“Entraremos numa dimensão não só de imagem e som, mas da mente. Sua fronteira ultrapassa a imaginação. Um cartaz diz: Próxima Parada: Além da Imaginação”
Esse é um dos textos alternativos de abertura da fantástica série de televisão “Além da Imaginação” (The Twilight Zone, 1959/64), criada por Rod Serling e que apresentava histórias de viagens no tempo, mundos paralelos, andróides, alienígenas, viagens espaciais, fantasmas, vampiros e demônios. Um dos maiores méritos da série era justamente conseguir contar histórias fascinantes ambientadas na “Zona do Crepúsculo” (do nome original), ou “Além da Imaginação” (no igualmente interessante nome nacional), com poucos recursos, orçamentos mínimos para a produção, utilizando na maioria das vezes poucos cenários e atores, e com casos de apenas um único cenário e um único ator, como é o caso do episódio “Os Invasores” (The Invaders), exibido pela primeira vez nos Estados Unidos em 27 de Janeiro de 1961.
Aliás, esse episódio é um daqueles que você vê uma vez e não se esquece jamais, de tão marcante que é a história, e que fica na nossa lembrança para sempre. Episódios como “Onde Estão Todos?”, “Tempo Suficiente”, “Terceiro Planeta do Sol”, “A Nave da Morte”, “O Túmulo Submerso”, e vários outros, são inesquecíveis para quem aprecia uma boa história de Horror e Ficção Científica. Eu assisti “Os Invasores” pela primeira vez há muitos anos atrás numa rara mostra de séries de TV promovida pelo extinto fanzine “E No Próximo Episódio...”, em versão original sem legendas. O fato de estar sem legendas não trazia grandes problemas, pois o filme tem apenas uma fala e no final, e era perfeitamente possível entender o que estava acontecendo. Somente agora, muito tempo depois, é que pude assistir novamente através do lançamento de um DVD pela “Global”, contendo três episódios curtos da série, e entre eles “Os Invasores”.
É muito difícil abordar esse episódio sem revelar importantes “spoilers”, portanto para quem não viu ainda e não quer saber os detalhes reveladores, a sugestão é não ler as informações que seguem abaixo. Mas se você já teve o prazer de assistir ou não viu ainda mas está curioso e tem dificuldade em conseguir uma forma de ver esse episódio em particular, prepara-se então para mergulhar na “Zona do Crepúsculo”...
“Os Invasores”, assim como todos os episódios da série, inicia com uma narração de Rod Serling introduzindo algumas informações sobre a história que será apresentada:
“Este é um lugar longe de tudo, um lugar onde ninguém vem. Abandonado, quase morto. É uma casa de fazenda. Feita à mão, rústica, uma casa sem eletricidade e sem gás. Uma casa onde o progresso não chegou.”
“Esta é a mulher que mora na casa. Uma mulher que vive sozinha há muitos anos. Uma mulher forte, cujo único problema até agora era se alimentar. Uma mulher que está para encarar o terror que está chegando agora da zona Além da Imaginação.”
O episódio inicia mostrando uma mulher já idosa (Agnes Moorehead), que vive reclusa numa casa simples de madeira no meio do mato, preparando seu jantar num enorme caldeirão no fogo. Concentrada no que estava fazendo, ela de repente ouve um ruído estranho e muito alto vindo do telhado, e logo depois percebe que algo pesado se chocou contra o teto, a ponto dela perder o equilíbrio e cair no chão, além da formação de uma nuvem de poeira que preencheu a cozinha.
Ela decide subir por uma escada e checar o que houve no telhado. Para sua surpresa, ela encontra uma nave em forma de um disco voador, que aterrissou no topo de sua casa. Enquanto desconfiava o que poderia ser aquele estranho objeto, uma plataforma se abre no disco e uma criatura pequenina sai de seu interior, utilizando uma roupa especial como armadura (parecendo na verdade um pequeno robô de brinquedo, enfatizando o baixo orçamento para a produção do episódio). Assustada, a mulher reage ao invasor e o agride, enquanto uma outra criatura igual também sai da nave e a ataca com uma espécie de arma que emite uns ruídos típicos daquelas pistolas dos filmes bagaceiros de ficção científica.
A partir daí, começa uma intensa batalha entre a enorme mulher e os seres invasores pequeninos, com direito a um intenso clima de suspense no confronto entre eles. De um lado, uma mulher solitária e apenas querendo se defender e proteger sua casa. De outro, dois seres invasores totalmente desconhecidos, vindos numa misteriosa nave voadora, com propósitos de explorar um ambiente diferente e trazendo consigo o terror.
A guerra entre a mulher e os invasores do espaço vai aumentando gradativamente sua intensidade de violência e luta pela sobrevivência de ambos os lados, num interessante jogo de gato e rato na escuridão da casa, iluminada apenas pela luz fraca de arcaicas lamparinas. A mulher luta bravamente por sua vida, mesmo dispondo de recursos precários para se defender como um pedaço de madeira e um machado, e que de tão descabelada e babando de forma desenfreada, mais parece um monstro desesperado. Já os pequeninos invasores, protegidos por uma roupa especial e armados, pareciam estar em vantagem acuando a pobre mulher dentro de sua própria casa.
Depois de uma intensa luta, um dos invasores é brutalmente morto pela mulher, que se utilizando do fato de ser gigante em relação a eles, conseguiu capturar um com as mãos e matá-lo chocando-o violentamente contra um banco de madeira, e jogando-o logo em seguida para queimar no fogo de uma lareira. O outro invasor, revoltado, ainda tentou contra atacar mas preferiu fugir em direção à nave.
Porém, antes que ele pudesse levantar vôo, a mulher gigante sobe rapidamente no telhado e munida de um pequeno machado estraçalha o objeto voador com uma enorme série de golpes. Em meio às fortes pancadas desferidas pela mulher, alucinada em destruir a nave, surge a única fala de todo o episódio, na voz desesperada de um astronauta prestes a morrer.
“Controle central, responda! Controle central, está ouvindo? Graston está morto! Repito, Graston está morto! A nave está destruída! Incrível raça de gigantes aqui! Raça de gigantes... Pare, Controle Central! Não ataque! Repito, não ataque! É demais para nós. São poderosos. Afastem-se daqui! Vou morrer... É o meu fim... Afastem-se! Afastem-se!...”
A câmera então faz uma tomada da mulher segurando o machado, depois da nave destruída, e por fim focalizando uma inscrição no disco voador revelando ser originário da Terra... Os invasores eram seres humanos, pequenos homens exploradores do espaço sideral, e que encontraram a morte ao invadirem um mundo povoado por seres gigantes...
O narrador Rod Serling retorna então e encerra mais uma excepcional história passada na “Zona do Crepúsculo”, com as seguintes palavras:
“Estes eram os invasores, seres minúsculos de um minúsculo lugar chamado Terra, que se lançaram ao espaço para chegar à interrogação que acena na imensidão do Universo que é só imaginado. Os invasores viram que esta viagem é sem volta e pagaram um alto preço. E vimos agora a penetração na razão que recobre as transações com o Universo. Uma nota pronta e que é encontrada vazia na zona Além da Imaginação”.
Entre as curiosidades destaca-se o fato da nave de “Os Invasores”, com seu formato tipicamente de um tradicional disco voador, ser a mesma que apareceu num outro episódio igualmente excepcional da série chamado “A Nave da Morte” (Death Ship), de 50 minutos, escrito por Richard Matheson, pertencente à quarta temporada e exibido pela primeira vez em 07/02/1963. Dirigido por Don Medford, o elenco tinha rostos conhecidos da televisão naquela época como Ross Martin (o Artemus Gordon de “James West”) e Jack Klugman. A mesma nave foi também utilizada anteriormente no clássico da Ficção Científica “Planeta Proibido” (Forbidden Planet, 1956), de Fred McLeod Wilcox e com Walter Pidgeon, Leslie Nielsen, Anne Francis e Warren Stevens, além do famoso robô Robby, um dos mais fascinantes de toda a história do gênero. No filme, a nave é o imponente Cruzador Interplanetário C-57D, criado pela humanidade para percorrer longas distâncias no espaço sideral e colonizar planetas desconhecidos.
Outros detalhes curiosos são que a única fala do filme, em seu trágico desfecho, foi feita pelo próprio diretor Douglas Heyes, e a única atriz do episódio foi interpretada pela veterana Agnes Moorehead (1900/1974), mais conhecida como a bruxa Endora, mãe de Samantha Stephens (Elizabeth Montgomery), na divertida série de TV “A Feiticeira” (Bewitched, 1964/72).
O escritor americano Rodman Edward Serling nasceu em 25/12/1924 em Syracuse, New York, e faleceu em 28/06/1975, devido a complicações coronárias por ser um fumante obsessivo. Entre seus trabalhos no cinema fantástico, destaca-se o roteiro do clássico da Ficção Científica “O Planeta dos Macacos” (68), além de ser o criador e apresentador de séries como “Além da Imaginação” (filmada em preto e branco e que teve 138 episódios de 25 minutos e mais 18 com 50 minutos), e “Galeria do Terror” (Night Gallery, 1970/73).
A maioria dos episódios de “Além da Imaginação” foram escritos por Rod Serling e por outros dois escritores igualmente consagrados, Charles Beaumont e Richard Matheson. Aliás, Matheson nasceu em 1926 e suas histórias aparecem em uma infinidade de filmes divertidos como “O Incrível Homem Que Encolheu” (57) e o mais recente “Ecos do Além” (99), ou ainda “Mortos Que Matam” (64) e “A Última Esperança Sobre a Terra” (71), produzidos a partir de seu livro de vampiros “Eu Sou a Lenda”. Sua contribuição como roteirista inclui a série de filmes baseada na obra de Edgar Allan Poe e dirigida por Roger Corman, com “A Queda da Casa de Usher” (60), “O Poço e o Pêndulo” (61), “Muralhas do Pavor” (62) e “O Corvo” (63), além de outros como “Robur, o Conquistador do Mundo” (61), “Farsa Trágica” (64), “As Bodas de Satã” (68), “Encurralado” (71), “A Casa da Noite Eterna” (73) e “Drácula” (73), este com Jack Palance no papel do vampiro.
O DVD da série clássica “Além da Imaginação” lançado no Brasil ainda traz outros dois episódios, igualmente interessantes.
“Noite de Natal” (Night of the Meek), também chamado de “A Noite dos Humildes”, é o número 47, exibido pela primeira vez em 23/12/1960, com direção de Jack Smight, escrito por Rod Serling e estrelado por Art Carney, John Fiedler e Burt Mustin. É uma fábula sobre um homem bêbado e angustiado, Henry Corwin (Art Carney), que trabalha numa loja de departamentos na época do natal, vestindo uma roupa de Papai Noel para tentar alegrar as crianças, porém uma experiência fantástica iria mudar completamente os rumos de sua vida.
“Nada no Escuro” (Nothing in the Dark), é o episódio número 81, exibido pela primeira vez em 05/01/1962, dirigido por Lamont Johnson, escrito por George Clayton Johnson, e estrelado por Robert Redford, Gladys Cooper e R. G. Armstrong. Uma senhora idosa, Wanda Dunn (Gladys Cooper) está há muito tempo isolada em sua casa, não saindo para nada, com medo da chegada da morte para levá-la. Porém, quando um jovem policial, Harold Beldon (o consagrado astro Robert Redford, em início de carreira), é baleado e pede ajuda à velha senhora, ela aprende que a morte pode não ser tão horrível assim.
Entre o material extra temos apenas uma biografia de Rod Serling e uma sinopse resumida de cada episódio (com direito até à revelação de um importante “spoiler” no caso de “Os Invasores”). Na capa do DVD está anunciado um documentário especial chamado “Por Dentro de Além da Imaginação” que não está incluso, numa falha grotesca e desrespeito ao colecionador que comprou o DVD. Aliás, o disco foi lançado em Março de 2003, mas desapareceu do mercado rapidamente, sendo muito difícil encontrar ainda cópias disponíveis nas lojas, e a coleção infelizmente não teve prosseguimento, sendo que foi lançado apenas esse disco com três episódios e descrito como “Volume 1”.
“Além da Imaginação – Os Invasores” (The Twilight Zone, 1959/64 – The Invaders, 27/01/61) – artigo # 233 – data: 31/03/04
avaliação: 10 (de 0 a 10) – site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 06/12/05)
“Além da Imaginação” (The Twilight Zone, Estados Unidos, 1959/64). Metro-Goldwyn-Mayer – O episódio “Os Invasores”, tema desse artigo, pertence à segunda temporada da série, de 1960/61, número 51, exibido pela primeira vez na televisão americana em 27/01/1961. “Os Invasores” (The Invaders) – Roteiro de Richard Matheson. Produção de Buck Houghton. Direção de Douglas Heyes. Fotografia de George T. Clemens. Música de Jerry Goldsmith. Elenco: Agnes Moorehead (Mulher), Douglas Heyes (Voz do astronauta). Duração: 25 minutos. Preto e Branco.
Esse é um dos textos alternativos de abertura da fantástica série de televisão “Além da Imaginação” (The Twilight Zone, 1959/64), criada por Rod Serling e que apresentava histórias de viagens no tempo, mundos paralelos, andróides, alienígenas, viagens espaciais, fantasmas, vampiros e demônios. Um dos maiores méritos da série era justamente conseguir contar histórias fascinantes ambientadas na “Zona do Crepúsculo” (do nome original), ou “Além da Imaginação” (no igualmente interessante nome nacional), com poucos recursos, orçamentos mínimos para a produção, utilizando na maioria das vezes poucos cenários e atores, e com casos de apenas um único cenário e um único ator, como é o caso do episódio “Os Invasores” (The Invaders), exibido pela primeira vez nos Estados Unidos em 27 de Janeiro de 1961.
Aliás, esse episódio é um daqueles que você vê uma vez e não se esquece jamais, de tão marcante que é a história, e que fica na nossa lembrança para sempre. Episódios como “Onde Estão Todos?”, “Tempo Suficiente”, “Terceiro Planeta do Sol”, “A Nave da Morte”, “O Túmulo Submerso”, e vários outros, são inesquecíveis para quem aprecia uma boa história de Horror e Ficção Científica. Eu assisti “Os Invasores” pela primeira vez há muitos anos atrás numa rara mostra de séries de TV promovida pelo extinto fanzine “E No Próximo Episódio...”, em versão original sem legendas. O fato de estar sem legendas não trazia grandes problemas, pois o filme tem apenas uma fala e no final, e era perfeitamente possível entender o que estava acontecendo. Somente agora, muito tempo depois, é que pude assistir novamente através do lançamento de um DVD pela “Global”, contendo três episódios curtos da série, e entre eles “Os Invasores”.
É muito difícil abordar esse episódio sem revelar importantes “spoilers”, portanto para quem não viu ainda e não quer saber os detalhes reveladores, a sugestão é não ler as informações que seguem abaixo. Mas se você já teve o prazer de assistir ou não viu ainda mas está curioso e tem dificuldade em conseguir uma forma de ver esse episódio em particular, prepara-se então para mergulhar na “Zona do Crepúsculo”...
“Os Invasores”, assim como todos os episódios da série, inicia com uma narração de Rod Serling introduzindo algumas informações sobre a história que será apresentada:
“Este é um lugar longe de tudo, um lugar onde ninguém vem. Abandonado, quase morto. É uma casa de fazenda. Feita à mão, rústica, uma casa sem eletricidade e sem gás. Uma casa onde o progresso não chegou.”
“Esta é a mulher que mora na casa. Uma mulher que vive sozinha há muitos anos. Uma mulher forte, cujo único problema até agora era se alimentar. Uma mulher que está para encarar o terror que está chegando agora da zona Além da Imaginação.”
O episódio inicia mostrando uma mulher já idosa (Agnes Moorehead), que vive reclusa numa casa simples de madeira no meio do mato, preparando seu jantar num enorme caldeirão no fogo. Concentrada no que estava fazendo, ela de repente ouve um ruído estranho e muito alto vindo do telhado, e logo depois percebe que algo pesado se chocou contra o teto, a ponto dela perder o equilíbrio e cair no chão, além da formação de uma nuvem de poeira que preencheu a cozinha.
Ela decide subir por uma escada e checar o que houve no telhado. Para sua surpresa, ela encontra uma nave em forma de um disco voador, que aterrissou no topo de sua casa. Enquanto desconfiava o que poderia ser aquele estranho objeto, uma plataforma se abre no disco e uma criatura pequenina sai de seu interior, utilizando uma roupa especial como armadura (parecendo na verdade um pequeno robô de brinquedo, enfatizando o baixo orçamento para a produção do episódio). Assustada, a mulher reage ao invasor e o agride, enquanto uma outra criatura igual também sai da nave e a ataca com uma espécie de arma que emite uns ruídos típicos daquelas pistolas dos filmes bagaceiros de ficção científica.
A partir daí, começa uma intensa batalha entre a enorme mulher e os seres invasores pequeninos, com direito a um intenso clima de suspense no confronto entre eles. De um lado, uma mulher solitária e apenas querendo se defender e proteger sua casa. De outro, dois seres invasores totalmente desconhecidos, vindos numa misteriosa nave voadora, com propósitos de explorar um ambiente diferente e trazendo consigo o terror.
A guerra entre a mulher e os invasores do espaço vai aumentando gradativamente sua intensidade de violência e luta pela sobrevivência de ambos os lados, num interessante jogo de gato e rato na escuridão da casa, iluminada apenas pela luz fraca de arcaicas lamparinas. A mulher luta bravamente por sua vida, mesmo dispondo de recursos precários para se defender como um pedaço de madeira e um machado, e que de tão descabelada e babando de forma desenfreada, mais parece um monstro desesperado. Já os pequeninos invasores, protegidos por uma roupa especial e armados, pareciam estar em vantagem acuando a pobre mulher dentro de sua própria casa.
Depois de uma intensa luta, um dos invasores é brutalmente morto pela mulher, que se utilizando do fato de ser gigante em relação a eles, conseguiu capturar um com as mãos e matá-lo chocando-o violentamente contra um banco de madeira, e jogando-o logo em seguida para queimar no fogo de uma lareira. O outro invasor, revoltado, ainda tentou contra atacar mas preferiu fugir em direção à nave.
Porém, antes que ele pudesse levantar vôo, a mulher gigante sobe rapidamente no telhado e munida de um pequeno machado estraçalha o objeto voador com uma enorme série de golpes. Em meio às fortes pancadas desferidas pela mulher, alucinada em destruir a nave, surge a única fala de todo o episódio, na voz desesperada de um astronauta prestes a morrer.
“Controle central, responda! Controle central, está ouvindo? Graston está morto! Repito, Graston está morto! A nave está destruída! Incrível raça de gigantes aqui! Raça de gigantes... Pare, Controle Central! Não ataque! Repito, não ataque! É demais para nós. São poderosos. Afastem-se daqui! Vou morrer... É o meu fim... Afastem-se! Afastem-se!...”
A câmera então faz uma tomada da mulher segurando o machado, depois da nave destruída, e por fim focalizando uma inscrição no disco voador revelando ser originário da Terra... Os invasores eram seres humanos, pequenos homens exploradores do espaço sideral, e que encontraram a morte ao invadirem um mundo povoado por seres gigantes...
O narrador Rod Serling retorna então e encerra mais uma excepcional história passada na “Zona do Crepúsculo”, com as seguintes palavras:
“Estes eram os invasores, seres minúsculos de um minúsculo lugar chamado Terra, que se lançaram ao espaço para chegar à interrogação que acena na imensidão do Universo que é só imaginado. Os invasores viram que esta viagem é sem volta e pagaram um alto preço. E vimos agora a penetração na razão que recobre as transações com o Universo. Uma nota pronta e que é encontrada vazia na zona Além da Imaginação”.
Entre as curiosidades destaca-se o fato da nave de “Os Invasores”, com seu formato tipicamente de um tradicional disco voador, ser a mesma que apareceu num outro episódio igualmente excepcional da série chamado “A Nave da Morte” (Death Ship), de 50 minutos, escrito por Richard Matheson, pertencente à quarta temporada e exibido pela primeira vez em 07/02/1963. Dirigido por Don Medford, o elenco tinha rostos conhecidos da televisão naquela época como Ross Martin (o Artemus Gordon de “James West”) e Jack Klugman. A mesma nave foi também utilizada anteriormente no clássico da Ficção Científica “Planeta Proibido” (Forbidden Planet, 1956), de Fred McLeod Wilcox e com Walter Pidgeon, Leslie Nielsen, Anne Francis e Warren Stevens, além do famoso robô Robby, um dos mais fascinantes de toda a história do gênero. No filme, a nave é o imponente Cruzador Interplanetário C-57D, criado pela humanidade para percorrer longas distâncias no espaço sideral e colonizar planetas desconhecidos.
Outros detalhes curiosos são que a única fala do filme, em seu trágico desfecho, foi feita pelo próprio diretor Douglas Heyes, e a única atriz do episódio foi interpretada pela veterana Agnes Moorehead (1900/1974), mais conhecida como a bruxa Endora, mãe de Samantha Stephens (Elizabeth Montgomery), na divertida série de TV “A Feiticeira” (Bewitched, 1964/72).
O escritor americano Rodman Edward Serling nasceu em 25/12/1924 em Syracuse, New York, e faleceu em 28/06/1975, devido a complicações coronárias por ser um fumante obsessivo. Entre seus trabalhos no cinema fantástico, destaca-se o roteiro do clássico da Ficção Científica “O Planeta dos Macacos” (68), além de ser o criador e apresentador de séries como “Além da Imaginação” (filmada em preto e branco e que teve 138 episódios de 25 minutos e mais 18 com 50 minutos), e “Galeria do Terror” (Night Gallery, 1970/73).
A maioria dos episódios de “Além da Imaginação” foram escritos por Rod Serling e por outros dois escritores igualmente consagrados, Charles Beaumont e Richard Matheson. Aliás, Matheson nasceu em 1926 e suas histórias aparecem em uma infinidade de filmes divertidos como “O Incrível Homem Que Encolheu” (57) e o mais recente “Ecos do Além” (99), ou ainda “Mortos Que Matam” (64) e “A Última Esperança Sobre a Terra” (71), produzidos a partir de seu livro de vampiros “Eu Sou a Lenda”. Sua contribuição como roteirista inclui a série de filmes baseada na obra de Edgar Allan Poe e dirigida por Roger Corman, com “A Queda da Casa de Usher” (60), “O Poço e o Pêndulo” (61), “Muralhas do Pavor” (62) e “O Corvo” (63), além de outros como “Robur, o Conquistador do Mundo” (61), “Farsa Trágica” (64), “As Bodas de Satã” (68), “Encurralado” (71), “A Casa da Noite Eterna” (73) e “Drácula” (73), este com Jack Palance no papel do vampiro.
O DVD da série clássica “Além da Imaginação” lançado no Brasil ainda traz outros dois episódios, igualmente interessantes.
“Noite de Natal” (Night of the Meek), também chamado de “A Noite dos Humildes”, é o número 47, exibido pela primeira vez em 23/12/1960, com direção de Jack Smight, escrito por Rod Serling e estrelado por Art Carney, John Fiedler e Burt Mustin. É uma fábula sobre um homem bêbado e angustiado, Henry Corwin (Art Carney), que trabalha numa loja de departamentos na época do natal, vestindo uma roupa de Papai Noel para tentar alegrar as crianças, porém uma experiência fantástica iria mudar completamente os rumos de sua vida.
“Nada no Escuro” (Nothing in the Dark), é o episódio número 81, exibido pela primeira vez em 05/01/1962, dirigido por Lamont Johnson, escrito por George Clayton Johnson, e estrelado por Robert Redford, Gladys Cooper e R. G. Armstrong. Uma senhora idosa, Wanda Dunn (Gladys Cooper) está há muito tempo isolada em sua casa, não saindo para nada, com medo da chegada da morte para levá-la. Porém, quando um jovem policial, Harold Beldon (o consagrado astro Robert Redford, em início de carreira), é baleado e pede ajuda à velha senhora, ela aprende que a morte pode não ser tão horrível assim.
Entre o material extra temos apenas uma biografia de Rod Serling e uma sinopse resumida de cada episódio (com direito até à revelação de um importante “spoiler” no caso de “Os Invasores”). Na capa do DVD está anunciado um documentário especial chamado “Por Dentro de Além da Imaginação” que não está incluso, numa falha grotesca e desrespeito ao colecionador que comprou o DVD. Aliás, o disco foi lançado em Março de 2003, mas desapareceu do mercado rapidamente, sendo muito difícil encontrar ainda cópias disponíveis nas lojas, e a coleção infelizmente não teve prosseguimento, sendo que foi lançado apenas esse disco com três episódios e descrito como “Volume 1”.
“Além da Imaginação – Os Invasores” (The Twilight Zone, 1959/64 – The Invaders, 27/01/61) – artigo # 233 – data: 31/03/04
avaliação: 10 (de 0 a 10) – site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 06/12/05)
“Além da Imaginação” (The Twilight Zone, Estados Unidos, 1959/64). Metro-Goldwyn-Mayer – O episódio “Os Invasores”, tema desse artigo, pertence à segunda temporada da série, de 1960/61, número 51, exibido pela primeira vez na televisão americana em 27/01/1961. “Os Invasores” (The Invaders) – Roteiro de Richard Matheson. Produção de Buck Houghton. Direção de Douglas Heyes. Fotografia de George T. Clemens. Música de Jerry Goldsmith. Elenco: Agnes Moorehead (Mulher), Douglas Heyes (Voz do astronauta). Duração: 25 minutos. Preto e Branco.