Sombras do Terror (The Terror, 1963)


Das profundezas de uma mente maligna, um plano sádico de vingança

Um dos grandes realizadores de produções de baixo orçamento e conhecido principalmente por seus trabalhos na área do horror e ficção científica é o produtor e diretor Roger Corman. Seus filmes “B” protagonizados, entre outros, por Boris Karloff e Vincent Price nos anos 1960, são obras do mais puro entretenimento para os apreciadores do cinema fantástico. Um exemplo típico é “Sombras do Terror” ou “Terror no Castelo”, dois títulos nacionais alternativos para o original “The Terror”, produzido em 1963 e estrelado pelo ícone Boris Karloff e por um ainda jovem Jack Nicholson em início de carreira.

(Atenção: o texto a seguir contém spoilers)

A história é sobre um oficial náufrago do exército francês, Tenente Andre Duvalier (Jack Nicholson), que aparece em algum lugar na costa báltica e é socorrido por uma jovem e bela mulher (interpretada por Sandra Knight), que desaparece misteriosamente logo depois. O militar descansa então na cabana de uma velha senhora, Katrina (Dorothy Neumann), que na realidade é uma feiticeira e que lhe diz que a mulher que o salvou poderia ser encontrada no castelo do sinistro Barão Victor Frederick Von Leppe (Boris Karloff). Ele descobre posteriormente que o barão é um velho recluso em sua imensa fortaleza de pedra, e que vive atormentado pela perda de sua esposa há muitos anos atrás. E acaba reconhecendo que a estranha e misteriosa garota que o socorreu na praia é a mesma que está pintada num quadro que o barão insiste dizer ser o retrato de sua esposa falecida.
Mais tarde, Andre descobre também que a feiticeira está usando a jovem garota como um instrumento de vingança incitando o barão ao suicídio. Segundo ela, seu filho Eric havia sido assassinado vinte anos antes pelo barão por ter sido amante de sua esposa.

Após uma série de eventos, o enlouquecido barão, já cansado da vida solitária e atormentado pelo passado obscuro, comete suicídio permitindo a invasão do mar numa galeria subterrânea do castelo, enquanto a jovem garota fantasma é resgatada pelo oficial Andre, mas seu cadáver apodrece de forma trágica em seus braços.

Os destaques de “Sombras do Terror” ficam por conta dos impressionantes cenários, como o imponente e sinistro castelo, e as interpretações do mestre Boris Karloff e do novato Jack Nicholson, que iniciou sua carreira com Roger Corman, fazendo além desse, um outro filme do gênero, “A Pequena Loja dos Horrores” (The Little Shop of Horrors, 60). Ele que mais tarde se tornaria um dos grandes atores de Hollywood e muito requisitado para estrelar filmes populares e de todos os gêneros. Uma cena antológica e memorável é uma aparição macabra do espectro da jovem mulher que resgatou o náufrago francês na praia, quando ela está pairando sinistramente num cemitério abandonado envolto numa névoa espessa, junto aos túmulos de pedra, portões de ferro deformados e às arvores fantasmagóricas que abraçavam o ambiente de forma sombria e assustadora.

Curiosamente, Corman filmou todas as cenas com Karloff em apenas dois dias, utilizando os mesmos cenários de outro filme que estava em sua última semana de produção, “O Corvo” (“The Raven”, baseado em poema do escritor Edgar Allan Poe e protagonizado também por Karloff, além de Vincent Price e Peter Lorre). O restante do filme foi produzido em partes num período de três meses com os outros atores do elenco. Durante esse tempo, Corman convidou vários amigos da “American International Pictures” (AIP) para dirigirem o filme. Estes co-diretores foram Francis Ford Coppola, Monte Hellman, Dennis Jakob e Jack Hill. Como inevitavelmente cada diretor adotou seu próprio estilo, o filme acabou apresentando uma certa irregularidade, mas que não comprometeu o resultado final.
Mais um detalhe curioso é que num outro filme também produzido por Roger Corman e dirigido por Peter Bogdanovich, “Na Mira da Morte” (Targets, 68), que é igualmente estrelado por Boris Karloff, aparecem algumas cenas de “The Terror”. A história do filme de Bogdanovich é sobre um veterano ator de filmes de horror, Byron Orlok (obviamente feito por Karloff), que está anunciando sua aposentadoria, enquanto um maníaco se apossa de um rifle e começa a atirar aleatoriamente no público que está assistindo um filme de horror num drive-in. O filme em questão é justamente um dos sucessos de Orlok e mostra cenas de “The Terror”. Aliás, a própria abertura de “Na Mira da Morte” apresenta a tensa sequência de inundação dos subterrâneos do castelo de “The Terror”, uma cena de aproximadamente três minutos, e que foi escolhida por Bogdanovich como a que melhor se encaixaria em seu filme.

“The Terror”, que aliás é um nome bem comum e extremamente associado ao cinema de horror, teve outros títulos alternativos como “Castle of Terror”, “Lady of the Shadows” e “The Haunting” (que curiosamente é o nome principal de um outro filme clássico de horror do mesmo ano e sobre uma mansão assombrada, dirigido por Robert Wise e conhecido por aqui como “Desafio ao Além”). No Brasil, o filme foi chamado de “Terror no Castelo” quando exibido na televisão no final dos anos 80 pela Rede Bandeirantes, e de “Sombras do Terror” quando foi lançado no mercado de vídeo VHS pela “Vídeo Arte” (fora de catálogo já há muito tempo).
Numa interessante jogada de marketing, os produtores tentaram utilizar o sonoro nome do filme para chamar a atenção do público e criaram uma tagline promocional citando outros clássicos conhecidos do horror. Confira logo a seguir.

Drácula”... “Frankenstein”... “Museu de Cera”... “O Poço e o Pêndulo”... e agora... “The Terror

Nota do Autor: Um primeiro esboço desse artigo foi publicado no meu fanzine “Vortex” # 1 (1991) com o título “Terror no Castelo”. Agora o texto foi revisado, atualizado, ampliado com novas informações e impressões sobre o filme, e alterado o nome para “Sombras do Terror”.

“Sombras do Terror” (The Terror, 1963) # 247 – data: 02/05/04 – avaliação: 7 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 09/12/05)

Sombras do Terror (The Terror, Estados Unidos, 1963). American International Pictures. Duração: 81 minutos. Direção e produção de Roger Corman. Roteiro de Leo Gordon e Jack Hill. Produção Executiva de Harvey Jacobson. Fotografia de John M. Nickolaus Jr.. Música de Ronald Stein e Les Baxter. Edição de Stuart O’Brien. Direção de Arte de Daniel Haller. Cenários de Harry Reif. Elenco: Boris Karloff (Barão Victor Frederick Von Leppe), Jack Nicholson (Tenente Andre Duvalier), Sandra Knight (Helene), Dick Miller (Stefan), Dorothy Neumann (Katrina), Jonathan Haze (Gustaf), Wayne Grace.