A Trilogia "O Senhor dos Anéis" (2001/2002/2003)


Nota: Antes da leitura desse artigo, é necessário informar que o texto está dividido em três partes, abordando separadamente os filmes da trilogia de “O Senhor dos Anéis”, obra-prima do diretor Peter Jackson, baseada na literatura de J. R. R. Tolkien. Como os textos foram escritos originalmente na respectiva época de lançamentos dos filmes nos cinemas brasileiros, e como foram agrupados agora para montar uma espécie de compilação da saga, esses textos receberam uma adaptação e a inclusão de novas informações, assim como principalmente uma descrição detalhada dos materiais extras disponíveis nos DVD´s lançados por aqui num box de seis discos (um para cada filme e um para cada grupo de informações especiais). Porém, é importante salientar que várias informações, observações e comentários podem estar duplicados, além da possibilidade de existirem “spoilers”.


O SENHOR DOS ANÉIS: A SOCIEDADE DO ANEL
Um anel para a todos governar. Um anel para encontrá-los. Um anel para a todos trazer. E na escuridão aprisioná-los.

O ano de 2002 começou muito bem na área do cinema fantástico com a estréia nos cinemas brasileiros em 1 de janeiro (e nos EUA em 19/12/01), da aguardada fantasia com elementos de horror O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel (The Lord of the Rings: The Fellowship of the Ring), numa co-produção entre Estados Unidos e Nova Zelândia, baseada na famosa obra literária lançada em 1954 do escritor sul africano John Ronald Reuel Tolkien (1892 / 1973). Professor de línguas anglo-saxônicas na Universidade de Oxford, na Inglaterra, ele demorou 16 longos anos para escrever uma história de 1.200 páginas, num complexo universo ficcional, e que foi publicada em três livros.
Os filmes de fantasia apareceram com grande força nos últimos anos, destacando duas franquias em especial, de muito sucesso entre o público: “Harry Potter”, mais voltada para uma audiência infanto-juvenil, apresentando a saga do bruxo adolescente homônimo e suas aventuras pelo mundo fictício de Hogwarts, da obra literária de J. K. Rowling, e a trilogia “O Senhor dos Anéis” (formada por “A Sociedade do Anel”, “As Duas Torres” e “O Retorno do Rei”), mais direcionada para um público adulto.

A história é ambientada num mundo mitológico chamado de Terra-média (Middle-earth), povoado por diversas raças diferentes entre humanos, hobbits, elfos, anões e os terríveis orcs. Numa antiga batalha entre o Bem e o Mal, este último representado por Sauron, o rei de Mordor e o Senhor do Escuro, um poderoso anel foi criado no fogo da Montanha da Perdição e quem o usasse poderia controlar e subjugar todos os outros povos. No confronto, o anel foi retirado de Sauron pelo humano Isildur, e uma vez não sendo destruído por causa da fraqueza humana de seu portador, o precioso objeto ficou perdido por muito tempo até que um hobbit, Bilbo Baggins (Ian Holm), o encontrou depois de passar pelas mãos de uma outra criatura estranha chamada Gollum (personagem digital com a voz, os movimentos e expressões faciais interpretados pelo ator inglês Andy Serkis). Após mais de sessenta anos em segredo, Bilbo repassa o anel para seu sobrinho Frodo Baggins (Elijah Wood), que torna-se a partir daí o seu portador oficial com a difícil tarefa de destruí-lo para evitar que retornasse às mãos de Sauron e conseqüentemente permitisse uma nova era de escuridão sobre a Terra-média.
Para isso, Frodo tem que rumar numa jornada perigosa até a Montanha da Perdição e destruir o anel no fogo de suas entranhas, tendo ao seu lado para ajudá-lo um grupo de guerreiros, a “Sociedade do Anel”, formado por seus amigos hobbits Peregrin “Pippin” Tûk (Billy Boyd), Meriadoc “Merry” Brandebuque (Dominic Monaghan) e Samwise “Sam” Gamgi (Sean Astin), os humanos Boromir (Sean Bean) e o guardião Aragorn (Viggo Mortensen), também conhecido como “Passolargo”, um herdeiro de Isildur e do trono de Gondor, sendo ambos muito habilidosos com as espadas, o elfo Legolas (Orlando Bloom) com seu arco e flechas, o anão Gimli (John Rhys-Davies) com seu machado, e o mago Gandalf, o Cinzento (o veterano Ian McKellen).
No percurso eles ainda são ajudados pelos elfos de Valfenda, o experiente líder Elrond (Hugo Weaving) e sua bela filha, a princesa Arwen Undômiel (Liv Tyler), além de Galadriel, a Senhora da Luz (Cate Blanchett). Para combatê-los, surge o mago Saruman, chefe da Ordem dos Magos e antigo aliado de Gandalf, e que agora foi corrompido para servir Sauron. Ele é interpretado pelo grande “vampiro do cinema” Christopher Lee, ator veterano e famoso por seu papel do Conde Drácula em vários filmes da “Hammer” entre o final dos anos 50 e meados da década de 70 do século passado.

O projeto para o cinema de “O Senhor dos Anéis” começou em 1995 quando o diretor neozelandês Peter Jackson, nascido em 1961 e mais conhecido por seus filmes de horror “Trash, Náusea Total” (Bad Taste, 87) e “Fome Animal” (Braindead, 92), apresentou um filme de meia hora como demonstração para os executivos da “New Line Cinema”. Uma vez aprovado, foi dado o sinal verde para a produção de três filmes simultaneamente, com o início das filmagens em 11/10/99.
“A Sociedade do Anel” é um filme grandioso, utilizando uma excepcional fotografia com tomadas de belas montanhas do interior da Nova Zelândia, num espetacular e memorável show de imagens marcantes, e com efeitos especiais modernos e impressionantes, criados pela empresa “WETA Workshop”, responsável pela maquiagem e concepção dos figurinos, armas, criaturas e miniaturas.
Vários momentos são memoráveis como todas as cenas envolvendo o nostálgico Christopher Lee na pele do vilão Saruman, e nas passagens violentas com elementos de Horror como nas cenas de confronto da Sociedade do Anel na entrada das Minas de Moria, com uma enorme criatura parecida com um polvo (no melhor estilo dos monstros indizíveis de H. P. Lovecraft); ou na batalha com vários orcs e um gigante troll no interior das mesmas minas amaldiçoadas; ou ainda no confronto mortal do mago Gandalf na ponte de Khazad-dûm com um balrog, um poderoso e terrível demônio do mundo antigo.
Das incontáveis criaturas macabras que desfilam pelo filme, vale destacar a presença dos grotescos uruk-hai, guerreiros mutantes criados especialmente para a guerra, além dos obscuros espectros do anel ou cavaleiros negros, também chamados de Nazgûl, os quais já foram reis humanos e que depois de corrompidos pela influência maligna do anel, agora estão decaídos, fantasmagóricos e decrépitos, seres nem vivos nem mortos, e que receberam a missão de recuperar o anel para o espírito de Sauron.
Muito se comentou positivamente nos últimos anos sobre essa produção de “O Senhor dos Anéis” e realmente o filme justifica toda a movimentação ao seu redor, pois consegue garantir quase três horas de pura diversão num verdadeiro cinema de entretenimento. E os próximos filmes da saga mantiveram ou até superaram as expectativas positivas, fazendo dessa trilogia um dos melhores momentos do cinema fantástico de todos os tempos.
Nota: A primeira exibição do filme na televisão aberta foi em 23/10/05, pelo SBT, às 20:30 horas.

“O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel” foi lançado em DVD duplo no Brasil pela “Warner” e “New Line”, sendo um dos discos exclusivo para os materiais extras, totalizando cerca de duas horas e meia de uma verdadeira overdose de documentários, informações de bastidores e depoimentos dos atores e membros da equipe de produção, e tudo devidamente legendado em português.
Entre os documentários temos “Bem-vindo a Terra-média: Especial da Houghton Mifflin” (Houghton Mifflin: Welcome to Middle-earth), de 17 minutos, produzido pela empresa responsável pela publicação dos livros de Tolkien, trazendo comentários da editora Wendy Sthothman, do editor Rayner Unwin, de Brian Sibley, autor do livro “The Lord of the Rings Official Movie Guide”, além de Alan Lee, ilustrador dos livros da série, Clay Harper, diretor dos projetos da editora baseados na literatura de Tolkien, Richard Taylor, presidente da “WETA Workshop”, empresa responsável pelos cenários, roupas e armas dos filmes, o diretor Peter Jackson e os principais atores do elenco como Cate Blanchett, Ian McKellen, Orlando Bloom, Elijah Wood e Viggo Mortensen. Aliás, além desses, vários outros atores participaram com depoimentos nos demais documentários como Sean Astin, Billy Boyd, Dominic Monaghan, Liv Tyler, Sean Bean, Hugo Weaving, Christopher Lee, John Rhys-Davies e Andy Serkis.
Outro documentário é “A Demanda do Anel” (Quest for the Ring), especial da Fox TV, com 22 minutos, trazendo mais depoimentos interessantes dos atores e do cineasta Peter Jackson.
A seguir, foi a vez de “Uma Passagem Para a Terra-média” (A Passage to Middle-earth: The Making of Lord of the Rings), especial da Sci-Fi Channel, com 41 minutos, dividido em vários temas e trazendo uma infinidade de comentários dos atores e integrantes da equipe de produção como a co-roteirista Phillipa Boyens, o criador do anel Thorkild Hansen, o desenhista de produção Grant Taylor, o contra regra Nick Weir, o construtor de espadas Peter Lyon, o professor de esgrima Bob Anderson, a selecionadora de elenco na Nova Zelândia Liz Mullane, a figurinista Ngila Dickson, os consultores de dialetos Andrew Jack e Roisin Carty, o supervisor de direção de arte Dan Hennah, o técnico da equipe de pré-produção Greg Butler, a dublê Lani M. Jackson, o professor assistente de esgrima Kirk Maxwell, o artesão Chris Smith, o diretor de fotografia Andrew Lesnie e o desenhista de concepção John Howe. Os temas abordados são: “Os Hobbits”, “Detalhes da Terra-média”, “Aragorn – Homem Mortal”, “Os Elfos”, “Línguas”, “Os Anões”, “As Forças do Mal”, e “Os Espectros do Anel”.
A próxima atração é a exibição de três trailers diferentes, totalizando cerca de 8 minutos, seguidos de seis spots de TV com 30 segundos cada, divididos como “MTV”, “A Sociedade”, “Top Ten / American Film Institute”, “O Fenômeno”, “Indicação ao Oscar”, e “Oscar Épico”. Continuando a overdose de extras vem o vídeo musical “May It Be”, de Enya, com três minutos e meio de duração, a prévia do DVD com a versão especial estendida, contendo cenas inéditas e cortadas da edição final, em 3 minutos com comentários do editor John Gilbert, a prévia dos bastidores de “O Senhor dos Anéis: As Duas Torres”, em 11 minutos trazendo os comentários do produtor executivo Mark Ordesky e do produtor Barrie M. Osborne, e a prévia do jogo produzido pela “EA Games” (Electronic Arts), em 3 minutos com depoimentos dos criadores Scott Evans e Hudson Piehl.
Depois de tudo isso, as informações especiais ainda continuam com um vasto material produzido por lordoftherings.net, através de um documentário de 25 minutos explorando os locais e culturas da Terra-média, subdividido nos temas “Em Busca da Vila dos Hobbits” (Finding Hobbiton), “A Vila dos Hobbits Ganha Vida” (Hobbiton Comes Alive), “Acreditando no Mundo de Bri” (Believing the World of Bree), “Espectros do Anel: Os Reis Decaídos” (Ringwraiths: The Fallen Kings), “Valfenda: O Refúgio Élfico” (Rivendell: The Elven Refuge), “Línguas da Terra-média” (Languages of Middle-earth), “Dois Magos” (Two Wizards), e “A Música da Terra-média” (Music of Middle-earth). Todos os temas são comentados pelos atores, pelo cineasta Peter Jackson e outras pessoas veiculadas à equipe de produção como o técnico de efeitos especiais mecânicos Darryl Richards, o responsável pela trilha sonora Howard Shore ou ainda pessoas que participaram do projeto como o fazendeiro Ian Anderson, dono do local onde foi construída a vila dos hobbits.
E para finalizar, ainda como um material produzido por lordoftherings.net, tivemos a apresentação dos principais personagens do filme e o perfil de seus atores, como Elijah Wood, Viggo Mortensen, Orlando Bloom, Cate Blanchett, Liv Tyler e Ian McKellen, em cerca de 12 minutos ao todo, e o making of “Topo do Vento: A Colina Tempestuosa”, com 3 minutos, falando sobre os bastidores de filmagem da seqüência passada no topo de uma montanha sinistra, onde os hobbits são atacados pelos espectros do anel e Frodo é ferido pela espada do líder dos Nazgûl.

“O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel” (The Lord of the Rings: The Fellowship of the Ring, 01) – avaliação: 10 (de 0 a 10).

O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel (The Lord of the Rings: The Fellowship of the Ring, Estados Unidos / Nova Zelândia, 2001). Duração: 178 minutos. “Warner Brothers” / “New Line Cinema”. Direção de Peter Jackson. Roteiro de Peter Jackson, Frances Walsh e Philippa Boyens, baseado na obra literária de J. R. R. Tolkien. Produção de Peter Jackson, Barrie M. Osborne, Frances Walsh, Tim Sanders, Rick Porras e Jamie Selkirk. Produção Executiva de Michael Lynne, Mark Ordesky, Robert Shaye, Bob Weinstein e Harvey Weinstein. Música de Howard Shore. Fotografia de Andrew Lesnie. Edição de John Gilbert. Desenho de Produção de Grant Major. Efeitos Visuais de Jim Rygiel. Desenho de Vestuário de Ngila Dickson e Richard Taylor. Maquiagem especial, criaturas, miniaturas e efeitos digitais: Richard Taylor (WETA Workshop). Elenco: Elijah Wood (Frodo), Andy Serkis (Gollum), Billy Boyd (Pippin), Dominic Monaghan (Merry), Sean Astin (Sam), Viggo Mortensen (Aragorn), Sean Bean (Boromir), Orlando Bloom (Legolas), John Rhys-Davies (Gimli), Ian McKellen (Gandalf), Liv Tyler (Arwen), Cate Blanchett (Galadriel), Ian Holm (Bilbo Baggins), Christopher Lee (Saruman), Hugo Weaving (Elrond).


O SENHOR DOS ANÉIS: AS DUAS TORRES
A batalha pelo Abismo de Helm acabou. A batalha pela Terra-média está para começar.” – Gandalf

Encerrando magistralmente o ano de 2002 na área do cinema fantástico, entrou em cartaz nas salas de projeção pelo Brasil em 27 de dezembro (e nos EUA no dia 18) a aguardada seqüência do épico de fantasia com elementos de horror “O Senhor dos Anéis: As Duas Torres” (The Lord of the Rings: The Two Towers), transposição paras as telas da famosa obra literária do escritor J. R. R. Tolkien. É curioso citar como o subtítulo “As Duas Torres” tem uma macabra coincidência com as torres gêmeas do “World Trade Center” de New York, que caíram vítimas do terrorismo naquele fatídico dia 11/09/01, matando milhares de pessoas. Mas o subtítulo refere-se mesmo as duas torres que estão aliadas para servir o mal absoluto, a Torre de Orthanc, em Isengard, onde vive Saruman, e a Torre de Barad-dûr, em Mordor, onde reside Sauron.

Esse filme intermediário da trilogia é igualmente grandioso, com seus eventos iniciando logo após os acontecimentos narrados no primeiro filme. O mago Gandalf está enfrentando um terrível demônio balrog de Morgoth, quando ambos caem num abismo de sombras e ficamos sabendo o destino desse mortal confronto, agora com Gandalf promovido para um mago Branco (no filme anterior ele era Gandalf, o Cinzento).
A seguir, temos uma tomada aérea das lindas paisagens da Nova Zelândia, numa região montanhosa gelada por onde caminham os hobbits Frodo, que tem a árdua missão de carregar o poderoso Um-Anel, e seu amigo Sam, numa jornada rumo aos Portões Negros de Mordor para destruir o anel na Montanha da Perdição. Eles encontram pelo caminho e aprisionam a estranha e traiçoeira criatura Sméagol / Gollum, que foi um antigo dono do anel e que passa agora a guiá-los com destino a Mordor.
Curiosamente, Sméagol / Gollum são dois personagens interiores da mesma criatura que constantemente estão em conflito, lembrando com eficiência a clássica história “O Médico e o Monstro” (Dr. Jekyll and Mr. Hyde) de Robert Louis Stevenson, onde um cientista cria uma fórmula que uma vez ingerida desperta uma dupla personalidade variando entre o bem e o mal. Algo similar ocorreu também no filme “Homem-Aranha”, de Sam Raimi, com o vilão “Duende Verde” alternando sua personalidade com o cientista Norman Osborn.
Paralelamente ocorrem outras narrativas simultâneas como a jornada de três integrantes da “Sociedade do Anel”, o humano Aragorn, filho de Arathorn, herdeiro do trono de Gondor, o arqueiro elfo Legolas, do Reino da Floresta, e o anão Gimli, filho de Glóin, que partem atrás de um grupo de orcs e uruks-hai que seqüestraram os hobbits Pippin e Merry. Os orcs foram mortos num confronto com um grupo de humanos conhecidos como rohirrim, liderados por Éomer (Karl Urban). Eles foram exilados de Edoras, a capital do Reino de Rohan, a Terra dos Cavaleiros, numa decisão equivocada do Rei Théoden (Bernard Hill), que estava enfeitiçado sob o domínio de Saruman. E aproveitando a confusão da batalha, os hobbits fugiram para a floresta Fangorn e encontraram um poderoso, antigo e sábio ent chamado Barbárvore, criatura similar a uma enorme árvore que anda e fala, e que é convencida a conclamar seus companheiros para participarem de uma batalha em Isengard, na guerra contra o mal representado pelo mago traidor Saruman, atual aliado da entidade maléfica Sauron. Eles planejam dominar a Terra-média, e para isso Saruman está criando um exército de orcs na fortaleza de Isengard.
Enquanto isso, uma vez não encontrando os hobbits Pippin e Merry, os três guerreiros Aragorn, Legolas e Gimli (o anão que rouba para si as cenas cômicas com várias piadas envolvendo sua baixa estatura) se unem ao Rei de Rohan, Théoden e seus súditos e partem para a fortaleza do Abismo de Helm, procurando um abrigo mais seguro, preparando-se para uma terrível guerra contra milhares de orcs e uruks-hai enviados por Saruman.
Alguns novos e interessantes personagens aparecem agora neste segundo filme. Entre eles, o sinistro vilão Grima Língua-de-Cobra (Brad Dourif, mais conhecido por emprestar sua voz para o famoso boneco “Chucky”, o brinquedo assassino do cinema, numa franquia de cinco filmes), um conselheiro traiçoeiro e aliado de Saruman, e que enfeitiçou o Rei de Rohan. A jovem Éowyn (a bela australiana Miranda Otto), sobrinha de Théoden e irmã de Éomer, e que se apaixona por Aragorn. E o Capitão Faramir (David Wenham), irmão de Boromir (um dos membros da “Sociedade do Anel” no filme anterior) e filho do regente de Gondor, Denethor, que foi convocado para ajudar na defesa de Osgiliath numa batalha contra um exército de orcs, e que também tem participação importante no destino de Frodo em sua jornada até Mordor.

“O Senhor dos Anéis: As Duas Torres” é mais um filme excepcional, com uma história sombria e sangrenta, com muitos elementos de violência e horror, apresentando uma infinidade de criaturas e monstros, numa overdose de informações de um complexo mundo de fantasia. Os cenários são fantásticos, destacando os macabros Pântanos Mortos, o Castelo de Rohan com o imponente Palácio Dourado de Meduseld, a fábrica de orcs em Isengard, e principalmente a imensa fortaleza de pedra localizada no Abismo de Helm, refúgio do povo de Rohan.
Aliás, certamente os maiores destaques do filme são as fascinantes cenas de batalha com o exército de Saruman, formado por cerca de dez mil orcs e uruks-hai extremamente ferozes, que tentavam tomar o forte no Abismo de Helm, o qual estava sob o poder de um número bem menor de humanos aliados a um grupo de elfos, que abandonaram seu lar em Valfenda para lutar ao lado dos homens. Com uma bela fotografia sombria (pois a guerra era travada numa noite chuvosa), em meio a uma incontável quantidade de mortos para todos os lados, uma imensidão de flechas voando pelos ares, escadas cheias de orcs tentando invadir as estruturas de pedra da fortaleza (lembrando em menor escala aqueles tradicionais filmes de western, com os índios tentando invadir o forte dos soldados americanos), e confrontos violentos corpo a corpo na base da lâmina cortante do aço das espadas, mostrando toda a irracionalidade de um campo de guerra.
A batalha no Abismo de Helm está entre as mais definitivas seqüências de guerra já filmadas pelo cinema (tendo a favor todos os efeitos digitais de uma tecnologia moderna), juntamente com os minutos iniciais de “O Resgate do Soldado Ryan” (98), que mostra a invasão dos aliados na costa da Normandia na Segunda Guerra Mundial, decisiva para os rumos daquela guerra insana. É claro que os dois exemplos têm diferenças básicas entre si; pois o primeiro simula uma história de fantasia com personagens fictícios e armas primitivas, e o outro reproduz um fato real e sangrento da história da humanidade, com destruidoras armas de fogo matando homens; mas como exclusivamente cinema de guerra, ambos os casos caracterizam de forma convincente o que mais próximo seria um campo de batalha.
Outros destaques que merecem registro também são a presença do belo cavalo branco Scadufax, o Senhor de Todos os Cavalos, que surge para transportar o mago Gandalf pelas planícies e montanhas da Terra-média. E o confronto entre os cavaleiros de Rohan, enquanto estavam escoltando suas famílias para a fortaleza no Abismo de Helm, auxiliados por Aragorn, Legolas e Gimli, contra um grupo de orcs montando wargs que surgem em seu caminho. Os wargs são feras super agressivas e difíceis de controlar, criaturas híbridas que poderiam ser traduzidas como uma mistura de urso, lobo e hiena, e que certamente são um obstáculo a mais para ser superado numa batalha.
“O Senhor dos Anéis: As Duas Torres”, é mais um excelente filme assim como o primeiro da trilogia, e em suas quase três horas de projeção nos transporta para um incrível e perigoso mundo de fantasia, povoado por todos os tipos de criaturas, instigando nosso imaginário numa clássica história do Bem contra o Mal. São agradáveis momentos de entretenimento criando um ansioso sentimento de espera pela conclusão da saga com o próximo episódio “O Retorno do Rei”.

As informações especiais disponíveis no lançamento do filme em DVD totalizam cerca de duas horas e meia com uma infinidade de materiais interessantes, como documentários, trailers, spots de TV, e depoimentos de atores e membros da equipe de produção sobre curiosidades de bastidores e detalhes técnicos por trás das câmeras, tudo legendado em português.
O primeiro documentário chama-se “No Set de O Senhor dos Anéis – As Duas Torres” (On the Set – The Lord of the Rings: The Two Towers), um especial produzido pela “Starz Encore”, com 15 minutos de duração, subdividido nos temas “A Sociedade Está Rompida” (The Fellowship is Broken), “As Colinas de Emyn Muil” (The Hills of Emyn Muil), “O Reino de Rohan” (The Kingdom of Rohan), “Valfenda” (Rivendell), e “Floresta de Fangorn” (Fangorn Forest), com depoimentos de vários atores e do diretor Peter Jackson.
A seguir temos o documentário “O Retorno a Terra-média” (Return to Middle-earth), especial produzido pela Warner Brothers onde em 43 minutos são apresentados os comentários de alguns integrantes da equipe de produção como Dan Hennah e Chris Hennah (responsáveis pela direção de arte), e o diretor de fotografia Andrew Lesnie, além de vários atores. Entre as curiosidades de bastidores reveladas, destaca-se um acidente na filmagem de uma cena envolvendo Sean Astin (Sam), que corta gravemente o pé ao pisar num pedaço de vidro escondido no leito de um lago, na seqüência onde ele corre em direção de Frodo, que está num bote, dizendo veementemente que não deixaria de acompanhá-lo na tortuosa jornada rumo a Mordor, para destruir o anel na Montanha da Perdição. Outra curiosidade interessante é uma cena envolvendo o ator Viggo Mortensen (Aragorn), quando ele é levado inconsciente pela corredeira de um rio, após cair de um penhasco num confronto com um grupo de orcs montados em wargs. Dispensando o dublê, o ator preferiu fazer a cena e revelou que quase se afogou, subestimando a perigosa força da corredeira do rio.
O ator Sean Astin aproveitou uma folga do elenco e equipe de produção e num domingo chuvoso de manhã em Wellington, capital da Nova Zelândia, realizou um sonho pessoal, dirigindo um curta metragem de seis minutos chamado “The Long and the Short of It”, uma história sobre amizade e cooperação entre as pessoas, com um elenco formado por Andrew Lesnie (cinematógrafo), o gigante Paul Randall (dublê), uma anã tailandesa que foi a dublê de Pippin, e o próprio cineasta Peter Jackson. A história não tem diálogos, mas as imagens já dizem tudo, num filme muito interessante. A seguir, temos um documentário sobre os bastidores do filme de Astin, intitulado “The Making of The Long and the Short of It”, com oito minutos de duração, trazendo depoimentos bem humorados de várias pessoas envolvidas no projeto como os atores Andy Serkis e Elijah Wood.
A próxima atração dos materiais extras do DVD são dois trailers de cinema diferentes, num total de 5 minutos, e dezesseis spots de TV com 30 segundos cada, divididos como “Novo Poder”, “Outro”, “Evento”, “Sonho”, “Trevas”, “Retorno”, “Golpe”, “Contagem Regressiva”, “Uma Palavra da Crítica”, “A Espera Terminou”, “Crítica B / Golden Globes”, “Gollum”, “Crítica Suprema”, “Crítica A / Globe”, “Os 10 Melhores”, e “Crítica dos 10 Melhores”. Continuando a overdose de informações especiais vem o vídeo musical “Gollum´s Song”, de Emiliana Torrini, com quatro minutos e meio de duração, a prévia do DVD com a versão especial estendida, contendo cenas inéditas com mais informações sobre a história, mas que foram retiradas do filme do cinema (como uma cena em flashback envolvendo Boromir, Faramir e o pai deles, o regente Denethor). São 5 minutos com comentários de vários atores e dos produtores Barrie M. Osborne e Rick Porras, do compositor Howard Shore e do técnico em efeitos visuais Jim Rygiel. Em seguida, a prévia dos bastidores de “O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei”, em 13 minutos com os comentários de Peter Jackson, Richard Taylor (WETA) e a co-roteirista Phillipa Boyens, entre outros, mostrando um pouco sobre o próximo e último filme da trilogia, com ênfase numa cena com Aragorn na montanha assombrada de Dwimorberg e a batalha nos Campos de Pelennor. E depois, a prévia em 3 minutos, do jogo criado pela “Electronic Arts”, com depoimentos do produtor executivo Neil Young sobre a incrível autenticidade entre o videogame e os eventos do filme “As Duas Torres”.
Mesmo após toda essa imensidão de informações especiais, ainda temos mais materiais produzidos pelo lordoftherings.net, com o documentário “Dê Uma Olhada de Perto nas Pessoas e Criaturas da Terra-média”, com cerca de 35 minutos dividido em oito temas. “Forças das Trevas” (Forces of Darkness); “Criando os Sons da Terra-média” (Designing the Sounds of Middle-earth), sendo que este aborda especificamente dois assuntos, “Os Pântanos Mortos” (The Dead Marshes) e “Abismo de Helm” (Helm´s Deep); “Edoras: A Capital de Rohan” (Edoras: The Rohan Capital); “Criaturas da Terra-média” (Creatures of Middle-earth), sendo que este tema é focado em quatro partes, “Wargs: Bestas Orc Perversas” (Wargs: Evil Orc Beasts), “Orcs & Uruk-Hai: As Tribos Perversas” (Orcs & Uruk-hai: The Evil Tribes), “Mûmakil / Olifantes: Animais de Guerra” (Mûmakil / Oliphaunts: Beasts of War), e “As Bestas Cruéis: Os Corcéis dos Nazgûl” (Fell Beasts: The Nazgul´s Steeds); “Gandalf, o Branco” (Gandalf, the White), “Armas e Armadura” (Arms and Armor), “A Batalha do Abismo de Helm” (The Battle of Helm´s Deep), e “Dando Vida a Gollum” (Bringing Gollum to Life). Todos os blocos independentes trazem depoimentos do elenco (Christopher Lee, Andy Serkis, Brad Dourif, Viggo Mortensen, etc.), do diretor Peter Jackson e de profissionais da equipe de produção como o técnico em sonoplastia Ethan Van Der Ryn, o técnico em modelos digitais Matt Aitken, o diretor de animação Randy Cook, o supervisor de efeitos visuais Joe Letteri, o supervisor de criaturas Eric Saindon, o desenhista de concepção John Howe, o dublê Sala Baker e o técnico em expressões faciais Bay Raitt, entre outros.

“O Senhor dos Anéis: As Duas Torres” (The Lord of the Rings: The Two Towers, 2002) – avaliação: 10 (de 0 a 10).

O Senhor dos Anéis: As Duas Torres (The Lord of the Rings: The Two Towers, Estados Unidos / Nova Zelândia, 2002). Duração: 179 minutos. “Warner Brothers” / “New Line Cinema”. Direção de Peter Jackson. Roteiro de Peter Jackson, Frances Walsh, Philippa Boyens e Stephen Sinclair, baseado na obra literária de J. R. R. Tolkien. Produção de Peter Jackson, Barrie M. Osborne, Frances Walsh, Tim Sanders, Rick Porras e Jamie Selkirk. Produção Executiva de Michael Lynne, Mark Ordesky, Robert Shaye, Bob Weinstein e Harvey Weinstein. Música de Howard Shore. Fotografia de Andrew Lesnie. Edição de Michael Horton e Jabez Olssen. Desenho de Produção de Grant Major. Efeitos Visuais de Jim Rygiel. Desenho de Vestuário de Ngila Dickson e Richard Taylor. Maquiagem especial, criaturas, miniaturas e efeitos digitais: Richard Taylor (WETA Workshop). Elenco: Elijah Wood (Frodo), Andy Serkis (Sméagol / Gollum), Billy Boyd (Pippin), Dominic Monaghan (Merry), Sean Astin (Sam), Viggo Mortensen (Aragorn), Orlando Bloom (Legolas), John Rhys-Davies (Gimli), Ian McKellen (Gandalf), Christopher Lee (Saruman), Liv Tyler (Arwen), Cate Blanchett (Galadriel), Miranda Otto (Éowyn), Bernard Hill (Théoden), David Wenham (Faramir), Hugo Weaving (Elrond), Karl Urban (Éomer), Brad Dourif (Grima Língua-de-Cobra).


O SENHOR DOS ANÉIS: O RETORNO DO REI
Temos apenas que decidir o que fazer com o tempo que nos é dado.” – Gandalf

O cinema fantástico tem sido povoado nos últimos anos por uma série de enormes sagas apresentando argumentos complexos que fizeram história no gênero, seja pela imensa popularidade obtida, ou pelas enormes franquias criadas com impressionante lucratividade, ou ainda pelos fascinantes momentos de puro entretenimento com histórias povoando nosso imaginário com os mais variados mundos de fantasia. “Star Wars”, “Star Trek”, “Matrix”, “Harry Potter” e principalmente “O Senhor dos Anéis”, são exemplos de universos ficcionais extremamente ricos em detalhes e que com o auxílio da moderna tecnologia dos efeitos especiais, conseguiram levar para as telas do cinema suas propostas de diversão criando com realismo seus mundos alternativos.
O escritor Tolkien, autor de “O Senhor dos Anéis”, certamente não imaginaria que seu fascinante universo ficcional um dia fosse transformado com grande fidelidade e respeito em uma saga cinematográfica grandiosa, e com uma produção caprichada, meio século depois de seu lançamento. E esse feito tornou-se realidade graças ao cineasta Peter Jackson, que dirigiu e escreveu o roteiro dos três filmes que juntos totalizam quase dez horas de entretenimento. A trilogia é composta por “A Sociedade do Anel” (2001), “As Duas Torres” (02) e “O Retorno do Rei” (03), sendo que este último entrou em cartaz nos cinemas brasileiros em 25/12/03 (e nos EUA no dia 17), com o subtítulo referindo-se ao personagem Aragorn e a especulação sobre sua decisão em aceitar o desafio de ser o rei de Gondor.

Depois de muitos anos do hobbit Bilbo Baggins ter encontrado o misterioso anel, que foi perdido das mãos de uma outra criatura estranha que um dia também foi um hobbit, Sméagol / Gollum, e apresentava uma dupla personalidade pela influência maléfica do anel, ele repassou o poderoso artefato para seu sobrinho Frodo, que recebe então a missão de destruí-lo no mesmo local onde foi criado. Para isso, Frodo tem que rumar numa jornada perigosa até Mordor, tendo ao seu lado para ajudá-lo um grupo de guerreiros formado principalmente pelo humano gondoriano Aragorn, o elfo Legolas, o anão Gimli, o mago Gandalf, o Branco (também chamado de Mithrandir pelos homens de Gondor), e por seu leal amigo hobbit Sam, sempre ao seu lado.
Após uma série de eventos ocorridos nos dois primeiros filmes, a história do terceiro e último episódio da trilogia, “O Retorno do Rei”, inicia mostrando rapidamente em flashback como Sméagol / Gollum toma posse do Um Anel, encontrado no fundo de um lago, após um confronto mortal com seu amigo Deagol (Thomas Robins), já demonstrando as influências negativas exercidas pelo objeto precioso.
Enquanto momentaneamente Sauron pensa que o anel está com Pippin, depois de um contato entre eles através do Palantir, uma esfera mágica que havia sido perdida por Saruman na derrota em Isengard, as ações se voltam novamente para a jornada de Frodo, acompanhado de Sam e tendo como guia o traiçoeiro Sméagol / Gollum, rumo à sombria Mordor para destruir o anel no fogo da Montanha da Perdição, atravessando caminhos tortuosos como a Passagem de Cirith Ungol e enfrentando uma série de perigos tendo como ápice um confronto com Laracna, uma terrível aranha gigante carnívora, obrigando-os a se protegerem utilizando a poderosa Luz de Earendil, um presente de Galadriel.
Enquanto isso, Sauron está reunindo um imenso exército de orcs e outras criaturas, entre enormes trolls e os cavaleiros negros Nazgûl, cavalgando terríveis criaturas aladas, as bestas cruéis, e depois de tomarem a cidade de Osgiliath, eles partem para atacar Minas Tirith, a capital do reino de Gondor, governado provisoriamente pelo insano Regente Denethor (John Noble), pai de Faramir, numa batalha sangrenta de proporções colossais nos Campos de Pelennor. Nessa guerra brutal, Gondor é ajudado pelos soldados rohirrim do reino de Rohan, liderados pelo Rei Théoden e sua bela sobrinha Éowyn, além também de contar com a bravura de Aragorn, Legolas e Gimli. Aliás, Aragorn finalmente aceita o desafio de assumir sua posição de Rei de Gondor e atravessa o caminho para Dimholt entrando no interior de Dwimorberg, a Montanha Assombrada, para convocar o imenso Exército dos Mortos para lutar ao seu lado contra Sauron. Um acordo é feito com o Rei dos Mortos (Paul Norell), livrando-os de uma maldição antiga, e eles têm uma participação decisiva para os rumos do confronto em Minas Tirith.
Após a batalha nos Campos de Pelennor, os exércitos restantes de homens, liderados por Aragorn, se dirigem para os imensos Portões Negros de Mordor, guardados por um batalhão de milhares de orcs, enquanto Frodo e Sam atravessam a planície de Gorgoroth para tentar destruir o Um Anel nas entranhas da Montanha da Perdição, culminando no final de sua tortuosa jornada de treze meses, num decisivo confronto contra as forças maléficas de Sauron.

“O Retorno do Rei” mantém o mesmo alto nível de qualidade dos dois filmes anteriores, destacando-se também pelas belíssimas paisagens da Nova Zelândia e pelas violentas cenas de batalhas. Assim como a guerra no Abismo de Helm em “As Duas Torres”, o confronto dos orcs contra o reino de Gondor nos Campos de Pelennor nesse terceiro episódio foi certamente o ápice das três horas e vinte minutos de filme. Se a batalha no Abismo de Helm, numa tenebrosa noite chuvosa, com o exército de aproximadamente dez mil orcs e uruks-hai, tinha proporções extremamente grandiosas, imaginem então o conflito colossal nos Campos de Pelennor, com o exército de Sauron composto por cerca de duzentos mil soldados.
Essa seqüência de guerra, juntamente com a já citada batalha no Abismo de Helm, e mais a invasão dos insetos alienígenas contra os humanos encurralados no Forte Whiskey em “Tropas Estelares” (97), e o massacre dos soldados aliados na abertura de “O Resgate do Soldado Ryan” (98), ao desembarcarem numa praia na costa da Normandia durante a Segunda Guerra Mundial, podem ser consideradas como algumas das mais significativas cenas de guerra da história do cinema, constituindo-se de exemplos de grande realismo do que mais próximo poderia ser o horror de um campo de batalha. Eu diria até que a batalha nos Campos de Pelennor é a mais impressionante que tive a oportunidade de ver no cinema. E minha opinião vai de encontro a uma declaração do ator Karl Urban (o rohirrim Éomer), que revelou que considera essa batalha como o maior ataque de cavalaria da história do cinema.
O que a saga “O Senhor dos Anéis” tem de mais fascinante em todo o seu complexo universo ficcional são as criaturas bizarras que representam os sombrios elementos de horror presentes na história, como os orcs e uruks-hai, seres criados especialmente para a guerra; sem contar os terríveis cavaleiros negros Nazgûl que cavalgam monstros alados (as bestas cruéis); os demônios balrogs; o Pântano dos Mortos (onde repousam os fantasmas atormentados dos soldados mortos nas guerras); os enormes trolls e olifantes (criaturas imensas similares a elefantes, que carregam torres transportando os soldados de Harad); o Exército dos Mortos (que para se livrarem de uma maldição antiga, lutaram a favor do reino de Gondor); a mortal aranha gigante Laracna; e outras criaturas mais.
Mesmo o filme merecendo cinco estrelas em sua avaliação, algumas situações não agradaram plenamente como o fato de o mago Saruman, derrotado no filme anterior em sua Torre em Isengard, não ter aparecido nem numa pequena ponta (algumas informações revelam que ele aparece em cenas apenas disponíveis na versão estendida do filme em DVD). Como admirador do ator Christopher Lee não pude esconder a decepção, apesar de que para o filme sua ausência não trouxe nenhum inconveniente. Uma outra seqüência forçada demais foi quando o elfo Legolas consegue derrubar um imenso olifante na batalha do reino de Gondor, demonstrando algumas habilidades exageradas com resultados pouco convincentes. A forma como a bela Éowyn decepa facilmente a cabeça de uma besta cruel também é difícil de se aceitar, independente da fidelidade com o livro, principalmente depois que o Rei Feiticeiro de Angmar, o Senhor dos Nazgûl, o mais perigoso dos nove espectros do anel e que vive em Minas Morgul, ainda diz para ela como um alerta com sua voz gutural, no momento em que a mulher tentava defender seu tio ferido, o Rei Théoden: “Não fique entre um Nazgûl e sua presa”. Como nenhum homem pode matá-lo, a tarefa ficou para Éowyn, uma mulher.
E ainda tiveram também muitas outras cenas carregadas de um sentimentalismo que contrasta demais com a violência das batalhas e o próprio clima sombrio que envolve toda a Terra-média em guerra. Mas tudo isso é compreensível pela idéia em capturar a essência do livro de Tolkien.
Analisando os três filmes dessa fantástica saga cinematográfica, fica muito difícil escolher qual é o melhor, pois toda a trilogia possui um nível de qualidade muito próximo. Como apreciador de horror e pela intensidade das violentas batalhas e participações de criaturas bizarras, minha escolha seria “O Retorno do Rei”, seguido de “As Duas Torres” e “A Sociedade do Anel”. Eu não li os livros, mas aprendi muito sobre o complexo universo ficcional da Terra-média apenas assistindo a trilogia de Peter Jackson, parecendo para mim que os filmes conseguiram reproduzir de forma convincente toda a fascinante mitologia da literatura de Tolkien.
Curiosamente, a saga “O Senhor dos Anéis” teve anteriormente duas outras adaptações em filmes de animação. A primeira foi com “The Hobbit” em 1977, e depois no ano seguinte foi lançado “The Lord of the Rings”. E com a trilogia de Peter Jackson, a história de Tolkien está definitivamente adaptada para o cinema, devendo ser apreciada eternamente, pois agora os filmes pertencem aos fãs.
“O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei” foi vencedor de 11 Oscar 2003, nas categorias “Filme”, “Diretor”, “Direção de Arte”, “Efeitos Visuais”, “Roteiro Adaptado”, “Edição”, “Figurino”, “Maquiagem”, “Som”, “Trilha Sonora”, e “Canção”.
O projeto seguinte do diretor Peter Jackson também é igualmente grandioso e foi lançado nos cinemas brasileiros em 16/12/05. Trata-se de uma nova versão para “King Kong”, o famoso macaco gigante que anteriormente foi tema de um filme clássico em preto e branco produzido em 1933, e que teve uma refilmagem inferior em 1976 com uma desnecessária continuação dez anos depois, ambas dirigidas por John Guillermin.

A exemplo dos dois episódios anteriores da saga, o filme que fecha a trilogia foi lançado em DVD duplo por aqui, com um disco contendo apenas materiais extras, e tudo devidamente legendado em português. O primeiro documentário chama-se “Missão Cumprida: A Visão de Um Diretor” (The Quest Fulfilled: A Director´s Vision), com 22 minutos trazendo depoimentos de vários atores como Viggo Mortensen, Ian McKellen, Elijah Wood, Sean Astin e Miranda Otto, além de Peter Jackson, Andrew Lesnie, Philippa Boyens e Mark Ordesky, entre outros.
Em seguida, temos “A Jornada de Um Cineasta: Fazendo O Retorno do Rei” (A Filmmaker´s Journey: Making The Return of the King), outro documentário onde em 28 minutos são fornecidas várias informações interessantes sobre o escritor Tolkien, além de curiosidades de bastidores como o fato de serem construídas 10.000 flechas para serem usadas na saga, além de 48.000 armas, entre espadas, escudos e bainhas, e foram utilizados 12 milhões de elos de cota de malha para a construção manual das armaduras.
Outro documentário é um especial produzido pela “National Geographic” sobre o terceiro filme, com narração do ator John Rhys-Davies. São cerca de 51 minutos onde o tema focado é a apresentação de vários paralelos de personalidades e eventos da história da humanidade e situações parecidas com vários personagens de “O Senhor dos Anéis”, como por exemplo a similaridade entre o escocês William Wallace (também conhecido como “Coração Valente”), um líder pela conquista da liberdade de seu país contra o domínio da Inglaterra, e Aragorn, que luta pela liberdade da Terra-média, onde ambos são guerreiros que buscam apenas a felicidade de seus povos, e não querem riquezas nem poder para si mesmos. O documentário procura defender a idéia que a trilogia “O Senhor dos Anéis” explora com eficiência os conflitos do Homem, ou seja, um líder relutante que conquista a confiança de seu povo por meio do sacrifício (o caso de Aragorn), conselheiros sábios que dão avisos quando isso é mais necessário (como Gandalf), batalhas desesperadas onde os soldados lutam por amor e não ódio, o poder da amizade sincera, que só pode terminar com a morte (Frodo / Sam, e Legolas / Gimli).
Continuando as informações especiais, temos dois trailers para cinema e quatorze spots de TV, com trinta segundos cada, além de um super trailer especial sobre toda a trilogia de “O Senhor dos Anéis”, com seis minutos e meio de duração. A próxima atração é uma prévia do vídeo game “A Batalha Pela Terra-média” (The Battle for Middle-earth), criado pela “Electronic Arts”, com 3 minutos enfatizando a autenticidade do jogo com relação aos personagens, cenários e eventos dos filmes.
Entre os destaques produzidos pelo lordoftherings.net, temos o documentário “Dê Uma Olhada de Perto nas Pessoas e Criaturas da Terra-média”, com aproximadamente 23 minutos dividido em seis temas específicos, comentados pelo elenco e membros da equipe de produção. “O Destino de Aragorn” (Aragorn´s Destiny); “Minas Tirith: Capital de Gondor” (Minas Tirith: Capital of Gondor), enfatizando que o Reino de Gondor é inspirado numa cultura antiga como o Império greco-romano, “A Batalha dos Campos de Pelennor” (The Battle of Pelennor Fields); “Samwise, o Bravo” (Samwise, the Brave), “Éowyn: A Dama de Rohan” (Eowyn: White Lady of Rohan), e “Dublês Digitais dos Cavalos” (Digital Horse Doubles), sendo que nesse tema temos comentários interessantes sobre a concepção e as dificuldades enfrentadas na criação de cavalos digitais para contracenarem com animais reais na batalha nos Campos de Pelennor, através dos técnicos Matt Aitken (modelos digitais), Randy Cook (animação) e Joe Letteri (efeitos visuais).

“O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei” (The Lord of the Rings: The Return of the King, 2003) – avaliação: 10 (de 0 a 10).
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 31/12/05)

O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei (The Lord of the Rings: The Return of the King, Estados Unidos / Nova Zelândia, 2003). Duração: 201 minutos. “Warner Brothers” / “New Line Cinema”. Direção de Peter Jackson. Roteiro de Peter Jackson, Frances Walsh e Philippa Boyens, baseado na obra literária de J. R. R. Tolkien. Produção de Peter Jackson, Barrie M. Osborne, Frances Walsh, Rick Porras e Jamie Selkirk. Produção Executiva de Michael Lynne, Mark Ordesky, Robert Shaye, Bob Weinstein e Harvey Weinstein. Música de Howard Shore. Fotografia de Andrew Lesnie. Edição de Jamie Selkirk. Desenho de Produção de Grant Major. Direção de Arte de Joe Bleakley, Simon Bright, Dan Hennah, Philip Ivey e Christian Rivers. Efeitos Visuais de Jim Rygiel. Desenho de Vestuário de Ngila Dickson e Richard Taylor. Maquiagem especial, criaturas, miniaturas e efeitos digitais: Richard Taylor (WETA Workshop). Elenco: Elijah Wood (Frodo), Andy Serkis (Sméagol / Gollum), Billy Boyd (Pippin), Dominic Monaghan (Merry), Sean Astin (Sam), Viggo Mortensen (Aragorn), Orlando Bloom (Legolas), John Rhys-Davies (Gimli), Ian McKellen (Gandalf), Liv Tyler (Arwen), Cate Blanchett (Galadriel), Miranda Otto (Éowyn), Bernard Hill (Théoden), John Noble (Denethor), David Wenham (Faramir), Ian Holm (Bilbo Baggins), Hugo Weaving (Elrond), Karl Urban (Éomer), Thomas Robins (Deagol), Paul Norell (Rei dos Mortos).

“Repouse sua cabeça frágil e cansada. A noite está começando. Você chegou ao fim da jornada. Durma agora. E sonhe com os que vieram antes. Eles estão chamando dos Portos distantes. Por que você chora? O que são essas lágrimas no rosto? Logo você verá que todo o medo será deposto. A salvo em meus braços você apenas dorme. O que você vê no horizonte enorme? Por que a gaivota branca canta? Atravessando o mar uma lua pálida se levanta. Os navios vieram em frota para levar você de volta. Tudo se tornará como vidro prateado. Uma luz sobre a água. As almas passarão ao outro lado. A esperança mingua no mundo da noite que avança. Através das sombras que caem saindo do tempo e da lembrança. Não diga que agora chegamos ao fim. Os Portos Brancos estão chamando. Haverá um reencontro entre você e mim. E você estará aqui em meus braços onde apenas dorme. O que você vê no horizonte enorme? Por que a gaivota branca canta? Atravessando o mar uma lua pálida se levanta. Os navios vieram em frota para levar você de volta. E tudo se tornará vidro prateado. Uma luz no mar. Navios Cinzentos são navegados para o Oeste.”– música cantada por Annie Lennox, durante os créditos finais de “O Retorno do Rei”