O ator inglês Christopher
Lee, nascido em Londres em 1922 e falecido no dia 07 de Junho de 2015,
pertence à galeria dos ícones lendários que construíram a história do cinema de
Horror como Bela Lugosi e Boris Karloff (de uma geração anterior), e Peter
Cushing e Vincent Price (de sua própria geração), entre outros. Mais conhecido
como o famoso vampiro Conde Drácula de vários filmes da produtora “Hammer”, o
personagem que o imortalizou definitivamente nas telas, Christopher Lee
participou como vilão de duas das mais expressivas franquias do cinema de
entretenimento no início do século 21, “Star Wars” (como o Conde Dookan), e “O
Senhor dos Anéis” (interpretando o mago Saruman).
Lee
também interpretou uma série de outros papéis não menos significativos em sua
longa carreira de mais de 300 filmes, emprestando seu talento para dar vida à
“Criatura de Frankenstein”, a “Múmia”, o “Médico e o Monstro”, o militar chinês
“Fu Manchu”, o monge russo “Rasputin”, e até o famoso detetive inglês “Sherlock
Holmes”. E justamente esse imenso currículo de sucesso inspirou a produção de
um documentário em 1996 chamado “As Várias Faces de Christopher Lee”
(The Many Faces of Christopher Lee), lançado em DVD no Brasil pela “Dark Side”.
O
documentário, apresentado por ele próprio, mostra 56 minutos de depoimentos e
curiosidades de bastidores sobre muitos de seus filmes, com a exibição de
trechos de “Drácula: O Príncipe das Trevas” (Dracula: Prince of Darkness, 66),
“As Bodas de Satã” (The Devil Rides Out, 68), “Rasputin – O Monge Louco” (66),
“O Soro Maldito” (I, Monster, 71), e “O Homem de Palha” (The Wicker Man, 73),
entre outros.
Dos
vários comentários curiosos de Christopher Lee falando detalhes de seus filmes,
ele revelou que não apreciou o roteiro de “Drácula: O Príncipe das Trevas”, que
foi escrito por Jimmy Sangster (creditado como John Sansom), a partir de uma
história do produtor Anthony Hinds (sob o pseudônimo de John Elder), dizendo
que não foram aproveitadas nenhuma palavra ou qualquer diálogo original da obra
de Bram Stoker, transformando o vampiro numa espécie de criatura do apocalipse.
Então, em protesto, ele exigiu que sua participação fosse silenciosa, sem dizer
uma única palavra no filme inteiro, apenas atuando com expressões faciais, e
somente entrando em cena após quase cinquenta minutos de projeção.
Em
“O Soro Maldito”, produzido pelo também estúdio inglês “Amicus” (rival da
“Hammer”), Lee comentou uma certa insatisfação pelo título do filme ser “I,
Monster” (“Eu, Monstro”, numa tradução literal) em vez do tradicional “Dr.
Jekyll and Mr. Hyde”, e por seu personagem duplo Dr. Marlowe e o lado maléfico
Mr. Blake ser o único com nomes diferentes dos originais da obra literária de
Robert Louis Stevenson, pois todos os outros personagens do filme possuem os
mesmos nomes do livro. Lee evidenciou também uma curiosidade pouco comentada:
na história de Stevenson, em nenhum momento existe uma descrição física de como
seria o rosto alterado do Dr. Jekyll, transformado no maligno Mr. Hyde.
Já
em “O Homem de Palha”, Christopher Lee revelou que considera este filme como
seu melhor trabalho de atuação em toda sua vasta carreira, com um personagem
criado especialmente para ele pelo roteirista Anthony Shaffer. Lee fez o papel
de Lord Summerisle, um obscuro líder de uma seita religiosa pagã, que vive em
comunidade numa ilha isolada da Escócia e que pratica rituais bizarros
envolvendo atos sexuais. Como curiosidade, o ator revelou que ao ver o filme
antes do lançamento oficial, ele achou interessante fazer algumas mudanças,
falando de suas opiniões com o diretor Robin Hardy e o escritor Anthony
Shaffer. Eles decidiram então, que apesar de já concluídos os trabalhos de pós
produção, iriam verificar os registros das filmagens não utilizadas para tentar
recuperar algo, mas misteriosamente os negativos sumiram e nunca foram
encontrados.
O
DVD lançado no Brasil pelo selo “Dark Side” em 2003 traz além do documentário
sobre a carreira de Christopher Lee, também um outro documentário intitulado “Drácula
e os Mortos-Vivos” (The World of Hammer – Dracula and the Undead, 90),
narrado pelo já falecido ator Oliver Reed, e dirigido por Robert Sidaway,
mostrando trechos comentados de vários filmes do famoso estúdio inglês
“Hammer”.
Entre
os extras disponíveis no DVD, para o documentário “As Várias Faces de
Christopher Lee”, temos cerca de 15 minutos de interessantes materiais como a
biografia do ator (destacando sua apresentação no documentário televisivo sobre
os cem anos de história do Horror (14
capítulos produzidos em 1996), completada com sua filmografia básica, e os
trailers de “Drácula: O Príncipe das Trevas” e “Epidemia de Zumbis” (The Plague
of the Zombies), ambos de 66 e legendados em português, “O Conde Drácula”
(Scars of Dracula, 70) e “Os Ritos Satânicos de Drácula” (Count Dracula and His
Vampire Bride, 73), estes últimos sem legendas. Além de dois clips musicais,
com Christopher Lee cantando com seu vozeirão “O Sole Mio / It´s Now Or Never”
e “She´ll Fall For Me”, e uma breve galeria de fotos com cenas de seus
filmes.
“As
Várias Faces de Christopher Lee”, dirigido por Colin Webb, é um trabalho muito
bem produzido numa grande homenagem à carreira desse magnífico ator de várias
faces, que não foi apenas o Conde Drácula da “Hammer” e um ícone do Horror mundial,
mas sim um ator versátil de grande talento e habilidade para papéis de todos os
tipos em filmes de todos os gêneros produzidos nos últimos 50 anos.
Mas
é claro também que a imagem de Lee está eternamente associada ao cinema
fantástico, na interpretação de uma infinidade de vilões inesquecíveis para os
apreciadores do estilo. E justamente por isso, sentimos falta de mais
comentários sobre seus filmes de horror, pois percebemos a intenção do
documentário em evidenciar também filmes de outras temáticas. Lee escolheu
apenas alguns poucos filmes memoráveis segundo seu ponto de vista dentro do
Horror, e por isso mesmo muitas produções impagáveis deixaram de ser citadas ou
comentadas, para dar espaço aos filmes dos outros gêneros (e nesse caso, os
depoimentos também se mostraram menos interessantes, com Lee explicando como se
atira com um revólver ou manipula uma espada). O mesmo acontece com os clips
musicais (do material extra), que soam meio estranhos quando vemos Christopher
Lee cantando.
Porém,
ainda assim, é um documentário de extrema relevância como referência e fonte de
informação a respeito de uma lenda do cinema de Horror de todos os tempos, e
onde na seqüência final Christopher Lee faz um relato tão marcante que é
impossível não se emocionar com seu conteúdo. Ele terminou a apresentação com
chave de ouro dizendo que além das boas lembranças dos filmes que fez e dos
personagens que interpretou, duas pessoas em especial são de imensa importância
em sua carreira profissional e vida pessoal, citando Peter Cushing (mostrando
uma foto de bastidores do set de filmagens de “A Górgona”, 65), e Vincent Price
(numa foto onde eles jogavam xadrez), numa homenagem emocionada para esses dois
atores imortais do Horror, os quais Lee considera grandes mestres como seres
humanos e atores maravilhosos, e que sente muita falta deles (ambos morreram no
início da década de 90, Cushing em 92 e Price no ano seguinte).
E
sobre isso, eu afirmo com toda convicção e faço questão de registrar no
fechamento desse artigo:
“Você,
Christopher Lee, faz parte dessa galeria de astros imortais do Horror,
juntamente ao lado de Peter Cushing e Vincent Price, sendo lembrado por toda a
eternidade por seus fãs e permanecendo para sempre vivo através de seus filmes”.
“As Várias Faces de
Christopher Lee” (The Many Faces of Christopher Lee, 1996) # 309 – data:
13/04/05
avaliação: 9 (de 0 a
10)
site: www.bocadoinferno.com.br
blog: www.juvenatrix.blogspot.com.br
(postado originalmente em 09/03/06)
“As Várias Faces de Christopher Lee” (The Many Faces of Christopher
Lee, Inglaterra, 1996). Documentário, 56 minutos.
Apresentação de Christopher Lee. Direção de Colin Webb. Produção de Ashley
Morgan. Produção Executiva de Colin Higgs. Fotografia e Câmera de Terry Doe.
Edição de Steve Norris.