Todo Mundo em Pânico 3 (2003)


Os irmãos comediantes negros Keenan Ivory, Shawn e Marlon Wayans foram os criadores da série “Todo Mundo em Pânico” (Scary Movie) com dois filmes em 2000 e 2001, que exploravam basicamente os clichês habituais do cinema de horror (principalmente), tentando satirizar com bom humor uma infinidade de situações vistas em filmes modernos e clássicos como a série “Pânico” e seus infindáveis derivados do chamado horror adolescente como “Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado”, além de “O Sexto Sentido” e “A Bruxa de Blair” (no caso do primeiro filme), e “A Casa Amaldiçoada”, “O Homem Sem Sombra”, “Hannibal”, “Premonição”, “Revelação” e “O Exorcista” (na segunda parte). Sem deixar de citar também filmes populares como a trilogia de FC “Matrix” e o policial “As Panteras”, entre outros mais.
Dessa vez, dando seqüência à franquia, e visando a obtenção de lucro fácil, porém sem a presença dos irmãos Wayans que se afastaram do projeto, foi lançado “Todo Mundo em Pânico 3” (Scary Movie 3), criado agora pelo diretor David Zucker e pela roteirista Pat Proft, ambos especialistas em comédias. O filme estreou nos cinemas brasileiros em 09/01/04, enfocando principalmente paródias às fitas de horror “Sinais”, de M. Night Shyamalan, e “O Chamado”, de Gore Verbinski, além do drama urbano “8 Mile – Rua das Ilusões”, com citações ainda para “Os Outros”, de Alejandro Amenábar e “Matrix Reloaded”, dos irmãos Andy e Larry Wachowski.

Como “Todo Mundo em Pânico 3” tem como objetivo satirizar outros filmes e a “cultura pop” em geral, sua história acaba não importando muito mesmo, sem a necessidade de coerência ou lógica. Uma apresentadora de TV, a agora loira Cindy Campbell (Anna Faris), é enviada para investigar o misterioso surgimento de enormes sinais numa plantação da fazenda de Tom Logan (Charlie Sheen), que vive com sua filha pequena Sue (Jianna Ballard) e seu irmão George (Simon Rex), um incompetente aspirante à rapper e amigo íntimo do igualmente rapper negro Mahalik (Anthony Anderson).
Durante a investigação, a jornalista Cindy acaba tendo um romance com o panaca George e entra em contato também com um outro mistério, dessa vez envolvendo uma fita de vídeo amaldiçoada que causou a morte da professora de seu sobrinho, Brenda Meeks (Regina Hall), sete dias após ter assistido o conteúdo da fita.
Além de tudo isso, e para complicar ainda mais a história, ela entra em contato com outras figuras enigmáticas como a Tia ShaNeequa ou “Oráculo” (Queen Latifah), seu marido “Orpheus” (Eddie Griffin) e o solitário “Arquiteto” (George Carlin), precisando também ajudar o confuso e atrapalhado Presidente dos Estados Unidos (interpretado pelo veterano comediante Leslie Nielsen), para evitar uma invasão alienígena à Terra devido também à tal fita de vídeo amaldiçoada.

Confesso que não aprecio esses filmes de paródias, e não consigo achar engraçado muitas das cenas que são filmadas exatamente para serem comédias. Alguns dos poucos filmes que realmente gostei dentro desse gênero foram as produções inglesas “Dr. Fantástico” (64), de Stanley Kubrick, sátira à paranóia da guerra fria entre Estados Unidos e União Soviética e a constante ameaça nuclear, e “A Dança dos Vampiros” (67), de Roman Polanski, paródia aos filmes de vampirismo.
Os dois primeiros filmes da série “Todo Mundo em Pânico” não me despertaram nenhum interesse e somente gostei de uma seqüência no início do segundo filme satirizando o clássico “O Exorcista” (73), onde o ator James Woods interpreta um sósia do Padre Merrin na tentativa debochada de exorcizar uma menina possuída pelo demônio.
E agora com o lançamento do terceiro filme da franquia, a minha impressão de desinteresse se reforçou ainda mais, pois praticamente não consegui rir de nada. As poucas cenas que achei realmente engraçadas foram com os alienígenas, onde eles mostram algumas de suas excentricidades para o imbecil George Logan, como o curioso cumprimento de despedida (se a moda pega aqui na Terra, os efeitos seriam desastrosos para os homens...). Ou ainda uma cena envolvendo e surpreendendo o fazendeiro Tom Logan, que estava com algo não muito agradável na boca quando foi informado por onde os alienígenas costumam urinar. Um outro momento engraçado ocorreu também na apresentação das imagens bizarras contidas na misteriosa fita de vídeo que mata quem a assiste após sete dias, onde um homem pretende defecar num orifício semelhante a um poço, numa sátira da fita de vídeo maldita em “O Chamado”. Agora, a tal da Tabitha (Marny Eng) é uma verdadeira ofensa para as temíveis e malignas Sadako e Samara, de “Ringu” e “O Chamado”, respectivamente...
Mas, no final de “Todo Mundo em Pânico 3”, passados pouco menos de uma hora e meia de sua curta duração, fica a sensação de se ter visto um filme muito pouco engraçado e totalmente descartável, do tipo que se esquece facilmente e que se lembra apenas de algumas pequenas cenas realmente bem humoradas.
Como curiosidades, vale registrar a citação da nossa cidade de São Paulo como um local de evidência do surgimento dos alienígenas, numa cena hilária onde um extraterrestre está passando próximo a cachorros copulando, numa sátira à seqüência similar de “Sinais”. E também a homenagem ao ator Harrison Ford, que interpretou o Presidente americano em “Força Aérea Um” (97), numa cena onde seu retrato aparece numa sala presidencial.
A franquia “Todo Mundo em Pânico”, que conta com três filmes no momento, já tem previsão de produção de uma quarta parte ao longo de 2004, igualmente dirigida por David Zucker e escrita pelos mesmos roteiristas da parte 3, porém dessa vez o enfoque principal não será a paródia de filmes de horror, dando lugar agora aos filmes de super heróis.
O nome nacional “Todo Mundo em Pânico” é um dos exemplos de como os filmes são mal nomeados quando chegam ao Brasil. Seria muito mais fácil e coerente nesse caso apenas traduzir o original “Scary Movie” para algo como “Filme Assustador”, ou até manter o nome original que soa bem e é fácil de se pronunciar. Como curiosidade, no início da produção de “Todo Mundo em Pânico 3”, em 2002, o filme iria se chamar originalmente “Scary Movie 3: Episode I – Lord of the Brooms”, e o foco principal seria parodiar as franquias “Star Wars”, “Harry Potter” e “O Senhor dos Anéis”. E quase que o filme ainda seria chamado no Brasil como “Scary Movie – Um Susto de Filme 3”, cogitação de um nome tão infeliz que não merece nem comentários.
Outra curiosidade é o fato de duas atrizes do elenco terem participado de todos os três filmes interpretando os mesmos papéis. São elas, Anna Faris, como Cindy Campbell, e Regina Hall, como Brenda Meeks. Geralmente é difícil para os produtores conseguir manter os mesmos atores ao longo de uma franquia, devido a uma série de fatores como desinteresse do próprio ator (muitas vezes não querendo mais associar sua imagem à do personagem ou até mesmo ao filme), ou diferenças salariais, ou ainda agenda comprometida e questões contratuais diversas.
O filme estreou nos Estados Unidos em 24/10/03, ocupando o primeiro lugar de bilheteria com a expressiva marca de aproximadamente U$50 milhões somente na primeira semana de exibição, num imenso sucesso de público, e demostrando a grande aceitação dos fãs de cinema por filmes que exploram paródias e “besteirol” em geral.
O veterano diretor, produtor e roteirista David Zucker nasceu em 1947 no Estado americano de Wisconsin. Considerado um especialista em comédias, é muito conhecido por filmes como “Apertem os cintos... o piloto sumiu!” (80), “Top Secret!” (84) e “Corra que a polícia vem aí” (88). Seu trabalho mais recente é a comédia adolescente “A Filha do Chefe” (My Boss’s Daughter, 2003).
De todo o elenco, destacam-se apenas alguns nomes mais conhecidos como Charlie Sheen, Denise Richards, e o experiente comediante Leslie Nielsen. Sheen nasceu em 1965 e já tem mais de 60 filmes em seu currículo, como o drama de guerra “Platoon” (86), o western “Os Jovens Pistoleiros” (88) e a FC “Invasão” (96). Ele já possuía experiência em paródias pois participou de algumas como “Top Gang” (91) e “Top Gang 2 – A Missão” (93), satirizando os filmes no estilo de “Rambo”, e também “Máquina Quase Mortífera 1” (93). A bela atriz Denise Richards fez o papel de Annie Logan, a esposa do fazendeiro Tom, participando apenas de uma cena rápida satirizada de “Sinais”. Ela nasceu em 1971, e entre seus filmes estão “Tropas Estelares” (97), “Garotas Selvagens” (98), “007 – O Mundo Não é o Bastante” (99) e o descartável thriller de horror adolescente “O Dia do Terror” (Valentine, 2001). Já o canadense Leslie Nielsen nasceu em 1926, sendo muito conhecido por sua participação nas franquias de humor “Apertem os cintos, o piloto sumiu” e “Corra que a polícia vem aí”. Curiosamente, Nielsen iniciou sua carreira em 1956 estrelando o clássico da ficção científica “Planeta Proibido”, ao lado de Walter Pidgeon, Anne Francis e Warren Stevens, e somente passou a ser conhecido muitos anos mais tarde ao fazer uma infinidade de comédias.

“Todo Mundo em Pânico 3” (Scary Movie 3, 2003) # 215 – data: 10/01/04 – avaliação: 5 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 02/03/06)

Todo Mundo em Pânico 3 (Scary Movie 3, Estados Unidos, 2003). Duração: 84 minutos. Dimension / Miramax. Direção de David Zucker. Roteiro de Craig Mazin e Pat Proft, baseados em personagens criados por Shawn Wayans, Marlon Wayans, Buddy Johnson, Phil Beauman, Jason Friedberg e Aaron Seltzer. Produção de Robert K. Weiss, Grace Gilroy, Phil Dornfeld e Kevin Marcy. Produção Executiva de Andrew Rona, Bob Weinstein, Harvey Weinstein e Brad Weston. Música de James L. Venable. Fotografia de Mark Irwin. Edição de Malcolm Campbell e Jon Poll. Desenho de Produção de William A. Elliott. Direção de Arte de William Heslup. Elenco: Charlie Sheen (Tom Logan), Simon Rex (George Logan), Anna Faris (Cindy Campbell), Regina Hall (Brenda Meeks), Denise Richards (Annie Logan), Leslie Nielsen (Presidente Harris), Queen Latifah (Tia ShaNeequa), Eddie Griffin (Orpheus), George Carlin (Arquiteto), Camryn Manheim (Oficial Champlin), Jianna Ballard (Sue), Jeremy Piven (Ross Giggins), Pamela Anderson (Becca), Jenny McCarthy (Kate), Marny Eng (Tabitha), Edward Moss (Michael Jackson), Anthony Anderson (Mahalik), Timothy Stack (Carson Ward), Elaine Klimaszewski (Elaine), Diane Klimaszewski (Diane).