Teatro da Morte / As Sete Máscaras da Morte (Theatre of Blood, Inglaterra, 1973)


Vincent Price reservou um lugar para você no Teatro da Morte

Depois de interpretar o fascinante e aristocrático Dr. Phibes, um inteligente e diferenciado assassino em série, em dois cultuados filmes ingleses dirigidos por Robert Fuest e lançados em 1971 (“O Abominável Dr. Phibes”) e 72 (“A Câmara de Horrores do Abominável Dr. Phibes”), o lendário ator Vincent Price voltaria logo depois para interpretar um papel semelhante, estrelando o igualmente cultuado “Teatro da Morte” (Theatre of Blood, 73), de Douglas Hickox, dando vida dessa vez para Edward Lionheart, um exagerado ator shakespeareano do teatro que simula suicídio para poder colocar em prática um maquiavélico plano de vingança contra os algozes críticos que destruíram sua performance nos palcos e o impediu de ganhar um importante prêmio, assassinando-os com refinada maestria e sutileza, contando com o auxílio de um grupo de mendigos bêbados e um ajudante misterioso, que sempre está disfarçado com óculos escuros e um bigode enorme.
Entre os críticos temos o líder do grupo Peregrine Devlin (Ian Hendry), Trevor Dickman (Harry Andrews), Srta. Chloe Moon (Coral Browne), Oliver Harding (Robert Coote), Solomon Psaltery (Jack Hawkins), George Maxwell (Michael Hordern), Horace Sprout (Arthur Lowe), Meredith Merridew (Robert Morley) e Hector Snipes (Dennis Price). E para investigar os assassinatos e tentar impedir o sucesso do plano de vingança do injustiçado ator, temos dois policiais, o Inspetor Boot (Milo O´Shea) e o Sargento Dogge (Eric Sykes), que não hesitam em interrogar a filha de Lionheart, a bela Edwina (Diana Rigg).

Essa é a premissa básica de “Teatro da Morte” e a presença de Vincent Price já significa uma garantia total de entretenimento, principalmente num filme onde ele pôde exercitar todo o seu talento na arte de atuar, interpretando justamente um ator teatral envolvido num magistral plano de vingança contra aqueles críticos arrogantes que acreditam serem supremos e que estão acima de todos os outros simples mortais. Inspirando-se em peças teatrais do famoso poeta William Shakespeare, ele comete os mais requintados assassinatos, utilizando-se de um fino senso de humor e uma sádica ironia, além de notável inteligência.
A maior crítica contra seu trabalho nos palcos é justamente uma suposta falta de originalidade, sempre atuando em papéis inspirados em Shakespeare, e não optando por fazer algo mais moderno e atualizado com o século XX (o filme é de 1973). Mas a resposta de Edward Lionheart para esse pensamento dos críticos foi fazê-los sofrer uma morte dolorosa em eventos relacionados especialmente e de forma direta às peças teatrais do famoso poeta.
Cada um dos críticos sentiu na pele sua ira por vingança, com seus últimos momentos de vida transformados como parte de uma peça de teatro de Shakespeare, como podemos ver em “Julius Caesar”, na cena onde um crítico morre retalhado por múltiplos golpes de faca e objetos cortantes, ou “Troilus and Cressida”, com a vítima sendo assassinada com uma lança atravessando-lhe o peito e tendo seu corpo esfolado ao ser arrastado por um cavalo numa rua de terra e coberta de pedras pontiagudas, ou “Cymbeline”, mostrando a cabeça de um crítico sendo decapitada cirurgicamente, além de “The Merchant of Venice”, onde o crítico tem seu coração arrancado do peito, “Richard the Third”, na cena onde um homem degustador de vinhos é afogado num barril cheio de sua bebida preferida, “Henry the Sixth Pt. 1”, numa seqüência hilariante com Lionheart se disfarçando de cabeleireiro gay e executando sua vítima queimada por eletrocussão na cadeira, e finalmente com “Titus Andronicus”, onde a melhor cena de morte está reservada para um crítico obeso que adora exageradamente seus cãezinhos de estimação e é obrigado a saboreá-los cozidos numa torta, e sucumbe entupido de comida. Essas são as “Sete Máscaras da Morte” (outro título nacional alternativo que o filme recebeu quando foi exibido na televisão), que ainda se juntam a mais três peças de Shakespeare, “Romeo and Juliet”, “Othelo” e “King Lear”, as quais não resultaram em mortes diretas dos críticos, mas que se transformaram em suas tragédias ou tiveram importância fundamental na condução da trama.
Vincent Price está excepcional em seu papel de assassino vingador, fazendo de Edward Lionheart um dos mais inteligentes e diferenciados psicopatas do cinema (assim como aconteceu anteriormente com o Dr. Phibes), criando uma escola que certamente teve alunos que não aproveitaram seus ensinamentos e fizeram de suas carreiras de assassinos um desfile de mortes exageradas em sangue e pouco inventivas, apesar deles também criarem seus próprios estilos e de possuírem importância no cinema de Horror (como Jason Voorhees, de “Sexta-Feira 13”, e Michael Myers, de “Halloween”, para citar apenas dois exemplos).

“Teatro da Morte” foi lançado em DVD no Brasil pelo selo “Dark Side”, da “Works Editora”, trazendo como material extra as biografias dos atores Vincent Price e a inglesa Diana Rigg, além de uma sinopse e um trailer original de cinema, legendado em português e com dois minutos e meio de duração.
Curiosamente, como já mencionado, o filme havia recebido o nome nacional de “As Sete Máscaras da Morte” quando exibido na televisão (título também adotado quando lançado em DVD pela “PlayArte”). E depois foi chamado de “Teatro da Morte” no lançamento também em DVD, só que pelo selo “Dark Side”. Aliás, num mercado carente de lançamentos de uma infinidade de outros filmes interessantes ainda inéditos por aqui, temos no caso desse filme um lançamento no formato digital em duplicidade, por duas distribuidoras diferentes, e com títulos também diferentes, para complicar ainda mais o já árduo trabalho de catalogação dos filmes que são lançados no Brasil, pelos colecionadores e pesquisadores.
Outros detalhes curiosos são o fato de que Vincent Price considera seu personagem em “Teatro da Morte” como o favorito em sua longa carreira. Aliás, o filme também tem uma importância sentimental muito grande, pois o lendário ator casou-se com a atriz Coral Browne após conhecê-la no set de filmagens. O nome original “Theatre of Blood” foi o adotado na Inglaterra, sendo que na distribuição nos Estados Unidos o título foi levemente alterado para “Theater of Blood” (tanto “theatre” quanto “theater” são palavras sinônimas que significam “teatro”).

“Teatro da Morte” (Theatre of Blood, 1973) # 353 – data: 27/11/05 – avaliação: 8,5 (de 0 a 10)
blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 27/11/05)

Teatro da Morte / As Sete Máscaras da Morte (Theatre of Blood, Inglaterra, 1973). Duração: 104 minutos. Direção de Douglas Hickox. Roteiro de Anthony Greville-Bell, baseado em idéia de Stanley Mann e John Kohn, que por sua vez inspiraram-se em peças teatrais de William Shakespeare. Produção de John Kohn e Stanley Mann. Produção Executiva de Gustave Berne e Sam Jaffe. Música de Michael J. Lewis. Fotografia de Wolfgang Suschitzky. Edição de Malcolm Cooke. Desenho de Produção de Michael Seymour. Maquiagem de George Blackler. Efeitos Especiais de John Stears. Elenco: Vincent Price (Edward Kendal Sheridan Lionheart), Diana Rigg (Edwina Lionheart), Ian Hendry (Peregrine Devlin), Harry Andrews (Trevor Dickman), Coral Browne (Srta. Chloe Moon), Robert Coote (Oliver Larding), Jack Hawkins (Solomon Psaltery), Michael Hordern (George Maxwell), Arthur Lowe (Horace Sprout), Robert Morley (Meredith Merridew), Dennis Price (Hector Snipe), Diana Dors (Maisie Psaltery), Milo O´Shea (Inspetor Boot), Eric Sykes (Sargento Dogge), Madeline Smith (Rosemary), Joan Hickson (Sra. Sprout), Renée Asherson (Sra. Maxwell).