Uma autêntica produção de Ficção Científica com elementos de Horror, oriunda dos nostálgicos anos 60, com história sem nenhuma originalidade, uma imensidão de furos e situações inverossímeis no roteiro, atores incrivelmente inexpressivos, monstros vagabundos, e efeitos especiais extremamente toscos (miniaturas de naves espaciais e maquetes de cidades futuristas), mas bastante trabalhosos e fantásticos para a época. Essa seria uma definição ideal em poucas palavras para “O Lodo Verde” (The Green Slime, 68), um típico exemplar do mais puro cinema bagaceiro, e por causa justamente de tudo isso, uma diversão mais que garantida para quem aprecia filmes pouco comentados e mais desconhecidos, e produções repletas de falhas não propositais.
“O Lodo Verde” é uma produção internacional, numa parceria entre os Estados Unidos, Japão e Itália, inteiramente filmado num estúdio na capital japonesa Tóquio. A história apresenta uma base espacial chamada “Gamma 3”, operando em órbita da Terra e descobrindo a existência de um imenso asteróide, batizado de “Flora”, que está em rota de colisão com nosso planeta. O asteróide tem seis milhões de toneladas de rocha e se chocará com a Terra em menos de dez horas (é inacreditável como os incompetentes cientistas não conseguiram descobrir com mais antecedência a existência de um objeto imenso no espaço capaz de destruir nosso planeta num impacto catastrófico).
Para evitar a tragédia, um grupo de astronautas liderado por Jack Rankin (Robert Horton), é enviado da Terra com destino à base espacial “Gamma 3”, e de lá rumo ao asteróide numa missão para detoná-lo com uma poderosa explosão, perfurando o solo com potentes brocas especiais e implantando explosivos de grande poder de destruição. Curiosamente, o mesmo argumento serviu de base trinta anos depois para a história de “Armageddon”, um blockbuster com um elenco famoso liderado por Bruce Willis, e que teve um orçamento milionário, boa parte gasto em efeitos especiais super sofisticados.
O comando das operações na Terra é do oficial Jonathan Thompson (Bud Widom), e a base especial é comandada por Vince Elliott (Richard Jaeckel), um antigo amigo de Rankin, os quais tiveram problemas de relacionamento no passado (Rankin afirma que Elliott não tem preparo emocional para liderança e comando). Ainda existe o agravante de ambos formarem um triângulo amoroso com a médica Lisa Benson (a italiana Luciana Paluzzi), que está trabalhando em “Gamma 3” e que abandonou Rankin para ficar noiva de Elliott.
No asteróide, enquanto os astronautas preparavam a detonação das bombas, eles entraram em contato com uma misteriosa substância gosmenta verde que parecia ser uma espécie de forma de vida alienígena. Após o sucesso da missão com a explosão do asteróide gigante, eles retornam à base espacial levando involuntariamente consigo uma amostra do “lodo verde”, graças ao Dr. Halvorsen (Ted Gunther), que estava ansioso por conhecer uma criatura desconhecida, justificando seus atos com o tradicional clichê “pelo bem do conhecimento científico”. Uma vez se alimentando de energia elétrica, a gosma viva se transforma num monstro verde com tentáculos e um único olho central vermelho, que tem o poder de se reproduzir sozinho em alta escala pelas células do sangue verde, além de curar seus próprios ferimentos, se regenerando automaticamente. As criaturas emitem um ruído irritante e esquisito, e matam suas vítimas queimadas através de eletrocussão.
A partir daí, a base espacial é rapidamente infestada pelos monstros, obrigando o comando a decretar estado de quarentena, e mediante a impossibilidade de matá-los, os sobreviventes são obrigados a se refugiarem numa nave com destino à Terra, condenando “Gamma 3” à destruição e levando consigo as criaturas formadas pelo “lodo verde”.
O filme possui tantas falhas, tantos furos no roteiro, tantas situações absurdas e muitas vezes ridículas, e tudo realizado de forma não proposital, que o resultado final acaba tornando-se uma grande diversão num genuíno representante do cinema fantástico bagaceiro.
A seguir, vale a pena registrar alguns exemplos de cenas que reforçam a ideia exposta acima. Os foguetes espaciais são miniaturas que soltam fumaça e fazem barulho, em efeitos incrivelmente toscos (quando comparado por exemplo às naves de “2001: Uma Odisséia no Espaço”, produzido no mesmo ano). Os astronautas andam e em determinado momento até correm normalmente enquanto estão no asteróide, ignorando a ação da gravidade. Numa cena em especial, quando os astronautas estão em fuga num foguete tentando escapar dos efeitos da explosão do asteróide, o líder da missão Rankin ordena ao piloto para acionar a velocidade máxima, a qual colocaria em extremo perigo a estabilidade da nave. Com a recusa de bom senso do piloto, o comandante levanta-se de seu lugar e aciona pessoalmente a alavanca de aceleração numa atitude de “homem de coragem e bravura” (e pouca inteligência) que consegue arrancar algumas risadas involuntárias do espectador. Em outro momento, quando os astronautas chegam à base espacial, após o sucesso da missão, eles são corretamente encaminhados para um compartimento de descontaminação, mas o procedimento de segurança é totalmente violado quando a afobada médica Lisa invade a sala para recepcionar seu noivo Elliott. Talvez o ápice das cenas bagaceiras seja o momento em que os “heróis” Rankin e Elliott escapam da base espacial infestada de monstros, e que está à deriva prestes à explodir. Eles se lançam no espaço até encontrarem o refúgio de uma nave de resgate.
Como curiosidade, é interessante citar que tanto no interior das naves quanto na sala de controle de “Gamma 3”, é encontrada uma infinidade daqueles tradicionais elementos sempre presentes nos filmes de FC antigos, ou seja, painéis com luzes piscando, cheios de botões, telas grandes, visores, além de computadores enormes.
Felizmente, o filme recebeu um título nacional muito bem escolhido e apropriado, apenas traduzindo o original “The Green Slime” para “O Lodo Verde”. Aliás, existem vários outros nomes alternativos que foram adotados na distribuição pelo mundo como os enormes “After the Destruction of Space Station Gamma: Big Military Operation” e “Gamma #3 Big Military Space Operation”, os manjados demais “Battle Beyond the Stars”, “The Battle of Space Station Gamma” e “Death and the Green Slime”, o italiano “Il Fango Verde”, e o japonês “Gamma Sango Uchu Daisakusen”. Quanto à tagline escolhida para a divulgação do filme, algo como “O Lodo Verde está chegando!!”, podemos dizer que é óbvia e comum demais, sem criatividade, onde os produtores poderiam certamente ter pensado numa outra frase bem mais interessante.
Algumas curiosidades sobre os envolvidos no projeto de “O Lodo Verde” são que o diretor japonês Kinji Fukasaku (1930 / 2003) é o mesmo responsável por dois filmes de horror japoneses mais atuais e conhecidos pela alta dose de violência de suas histórias, “Battle Royale” (2000) e a continuação produzida três anos depois. Quanto ao elenco, o casal principal de atores é muito inexpressivo, sendo que o americano Robert Horton nasceu em 1924 e não possui grandes destaques em sua filmografia, já a italiana Luciana Paluzzi, nascida em Roma em 1937, provavelmente nunca estudou a arte de atuar pois é uma atriz muito ruim. O único ator com algum destaque é o americano Richard Jaeckel (1926 / 1997), com uma carreira com 95 filmes, sendo um rosto conhecido em inúmeras séries de TV dos anos 60 e reconhecido pelo papel do Sargento Clyde Bowren no clássico da Segunda Guerra Mundial “Os Doze Condenados” (The Dirty Dozen, 67).
“O Lodo Verde” (The Green Slime, 1968) # 255 – data: 20/05/04 – avaliação: 6 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 08/12/05)
“O Lodo Verde” (The Green Slime, Estados Unidos / Japão / Itália, 1968). Metro Goldwyn Mayer (MGM). Duração: 90 minutos. Direção de Kinji Fukasaku. Roteiro de Tom Rowe e Charles Sinclair, baseados na história de Ivan Reiner e Bill Finger. Produção de Walter Manley e Ivan Reiner. Fotografia de Yoshikazu Yamasawa. Música de Charles Fox e Toshiaki Tsushima. Edição de Osamu Tanaka. Efeitos Especiais de Akira Watanabe. Elenco: Robert Horton (Jack Rankin), Luciana Paluzzi (Lisa Benson), Richard Jaeckel (Vince Elliott), Bud Widom (Jonathan Thompson), Ted Gunther (Dr. Halvorsen), David Yorston, Robert Dunham, Gary Randolf, Jack Morris, Eugene Vince, Don Plante, Linda Hardisty, Richard Hylland, Kathy Horan, Ann Ault, Susan Skersick, Helen Kirkpatrick, Carl Bengs, Linda Miller, Strong Ilimaiti, Enver Altenbay, Tom Scott, Patricia Elliott.
“O Lodo Verde” é uma produção internacional, numa parceria entre os Estados Unidos, Japão e Itália, inteiramente filmado num estúdio na capital japonesa Tóquio. A história apresenta uma base espacial chamada “Gamma 3”, operando em órbita da Terra e descobrindo a existência de um imenso asteróide, batizado de “Flora”, que está em rota de colisão com nosso planeta. O asteróide tem seis milhões de toneladas de rocha e se chocará com a Terra em menos de dez horas (é inacreditável como os incompetentes cientistas não conseguiram descobrir com mais antecedência a existência de um objeto imenso no espaço capaz de destruir nosso planeta num impacto catastrófico).
Para evitar a tragédia, um grupo de astronautas liderado por Jack Rankin (Robert Horton), é enviado da Terra com destino à base espacial “Gamma 3”, e de lá rumo ao asteróide numa missão para detoná-lo com uma poderosa explosão, perfurando o solo com potentes brocas especiais e implantando explosivos de grande poder de destruição. Curiosamente, o mesmo argumento serviu de base trinta anos depois para a história de “Armageddon”, um blockbuster com um elenco famoso liderado por Bruce Willis, e que teve um orçamento milionário, boa parte gasto em efeitos especiais super sofisticados.
O comando das operações na Terra é do oficial Jonathan Thompson (Bud Widom), e a base especial é comandada por Vince Elliott (Richard Jaeckel), um antigo amigo de Rankin, os quais tiveram problemas de relacionamento no passado (Rankin afirma que Elliott não tem preparo emocional para liderança e comando). Ainda existe o agravante de ambos formarem um triângulo amoroso com a médica Lisa Benson (a italiana Luciana Paluzzi), que está trabalhando em “Gamma 3” e que abandonou Rankin para ficar noiva de Elliott.
No asteróide, enquanto os astronautas preparavam a detonação das bombas, eles entraram em contato com uma misteriosa substância gosmenta verde que parecia ser uma espécie de forma de vida alienígena. Após o sucesso da missão com a explosão do asteróide gigante, eles retornam à base espacial levando involuntariamente consigo uma amostra do “lodo verde”, graças ao Dr. Halvorsen (Ted Gunther), que estava ansioso por conhecer uma criatura desconhecida, justificando seus atos com o tradicional clichê “pelo bem do conhecimento científico”. Uma vez se alimentando de energia elétrica, a gosma viva se transforma num monstro verde com tentáculos e um único olho central vermelho, que tem o poder de se reproduzir sozinho em alta escala pelas células do sangue verde, além de curar seus próprios ferimentos, se regenerando automaticamente. As criaturas emitem um ruído irritante e esquisito, e matam suas vítimas queimadas através de eletrocussão.
A partir daí, a base espacial é rapidamente infestada pelos monstros, obrigando o comando a decretar estado de quarentena, e mediante a impossibilidade de matá-los, os sobreviventes são obrigados a se refugiarem numa nave com destino à Terra, condenando “Gamma 3” à destruição e levando consigo as criaturas formadas pelo “lodo verde”.
O filme possui tantas falhas, tantos furos no roteiro, tantas situações absurdas e muitas vezes ridículas, e tudo realizado de forma não proposital, que o resultado final acaba tornando-se uma grande diversão num genuíno representante do cinema fantástico bagaceiro.
A seguir, vale a pena registrar alguns exemplos de cenas que reforçam a ideia exposta acima. Os foguetes espaciais são miniaturas que soltam fumaça e fazem barulho, em efeitos incrivelmente toscos (quando comparado por exemplo às naves de “2001: Uma Odisséia no Espaço”, produzido no mesmo ano). Os astronautas andam e em determinado momento até correm normalmente enquanto estão no asteróide, ignorando a ação da gravidade. Numa cena em especial, quando os astronautas estão em fuga num foguete tentando escapar dos efeitos da explosão do asteróide, o líder da missão Rankin ordena ao piloto para acionar a velocidade máxima, a qual colocaria em extremo perigo a estabilidade da nave. Com a recusa de bom senso do piloto, o comandante levanta-se de seu lugar e aciona pessoalmente a alavanca de aceleração numa atitude de “homem de coragem e bravura” (e pouca inteligência) que consegue arrancar algumas risadas involuntárias do espectador. Em outro momento, quando os astronautas chegam à base espacial, após o sucesso da missão, eles são corretamente encaminhados para um compartimento de descontaminação, mas o procedimento de segurança é totalmente violado quando a afobada médica Lisa invade a sala para recepcionar seu noivo Elliott. Talvez o ápice das cenas bagaceiras seja o momento em que os “heróis” Rankin e Elliott escapam da base espacial infestada de monstros, e que está à deriva prestes à explodir. Eles se lançam no espaço até encontrarem o refúgio de uma nave de resgate.
Como curiosidade, é interessante citar que tanto no interior das naves quanto na sala de controle de “Gamma 3”, é encontrada uma infinidade daqueles tradicionais elementos sempre presentes nos filmes de FC antigos, ou seja, painéis com luzes piscando, cheios de botões, telas grandes, visores, além de computadores enormes.
Felizmente, o filme recebeu um título nacional muito bem escolhido e apropriado, apenas traduzindo o original “The Green Slime” para “O Lodo Verde”. Aliás, existem vários outros nomes alternativos que foram adotados na distribuição pelo mundo como os enormes “After the Destruction of Space Station Gamma: Big Military Operation” e “Gamma #3 Big Military Space Operation”, os manjados demais “Battle Beyond the Stars”, “The Battle of Space Station Gamma” e “Death and the Green Slime”, o italiano “Il Fango Verde”, e o japonês “Gamma Sango Uchu Daisakusen”. Quanto à tagline escolhida para a divulgação do filme, algo como “O Lodo Verde está chegando!!”, podemos dizer que é óbvia e comum demais, sem criatividade, onde os produtores poderiam certamente ter pensado numa outra frase bem mais interessante.
Algumas curiosidades sobre os envolvidos no projeto de “O Lodo Verde” são que o diretor japonês Kinji Fukasaku (1930 / 2003) é o mesmo responsável por dois filmes de horror japoneses mais atuais e conhecidos pela alta dose de violência de suas histórias, “Battle Royale” (2000) e a continuação produzida três anos depois. Quanto ao elenco, o casal principal de atores é muito inexpressivo, sendo que o americano Robert Horton nasceu em 1924 e não possui grandes destaques em sua filmografia, já a italiana Luciana Paluzzi, nascida em Roma em 1937, provavelmente nunca estudou a arte de atuar pois é uma atriz muito ruim. O único ator com algum destaque é o americano Richard Jaeckel (1926 / 1997), com uma carreira com 95 filmes, sendo um rosto conhecido em inúmeras séries de TV dos anos 60 e reconhecido pelo papel do Sargento Clyde Bowren no clássico da Segunda Guerra Mundial “Os Doze Condenados” (The Dirty Dozen, 67).
“O Lodo Verde” (The Green Slime, 1968) # 255 – data: 20/05/04 – avaliação: 6 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 08/12/05)
“O Lodo Verde” (The Green Slime, Estados Unidos / Japão / Itália, 1968). Metro Goldwyn Mayer (MGM). Duração: 90 minutos. Direção de Kinji Fukasaku. Roteiro de Tom Rowe e Charles Sinclair, baseados na história de Ivan Reiner e Bill Finger. Produção de Walter Manley e Ivan Reiner. Fotografia de Yoshikazu Yamasawa. Música de Charles Fox e Toshiaki Tsushima. Edição de Osamu Tanaka. Efeitos Especiais de Akira Watanabe. Elenco: Robert Horton (Jack Rankin), Luciana Paluzzi (Lisa Benson), Richard Jaeckel (Vince Elliott), Bud Widom (Jonathan Thompson), Ted Gunther (Dr. Halvorsen), David Yorston, Robert Dunham, Gary Randolf, Jack Morris, Eugene Vince, Don Plante, Linda Hardisty, Richard Hylland, Kathy Horan, Ann Ault, Susan Skersick, Helen Kirkpatrick, Carl Bengs, Linda Miller, Strong Ilimaiti, Enver Altenbay, Tom Scott, Patricia Elliott.