Um Grito Embaixo D´Água (2003)


Um Grito Embaixo D’Água” é um filme europeu, com produção alemã de 2001, que não deixa nada a desejar para os piores exemplos de horror adolescente com psicopata mascarado feito nos Estados Unidos, principalmente aqueles pertencentes à safra pós “Pânico” (Scream, 96), de Wes Craven. O filme tem todos os conhecidos clichês óbvios e desgastados, sem apresentar praticamente nada que já não se tenha visto largamente em produções anteriores. O pior é que também não demonstra nenhuma intenção de tentar mostrar algo novo, copiando livremente aquela mesma tradicional história de um assassino com o rosto coberto por uma máscara, motivado por ressentimentos de rejeição, matando com um facão vários adolescentes que estão fazendo uma festa secreta num clube aquático.

Um grupo de jovens ricos de diversas nacionalidades, os quais estudam numa escola internacional de classe alta em Praga, capital da República Tcheca, conclui o curso e se reúne para comemorar numa festa não oficial de formatura, invadindo ilegalmente um parque aquático privado. Dentre eles estão a loirinha Sarah (Kristen Miller), que tem medo de piscina por causa de um trauma motivado pela morte do pai afogado ao tentar salvá-la num acidente, o seu namorado e líder do grupo Greg (Thorsten Grasshoff), sua melhor amiga, a nadadora Carmen (Elena Uhlig), e outros amigos como o esquisito Frank (John Hopkins), o inexpressivo Chris (Jonah Lotan), o imbecil Mike (James McAvoy), que não liga para a bela namorada, e o delinquente Martin (Jason Liggett), que é especialista em arrombar portas e fraudar sistemas de segurança, sendo o responsável pela invasão ao clube aquático. Os outros jovens do grupo são Mel (Cordelia Bugeja), interesse romântico de Martin, o dispensável argentino Diego (Maximilian Grill), e o casal Carter (Bryan Carney) e Svenja (Linda Rybová), que parece que não foram contratados para atuar, mas apenas para morrer em cena.
Fazem parte ainda do convívio escolar do grupo a namorada de Mike, Kim (Isla Fisher), que não é filha de ricos como os outros e não conseguiu se formar, ficando magoada e deixando de participar da festa, e o casal Catherine (Anna Geislerová) e Oliver (Josef Peichal), que não tiveram oportunidade de comemorar pois foram os primeiros a sentir, ainda na casa da moça, a fúria de um psicopata assassino usando uma manjada máscara de caveira, além de uma roupa preta apertada ridícula e portando uma enorme faca para sangrar suas vítimas.
A partir daí, enquanto os jovens divertem-se nadando nas belas piscinas do clube, aproveitando o momento para beberem e transarem, o psicopata mascarado começa a agir retalhando os corpos de suas vítimas com seu facão manchado de sangue, despertando a atenção de um incompetente policial investigador, Kadankov (Jan Vlasák). Agora, todos juntos terão que lutar por suas vidas, pois ninguém ouvirá seus gritos embaixo d’água.

É curioso observar, e até difícil de entender, como existem profissionais do cinema dispostos a investir dinheiro e trabalho num filme completamente dispensável como esse “Um Grito Embaixo D’Água”. A resposta pode ser que apesar de contar uma história extremamente óbvia e explorada à exaustão, ainda existe um público que prestigia esses tipos de filmes, justificando suas produções e lançamentos em vídeo ao redor do mundo, onde o retorno financeiro certamente deve compensar com lucros os gastos efetuados.
O filme copia descaradamente vários clichês de outros similares e produzidos recentemente, como a cena de abertura (que encontra um paralelo em “Pânico”), com uma moça ao telefone falando com a mãe enquanto aguarda a chegada do namorado para jantar em casa. É óbvio que ambos terão seus corpos cortados pela lâmina afiada de um assassino. Ainda sem chegar ao clímax da história, com os jovens sendo chacinados na piscina do clube, existe uma sequência que lembra os tradicionais “slasher movies” dos anos 80, onde a personagem Kim é perseguida pelo psicopata numa floresta, em trajes de banho, após um mergulho num lago.
Já durante a festa na piscina, as cenas de perseguições, correrias, gritarias e mortes são todas comuns, não impressionando ou despertando um interesse maior, com exceção da morte bem dolorosa e sangrenta da personagem Svenja (que nome estranho...), quando ela descia alegremente por um enorme escorregador percebendo tarde demais a presença da arma do assassino estrategicamente posicionada para lhe dilacerar a vagina. Além de algumas cenas passadas no interior de uma tubulação de ar, transmitindo um incômodo sentimento de claustrofobia.
Dentre os vários furos no roteiro, é difícil deixar de registrar uma cena onde a personagem Mel está deitada num aparelho de levantamento de peso e é surpreendida pelo assassino, que derruba sobre seu peito uma barra de ferro com pesos. Alguns instantes depois, ela consegue se livrar da barra arremessando-a contra seu agressor como se fosse de papel, e foge para um vestiário. Outro momento de incompetência dos autores da história é quando dois dos personagens, os dispensáveis Chris e Diego, somem de cena numa sequência onde Greg sai à procura de sua namorada Sarah, entrando numa tubulação de ar. Eles somente voltam a aparecer discretamente no desfecho do filme, demonstrando que os roteiristas perderam uma grande oportunidade de utilizar melhor a presença dos jovens, nem que fosse pelo menos para transformar seus corpos em simples retalhos de carne nas mãos do psicopata.

Curiosamente, o desfecho previsível e totalmente sem graça ainda reserva uma pequena homenagem e citação ao filme “Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado” (97), um fato desnecessário e irrelevante, e que só serve para enfatizar ainda mais que “Um Grito Embaixo D’Água” é uma cópia sem criatividade de vários filmes americanos populares do final dos anos 90. Outro detalhe curioso é que pelo menos nesses tipos de filmes de horror adolescente com psicopata mascarado, as mulheres são jovens com belos rostos e corpos atraentes, e no caso desse filme, apenas a atriz Isla Fisher se destaca em termos de beleza (e apareceu muito pouco), sendo que as outras mulheres, além de interpretações ruins, especialmente a péssima atriz Elena Uhlig, ainda não são tão bonitas como seria esperado.

O filme foi lançado no mercado brasileiro de DVD no primeiro semestre de 2003 pela “Europa Filmes” (www.europafilmes.com.br), trazendo muito pouco material extra através de um trailer e um documentário de apenas 10 minutos com entrevistas de alguns atores e poucas cenas de bastidores das filmagens. O curioso é que durante as entrevistas, os atores utilizaram um discurso muito parecido, onde comentavam que estavam procurando uma oportunidade para participar de um filme de horror e que ficaram muito satisfeitos com o convite para estrelarem “Um Grito Embaixo D’Água” por causa do roteiro interessante. Sobre isso, podemos concluir que, ou os depoimentos são falsos e os atores foram obrigados politicamente a falarem bem do filme, ou eles são parecidos com os personagens que interpretaram e apreciam filmes de horror óbvios como esse.
A capa do DVD mantém o padrão comercial sem criatividade adotado para os filmes do mesmo estilo, destacando apenas os principais jovens atores que irão sentir em suas carnes a lâmina afiada da faca do psicopata mascarado. A tagline presente na capa é bem enganosa (“Você também perderá a respiração”), pois pelo menos no meu caso, minha respiração permaneceu normal durante todo o filme, numa prova de que a intenção dos produtores em tentar manipular a emoção do espectador não surtiu muito efeito.
Finalizando, o nome nacional “Um Grito Embaixo D’Água” é bem diferente do original em inglês (para distribuição pelo mundo) que traduzindo significa simplesmente “A Piscina”, um título que possui relação direta com os eventos da história, ou seja, um grupo de adolescentes se divertindo perigosamente num parque repleto de belas piscinas.

“Um Grito Embaixo D’Água” (The Pool, 2001) # 252 – data: 13/05/04 – avaliação: 4 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 02/03/06)

“Um Grito Embaixo D’Água” (The Pool / Swimming Pool / Der Tod Feiert Mit, Alemanha, 2001). Duração: 89 minutos. Direção de Boris von Sychowski. Roteiro de Boris von Sychowski, Lorenz Stassen e Ryan Carrassi. Produção de Benjamin Herrmann e Werner Possardt. Produção Executiva de Hanno Huth. Fotografia de Notker Mahr. Música de Johannes Kobilke. Edição de Sabine Mahr-Haigis. Desenho de Produção de Gerald Damovsky. Direção de Arte de Martin Vackar. Elenco: Kristen Miller (Sarah), Elena Uhlig (Carmen), Thorsten Grasshoff (Greg), John Hopkins (Frank), Isla Fisher (Kim), Jason Liggett (Martin), Jonah Lotan (Chris), Cordelia Bugeja (Mel), James McAvoy (Mike), Linda Rybová (Svenja), Bryan Carney (Carter), Maximilian Grill (Diego), Anna Geislerová (Catherine), Jan Vlasák (Kadankov), Josef Peichal (Oliver).