“Quando o Morcego voa... Alguém morre.”
O que podemos esperar de um filme do final dos anos 50 do século passado, com fotografia em preto e branco, e estrelado pelo ícone Vincent Price e por Agnes Moorehead (mais conhecida como Endora, a megera mãe da bruxinha Samantha na nostálgica série de TV da década de 60 “A Feiticeira”)? A resposta é simples e direta: uma impagável sessão de entretenimento.
Pois é exatamente isso que nos proporciona “A Mansão do Morcego” (The Bat, 59), escrito e dirigido por Crane Wilbur (que foi o roteirista de “Museu de Cera”, 53), um verdadeiro presente do selo “Dark Side” (“Works Editora”) para nós, apreciadores do cinema fantástico e admiradores incondicionais do talento de Vincent Price, um exemplo de ator aristocrático que não existe mais nesses tempos modernos que privilegiam os efeitos especiais. Não que eu desaprove a moderna tecnologia do cinema, que transforma em realidade nas telas praticamente tudo que já foi imaginado, mas é um fato óbvio que atores com o carisma de Price, Peter Cushing e Boris Karloff, entre outros, não possuem similares em nosso tempo (exceto pelo genial Christopher Lee, que também faz parte desse time e ainda está vivo e atuando).
Em “A Mansão do Morcego”, uma consagrada escritora de livros de mistérios, Srta. Cornelia van Gorder (Agnes Moorehead), aluga a mansão de verão conhecida como “The Oaks”, através da imobiliária de Mark Fleming (John Bryant), sem o conhecimento do proprietário, o seu tio e banqueiro John Fleming (Harvey Stephens). O objetivo da nova moradia temporária é buscar inspiração para a criação de uma história de seu novo livro. Porém, apenas sua governanta de muitos anos, Lizzie Allen (Lenita Lane), permanece ao seu lado, pois os outros empregados desistem de acompanhá-la por causa da notícia das ações de um ladrão assassino que está rondando as imediações da imensa casa. Chamado pela imprensa e polícia de “O Morcego” (daí o título original do filme), o criminoso tem o hábito de soltar morcegos no ambiente de suas vítimas e sua característica é utilizar uma máscara preta ocultando o rosto, além de garras artificiais numa das mãos, que servem para rasgar o pescoço e matar as pessoas que atravessarem seu caminho.
A escritora contrata então novos empregados como Sra. Jane Patterson (Riza Royce), e seu antigo motorista, Warner (John Sutton), transforma-se agora em mordomo. Mas, eles são surpreendidos pelas visitas constantes do assassino mascarado, que à espreita, escondido nos cantos, planeja encontrar uma enorme quantia em dinheiro (US$ 1 milhão), o qual foi misteriosamente roubado do banco do Sr. Fleming e que poderia estar escondido em algum local secreto na mansão.
A Srta. van Gorder recebe também como hóspedes outras duas mulheres, a Sra. Dale Bailey (Elaine Edwards), esposa de Victor (Mike Steele), tesoureiro do banco e preso injustamente acusado de participar da fraude do dinheiro roubado, e a Srta. Judy Hollander (Darla Hood), secretária do Sr. Fleming. Juntas, elas terão que enfrentar a fúria assassina do criminoso mascarado, e contando ao seu favor com a ajuda do Tenente Andy Anderson (Gavin Gordon), responsável pelas investigações da polícia, e do conceituado médico Dr. Malcolm Wells (Vincent Price), que tentam descobrir a identidade do ladrão misterioso.
O filme teve uma versão anterior da época do cinema mudo, filmada em 1926 e dirigida por Roland West. Essa versão de 1959 foi produzida pela “Allied Artists”, tem apenas 80 minutos e é um típico thriller policial com elementos sutis de horror, mistério e suspense, contando uma história até ingênua e despretensiosa, numa ausência de violência e sangue (as mortes são apenas discretas e sugeridas). Mas que mantém o interesse e prende a atenção do espectador ao acompanhar a trajetória do ladrão e assassinado mascarado conhecido como “O Morcego”, e a tentativa de descobrir sua identidade em meio à investigação policial e as mortes misteriosas que estão ocorrendo na imensa mansão, que mais parece um local perfeito para a manifestação de assombrações.
Entretanto, não existem fantasmas, e os crimes são cometidos por uma pessoa real, possuidora de admirável inteligência e astúcia para se manter desconhecido. Porém, do outro lado, além do Tenente Anderson na liderança das investigações, está também a escritora Srta. van Gorden, igualmente inteligente e experiente na criação de histórias de mistérios e assassinatos para seus livros. Em paralelo, tem ainda a presença sempre marcante de Vincent Price, dessa vez interpretando o misterioso médico legista Dr. Malcolm Wells, que nas horas vagas gosta de fazer experiências com morcegos de verdade.
Não faltam aqueles elementos típicos de filmes de mistério, como os famosos ruídos estranhos e assustadores, provenientes da ação do vento nos cômodos da uma mansão desgastada pelo tempo, a tradicional suspeita do “mordomo” como o responsável pelos crimes, o jogo de pistas para se descobrir a verdade, as reviravoltas na trama, e o final numa tentativa de “surpresa”.
Vale registrar um momento em especial, que deveria causar espanto, mas que inevitavelmente resultou num efeito contrário, através de uma cena envolvendo o ataque de um morcego supostamente de verdade contra uma mulher que estava dormindo. O efeito “especial” é tão tosco e bizarro que é difícil esconder o riso. Mas é só lembrar que o ano é 1959 e a produção é de baixíssimo orçamento e logo aceitamos a precariedade da cena que deve até ser enaltecida, pois foi executada com garra por seus técnicos e realizadores.
“A Mansão do Morcego” foi lançado em DVD no Brasil pela “Dark Side”, sendo que o disco traz como material extra duas boas biografias de Vincent Price e Agnes Moorehead, além da reprodução da breve sinopse que está na capa traseira do estojo e um trailer de dois minutos de duração, com a disponibilidade de legendas em português.
“A Mansão do Morcego” (The Bat, 1959) # 330 – data: 03/08/05 – avaliação: 8,5 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 07/12/05)
A Mansão do Morcego (The Bat, Estados Unidos, 1959). Allied Artists. Preto e Branco. Duração: 80 minutos. Direção de Crane Wilbur. Roteiro de Crane Wilbur, a partir de obra de Mary Roberts Rinehart e Avery Hopwood. Produção de C. J. Tevlin. Música de Louis Forbes. Fotografia de Joseph F. Biroc. Edição de William Austin. Direção de Arte de David Milton. Maquiagem de Kiva Hoffman. Elenco: Vincent Price (Dr. Malcolm Wells), Agnes Moorehead (Cornelia van Gorder), Gavin Gordon (Tenente Andy Anderson), Lenita Lane (Lizzie Allen), Elaine Edwards (Dale Bailey), Mike Steele (Victor Bailey), John Sutton (Warner), Darla Hood (Judy Hollander), Riza Royce (Jane Patterson), John Bryant (Mark Fleming), Harvey Stephens (John Fleming), Robert B. Williams (Detetive Davenport).
O que podemos esperar de um filme do final dos anos 50 do século passado, com fotografia em preto e branco, e estrelado pelo ícone Vincent Price e por Agnes Moorehead (mais conhecida como Endora, a megera mãe da bruxinha Samantha na nostálgica série de TV da década de 60 “A Feiticeira”)? A resposta é simples e direta: uma impagável sessão de entretenimento.
Pois é exatamente isso que nos proporciona “A Mansão do Morcego” (The Bat, 59), escrito e dirigido por Crane Wilbur (que foi o roteirista de “Museu de Cera”, 53), um verdadeiro presente do selo “Dark Side” (“Works Editora”) para nós, apreciadores do cinema fantástico e admiradores incondicionais do talento de Vincent Price, um exemplo de ator aristocrático que não existe mais nesses tempos modernos que privilegiam os efeitos especiais. Não que eu desaprove a moderna tecnologia do cinema, que transforma em realidade nas telas praticamente tudo que já foi imaginado, mas é um fato óbvio que atores com o carisma de Price, Peter Cushing e Boris Karloff, entre outros, não possuem similares em nosso tempo (exceto pelo genial Christopher Lee, que também faz parte desse time e ainda está vivo e atuando).
Em “A Mansão do Morcego”, uma consagrada escritora de livros de mistérios, Srta. Cornelia van Gorder (Agnes Moorehead), aluga a mansão de verão conhecida como “The Oaks”, através da imobiliária de Mark Fleming (John Bryant), sem o conhecimento do proprietário, o seu tio e banqueiro John Fleming (Harvey Stephens). O objetivo da nova moradia temporária é buscar inspiração para a criação de uma história de seu novo livro. Porém, apenas sua governanta de muitos anos, Lizzie Allen (Lenita Lane), permanece ao seu lado, pois os outros empregados desistem de acompanhá-la por causa da notícia das ações de um ladrão assassino que está rondando as imediações da imensa casa. Chamado pela imprensa e polícia de “O Morcego” (daí o título original do filme), o criminoso tem o hábito de soltar morcegos no ambiente de suas vítimas e sua característica é utilizar uma máscara preta ocultando o rosto, além de garras artificiais numa das mãos, que servem para rasgar o pescoço e matar as pessoas que atravessarem seu caminho.
A escritora contrata então novos empregados como Sra. Jane Patterson (Riza Royce), e seu antigo motorista, Warner (John Sutton), transforma-se agora em mordomo. Mas, eles são surpreendidos pelas visitas constantes do assassino mascarado, que à espreita, escondido nos cantos, planeja encontrar uma enorme quantia em dinheiro (US$ 1 milhão), o qual foi misteriosamente roubado do banco do Sr. Fleming e que poderia estar escondido em algum local secreto na mansão.
A Srta. van Gorder recebe também como hóspedes outras duas mulheres, a Sra. Dale Bailey (Elaine Edwards), esposa de Victor (Mike Steele), tesoureiro do banco e preso injustamente acusado de participar da fraude do dinheiro roubado, e a Srta. Judy Hollander (Darla Hood), secretária do Sr. Fleming. Juntas, elas terão que enfrentar a fúria assassina do criminoso mascarado, e contando ao seu favor com a ajuda do Tenente Andy Anderson (Gavin Gordon), responsável pelas investigações da polícia, e do conceituado médico Dr. Malcolm Wells (Vincent Price), que tentam descobrir a identidade do ladrão misterioso.
O filme teve uma versão anterior da época do cinema mudo, filmada em 1926 e dirigida por Roland West. Essa versão de 1959 foi produzida pela “Allied Artists”, tem apenas 80 minutos e é um típico thriller policial com elementos sutis de horror, mistério e suspense, contando uma história até ingênua e despretensiosa, numa ausência de violência e sangue (as mortes são apenas discretas e sugeridas). Mas que mantém o interesse e prende a atenção do espectador ao acompanhar a trajetória do ladrão e assassinado mascarado conhecido como “O Morcego”, e a tentativa de descobrir sua identidade em meio à investigação policial e as mortes misteriosas que estão ocorrendo na imensa mansão, que mais parece um local perfeito para a manifestação de assombrações.
Entretanto, não existem fantasmas, e os crimes são cometidos por uma pessoa real, possuidora de admirável inteligência e astúcia para se manter desconhecido. Porém, do outro lado, além do Tenente Anderson na liderança das investigações, está também a escritora Srta. van Gorden, igualmente inteligente e experiente na criação de histórias de mistérios e assassinatos para seus livros. Em paralelo, tem ainda a presença sempre marcante de Vincent Price, dessa vez interpretando o misterioso médico legista Dr. Malcolm Wells, que nas horas vagas gosta de fazer experiências com morcegos de verdade.
Não faltam aqueles elementos típicos de filmes de mistério, como os famosos ruídos estranhos e assustadores, provenientes da ação do vento nos cômodos da uma mansão desgastada pelo tempo, a tradicional suspeita do “mordomo” como o responsável pelos crimes, o jogo de pistas para se descobrir a verdade, as reviravoltas na trama, e o final numa tentativa de “surpresa”.
Vale registrar um momento em especial, que deveria causar espanto, mas que inevitavelmente resultou num efeito contrário, através de uma cena envolvendo o ataque de um morcego supostamente de verdade contra uma mulher que estava dormindo. O efeito “especial” é tão tosco e bizarro que é difícil esconder o riso. Mas é só lembrar que o ano é 1959 e a produção é de baixíssimo orçamento e logo aceitamos a precariedade da cena que deve até ser enaltecida, pois foi executada com garra por seus técnicos e realizadores.
“A Mansão do Morcego” foi lançado em DVD no Brasil pela “Dark Side”, sendo que o disco traz como material extra duas boas biografias de Vincent Price e Agnes Moorehead, além da reprodução da breve sinopse que está na capa traseira do estojo e um trailer de dois minutos de duração, com a disponibilidade de legendas em português.
“A Mansão do Morcego” (The Bat, 1959) # 330 – data: 03/08/05 – avaliação: 8,5 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 07/12/05)
A Mansão do Morcego (The Bat, Estados Unidos, 1959). Allied Artists. Preto e Branco. Duração: 80 minutos. Direção de Crane Wilbur. Roteiro de Crane Wilbur, a partir de obra de Mary Roberts Rinehart e Avery Hopwood. Produção de C. J. Tevlin. Música de Louis Forbes. Fotografia de Joseph F. Biroc. Edição de William Austin. Direção de Arte de David Milton. Maquiagem de Kiva Hoffman. Elenco: Vincent Price (Dr. Malcolm Wells), Agnes Moorehead (Cornelia van Gorder), Gavin Gordon (Tenente Andy Anderson), Lenita Lane (Lizzie Allen), Elaine Edwards (Dale Bailey), Mike Steele (Victor Bailey), John Sutton (Warner), Darla Hood (Judy Hollander), Riza Royce (Jane Patterson), John Bryant (Mark Fleming), Harvey Stephens (John Fleming), Robert B. Williams (Detetive Davenport).