Banquete de Sangue (Blood Feast, EUA, 1963)

    

Herschell Gordon Lewis (1926 / 2016) tornou-se conhecido por ser um dos primeiros cineastas a mostrar sangue e vísceras explicitamente, apesar de forma extremamente amadora.

Em 1963 ele dirigiu “Banquete de Sangue” (Blood Feast), lançado em vídeo VHS no Brasil pela “Sunrise” e já fora de catálogo há muito tempo, um filme com produção paupérrima, roteiro fraquíssimo e cheio de falhas, atores medíocres, mas que garante um bom entretenimento e registrou o seu lugar na lista dos filmes indispensáveis para os fãs do horror.

 

Atenção: O texto a seguir contém spoilers.

 

Um antiquário psicopata e serial killer (de invejar os experientes Jason Voorhees e Michael Myers, das séries Sexta-Feira 13 e Halloween respectivamente) chamado Fuad Ramses, adorador da antiga princesa egípcia Ishtar, a Mãe das Trevas, tenta revivê-la através de um culto ofertado com o sangue e vísceras cozidos de jovens garotas. Para obter a oferenda de seu ritual, ele mutila brutalmente suas vítimas das mais grotescas maneiras.

Logo no início do filme, a primeira jovem é assassinada numa banheira com uma facada no olho esquerdo e uma de suas pernas é amputada. Aqui já nota-se a extrema precariedade da produção, onde o maníaco desfere vários golpes na garota e em seu facão não aparece uma única gota de sangue. Porém, as cenas de violência são bastante ousadas, principalmente pela época das filmagens.

A segunda vítima teve parte de seu cérebro extraído, quando namorava inocentemente na escuridão de uma praia. O idiota de seu companheiro, ao acordar de um golpe na cabeça, gritava tanto histericamente para a polícia ao falar da tragédia, que fazia com que o espectador torcesse para que tivesse sido ele a vítima.

O mais interessante nesse filme obscuro é a totalmente fora do comum trilha musical, também a cargo do próprio H. G. Lewis, com batidas de tambor sinistras e pausadas, misturadas com sons fúnebres de órgãos e violinos, criando um clima extremamente macabro às cenas de mortes, muito violentas por sinal.

Mais alguns assassinatos acontecem, uma garota tem a sua língua arrancada, outra tem seu rosto violentamente desfigurado e outra fornece seu sangue virgem após ser chicoteada sadicamente. E em meio a tudo isso, dois policiais completamente incompetentes tentam encontrar em vão pistas do psicopata.

Os diálogos são incrivelmente óbvios, que juntamente com a interpretação amadora dos atores e um roteiro artificial, temos como resultado um filme divertido, principalmente por ser tão ruim de forma não proposital.

O psicopata é convidado a preparar um exótico jantar para uma festa de aniversário e ele aproveita a ocasião para realizar seu ritual de adoração à Ishtar. Após quase matar a sua última vítima, a aniversariante, a polícia consegue milagrosamente e depois de incontáveis esforços, seguir o seu rastro e aparece, obrigando-o a fugir. A mãe da garota quase vítima ainda foi a autora da hilariante frase: “Acho que os convidados não irão jantar mais!”, mostrando um incrível humor negro de Lewis, dentro de um filme completamente perturbador.

O assassino é então perseguido pela polícia fugindo a pé (não sei como conseguia, pois sendo manco e arrastando pesadamente uma das pernas, os incompetentes policiais nem chegavam perto), e indo em direção a um depósito de lixo, abriga-se dentro da carroceria de um caminhão triturador de lixo, e é impiedosamente esmagado.

Enfim, um filme sinistro e cheio de falhas, extremamente barato e ruim, mas marcante para o cinema de violência explícita, sendo um de seus precursores. Herschell Gordon Lewis ainda continuou sua obra cinematográfica “splatter” ao longo da década de 60 com diversas outras produções igualmente de baixo orçamento, como 2.000 Maníacos (também lançado em VHS no Brasil) e Color Me Blood Red, ambas em 1964, The Gruesome Twosome (66), A Taste of Blood (67), She-Devils on Wheels e The Wizard of Gore (68), e The Gore-Gore Girls (71).

Em 1987 tivemos uma refilmagem chamada “Blood Diner”, de Jackie Kong, com elementos de humor negro, e em 2016 teve outra refilmagem, “Blood Feast”, de Marcel Walz. Curiosamente, em 2002 o próprio Lewis dirigiu uma sequência chamada “Blood Feast 2: All U Can Eat”.

 

Banquete de Sangue” (Blood Feast, 1963)

avaliação: 5 (de 0 a 10)

site: www.bocadoinferno.com.br

blog: www.juvenatrix.blogspot.com.br

(postado em 07/12/05)

 

Banquete de Sangue (Blood Feast, Estados Unidos, 1963). Duração: 75 minutos. Sunrise Vídeo (VHS). Direção, fotografia e música de Herschell Gordon Lewis. Produção de David F. Friedman. Roteiro de Allison Louise Downe. Elenco: Thomas Wood, Connie Mason, Mal Arnold, Lyn Bolton, Toni Calvert, Scott H. Hall.