“Eu poderia contar uma história que a palavra mais leve ficaria cravada na alma e congelaria seu sangue jovem.”
– reprodução do trailer original do cinema
No início dos anos 70 do século passado, o escritor inglês Anthony Shaffer (1926/2001) e seu sócio e compatriota Robin Hardy, decidiram que iriam fazer um filme de horror. Mas eles queriam algo diferente, sem os tradicionais elementos característicos da “Hammer”, os quais definiram o cinema de horror inglês por duas décadas. E após um trabalho de pesquisa com religiões pagãs envolvidas com sacrifícios humanos, o roteiro estava pronto e com um papel especialmente escrito para Christopher Lee. O lendário vampiro Drácula do cinema aceitou o convite e juntamente com o produtor Peter Snell, eles partiram para o projeto de “O Homem de Palha” (The Wicker Man, 1973), que apesar de todos os problemas enfrentados durante a produção e na distribuição depois de pronto, o filme ainda teve uma ótima recepção do público e da crítica especializada, e acabou tornando-se um incrível objeto de culto.
O Sargento Howie (Edward Woodward), da polícia escocesa, é um homem cristão e que acredita veementemente nos valores e ensinamentos da igreja católica. Ele recebe a denúncia do desaparecimento de uma pequena menina, Rowan Morrison (Geraldine Cowper), numa comunidade isolada numa ilha. Partindo em missão de investigação, o policial vai de hidroavião até Summerisle, na costa oeste da Escócia. Lá chegando, ele faz muitas perguntas aos moradores, entre eles May Morrison (Irene Sunters), suposta mãe da criança e dona de uma loja de doces, além de Alder MacGregor (Lindsay Kemp), proprietário de um bar e pousada, e pai da jovem e sensual Willow (Britt Ekland), a Srta. Rose (a australiana Diane Cilento), professora da escola local, e a não menos bela funcionária da biblioteca do vilarejo (interpretada por Ingrid Pitt).
Enquanto faz o trabalho de investigação, o policial moralista fica chocado com várias coisas incomuns que testemunha, como casais fazendo sexo ao ar livre, jovens mulheres dançando nuas num ritual religioso, ou crianças recebendo ensinamentos indecentes sobre sexo na escola. Descontente com os hábitos do povo local e não obtendo muito sucesso com as respostas para a investigação, o Sargento Howie entra em contato com o Lord Summerisle (Christopher Lee), um homem misterioso que é o líder do povoado e o mestre de uma seita pagã que realiza eventos sinistros com sacrifícios humanos, e que pode transformar a missão de investigação do policial num grande perigo.
“Você simplesmente nunca entenderá a verdadeira natureza do sacrifício.”
– declaração de May Morrison para o perplexo Sargento Howie
Basicamente, “O Homem de Palha” é uma história de detetive com elementos de fantasia e horror, explorando com notável eficiência o tema do paganismo, aquelas religiões pré-cristãs que idolatravam diversos deuses (entidades que protegiam o sol, os pomares, os campos, as colheitas), e que eventualmente utilizavam sacrifícios humanos em rituais bizarros que celebravam a fertilidade venerando os símbolos fálicos como geradores da natureza. Com locações na ilha de Summerisle, na costa oeste da Escócia, o filme tem a presença marcante de Christopher Lee como o líder religioso de uma seita pagã, e a participação pequena, mas sempre bem vinda, da bela Ingrid Pitt, onde ambos foram marcas registradas nas produções da “Hammer”. Porém, em “O Homem de Palha” não encontramos aquela tradicional ambientação com cenários góticos. O filme é contemporâneo, passando-se no século XX, mas utilizando uma idéia de centenas de anos atrás, onde uma comunidade isolada numa ilha escocesa considera a religião cristã ultrapassada, e acredita em deuses antigos com a reencarnação do espírito na natureza.
São muitos os destaques, indo desde a investigação policial do desaparecimento da menina, sempre mantendo a atenção do espectador que acompanha a crescente revelação dos fatos que levam à verdade, passando pelos estranhos hábitos dos moradores, que praticam o sexo sem falsos moralismos nas ruas noturnas, ou os ensinamentos para as crianças nas escolas, evidenciando a importância do pênis como fertilidade, além dos estranhos rituais e festas pagãs que se opõe ao tradicionalismo cristão. A nudez da bela atriz Britt Ekland, dançando sensualmente para tentar conquistar o Sargento Howie também é um ponto alto e memorável (parte das cenas foi feita por uma atriz dublê de corpo).
Depois de conhecermos informações curiosas da trajetória da produção (maiores detalhes seguem nos parágrafos a seguir), passamos a valorizar ainda mais o filme e seus realizadores como uma obra de arte do cinema fantástico, e um produto para ser cultuado eternamente. E ficamos apenas imaginando como seriam as cenas que foram cortadas e infelizmente perdidas para sempre.
“O Homem de Palha” já havia sido lançado no final da década de 80 no mercado brasileiro de vídeo VHS pela “VTI”, sendo hoje um objeto raro de colecionador. E para a satisfação dos apreciadores do cinema de Horror e admiradores da carreira de Christopher Lee, o filme também foi distribuído por aqui no formato DVD em 2003, pelo selo “Dark Side”, da “Works Editora”, recheado de interessantes materiais extras. Temos um documentário legendado de 35 minutos de duração chamado “O Enigma do Homem de Palha” (The Wicker Man Enigma, 2001), dirigido por David Gregory. Temos também as biografias detalhadas do roteirista Anthony Shaffer, dos atores Edward Woodward e Christopher Lee e do diretor Robin Hardy. Além da sinopse (igual a que está na contra capa do estojo do DVD), um trailer de cinema de dois minutos de duração legendado, e vários spots de rádio (quatro de sessenta segundos cada e mais outros dez de trinta segundos cada), e um spot de TV de trinta segundos, sendo todos esses spots promocionais apresentados sem a disponibilidade de legendas em português.
Curiosamente, o escritor Anthony Shaffer casou-se com a atriz Diane Cilento, a quem conheceu durante as filmagens de “O Homem de Palha”. E pouco tempo depois da gravação do documentário sobre o filme, em 2001, ele faleceu por causa de um ataque cardíaco.
Nesse documentário “O Enigma do Homem de Palha”, temos diversos depoimentos de pessoas ligadas ao filme, tanto a equipe de produção quanto o elenco, com revelações de detalhes de bastidores e curiosidades interessantes que merecem registro. Entre as pessoas entrevistadas estão o roteirista Anthony Shaffer, o produtor Peter Snell, o diretor Robin Hardy, os atores Christopher Lee, Ingrid Pitt e Edward Woodward, além de Jonathan Sothcott (autor do livro “The Cult Films of Christopher Lee”), Jake Wright (primeiro assistente de direção), Seamus Flannery (direção de arte), Roger Corman (conhecido e cultuado produtor, cineasta e distribuidor), Eric Boyd-Perkins (edição), John Simon (distribuidor do filme nos Estados Unidos), e os fãs Peter Cross, John Punter e Gail Ashurst (editora do fanzine “Nuada”, que é o nome do guardião sagrado do Sol, como descrito no filme).
Entre as revelações curiosas no documentário, temos o fato de que muitas cenas filmadas tiveram que ser cortadas na edição final por causa das exigências dos novos executivos que compraram o estúdio “British Lion”. E infelizmente essas cenas excluídas foram desaparecidas misteriosamente nos estúdios “Shepperton”, pois os rolos de negativos foram perdidos para sempre por incompetência dos responsáveis pelo arquivo das latas de filme não aproveitado. Aliás, essa informação já havia sido revelada por Christopher Lee no documentário “As Várias Faces de Christopher Lee” (The Many Faces of Christopher Lee, 1996), onde também o ator fez questão de salientar que seu papel de um obscuro líder religioso de uma seita pagã em “O Homem de Palha” é seu principal e mais importante trabalho em toda a vasta carreira de cerca de 250 filmes.
Outros detalhes revelados são que o filme teve uma série de dificuldades em sua fase de produção, indo desde o baixo orçamento disponível (o produtor Peter Snell e outros membros da equipe técnica optaram por ter seus salários muito reduzidos para poderem participar do filme, e Christopher Lee inclusive chegou a revelar que aceitou trabalhar de graça), passando pelos constantes problemas enfrentados com as condições climáticas das locações (as filmagens ocorreram entre Outubro e Novembro de 1972 com muito frio e chuvas, sendo que a história era passada em Maio, época mais quente na região), culminando com a conturbada e ineficiente distribuição nos cinemas, principalmente nos Estados Unidos, com o filme sendo exibido em poucas salas e sem publicidade.
Atenção: os comentários a seguir podem conter spoilers.
Entre os depoimentos no documentário temos informações de bastidores bastante curiosas como a cena final onde a população da ilha está dançando e cantando enquanto testemunham o “homem de palha” arder em chamas, e no momento da filmagem no alto de uma colina, o frio era intenso com ventos fortes, e o elenco e os extras estavam sofrendo bastante com a temperatura baixa. Então, para amenizar o desconforto, foram oferecidos casacos para as três atrizes principais, Britt Ekland (a estonteante Willow), Diane Cilento (a professora Srta. Rose) e a veterana dos filmes da “Hammer” Ingrid Pitt (que faz o papel de uma bibliotecária). As duas primeiras aceitaram os casacos sem hesitar, mas a polonesa Ingrid Pitt demonstrou uma atitude admirável quando recusou e disse que como todas as outras atrizes extras estavam sem roupas quentes, ela também não usaria até o término da cena. Nessa mesma seqüência final, devido à urgência dos trabalhos de filmagens para aproveitar o clima favorável (apesar de muito frio), o ator Edward Woodward não teve tempo suficiente para ensaiar suas falas no discurso religioso cristão quando estava preso no “homem de palha”, e suas frases foram lidas em enormes cartazes. Aliás, outra revelação curiosa foi que no momento em que é ateado fogo no “homem de palha”, o ator teve que enfrentar uma situação incômoda com algumas cabras localizadas acima dele, que uma vez assustadas com o fogo, urinaram sobre sua cabeça.
Quem assiste o filme já pronto e editado, não imagina as dificuldades enfrentadas por seus realizadores para conseguir os resultados esperados. Tudo isso merece ser salientado e agrega ainda mais valor e brilhantismo para “O Homem de Palha” tornar-se o clássico que é, e permanecer cultuado eternamente por uma legião de admiradores.
Em tempo: como a moda da indústria do cinema de Hollywood é fazer refilmagens dos grandes clássicos, em 2006 está previsto o lançamento de “Wicker Man”, com direção de Neil LaBute. A nova versão tem a estrutura básica semelhante ao original inglês de 1973, mas a história alterou a ambientação de uma ilha na Escócia para os Estados Unidos, e o vilarejo é liderado por mulheres em uma seita religiosa obscura. Para o papel do Sargento Howie foi convocado o ator Nicolas Cage, e fazem ainda parte do elenco a bela jovem Leelee Sobieski, como uma garçonete que ajuda o policial na investigação do desaparecimento de uma garota, além de Kate Beahan, para o papel da sensual Willow, e a veterana Ellen Burstyn (de “O Exorcista”), como a líder da sociedade matriarcal. As filmagens ocorrem em Vancouver, no Canadá.
“É ótimo ser considerado uma lenda viva. Não somente no sentido de que continua respirando, mas também por estar vivendo nos corações e mentes das pessoas que seguem seu trabalho.”
– depoimento do lendário ator Christopher Lee, em sua auto-biografia “Tall, Dark and Gruesome”
“O Homem de Palha” (The Wicker Man, 1973) # 350 – data: 17/11/05 – avaliação: 8,5 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 17/11/05)
O Homem de Palha (The Wicker Man, Inglaterra, 1973). British Lion. Duração: 88 minutos (versão americana). Direção de Robin Hardy. Roteiro de Anthony Shaffer. Produção de Peter Snell. Música de Paul Giovanni e Gary Carpenter (não creditado). Fotografia de Harry Waxman. Edição de Eric Boyd-Perkins. Direção de Arte de Seamus Flannery. Maquiagem de Billy Partleton. Elenco: Christopher Lee (Lord Summerisle), Edward Woodward (Sargento Howie), Britt Ekland (Willow), Ingrid Pitt (Bibliotecária), Diane Cilento (Srta. Rose), Lindsay Kemp (Alder MacGregor), Russell Waters (Mestre do Porto), Aubrey Morris (Coveiro), Irene Sunters (May Morrison), Geraldine Cowper (Rowan Morrison), Donald Eccles (T. H. Lennox), Walter Carr, Ian Campbell, Leslie Blackater, Roy Boyd, Peter Brewis, Barbara Ann Brown, Juliette Cadzow, Ross Campbell, Penny Cluer, Michael Cole, Kevin Collins, Ian Cutler, Myra Forsyth, John Hallam, Alison Hughes, Charles Kearney, Fiona Kennedy, John MacGregor, Jimmy Mackenzie, Lesley Mackie, Jennifer Martin, Bernard Murray, Helen Norman, Lorraine Peters, Tony Roper, John Sharp, Elizabeth Sinclair, Andrew Tompkins, Ian Wilson, Richard Wren, John Young.
– reprodução do trailer original do cinema
No início dos anos 70 do século passado, o escritor inglês Anthony Shaffer (1926/2001) e seu sócio e compatriota Robin Hardy, decidiram que iriam fazer um filme de horror. Mas eles queriam algo diferente, sem os tradicionais elementos característicos da “Hammer”, os quais definiram o cinema de horror inglês por duas décadas. E após um trabalho de pesquisa com religiões pagãs envolvidas com sacrifícios humanos, o roteiro estava pronto e com um papel especialmente escrito para Christopher Lee. O lendário vampiro Drácula do cinema aceitou o convite e juntamente com o produtor Peter Snell, eles partiram para o projeto de “O Homem de Palha” (The Wicker Man, 1973), que apesar de todos os problemas enfrentados durante a produção e na distribuição depois de pronto, o filme ainda teve uma ótima recepção do público e da crítica especializada, e acabou tornando-se um incrível objeto de culto.
O Sargento Howie (Edward Woodward), da polícia escocesa, é um homem cristão e que acredita veementemente nos valores e ensinamentos da igreja católica. Ele recebe a denúncia do desaparecimento de uma pequena menina, Rowan Morrison (Geraldine Cowper), numa comunidade isolada numa ilha. Partindo em missão de investigação, o policial vai de hidroavião até Summerisle, na costa oeste da Escócia. Lá chegando, ele faz muitas perguntas aos moradores, entre eles May Morrison (Irene Sunters), suposta mãe da criança e dona de uma loja de doces, além de Alder MacGregor (Lindsay Kemp), proprietário de um bar e pousada, e pai da jovem e sensual Willow (Britt Ekland), a Srta. Rose (a australiana Diane Cilento), professora da escola local, e a não menos bela funcionária da biblioteca do vilarejo (interpretada por Ingrid Pitt).
Enquanto faz o trabalho de investigação, o policial moralista fica chocado com várias coisas incomuns que testemunha, como casais fazendo sexo ao ar livre, jovens mulheres dançando nuas num ritual religioso, ou crianças recebendo ensinamentos indecentes sobre sexo na escola. Descontente com os hábitos do povo local e não obtendo muito sucesso com as respostas para a investigação, o Sargento Howie entra em contato com o Lord Summerisle (Christopher Lee), um homem misterioso que é o líder do povoado e o mestre de uma seita pagã que realiza eventos sinistros com sacrifícios humanos, e que pode transformar a missão de investigação do policial num grande perigo.
“Você simplesmente nunca entenderá a verdadeira natureza do sacrifício.”
– declaração de May Morrison para o perplexo Sargento Howie
Basicamente, “O Homem de Palha” é uma história de detetive com elementos de fantasia e horror, explorando com notável eficiência o tema do paganismo, aquelas religiões pré-cristãs que idolatravam diversos deuses (entidades que protegiam o sol, os pomares, os campos, as colheitas), e que eventualmente utilizavam sacrifícios humanos em rituais bizarros que celebravam a fertilidade venerando os símbolos fálicos como geradores da natureza. Com locações na ilha de Summerisle, na costa oeste da Escócia, o filme tem a presença marcante de Christopher Lee como o líder religioso de uma seita pagã, e a participação pequena, mas sempre bem vinda, da bela Ingrid Pitt, onde ambos foram marcas registradas nas produções da “Hammer”. Porém, em “O Homem de Palha” não encontramos aquela tradicional ambientação com cenários góticos. O filme é contemporâneo, passando-se no século XX, mas utilizando uma idéia de centenas de anos atrás, onde uma comunidade isolada numa ilha escocesa considera a religião cristã ultrapassada, e acredita em deuses antigos com a reencarnação do espírito na natureza.
São muitos os destaques, indo desde a investigação policial do desaparecimento da menina, sempre mantendo a atenção do espectador que acompanha a crescente revelação dos fatos que levam à verdade, passando pelos estranhos hábitos dos moradores, que praticam o sexo sem falsos moralismos nas ruas noturnas, ou os ensinamentos para as crianças nas escolas, evidenciando a importância do pênis como fertilidade, além dos estranhos rituais e festas pagãs que se opõe ao tradicionalismo cristão. A nudez da bela atriz Britt Ekland, dançando sensualmente para tentar conquistar o Sargento Howie também é um ponto alto e memorável (parte das cenas foi feita por uma atriz dublê de corpo).
Depois de conhecermos informações curiosas da trajetória da produção (maiores detalhes seguem nos parágrafos a seguir), passamos a valorizar ainda mais o filme e seus realizadores como uma obra de arte do cinema fantástico, e um produto para ser cultuado eternamente. E ficamos apenas imaginando como seriam as cenas que foram cortadas e infelizmente perdidas para sempre.
“O Homem de Palha” já havia sido lançado no final da década de 80 no mercado brasileiro de vídeo VHS pela “VTI”, sendo hoje um objeto raro de colecionador. E para a satisfação dos apreciadores do cinema de Horror e admiradores da carreira de Christopher Lee, o filme também foi distribuído por aqui no formato DVD em 2003, pelo selo “Dark Side”, da “Works Editora”, recheado de interessantes materiais extras. Temos um documentário legendado de 35 minutos de duração chamado “O Enigma do Homem de Palha” (The Wicker Man Enigma, 2001), dirigido por David Gregory. Temos também as biografias detalhadas do roteirista Anthony Shaffer, dos atores Edward Woodward e Christopher Lee e do diretor Robin Hardy. Além da sinopse (igual a que está na contra capa do estojo do DVD), um trailer de cinema de dois minutos de duração legendado, e vários spots de rádio (quatro de sessenta segundos cada e mais outros dez de trinta segundos cada), e um spot de TV de trinta segundos, sendo todos esses spots promocionais apresentados sem a disponibilidade de legendas em português.
Curiosamente, o escritor Anthony Shaffer casou-se com a atriz Diane Cilento, a quem conheceu durante as filmagens de “O Homem de Palha”. E pouco tempo depois da gravação do documentário sobre o filme, em 2001, ele faleceu por causa de um ataque cardíaco.
Nesse documentário “O Enigma do Homem de Palha”, temos diversos depoimentos de pessoas ligadas ao filme, tanto a equipe de produção quanto o elenco, com revelações de detalhes de bastidores e curiosidades interessantes que merecem registro. Entre as pessoas entrevistadas estão o roteirista Anthony Shaffer, o produtor Peter Snell, o diretor Robin Hardy, os atores Christopher Lee, Ingrid Pitt e Edward Woodward, além de Jonathan Sothcott (autor do livro “The Cult Films of Christopher Lee”), Jake Wright (primeiro assistente de direção), Seamus Flannery (direção de arte), Roger Corman (conhecido e cultuado produtor, cineasta e distribuidor), Eric Boyd-Perkins (edição), John Simon (distribuidor do filme nos Estados Unidos), e os fãs Peter Cross, John Punter e Gail Ashurst (editora do fanzine “Nuada”, que é o nome do guardião sagrado do Sol, como descrito no filme).
Entre as revelações curiosas no documentário, temos o fato de que muitas cenas filmadas tiveram que ser cortadas na edição final por causa das exigências dos novos executivos que compraram o estúdio “British Lion”. E infelizmente essas cenas excluídas foram desaparecidas misteriosamente nos estúdios “Shepperton”, pois os rolos de negativos foram perdidos para sempre por incompetência dos responsáveis pelo arquivo das latas de filme não aproveitado. Aliás, essa informação já havia sido revelada por Christopher Lee no documentário “As Várias Faces de Christopher Lee” (The Many Faces of Christopher Lee, 1996), onde também o ator fez questão de salientar que seu papel de um obscuro líder religioso de uma seita pagã em “O Homem de Palha” é seu principal e mais importante trabalho em toda a vasta carreira de cerca de 250 filmes.
Outros detalhes revelados são que o filme teve uma série de dificuldades em sua fase de produção, indo desde o baixo orçamento disponível (o produtor Peter Snell e outros membros da equipe técnica optaram por ter seus salários muito reduzidos para poderem participar do filme, e Christopher Lee inclusive chegou a revelar que aceitou trabalhar de graça), passando pelos constantes problemas enfrentados com as condições climáticas das locações (as filmagens ocorreram entre Outubro e Novembro de 1972 com muito frio e chuvas, sendo que a história era passada em Maio, época mais quente na região), culminando com a conturbada e ineficiente distribuição nos cinemas, principalmente nos Estados Unidos, com o filme sendo exibido em poucas salas e sem publicidade.
Atenção: os comentários a seguir podem conter spoilers.
Entre os depoimentos no documentário temos informações de bastidores bastante curiosas como a cena final onde a população da ilha está dançando e cantando enquanto testemunham o “homem de palha” arder em chamas, e no momento da filmagem no alto de uma colina, o frio era intenso com ventos fortes, e o elenco e os extras estavam sofrendo bastante com a temperatura baixa. Então, para amenizar o desconforto, foram oferecidos casacos para as três atrizes principais, Britt Ekland (a estonteante Willow), Diane Cilento (a professora Srta. Rose) e a veterana dos filmes da “Hammer” Ingrid Pitt (que faz o papel de uma bibliotecária). As duas primeiras aceitaram os casacos sem hesitar, mas a polonesa Ingrid Pitt demonstrou uma atitude admirável quando recusou e disse que como todas as outras atrizes extras estavam sem roupas quentes, ela também não usaria até o término da cena. Nessa mesma seqüência final, devido à urgência dos trabalhos de filmagens para aproveitar o clima favorável (apesar de muito frio), o ator Edward Woodward não teve tempo suficiente para ensaiar suas falas no discurso religioso cristão quando estava preso no “homem de palha”, e suas frases foram lidas em enormes cartazes. Aliás, outra revelação curiosa foi que no momento em que é ateado fogo no “homem de palha”, o ator teve que enfrentar uma situação incômoda com algumas cabras localizadas acima dele, que uma vez assustadas com o fogo, urinaram sobre sua cabeça.
Quem assiste o filme já pronto e editado, não imagina as dificuldades enfrentadas por seus realizadores para conseguir os resultados esperados. Tudo isso merece ser salientado e agrega ainda mais valor e brilhantismo para “O Homem de Palha” tornar-se o clássico que é, e permanecer cultuado eternamente por uma legião de admiradores.
Em tempo: como a moda da indústria do cinema de Hollywood é fazer refilmagens dos grandes clássicos, em 2006 está previsto o lançamento de “Wicker Man”, com direção de Neil LaBute. A nova versão tem a estrutura básica semelhante ao original inglês de 1973, mas a história alterou a ambientação de uma ilha na Escócia para os Estados Unidos, e o vilarejo é liderado por mulheres em uma seita religiosa obscura. Para o papel do Sargento Howie foi convocado o ator Nicolas Cage, e fazem ainda parte do elenco a bela jovem Leelee Sobieski, como uma garçonete que ajuda o policial na investigação do desaparecimento de uma garota, além de Kate Beahan, para o papel da sensual Willow, e a veterana Ellen Burstyn (de “O Exorcista”), como a líder da sociedade matriarcal. As filmagens ocorrem em Vancouver, no Canadá.
“É ótimo ser considerado uma lenda viva. Não somente no sentido de que continua respirando, mas também por estar vivendo nos corações e mentes das pessoas que seguem seu trabalho.”
– depoimento do lendário ator Christopher Lee, em sua auto-biografia “Tall, Dark and Gruesome”
“O Homem de Palha” (The Wicker Man, 1973) # 350 – data: 17/11/05 – avaliação: 8,5 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 17/11/05)
O Homem de Palha (The Wicker Man, Inglaterra, 1973). British Lion. Duração: 88 minutos (versão americana). Direção de Robin Hardy. Roteiro de Anthony Shaffer. Produção de Peter Snell. Música de Paul Giovanni e Gary Carpenter (não creditado). Fotografia de Harry Waxman. Edição de Eric Boyd-Perkins. Direção de Arte de Seamus Flannery. Maquiagem de Billy Partleton. Elenco: Christopher Lee (Lord Summerisle), Edward Woodward (Sargento Howie), Britt Ekland (Willow), Ingrid Pitt (Bibliotecária), Diane Cilento (Srta. Rose), Lindsay Kemp (Alder MacGregor), Russell Waters (Mestre do Porto), Aubrey Morris (Coveiro), Irene Sunters (May Morrison), Geraldine Cowper (Rowan Morrison), Donald Eccles (T. H. Lennox), Walter Carr, Ian Campbell, Leslie Blackater, Roy Boyd, Peter Brewis, Barbara Ann Brown, Juliette Cadzow, Ross Campbell, Penny Cluer, Michael Cole, Kevin Collins, Ian Cutler, Myra Forsyth, John Hallam, Alison Hughes, Charles Kearney, Fiona Kennedy, John MacGregor, Jimmy Mackenzie, Lesley Mackie, Jennifer Martin, Bernard Murray, Helen Norman, Lorraine Peters, Tony Roper, John Sharp, Elizabeth Sinclair, Andrew Tompkins, Ian Wilson, Richard Wren, John Young.
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