Poseidon (2006)


Uma das coisas mais subjetivas e polêmicas quando o assunto é cinema é a opinião dos fãs sobre o resultado final de uma refilmagem. Existe todo tipo de situação, desde a mais comum que considera a refilmagem uma heresia em relação ao original, passando pela opinião onde ambos os filmes podem se equivaler de alguma forma, ou até casos mais raros onde a refilmagem supera a obra em que se inspirou. E existem ainda outras possibilidades que colocam mais “lenha na fogueira”, como o fato da refilmagem ser fiel aos eventos do original ou quando, ao contrário, ocorre um exagero na liberdade de criação artística, alterando significativamente os fatos já conhecidos anteriormente.
Por exemplo, eu gostei da refilmagem de “A Profecia” (The Omen, 2006), que ao seu modo é um filme bastante interessante e que consegue contribuir e agregar valor para o universo ficcional da franquia que fala da vinda do Anticristo para a Terra, e que se iniciou com o clássico homônimo de 1976. Porém, já no caso de “Poseidon” (Poseidon, 2006), dirigido pelo alemão Wolfgang Petersen (de produções milionárias como “Tróia” e “Mar Em Fúria”) e que entrou em cartaz nos cinemas brasileiros em 23/06/06, eu achei que o excesso de liberdade modificando eventos (principalmente o final), além do elenco inferior, contribuiu para um resultado muito abaixo do filme original, “O Destino do Poseidon” (The Poseidon Adventure, 1972), dirigido por Ronald Neame e produzido pelo mestre Irwin Allen (1916/1991), criador das nostálgicas séries de TV dos anos 60 “Viagem ao Fundo Mar”, “Perdidos no Espaço”, “Túnel do Tempo” e “Terra de Gigantes”. Curiosamente, foi produzida uma continuação em 1979 chamada “Dramático Reencontro no Poseidon” (Beyond the Poseidon Adventure), dessa vez dirigida pelo próprio Irwin Allen, e que foi um fracasso por causa de um roteiro ruim e produção pobre, apesar do bom elenco formado por nomes como Michael Caine, Telly Savalas, Peter Boyle, Sally Field, Karl Malden e Jack Warden. E em 2005 tivemos uma outra refilmagem, especialmente para a TV, com o mesmo nome do original “The Poseidon Adventure”, com Rutger Hauer e Adam Baldwin.

A história, baseado no livro de Paul Gallico, é sobre o imenso navio de luxo “Poseidon”, que numa viagem rumo aos Estados Unidos levando centenas de passageiros, foi surpreendido por uma onda gigante que virou a embarcação de cabeça para baixo, obrigando os sobreviventes (que comemoravam a passagem para um ano novo), a tentarem chegar ao casco para salvar suas vidas na tentativa de um resgate externo. Um grupo de pessoas se separa das demais e se reúne para tentar uma fuga do imenso túmulo em que se transformou o navio. A liderança é de um jogador profissional de cartas, Dylan Johns (Josh Lucas), que tenta salvar sua vida e de outros como o ex-prefeito de Nova Iorque, Robert Ramsey (Kurt Russell), sua filha Jennifer (Emmy Rossum) e o namorado Christian (Mike Vogel), uma jovem mãe, Maggie James (Jacinda Barrett), e seu filho pequeno Conor (Jimmy Bennett), um arquiteto solitário e homossexual, Richard Nelson (interpretado pelo veterano Richard Dreyfuss), e uma passageira clandestina, a bela Elena Gonzalez (Mía Maestro).

Entre os pontos positivos na refilmagem, destaco a seqüência de abertura, filmada com belas tomadas panorâmicas do imenso transatlântico em toda a sua extensão, tendo ao fundo a paisagem fascinante do horizonte com o sol se pondo. Existe também uma boa quantidade de cenas carregadas de tensão e agonia na luta pela sobrevivência numa tragédia de proporções colossais, além da exposição de muitas mortes de passageiros e tripulantes, vítimas de afogamentos, explosões e incêndios. Os efeitos especiais são também bem convincentes (aliás, no clássico dos anos 70 esse quesito também foi enaltecido, tanto que ganhou o cobiçado Prêmio “Oscar”), especialmente na cena da onda gigante tombando o navio, uma cortesia da moderna tecnologia à disposição do cinema para tornar os eventos cada vez mais realistas.
Porém, ao contrário, o elenco (exceto por Kurt Russell e Richard Dreyfuss), não se compara em talento ao clássico de 1972, que tinha simplesmente Gene Hackman, Ernest Borgnine, Roddy MacDowall, Shelley Winters e Leslie Nielsen, entre outros, que faziam personagens muito mais interessantes: Hackman era um padre corajoso e de personalidade forte, Borgnine era um policial metido a valentão, McDowall era um funcionário que conhecia o navio, Winters era uma mulher muito simpática, mas o fato ser obesa dificultou sua luta para sobreviver no difícil percurso até o casco, e Nielsen (ainda quando fazia papéis sérios) era o Capitão, que teve uma participação rápida. Na refilmagem, nenhum personagem despertou interesse, sendo que um deles inclusive, Lucky Larry (Kevin Dillon), é tão patético que seu trágico destino foi um benefício para a humanidade.
Esse novo “Poseidon” tem também um excesso de cenas forçadas e situações inverossímeis, principalmente no último ato que culmina com um final bem diferente do original, perdendo em charme para o filme de quase 35 anos antes, menos barulhento e mais dramático, um fator que ajudou a criar uma interação maior entre o público e os personagens, fazendo-nos torcer por eles (eu particularmente fiquei bastante desapontado com o destino do padre interpretado pelo excepcional Gene Hackman). Na refilmagem, confesso que não consegui me importar com nenhum dos personagens.
O “Poseidon” de 2006 não é um filme ruim, mas é apenas mediano quando utilizamos como referência o primeiro filme sobre o tema, produzido por Irwin Allen, e pelo menos para mim, continuarei somente com a lembrança do filme de 1972, e a refilmagem foi apenas uma diversão rápida e esquecível.

“Poseidon” (Poseidon, 2006) # 386 – data: 24/06/06 – avaliação: 5 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 24/06/06)