SharkMan (2005)


Depois que eu vi a capa do DVD de “SharkMan” (uma ilustração “forçada” de uma criatura híbrida, numa mistura de homem e tubarão), outra produção picareta da “Nu Image” especialmente para a televisão, explorando o subgênero do Horror conhecido como “homens transformados em monstros”, e que foi lançado por aqui pela “Califórnia Filmes” (distribuidora especializada em despejar tranqueiras em nosso mercado de vídeo), eu tinha quase certeza de que se tratava de outra bagaceira inacreditável. E não me enganei, pois o filme é uma incrível tralha tosca que poderíamos classificar como classe “Z” do século 21, cuja única coisa realmente interessante é a presença de Jeffrey Combs como um típico “cientista louco”.

Numa ilha desconhecida do Pacífico Ocidental, o Dr. Preston King (Jeffrey Combs, o Dr. Herbert West de “Re-Animator: A Hora dos Mortos-Vivos”, 85) realiza experiências com células tronco com o intuito de tentar combater doenças graves como o câncer. Ele é auxiliado por uma dupla de assistentes sinistros, o Dr. Krause (Velizar Binev, de “MosquitoMan”, outra tranqueira do mesmo estilo) e a Dra. Katie Medevenko (Lydie Denier), uma cientista exilada da Europa por conduzir experiências proibidas com mutação genética em seres humanos (é curioso como nesses tipos de filmes as cientistas vilãs são todas mulheres muito belas e atraentes). Como o lunático Dr. King tem uma enorme obsessão por tubarões e depois que seu filho foi vitimado pelo câncer, seu objetivo passou a ser a criação de uma raça de seres mutantes, unindo “a força superior do tubarão-martelo com a inteligência do homem”.
Paralelamente, um grupo de pessoas é convidado pelo Dr. King para visitar suas instalações na ilha e conhecer seu trabalho. A equipe de visitantes é formada pelo empresário ganancioso Whitney Feder (Arthur Roberts) e sua amiga gostosa Julie (Maria Ignatova, que faz parte da trama apenas para ser a típica personagem chata que reclama de tudo, usa roupas curtas para evidenciar sua beleza feminina, e que logicamente somente servirá como alimento para o monstro). Ainda fazem parte da equipe dois casais, os jovens Amos Bernie (G. R. Johnson) e Jane Harper (Elise Muller), outros personagens dispensáveis e que também fazem parte da história apenas para sentirem na pele a fúria da criatura mutante, e os heróis formados pela bióloga Amelia Lockhart (Hunter Tylo), e o namorado Tom Reed (William Forsythe, que está fora de forma e com a incômoda obesidade dificultando suas ações no estilo “Rambo”).
Como a intenção do cientista louco Dr. King é se vingar do grupo de visitantes, que na verdade eram seus ex-companheiros de trabalho, ele os mantém presos na ilha sob a supervisão de uma tropa de soldados mercenários liderados por Erik Anderson (Atanas Srebrev). Porém, os intrusos conseguem fugir e lutam por suas vidas sendo perseguidos pelos capangas do cientista e por uma aberração genética formada pela mistura de um tubarão-martelo com um homem (papel de Anton Argirov).

Por essa sinopse, podemos perceber a precariedade de idéias do roteiro, que faz questão de privilegiar a falta de originalidade, os exaustivos clichês e as situações absurdas. Rapidamente poderíamos enumerar uma infinidade de furos na história, mas “SharkMan” é um filme típico para ser visto de forma completamente relaxada, sem o espectador fazer nenhum esforço mental e apenas tentar se divertir com a história apresentada, desconsiderando questões do tipo: “como o Dr. King conseguiu tanto dinheiro para financiar suas pesquisas, construir as instalações na ilha e ainda pagar seus capangas (uma verdadeira equipe bem aparelhada de soldados treinados)?”, ou “como o grupo de visitantes que foram aprisionados, entre eles o gorducho Tom Reed (um mero especialista em informática que parece que também fez pós-graduação na formação de “super-heróis”), e a bióloga Amelia Lockhart, conseguiram escapar do homem-tubarão e dos vários soldados contratados pelo cientista louco, e ainda demonstraram uma inusitada habilidade ao atirar e alvejar os inimigos com armas pesadas?”, isso somente para citar alguns poucos exemplos de situações difíceis de digerir.
“SharkMan” tem explosões, perseguições e tiroteios em excesso, quando poderia investir mais nas cenas com ataques sangrentos do monstro contra suas frágeis vítimas, pois além de poucas, essas seqüências envolvendo a criatura mutante, tanto no mar como em terra, não são explícitas, sendo apenas visíveis o sangue e os membros decepados depois das mortes, com esses ataques sendo mais sugeridos e realizados fora das câmeras.

Apesar de tudo isso, o filme ainda consegue ganhar uma nota 4 (numa classificação de 0 a 10) exclusivamente pela presença de Jeffrey Combs, sendo que se fosse outro ator desconhecido em seu lugar, o resultado provavelmente seria um desastre total. Ele já é um rosto totalmente associado ao cinema fantástico e incorpora de forma sempre carismática o papel clichê de um cientista louco com suas experiências bizarras supostamente em benefício da raça humana, sempre dizendo frases de efeito típicas das mais insanas mentes desses intrépidos homens da ciência, não medindo esforços (incluindo sacrificar brutalmente pessoas) para tentar alcançar seus objetivos. Abaixo segue um exemplo de um discurso inflamado de grande determinação pelo trabalho e não menos insanidade.

Eu lhes apresento o futuro da raça humana. Meu filho tinha uma doença, e eu o curei. A doença dele foi uma oportunidade, um grande avanço. Pela mutação das células, eu criei um organismo perfeito, incorporando a vantagem do mar e da terra! E eu dei ao meu filho a vida eterna!

“SharkMan” (SharkMan / Hammerhead: Shark Frenzy, Estados Unidos, 2005) # 347 – data: 01/11/05 – avaliação: 4 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 11/11/05)