Van Helsing - O Caçador de Monstros (2004)


Fazendo parte da galeria dos grandes monstros clássicos do Horror estão o vampiro “Drácula”, a “Criatura de Frankenstein”, e o “Lobisomem”, personagens criados por escritores como Bram Stoker e Mary Shelley, e largamente explorados em uma infinidade de filmes ao longo de mais de um século de cinema. As mais famosas produções foram aquelas filmadas em preto e branco nos anos 30 e 40 pela “Universal” e as refilmagens a cores do estúdio inglês “Hammer” entre o final da década de 50 e meados de 70.
Outro personagem importante criado pelo irlandês Bram Stoker em sua obra “Drácula” (1897) foi o antropólogo holandês Prof. Abraham Van Helsing, um sexagenário mais conhecido como um incansável “caçador de vampiros” e estudioso de ocultismo e doenças exóticas, com uma missão histórica de combater o mal representado pelo sugador de sangue “Conde Drácula”. O personagem foi imortalizado principalmente pelo ator inglês Peter Cushing (1913 / 1994) em vários filmes da “Hammer”.
Os chamados “crossovers” ou cruzamentos entre os vários personagens num mesmo filme não é uma novidade no cinema pois a própria “Universal” já fez muito isso na década de 40, como na comédia de humor negro “Abbott & Costello Encontram Frankenstein” (48). E agora a produtora decidiu investir novamente numa mistura desses monstros clássicos sendo todos eles combatidos por um destemido Van Helsing, bem mais jovem e habilidoso com armas, apresentando uma nova visão das famosas criaturas utilizando os mais modernos recursos técnicos e efeitos especiais de uma tecnologia avançada que estão disponíveis nesse início de século XXI. O resultado pode ser visto em “Van Helsing – O Caçador de Monstros” (Van Helsing), que teve estréia mundial nos cinemas em 07/05/04, com direção e roteiro de Stephen Sommers, que fez o divertido “Tentáculos” (98), mas que é mais conhecido pelos seus dois filmes sobre múmias com o par central Brendan Fraser e Rachel Weisz, misturando muita aventura e ação, com excepcionais efeitos especiais, porém em histórias repletas de clichês e pouco horror.

A história é ambientada no final século XIX, onde o famoso caçador de monstros Dr. Gabriel Van Helsing (o australiano Hugh Jackman, mais conhecido como o Wolverine de “X-Men”), é um jovem mercenário a serviço de uma organização secreta religiosa sediada na cidade do Vaticano, em Roma, Itália, e que não se lembra de seu misterioso passado. Ele é enviado pelo cardeal Jinette (Alun Armstrong) numa missão no leste europeu, para combater o histórico vampiro Conde Vladislaus Drácula (o também australiano Richard Roxburgh). Em sua árdua empreitada, ele recebe a ajuda de Carl (David Wenham), um frade que lhe fornece armas especiais, inventadas e fabricadas por ele próprio.
Drácula tem um plano maléfico para procriar seus descendentes com suas três lindas noivas vampiras, Aleera (Elena Anaya), Verona (Silvia Colloca) e Marishka (Josie Maran). Porém, como todas as suas tentativas são frustradas com o nascimento de milhares de bebês sem vida, ele precisa do monstro de Frankenstein, que é uma criatura artificial não concebida por Deus, para numa experiência com aparelhos elétricos e a ação de relâmpagos, conseguir efetivar seu plano de reprodução e reanimar todas as crianças vampiras hibernadas em casulos. O poderoso conde vampiro recebe a ajuda nas experiências do servo deformado Igor (Kevin J. O’Connor), que era o assistente do Dr. Frankenstein.
Antes, em Paris, Van Helsing tem uma caçada mortal contra o maligno Sr. Hide (Robbie Coltrane), o lado monstruoso e insano do médico Dr. Jekyll (Stephen Fisher, que não disse uma única palavra), criação literária de Robert Louis Stevenson e levado às telas do cinema inúmeras vezes, primeiramente pela “Paramount”. Depois, no caminho até seu principal inimigo na Transilvânia, ele terá que enfrentar outros monstros que surgem para atrapalhar a missão, como a criatura de Frankenstein (Shuler Hensley), que veio ao mundo pelas mãos de um ladrão de túmulos, o cientista Dr. Victor Frankenstein (Samuel West), e um homem chamado Velkan (Will Kemp) que foi amaldiçoado por ter sido mordido por um lobisomem e obrigado a se transformar na criatura nas noites de lua cheia, sendo manipulado contra sua vontade por Drácula.
Entretanto, para auxiliá-lo na batalha, Van Helsing recebe a ajuda significativa da bela Anna Valerious (a inglesa Kate Beckinsale, de “Underworld”), uma guerreira irmã de Velkan e última descendente de uma antiga família historicamente inimiga de Drácula há quatro séculos.

Excelente fotografia de uma atmosfera sombria e monstros muito bem produzidos em efeitos especiais memoráveis, porém uma história pouco convincente priorizando essencialmente as cenas de ação e aventura, em detrimento de mais situações de horror num roteiro mais interessante. Esse é o resumo em poucas palavras de “Van Helsing – O Caçador de Monstros” (novamente eu gostaria de saber por que os responsáveis em nomear os filmes quando chegam no Brasil gostam tanto de inventar sub-títulos completamente desnecessários...).
Ou seja, o filme garante bons momentos de diversão desde que estejamos preparados para ver quase que exclusivamente durante mais de duas horas de projeção, seqüências bem filmadas de ação e aventura ininterruptas, além de correrias para todos os lados e muito barulho, tudo devidamente amparado por modernos efeitos de computação gráfica, onde o protagonista principal, o caçador de monstros Van Helsing, pode ser considerado um típico “Indiana Jones do Horror”. Existem muitas semelhanças com os filmes da série “A Múmia”, produzidos em 1999 e 2001, também de Stephen Sommers, no mesmo estilo de apresentação de um herói destemido que combate o mal. Acho que a melhor definição para “Van Helsing” é que trata-se de um intenso filme de aventura, e de forma secundária, traz elementos de horror através da participação dos monstros clássicos.
Entretanto, o visual desses monstros é até bem interessante numa criativa idéia de apresentar características diferentes daquelas que estamos acostumados a ver nos filmes anteriores. A criatura de Frankenstein tem uma aparência de morto-vivo, com seu corpo evidenciando orgãos internos como a placa de vidro no peito que permite ver o coração pulsando, além do cérebro exposto. E a transformação do Lobisomem não é daquela forma tradicional que mostra pausadamente o crescimento de grandes unhas, garras e dentes afiados, além dos pêlos aparecendo por todo o corpo. A fera assassina está na verdade dentro do homem amaldiçoado e vem à tona muito rapidamente, rasgando brutalmente a pele e surgindo de dentro para fora do corpo da vítima. E no caso do insano Sr. Hide, a materialização do lado maligno do Dr. Jekyll, a criatura lembra a mesma de “A Liga Extraordinária” (2003), com enormes braços desproporcionais ao resto do corpo.
Outro destaque notável é a sempre presença marcante das noivas vampiras voadoras, que de belíssimas mulheres quando na condição humana, transformam-se em terríveis e mortalmente ameaçadoras criaturas aladas e predadoras, cuja maior frustração é não conseguirem dar vida a sua imensa prole proveniente dos relacionamentos com Drácula.
Mas, “Van Helsing” apresenta mais erros do que acertos e ainda assim leva uma nota 5,5 (de 0 a 10) exclusivamente pelos esforços na área dos efeitos especiais. A história é pouco convincente, com um excesso de situações forçadas e inverossímeis, além de um final totalmente previsível e decepcionante. Tem a presença típica de um personagem atrapalhado responsável pelas piadas idiotas e cenas ridículas, e que no caso a responsabilidade desse papel é de Carl, o frade candidato a monge e assistente de Van Helsing. Tem a inevitável cena do beijo entre o herói e a mocinha, que ensaiaram o ato várias vezes até consumar o fato, numa cena desnecessária e descartável, inserida apenas para satisfazer aquela audiência menos selecionada. Sabemos que a criatura de Frankenstein não é essencialmente maligna, sendo mais uma vítima da ganância e arrogância do homem em querer imitar Deus. Porém, no filme, essa característica foi realçada em excesso, fazendo do monstro de Frankenstein um coadjuvante de bom coração que quase não transmite nenhuma imponência por sua imagem grotesca de um ser formado a partir de pedaços de cadáveres. Tanto que o roteiro piegas reservou um destino especial para ele. Sem contar que várias vezes durante o filme podemos pensar que estamos vendo o “homem aranha” em ação, pois são tantas as cenas onde vários personagens se utilizam de cordas para saírem voando pelos ares com uma desenvoltura e habilidade impressionantes, que chega a incomodar, atingindo o ápice numa seqüência onde o pesado monstro de Frankenstein certamente causou inveja à Tarzan quando saiu voando por uma corda numa fuga espetacular.
Não há dúvida que os efeitos especiais são excelentes, mas eles deveriam ser o “aperitivo” e não o “prato principal”, e “Van Helsing” funcionaria bem melhor se houvesse menos exageros numa aventura desenfreada, e mais atenção para um argumento interessante priorizando os elementos de horror que fizeram desses monstros clássicos um eterno pesadelo na história do cinema fantástico.

Mesmo sem saber os resultados de bilheterias de “Van Helsing” (e o orçamento foi bem alto, mais de US$ 150 milhões), os produtores trataram de agilizar a efetivação de alguns projetos envolvendo a franquia. Entre esses produtos está uma animação com os personagens do filme, com Van Helsing dublado pelo próprio Hugh Jackman, e que estará disponível no DVD que será lançado ainda em 2004. Existem planos também para uma série de televisão ambientada no mesmo universo ficcional do filme, e que será chamada de “Transylvania”, e até de uma seqüência que já estaria em fase de pré-produção em Praga, capital da República Tcheca, que foi o local das filmagens do primeiro filme.
É curioso notar como antigamente era bem mais difícil existirem continuações, onde os produtores pensavam bastante antes de investirem seu dinheiro, e hoje em dia as seqüências são tão comuns (e mais ainda com uma moda de “trilogias”) que são planejadas antes mesmo de se saber se haverá sucesso com o filme original e se será bem recebido pelo público. Isso se deve ao fato de talvez o retorno financeiro ser quase sempre garantido, ou pelo desempenho do filme nos cinemas ou pelas vendas mundiais dos diversos produtos relacionados.
Outras curiosidades interessantes são o fato da possibilidade do filme ter sido uma continuação para “Drácula de Bram Stoker”, dirigido por Francis Ford Coppola em 1992, onde o papel do caçador de vampiros Van Helsing foi interpretado por Anthony Hopkins. Inclusive, ele estava nos planos para fazer o mesmo papel novamente. E a cena de abertura filmada em preto e branco, ambientada no interior da Romênia, na Transilvânia, homenageando os clássicos “Frankenstein” (31) e “A Noiva de Frankenstein” (35), dirigidos por James Whale com Boris Karloff, onde um grupo de aldeões enfurecidos e portando tochas acesas e foices e machados, caminha decidido rumo ao castelo utilizado como laboratório para as experiências macabras do Dr. Frankenstein, e logo em seguida em direção ao moinho de vento onde o cientista e sua criatura são encurralados.

“Van Helsing – O Caçador de Monstros” (Van Helsing, 2004) # 250 – data: 08/05/04 – avaliação: 5,5 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 03/03/06)

“Van Helsing – O Caçador de Monstros” (Van Helsing, Estados Unidos / República Tcheca, 2004). Universal Pictures. Duuração: 132 minutos. Direção e roteiro de Stephen Sommers. Produção de Bob Ducsay e Stephen Sommers. Produção Executiva de Sam Mercer. Fotografia de Allen Daviau. Música de Alan Silvestri. Edição de Bob Ducsay. Direção de Arte de Steve Arnold, Keith P. Cunningham, Giles Masters, Tony Reading e Jaromir Svarc. Desenho de Produção de Allan Cameron. Cenários de Cindy Carr e Anna Pinnock. Efeitos Especiais: Industrial Light & Magic. Site Oficial: www.vanhelsing.net . Elenco: Hugh Jackman (Dr. Gabriel Van Helsing), Kate Beckinsale (Anna Valerious), Richard Roxburgh (Conde Vladislaus Drácula), Shuler Hensley (Monstro de Frankenstein), Will Kemp (Velkan Valerious / Lobisomem), David Wenham (Carl), Elena Anaya (Aleera), Kevin J. O’Connor (Igor), Alun Armstrong (Cardeal Jinette), Silvia Colloca (Verona), Josie Maran (Marishka), Samuel West (Dr. Victor Frankenstein), Robbie Coltrane (Sr. Hide), Stephen Fisher (Dr. Jekyll), Tom Fisher, Dana Moravková, Zuzana Durdinova, Jaroslav Vízner, Marek Vasut.