Velozes e Mortais (2003)


Imagine um típico “road movie”, ou seja, um filme com história ambientada em longas e belas estradas, que além das tradicionais cenas de ação com perseguições e acidentes de carros, apresenta também elementos de horror na figura de um psicopata assassino vingativo, que utiliza o seu carro como arma letal principalmente contra as mulheres. O resultado dessa mistura pode ser conferido nos cinemas brasileiros com “Velozes e Mortais” (Highwaymen), que entrou em cartaz por aqui em 30/04/04, cerca de dois meses e meio depois do lançamento nos Estados Unidos.

A história é simples, e mostra um homem obcecado em encontrar o assassino de sua mulher, brutalmente atropelada há cinco anos por um misterioso carro numa auto-estrada. Ele é Rennie Cray (Jim Caviezel), um ex-médico e presidiário que dirige seu carro, um Plymouth Barracuda 1968 vermelho, pelas estradas americanas em busca há dois anos de um psicopata sobre rodas, que por sua vez transformou seu carro, um Cadillac Eldorado 1972 verde, num instrumento para torturar e matar suas vítimas, como se fosse uma máquina assassina. Ele é James Fargo (Colm Feore), um ex-agente de seguros de automóveis, um homem que sofreu um terrível acidente de carro que deixou seu corpo severamente mutilado, obrigando-o a se transformar numa bizarra combinação de partes humanas com dispositivos mecânicos, uma espécie de ser híbrido que teve o auxílio da tecnologia moderna para que seu carro fosse adaptado numa monstruosa extensão de seu próprio corpo e mente distorcidos. Tanto Cray como Fargo possuem uma história de vingança em comum, tornando-se inimigos mortais.
Um investigador de trânsito do departamento de polícia, Will Macklin (Frankie Faison), está observando as ações de Rennie, que está agindo como um vigilante em busca de vingança, muitas vezes se comportando de forma obsessiva. Macklin está aproveitando também a oportunidade para conhecer a história do psicopata Fargo e tentar eliminar sua ameaça nas estradas. No meio de tudo isso surge ainda uma mulher, Molly Poole (a bela morena Rhona Mitra), que sofreu um terrível trauma de infância num acidente de trânsito que matou sua família. Ela foi também a única sobrevivente de um trágico acidente de carro no interior de um túnel, causado pelo psicopata. Como a característica do assassino é pegar um “souvenir” de suas vítimas, ele tira uma foto de Molly e passa a persegui-la brutalmente. Uma vez a moça na mira do assassino das estradas e involuntariamente cruzando o caminho da vingança de Rennie, eles se encontram e juntos tentam combater o psicopata, além de lutarem por suas próprias vidas.

“Velozes e Mortais” é um nome nacional pouco apropriado, onde os responsáveis por sua escolha queriam aproveitar o sucesso de um outro filme bem diferente e de outro estilo, “Velozes e Furiosos” (The Fast and the Furious, 2001), com Vin Diesel e Paul Walker, que até já teve uma continuação dois anos depois e cuja história é basicamente sobre rachas de carros nas ruas. Já “Highwaymen”, que é o título original, é um filme de suspense com um psicopata assassino, tendo uma diferença básica para os “serial killers” tradicionais, que é o fato dele não ser mascarado e usar o seu carro como arma de ataque em vez de facas, machados, serras elétricas, picaretas, foices, e outros objetos indicados para matar.
Traduzindo literalmente a tagline original teríamos algo como “O terror atinge a estrada” (Terror hits the road), e na distribuição do filme no Brasil foi colocada no cartaz nacional a seguinte frase promocional, “Eles transformaram carros comuns em verdadeiras máquinas de matar...”, que num grande equívoco aproxima “Velozes e Mortais” ainda mais de um filme de ação com carros, e na verdade é um “road movie” de horror.
O filme é curto e em seus apenas 80 minutos de duração nós somos convidados a acompanhar a trajetória de vingança de um homem obcecado que perdeu a esposa tragicamente, atropelada de forma criminosa por um psicopata que usa seu carro como arma. A história traz os tradicionais clichês do gênero, com algumas cenas de ação com carros em alta velocidade, o eterno confronto do psicopata assassino com seu perseguidor implacável, um ou outro susto fácil, e as inevitáveis seqüências forçadas e inverossímeis como quando o carro do assassino se choca violentamente com o carro em que Molly está com um amigo, fazendo este último decolar como se fosse um avião, ou ainda quando a moça faz uma arriscada transferência de carros em movimento. Outro clichê explorado à exaustão é o fato do psicopata sempre escolher o mesmo local onde tudo começou para poder efetivar sua vingança (no caso é um motel de beira de estrada). Porém, se o filme não chega a empolgar plenamente, também não é dispensável, situando-se numa linha média. É um filme que não ficará na memória por muito tempo, mas que pode garantir algum entretenimento rápido.
Como destaques temos pelo menos duas cenas bem violentas de atropelamento, numa característica que está se tornando cada vez mais comum nos filmes de horror, como se houvesse uma disputa pela cena mais agressiva e mais próxima da realidade possível.
Curiosamente, a idéia de um carro assassino já foi bastante explorada no cinema, em filmes como “Encurralado” (Duel, 71, sendo nesse caso um caminhão), com direção de Steven Spielberg e roteiro de Richard Matheson, “O Carro Assassino” (The Car, 77), sobre um carro possuído pelo demônio, “Christine” (83), baseado em história de Stephen King, o episódio “A Benção” (The Benediction) da antologia “Pesadelos Diabólicos” (Nightmares, 83), sobre uma pick-up preta igualmente possuída pelo diabo, ou ainda “Perseguição” (Joy Ride, 2001), entre vários outros bons exemplos.
O cineasta Robert Harmon tem poucos trabalhos em seu currículo, e foi o responsável pela direção de “Habitantes da Escuridão” (They, 2002), apresentado por Wes Craven. Porém, seu filme de estréia é muito cultuado até hoje, sendo considerado uma das mais importantes obras dentro do estilo “horror nas estradas” com “A Morte Pede Carona” (The Hitcher, 86), trazendo Rutger Hauer no papel brilhante de um psicopata caronista que barbarizava os motoristas que viajavam tranqüilamente pelas estradas, com direito até a uma cena chocante de desmembramento de uma moça, amarrada em dois caminhões posicionados de forma oposta um do outro.
O ator Jim Caviezel, nascido em 1968, tem se tornado cada vez mais um rosto popular, devido a sua participação significativa em inúmeros filmes de grande aceitação do público, e principalmente depois de interpretar Jesus Cristo no polêmico filme de Mel Gibson, “A Paixão de Cristo” (2004). Entre seus trabalhos estão “Além da Linha Vermelha” (98), “Alta Frequência” (2000), “Olhar de Anjo” (2001), “O Conde de Monte Cristo” e “Crimes em Primeiro Grau” (2002).

“Velozes e Mortais” (Highwaymen, 2003) # 245 – data: 02/05/04 – avaliação: 6 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 03/03/06)

“Velozes e Mortais” (Highwaymen, Canadá, 2003). New Line Cinema. Duração: 80 minutos. Direção de Robert Harmon. Roteiro de Craig Mitchell e Hans Bauer. Produção de Carroll Kemp e Mike Marcus. Produção Executiva de David Brewington, Toby Emmerich, Lynn Harris, Trevor Short e Tim Van Rellim. Fotografia de René Ohashi. Música de Mark Isham. Edição de Chris Peppe. Direção de Arte de Nigel Churcher. Desenho de Produção de Paul D. Austerberry. Figurino de Luis Sequeira. Elenco: Jim Caviezel (Rennie Cray), Rhona Mitra (Molly Poole), Frankie Faison (Macklin), Colm Feore (James Fargo), Gordon Currie, Paul Mota, Andrea Roth, Michael Stevens.