O Pianista (2002) + Cinzas da Guerra (2001)



O PIANISTA NA GUERRA DE CINZAS
“GUERRA”. Uma palavra simples, mas que tem um significado devastador, sinônimo de morte e dor. O mais terrível é constatar que essa atividade irracional e insana, a qual merece todo o meu repúdio, tem sido praticada com insistência pela humanidade periodicamente ao longo de toda sua história sangrenta. É inacreditável que ainda não conseguimos evoluir nessa questão, e ao contrário, grande parte do aumento de nosso conhecimento científico e tecnológico com o passar dos anos, tem sido aproveitado de forma equivocada, com objetivos militares e bélicos. Em vez de política e diplomacia, os conflitos por interesses econômicos são solucionados com violência e intolerância, enfatizando o quanto medíocre é a raça humana. Com essas palavras deixo aqui expresso o meu total desprezo aos responsáveis pela guerra.
O cinema muitas vezes tem a importante missão de retratar as atrocidades cometidas durante as diversas guerras que marcaram a história de nossa espécie, e dois filmes em especial procuraram reconstituir episódios sangrentos e reais da Segunda Guerra Mundial: “O Pianista” e “Cinzas da Guerra”.

Em 07/03/03 entrou em cartaz no Brasil o excelente “O Pianista” (The Pianist), dirigido por Roman Polanski numa co-produção entre França, Alemanha, Polônia e Inglaterra, e que ganhou de forma merecida o cobiçado Prêmio “Oscar” nas categorias de diretor, de roteiro adaptado de Ronald Harwood, baseado em livro de Wladyslaw Szpilman, e de ator para Adrien Brody.
A história baseada em fatos reais, mostra a sofrida trajetória de um jovem pianista polonês judeu, Wladyslaw Szpilman (Adrien Brody), que trabalha numa rádio de Varsóvia, quando tem início uma invasão nazista à Polônia em 1939 no começo da Segunda Guerra Mundial. Ele tenta escapar da tirania alemã, vivendo com sua família num gueto criado pelos invasores, que prenderam os judeus num bairro cercado por muros altos de concreto. Separado da família, que foi enviada para a morte num campo de concentração, o pianista luta por sua sobrevivência enquanto testemunha a enorme violência e irracionalidade cometida contra o povo judeu, e tendo que se refugiar escondido nos prédios abandonados e destruídos de sua cidade, passando fome e esperando o término da guerra ou alguma ajuda dos militares inimigos dos alemães.
O ápice do absurdo dessa guerra é ver os sobreviventes famintos desviando-se de crianças abandonadas nas ruas, mortas por doenças e fome, ignorando completamente suas existências como se seus cadáveres nem estivessem ali, largados nas sarjetas. E o mais incrível, é que passados mais de 60 anos depois, a humanidade ainda insiste nos conflitos armados, desconsiderando as atrocidades cometidas no passado com suas dolorosas repercussões, e intensificando ainda mais seu grau de irracionalidade, agora novamente com outra guerra política dos americanos imperialistas no Iraque.

Também outro filme lançado nos cinemas em 04/04/03 focalizou o ambiente insano da Segunda Guerra Mundial. “Cinzas da Guerra” (The Grey Zone) foi escrito e dirigido pelo ator Tim Blake Nelson, retratando um episódio específico real acontecido em 1944 nos campos de extermínio de judeus em “Auschwitz”, na Polônia, onde alguns judeus eram escolhidos para trabalharem no processo de matança nas câmaras de gás ou nos fornos crematórios dos cadáveres (cujos ossos viravam toneladas de cinzas para serem descarregadas num rio, daí o nome do filme). Em troca pelos serviços, eles recebiam algumas mordomias e garantia de vida por mais quatro meses, quando então seriam executados também e substituídos por outras equipes.
Entre esses judeus escolhidos para trabalharem no processo de carnificina, organizando as filas de judeus para a morte ou limpando as câmaras de gás retirando os cadáveres, estava Hoffman (David Arquette, da série “Pânico” e de “Malditas Aranhas!”). Também escolhido, mas não para o trabalho braçal, estava um médico judeu, Miklos Nyiszli (Allan Corduner), que devido as suas qualidades em medicina, foi indicado pelo próprio carniceiro Josef Mengele (Henry Stram) para trabalhar como patologista em Auchswitz, sob o comando do veterano militar alemão Muhsfeldt (Harvey Keitel). No único episódio conhecido e registrado durante aquela guerra, eles se organizaram e tentaram uma revolta conseguindo destruir dois fornos crematórios, porém culminando inevitavelmente numa tentativa de rebelião fracassada.
É um filme completamente perturbador, com cenas absurdas de violência e extermínio de pessoas em situações piores ainda que gados preparados para o abate em matadouros. A seqüência dos rebeldes sobreviventes do motim deitados no chão apenas aguardando o disparo final de um projétil que estouraria suas cabeças é simplesmente inacreditável. Esse tipo de carnificina aconteceu há 60 anos atrás e para sempre fará sentirmos vergonha de nossa própria humanidade.

Sobre tudo isso, acabo lembrando-me de um filme de ficção científica chamado “O Soldado do Futuro” (Soldier, 1998), em que Kurt Russell é um super soldado treinado apenas para a guerra, a qual nunca deixou de existir para a humanidade, sempre com conflitos sangrentos entre seus povos, saindo até do ambiente interno da Terra e indo em direção a batalhas em outros planetas. Parece que o roteiro pessimista desse filme pode até mesmo representar o futuro da raça humana: estúpidas guerras eternas...

O Pianista (The Pianist / Le Pianiste, França / Alemanha / Polônia / Inglaterra, 2002). Duração: 148 minutos. Direção de Roman Polanski. Roteiro de Ronald Harwood, baseado em livro de Wladyslaw Szpilman. Produção de Robert Benmussa, Roman Polanski e Alain Sarde. Fotografia de Pawel Edelman. Música de Wojciech Kilar. Elenco: Adrien Brody (Wladyslaw Szpilman), Thomas Kretschmann (Capitão Wilm Hosenfeld), Frank Finlay (Pai), Maureen Lipman (Mãe), Emilia Fox (Dorota), Ed Stoppard (Henryk), Julia Rayner (Regina), Jessica Kate Meyer (Halina), Ruth Platt (Janina), Katarzyna Figura (Kittie), Valentine Pelka (Michal), Popeck (Rubinstein).

Cinzas da Guerra (The Grey Zone, Estados Unidos, 2001). Duração: 108 minutos. Direção de Tim Blake Nelson. Roteiro de Tim Blake Nelson, baseado em peça teatral homônima. Produção de Pamela Koffler, Tim Blake Nelson e Christine Vachon. Fotografia de Russell Lee Fine. Música de Jeff Fanna. Elenco: David Arquette (Hoffman), Steve Buscemi (Abramowics), Harvey Keitel (Muhsfeldt), Allan Corduner (Miklos Nyiszli), Mira Sorvino (Dina), Natasha Lyonne (Rosa), Daniel Benzali (Schlermer), David Chandler (Rosenthal), Lisa Benavides (Anja), Henry Stram (Josef Mengele), Kamelia Grigorova (Garota), Velizer Binev (Moll).

“O Pianista” (The Pianist / Le Pianiste, 2002) – avaliação: 8,5 (de 0 a 10)
“Cinzas da Guerra” (The Grey Zone, 2001) – avaliação: 7,0 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 20/06/06)