em 95) e juntamente com os também falecidos Bela Lugosi, Boris Karloff, Lon Chaney, Vincent Price, Peter Cushing, John Carradine e Peter Lorre, e do ainda vivo Christopher Lee, foi um dos grandes vilões do cinema do horror de todos os tempos. Nascido em 5 de outubro de 1919 em Worksop, Inglaterra, e falecido em 2 de fevereiro de 1995 em St. Paul de Vence, França, ele participou de aproximadamente 150 filmes de todos os gêneros, na maioria como coadjuvante, porém ficou marcado e é muito lembrado por suas participações em filmes de horror como “A Carne e o Diabo” (1959, ao lado de Peter Cushing), “Circo dos Horrores” (60), “Viagem Fantástica” (66), “THX 1138” (71), “Estranhas Mutações” (73), “Drácula” (79), “Fuga de New York” (81), “Drácula em Veneza” (86), “Príncipe das Sombras” (87) e “Enterrado Vivo” (89), entre outros.
A atriz Jamie Lee Curtis nasceu em Los Angeles em 22 de novembro de 1958, sendo filha de artistas, do casal de atores Tony Curtis e Janet Leigh, e sua estréia no cinema ocorreu em “Halloween”. Com esse filme e outros que fez em seguida, ela ficou conhecida como “scream queen” ou “rainha do grito”, termo utilizado para definir uma atriz ligada aos filmes de horror com gritaria e
sustos. Sua participação em filmes fantásticos é pequena mas ela sempre é lembrada por sua atuação nos dois primeiros filmes da série “Halloween” e mais recentemente por voltar em “Halloween H20” (1998). Em sua filmografia destacam-se “Fog – A Bruma Assassina”, “Fuga de New York”, “Trocando as Bolas” (83), “Um Peixe Chamado Wanda” (88), “Meu Primeiro Amor” (91), “Eternamente Jovem” (92), “True Lies” (95, com Arnold Schwarzenegger), “Vírus” (99) e “O Alfaiate do Panamá” (2001).
Algumas curiosidades interessantes podem ser observadas em “Halloween”, como o fato de apenas ocorrerem quatro mortes durante o filme inteiro, e apenas três foram mostradas (de duas amigas de Laurie e do namorado de uma delas, e ainda assim de forma pouco explícita). Isso mostra uma diferença grande em relação aos filmes posteriores de séries como “Sexta-Feira 13” e “A Hora do Pesadelo”, ou ainda mais recentemente com “Pânico”, onde os assassinatos chegam a dezenas por filme, de todas as formas previsíveis, ficando a cargo do público apenas esperar para descobrir quantos morreriam e de que maneira. Esse excesso de violência gratuita banalizou um pouco os filmes de psicopatas, pois os roteiros deixaram de priorizar a qualidade dos argumentos em detrimento de situações óbvias com mortes fáceis de adolescentes idiotas. “Halloween” deu mais importância para o envolvimento da história, o suspense que envolve o público com o surgimento de um psicopata assassino à espreita no meio da noite. Os próprios filmes seguintes dessa franquia não mantiveram a mesma linha do original e utilizaram os mesmos recursos baratos de excesso de sangue desnecessário nas produções similares de Jason Voorhees e Freddy Krueger.
Todos os modernos psicopatas do cinema tem suas próprias características. Assim como Jason Voorhees utiliza uma máscara de jogador de hóquei (a partir do terceiro filme, pois no segundo ele esconde o rosto com um saco de papelão, e no original o assassino é na verdade sua insana mãe), Freddy Krueger tem o rosto deformado por queimaduras, utiliza uma camisa listrada e uma mortal luva de facas em uma das mãos, e Leatherface utiliza uma máscara de pele humana e uma motoserra para dilacerar suas vítimas, Michael Myers também utiliza uma máscara para cobrir seu rosto e prefere uma enorme faca de cozinha para retalhar seus inimigos. Em “Halloween” percebemos também sua respiração ofegante durante todo os momentos em que aparece, mostrando talvez uma dificuldade em respirar sob a máscara.
Alguns temas musicais de filmes de horror são tão bem elaborados que tornam-se eternamente lembrados e associados às suas origens, como notamos por exemplo na música da famosa cena do assassinato no chuveiro do psicopata Norman Bates (Anthony Perkins) no clássico “Psicose” (1960), dirigido por Alfred Hitchcoch, ou no tema da série de televisão “Além da Imaginação” (1959-64), criada por Rod Serling, ou ainda na balada do clássico absoluto “O Exorcista” (1973), de William Friedkin. Em “Halloween”, o tema musical de autoria também de John Carpenter, é uma balada ao piano memorável e sempre associada ao filme, que também se junta ao grupo de temas inesquecíveis do cinema de horror.
“Halloween” é claramente um filme de produção de baixo orçamento, com um custo de apenas trezentos mil dólares, e que graças ao talento de Carpenter e do elenco tornou-se altamente rentável com um excelente faturamento nas bilheterias e transformando-se num filme cultuado por uma imensa legião de fãs do gênero ao redor do mundo. No Brasil, existe um site de grande qualidade especializado na franquia, onde se encontra tudo sobre a série como resenhas de todos os filmes, artigos, notícias, informações diversas, curiosidades, fotos, links, biografias dos artistas, etc. O fanzine virtual é editado por Alexandre Sobrino e pode ser acessado no endereço: “Halloween: o site brasileiro de Michael Myers” – http://www.myers.cjb.net
Outro detalhe interessante, e que vemos com frequência no cinema, são as homenagens que os diretores fazem em seus filmes referenciando outras produções do passado. Nesse caso de “Halloween”, quando a babá Laurie está tomando conta de duas crianças, a televisão exibia cenas de dois grandes clássicos da ficção científica mundial. Trata-se de “O Monstro do Ártico” (The Thing), filmado em 1951 por Howard Hawks pela RKO, e “Planeta Proibido” (Forbidden Planet, 1956) da MGM, onde aparece a nostálgica cena em que uma nave espacial aterrissa lentamente no planeta Altair IV. Foram duas justíssimas e oportunas homenagens que John Carpenter proporcionou em seu filme. Aliás, em 1996 foi a vez de “Halloween” ser homenageado por Wes Craven quando numa cena de “Pânico”, um grupo de adolescentes assistem ao clássico de Carpenter na televisão e reverenciam Jamie Lee Curtis.
A saga de Michael Myers teve ainda mais 7 sequências, todas lançadas em vídeo VHS no Brasil e inferiores ao filme de 1978: “Halloween 2” (Halloween 2, 1981), de Rick Rosenthal, co-roteirizado por Carpenter e lançado pela Tec Home (este é o único no mesmo nível do original); “Halloween 3 – A Noite das Bruxas” (Halloween 3 – Season of the Witch, 1982) de Tommy Lee Wallace e o único sem nenhuma ligação com a série (em VHS pela VTI); “Halloween 4” (Halloween 4, the Return of Michael Myers, 1988), de Dwight Little e lançado pela Top Tape; “Halloween 5” (Halloween 5, 1989), de Dominique Othenin-Girard (Top Tape); “Halloween 6 – A Última Vingança” (Halloween – The Curse of Michael Myers, 1995), de Joe Chappelle (Play Arte); e “Halloween H20 – Vinte Anos Depois” (Halloween H20 – Twenty Years Later, 1998), de Steve Miner (Paris Filmes).
E já estreou a oitava parte da franquia, dando continuidade à série sangrenta do imortal psicopata do dia das bruxas. Trata-se de “Halloween: Ressurreição” (Halloween: Resurrection, 2002), com direção de Rick Rosenthal (o mesmo da parte 2) e novamente a presença da atriz Jamie Lee Curtis. A história fala de alguns estudantes universitários que foram selecionados para passar uma noite na casa onde viveu Michael Myers na infância com transmissão ao vivo pela internet, e que são surpreendidos como o aparecimento do psicopata, sedento por sangue.
Por sorte, “Halloween” é frequentemente exibido na televisão e felizmente para os fãs e colecionadores do cinema de horror estão disponíveis as versões em vídeo VHS (pela Reserva Especial) e DVD (lançado encartado na Revista Set Terror e Ficção # 1, Outubro de 2001, Editora Peixes), para que o filme possa ser imortalizado, apreciado e reverenciado como uma das produções de grande importância para história do gênero fantástico. E principalmente como um exercício nostálgico de puro entretenimento, ou seja, uma noite de terror...
Em tempo:
1) Considerado o nome mais importante na equipe de produção de todos os oito filmes da saga “Halloween”, do psicopata mascarado Michael Myers, o sírio Moustapha Akkad morreu tragicamente junto com sua filha na explosão de uma bomba de um atentado terrorista no hotel em que estavam hospedados na Jordânia, em 11/11/05. Nascido em 1930, o produtor teve seu nome vinculado à série em todos os filmes, e já estava trabalhado na pré-produção de “Halloween 9”. Resta especular sobre o futuro da série, que agora não terá mais seu principal produtor...
2) Numa dica de Felipe Campos Faria, outra curiosidade que merece registro é a homenagem de “Halloween” ao filme “Psicose”, de Alfred Hitchcock, através da escolha do nome do doutor Sam Loomis, que é o mesmo do personagem do namorado de Marion Crane (Janet Leigh), que por sua vez, quando se hospeda no misterioso “Hotel Bates”, se identificou como Marie Sammuels.
“Halloween – A Noite do Terror” (Halloween, 1978) – avaliação: 8,5 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 10/12/05)
Halloween – A Noite do Terror (Halloween, Estados Unidos, 1978). Duração: 90 minutos. Direção e música de John Carpenter. Produção de Debra Hill. Produção Executiva de Moustapha Akkad. Roteiro de John Carpenter e Debra Hill. Fotografia de Dean Cundey. Maquiagem de Erica Ulland. Elenco: Jamie Lee Curtis, Donald Pleasence, Nancy Loomis, P. J. Soles, Charles Cyphers, Kyle Richards, Tony Moran, Will Sandin, Brian Andrews.
“Halloween – A Noite do Terror” (Halloween, 1978) – avaliação: 8,5 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 10/12/05)
Halloween – A Noite do Terror (Halloween, Estados Unidos, 1978). Duração: 90 minutos. Direção e música de John Carpenter. Produção de Debra Hill. Produção Executiva de Moustapha Akkad. Roteiro de John Carpenter e Debra Hill. Fotografia de Dean Cundey. Maquiagem de Erica Ulland. Elenco: Jamie Lee Curtis, Donald Pleasence, Nancy Loomis, P. J. Soles, Charles Cyphers, Kyle Richards, Tony Moran, Will Sandin, Brian Andrews.