Violação de Conduta (2003)


Um dos atores cuja presença já é motivo suficiente para que eu me esforce em conhecer um filme é o excepcional Samuel L. Jackson, que passou a ser mais notado e admirado depois de atuar em “Tempo de Violência” (Pulp Fiction, 1994), dirigido por Quentin Tarantino, e estrelado por John Travolta. E é justamente se reunindo de novo com esse último e também com o diretor John McTiernan, especialista em filmes de ação, que resultou na divertida produção “Violação de Conduta” (Basic), um thriller militar que entrou em cartaz nos cinemas brasileiros em 10/10/03.

Um grupo de elite do exército americano foi encaminhado de helicóptero para um dificultoso treinamento militar no meio de uma selva do Panamá, e sob uma forte tempestade. Liderado pelo rigoroso e impopular Sargento Nathan West (Samuel L. Jackson), a equipe é ainda formada por outros seis soldados, Kendall (Giovanni Ribisi), Dunbar (Brian Van Holt), Pike (Taye Diggs), Mueller (Dash Mihok), Castro (Cristián de la Fuente) e a bela Nunez (Roselyn Sanchez). Passadas várias horas após a previsão do término da missão, o comandante de uma base local, Coronel Bill Styles (Timothy Daly), parte no resgate do grupo e encontra apenas o soldado Dunbar correndo desesperado na selva levando nas costas o companheiro ferido Kendall, e sendo perseguido por Mueller que acaba alvejado mortalmente no confronto.
Uma vez recolhidos à base, os únicos dois sobreviventes do grupo (Dunbar, preso por assassinato, e Kendall, internado num hospital militar) afirmam que os demais companheiros estavam mortos. Porém, eles se negam a falar sobre o ocorrido com a oficial encarregada da investigação Capitã Julia Osborne (Connie Nielsen), e então o comandante Styles recorre à ajuda de um antigo amigo ex-soldado e agora membro de um órgão especial do governo no combate ao tráfico de drogas, Tom Hardy (John Travolta), que é muito hábil na condução de interrogatórios. O problema é que ele está sendo investigado por corrupção e recebimento de propina de traficantes e inicialmente é mal recebido por Osborne.
Após um cuidadoso trabalho de investigação, os soldados relatam a história do incidente com o grupo, porém em versões completamente diferentes, obrigando Hardy e Osborne a buscarem perigosamente a verdade dos fatos. A partir daí surge uma verdadeira overdose de informações com muita conversa, investigação, suspense e principalmente uma infinidade de reviravoltas e revelações, dentro de um clima do mais puro mistério sobre o real destino do Sargento West e seus soldados, que desapareceram numa missão de treinamento que acabou em morte. E as coisas se complicam ainda mais com o surgimento na trama do médico responsável pelo hospital da base, Vilmer (Harry Connick Jr.), que estaria supostamente envolvido com tráfico de drogas dentro do exército, numa clara “violação de conduta”.

O filme tem basicamente apenas duas locações, em sequências filmadas nas selvas molhadas pela ação de um furioso furacão, com excelentes cenas de ação, e na base militar, com os interrogatórios e a investigação sobre a morte dos soldados. O trio de protagonistas principais, formado por Travolta, Jackson e Nielsen, mantém todo o tempo o interesse pela história, fortalecendo o clima incessante de mistério, através de interpretações convincentes. E somente é uma pena que os personagens Hardy e West contracenem juntos por tão pouco tempo. Mas em compensação existe uma interessante química entre Hardy e Osborne, num misto de atração e desconfiança constante, evidenciando a importância para quem está assistindo da presença feminina de uma bela mulher (apesar de severa) para suavizar o ambiente rigidamente disciplinado e pesado de uma base militar povoada quase que inteiramente por homens, e ainda pior, muito distantes de casa.
Parece bem claro também que o roteirista James Vanderbilt procurou manipular os espectadores ao apresentar uma série de incríveis e constantes reviravoltas na história, estabelecendo uma inevitável confusão dos vários eventos apresentados, mas que não chega a ser prejudicial. Porém, isso acabou obrigando o público a pensar bem mais do que normalmente se faria na maioria dos filmes comuns, para poder acompanhar o raciocínio da história, constituindo-se num fato que talvez possa explicar o não merecido fracasso nas bilheterias americanas.

O cineasta americano John McTiernan nasceu em 1951 e é conhecido principalmente pela série “Duro de Matar”, com Bruce Willis, onde dirigiu o filme original de 1988 e a terceira parte sete anos depois. Em seu currículo estão presentes filmes interessantes como “Predador” (1987) e “O Último Grande Herói” (1993), ambos com Arnold Schwarzenegger, “A Caçada ao Outubro Vermelho” (1990), com Sean Connery, “Thomas Crown – A Arte do Crime” (1999), com Pierce Brosnan, e “O 13º Guerreiro” (1999), com Antonio Banderas, ou também “bombas” como “Rollerball” (2002), com Jean Reno e Rebecca Romjin-Stamos, uma refilmagem mal sucedida de “Rollerball – Os Gladiadores do Futuro” (1975), com James Caan.
O roteirista James Vanderbilt ainda tem uma filmografia bem pequena, merecendo registro a sua participação no horror “No Cair da Noite” (Darkness Falls, 2003).
O elenco é formado por dois atores em especial, os quais possuem grande experiência, carisma e prestígio, e que cujos nomes já são de forma merecida uma grande jogada de marketing promocional de qualquer filme, despertando certamente a atenção de seus admiradores.
John Travolta nasceu em New Jersey em 18/02/1954 e participou de vários filmes consagrados como o alucinante “A Outra Face” (1997), ao lado de Nicolas Cage, o drama da Segunda Guerra Mundial “Além da Linha Vermelha” (1998), o ótimo suspense “A Filha do General” (1999, ao lado de Madeleine Stowe, num filme militar com muitos elementos parecidos com esse “Violação de Conduta”) e o thriller de terrorismo “A Senha” (2001). Em seu currículo ainda figuram filmes menores como as produções de ficção científica “Fenômeno” (1996) e “A Reconquista” (2000), ambas ao lado de Forest Whitaker, além do fraco suspense “Inimigo em Casa” (2001).
Já Samuel L. Jackson é um dos mais atuantes e talentosos atores da atualidade, com uma extensa e admirável filmografia. Nascido em 1948 em Washington, esteve com o diretor John McTiernan em “Duro de Matar 3” (1995) e em filmes de diversão garantida como “Tempo de Matar” (1996), “187 – Código da Violência” e “Jackie Brown” (ambos de 1997), “O Negociador” (1998, ao lado de Kevin Space), “Regras do Jogo” (2000, com Tommy Lee Jones), “Fora de Controle” (2002, com Ben Affleck) e “S.W.A.T.” (2003, com Colin Farrell). No gênero fantástico, ele fez parte do elenco de “Esfera” (1998), ficção científica com Dustin Hoffman, “Do Fundo do Mar” (1999), filme de horror sobre tubarões inteligentes assassinos, “Corpo Fechado” (2000), de M. Night Shyamalan e com Bruce Willis, além de dois filmes da cultuada saga “Star Wars”, criada por George Lucas, nos episódios I (“A Ameaça Fantasma”, 1999) e II (“Ataque dos Clones”, 2002).
Para completar o trio de atores principais em “Violação de Conduta”, não poderia faltar a beleza feminina de Connie Nielsen, dinamarquesa nascida em 1965 e com passagens em filmes expressivos de horror e ficção científica como “O Advogado do Diabo” (1997, com Al Pacino), “O Soldado do Futuro” (1998, ao lado de Kurt Russell), “Missão: Marte” (2000, com Tim Robbins) e “Retratos de Uma Obsessão” (2002, com Robin Williams). Em seu currículo podemos citar ainda participações em “Gladiador” (2000, com Russell Crowe) e “O Caçado” (2003).

Curiosamente, a irmã de John Travolta, a atriz Margaret Travolta, fez uma ponta como uma das enfermeiras do hospital militar. Além de “Violação de Conduta”, ela ainda teve passagens rápidas em filmes como “Reação em Cadeia” (1996), com Morgan Freeman, “Traffic” (2000), com Michael Douglas, “A Senha” (2001), ao lado do irmão, e “Prenda-me Se For Capaz” (2002), com Tom Hanks e Leonardo DiCaprio.
Outro fato curioso e difícil de não se notar ao ler os créditos do filme, é a enorme equipe responsável pela produção, composta por quinze (15) produtores. Antigamente, quando eram exibidos os letreiros dos filmes, podia-se perceber claramente a existência de apenas um único produtor. Essa característica foi se alterando com o passar dos anos e o desenvolvimento progressivo do cinema, acrescentando-se os chamados produtores “executivos” e “associados”, e aumentando significativamente a quantidade de pessoas responsáveis pela produção. Mas acredito que no caso de “Violação de Conduta”, provavelmente ocorreu o recorde nesse quesito com tanta gente exercendo a mesma função.

“Violação de Conduta” (Basic, 2003) – avaliação: 7,5 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 03/03/06)

Violação de Conduta (Basic, Estados Unidos, 2003). Fox. Duração: 98 minutos. Direção de John McTiernan. Roteiro de James Vanderbilt. Produção de Moritz Borman, Anson Downes, Linda Favila, Bradley J. Fischer, Andrew D. Given, Basil Iwabyk, Jonathan D. Krane, Mike Medavoy, Arnold Messer, Lee Nelson, Louis Phillips, Nigel Sinclair, Dror Soref, Michael Tadross, James Vanderbilt. Música de Klaus Badelt e Ramin Djawadi. Fotografia de Steve Mason. Edição de George Folsey Jr. Elenco: John Travolta (Tom Hardy), Samuel L. Jackson (Sargento Nathan West), Connie Nielsen (Capitã Julia Osborne), Timothy Daly (Coronel Bill Styles), Giovanni Ribisi (Kendall), Brian Van Holt (Dunbar), Taye Diggs (Pike), Dash Mihok (Mueller), Cristián de la Fuente (Castro), Roselyn Sanchez (Nunez), Harry Connick Jr. (Vilmer), Georgia Hausserman (Piloto), Nick Loren (Piloto), Margaret Travolta (Enfermeira), Dena Johnston (Enfermeira).