O Planeta dos Macacos (The Planet of the Apes, 1968)


O PLANETA DOS MACACOS: UMA MENSAGEM PARA A HUMANIDADE

Certa vez, em 1990, o premiado fanzine de arte fantástica MEGALON, editado por Marcello Simão Branco, realizou uma interessante pesquisa entre seus leitores sobre quais seriam os 10 maiores filmes de Ficção Científica de todos os tempos. Isso é uma tarefa muito difícil pois rapidamente é possível relacionarmos pelo menos uns 30 filmes que poderiam constar dessa lista tranquilamente. O que não deveria mudar é o primeiro, aquele que encabeça a lista e que nos atrai mais do que a qualquer outro. E na minha lista dos dez, sempre será O Planeta dos Macacos (The Planet of the Apes, 1968) e mais nove.
Eu já perdi a conta de quantas vezes assisti esse clássico insuperável e cada vez é uma diversão que se renova. Eu aprecio toda a saga, desde os cinco filmes para o cinema, a série de televisão, os desenhos animados, quadrinhos, o novo filme de 2001 dirigido por Tim Burton, etc., mas especialmente o primeiro filme, aquele que deu origem a todo esse universo ficcional “ape”, é o mais marcante.
Existe uma identificação muito grande com os astronautas que viajaram para o espaço e retornaram para casa dois mil anos depois, encontrando uma Terra devastada pela guerra, e o pior, sem saberem inicialmente disso. E pior ainda, descobrindo mais tarde que seu planeta agora é dominado por macacos falantes e supostamente inteligentes.

(Atenção: o texto a seguir contém spoilers)

Do grupo de quatro astronautas da expedição, a mulher (Stewart), para sua sorte morre durante a viagem, devido a falhas no sistema de preservação da vida e, após a queda da nave num lago, os três homens sobreviventes partem em missão exploratória, atravessando uma rigorosa região desértica até encontrarem água e vegetação. Um deles (Dodge), morre numa caçada feita pelos macacos, e um outro que também fora capturado (Landon) sofre uma lobotomia em seu cérebro tornando-se um ser vegetativo. Resta apenas o capitão George Taylor (o ótimo Charlton Heston), um terráqueo sem família e meio anti-social, a quem acompanhamos a trajetória num mundo hostil e desconhecido, sendo ele o último representante de uma raça inteligente que outrora dominou a Terra, já que os humanos remanescentes dessa época pós-apocalíptica são irracionais e submissos aos macacos.
Taylor recebe um tiro na garganta durante a caçada dos macacos, que o impossibilita de falar por algum tempo, e isto aumenta ainda mais o seu drama de ser caçado, maltratado, humilhado e aprisionado, tudo em silêncio, apesar de suas tentativas de comunicação. Sua sorte começou a melhorar quando um casal de cientistas chimpanzés, Dra. Zira (Kim Hunter) e Cornelius (Roddy McDowall), o entendem e tentam ajudá-lo. Mas logo desaba quando surge o respeitado orangotango Dr. Zaius (Maurice Evans), Ministro da Ciência e Defensor Supremo da Fé (estranho, pois ciência e crença não caminham exatamente juntas), que demonstra conhecer o segredo da antiga raça humana e que a teme devido aos seus instintos assassinos e de auto-destruição.
Para não ser lobotizado e ter seu cérebro destruído pelo Dr. Zaius, Taylor foge, ajudado por Zira, Cornelius e Lucius (sobrinho adolescente e rebelde de Zira, interpretado por Lou Wagner). Todos vão para a temida Zona Proibida, uma região pouco explorada pelos macacos e conhecida como misteriosa e mortal pelas antigas escrituras símias.
Lá, após confronto com seu oponente Dr. Zaius e seu exército de gorilas, Taylor parte pela orla marítima em busca de sua sobrevivência, acompanhado por sua companheira nesse novo mundo, Nova (Linda Harrison), uma humana inferior, cujo sangue salvou sua vida, numa necessária transfusão devido ao seu ferimento na garganta.
O espectador inevitavelmente se identifica com o drama de Taylor, o astronauta perdido num planeta selvagem e dominado por macacos, e o acompanha numa trajetória de sobrevivência e de busca por conhecimento e a verdade.
E no final (um dos mais espetaculares de toda a história do cinema), o público sente a mesma ira e indignação quando Taylor encontra, perdido e solitário na beira da praia, o último símbolo (as ruínas da famosa Estátua da Liberdade) de uma raça outrora dominante no planeta, e que após atingir seu ápice como civilização inteligente (?), declarou guerra e se auto-destruiu, mostrando para o astronauta que na verdade ele está em casa e é o último representante da antiga humanidade, cujo Dr. Zaius tanto temia sabiamente por seus instintos assassinos.

Um clássico absoluto da Ficção Científica e criador de toda uma saga posterior e uma legião fiel de fãs no mundo inteiro, O Planeta dos Macacos deixou a sua marca na história e uma mensagem muito importante para a humanidade, no sentido de concentrar todo o esforço tecnológico e científico para o progresso pacífico e desenvolvimento da civilização, em vez de permitir que os interesses egoístas dos seres humanos prevalecessem e os levasse ao caos e à extinção.

"Meu Deus! Eu voltei. Estou em casa... o tempo todo. Nós finalmente conseguimos fazer isto! Seus maníacos! Vocês explodiram tudo! Seus malditos! Que Deus os condene todos ao inferno!"
- Capitão George Taylor, ao encontrar as ruínas da Estátua da Liberdade.

“O Planeta dos Macacos” (The Planet of the Apes, 1968) – avaliação: 10 (de 0 a 10)

(postado em 08/12/05)