Criaturas (The Curse of the Komodo, 2004)


Komodos caçam com simplicidade. Eles te jogam no chão, estraçalham e depois te comem com calma. Caso você consiga sobreviver, as bactérias da saliva deles são tão sépticas que te matam em dias ou horas!

O diretor Jim Wynorski tem se especializado em fazer filmes bagaceiros com animais gigantescos (parece que ele gosta bastante do dragão de komodo), como é o caso da tranqueira “Komodo Vs. Cobra” (2005), assunto de um artigo de Gabriel Paixão para o site “Boca do Inferno”, um texto carregado de ironia e bom humor. Mas, curiosamente, um ano antes, em 2004, o mesmo diretor (sob o pseudônimo Jay Andrews), e contando com boa parte dos mesmos atores, foi o responsável pelo igualmente péssimo “Criaturas” (The Curse of the Komodo), lançado no mercado brasileiro de DVD pela “Europa” no final de 2006.
As histórias de ambos os filmes são muito parecidas (praticamente iguais), onde a maior diferença está apenas na inclusão de uma cobra gigante para se confrontar com o komodo (no caso do filme de 2005). O resto é tudo a mesma porcaria, um roteiro ridículo, de autoria de Steve Latshaw, um elenco amador ao extremo e efeitos especiais excessivamente mal feitos, que não são melhores que os dinossauros toscos da antiga e bagaceira série de TV “O Elo Perdido” (Land of the Lost, 1974/77), produzido por Sid e Marty Kroft.
O nome nacional (comum e manjado) também foi mal escolhido, pois seria melhor apenas traduzir do original como “A Maldição do Komodo”. Aliás, curiosamente, a “California” lançou por aqui o DVD de “Creature / Alien Lockdown”, de 2004, um thriller de ficção científica com elementos de horror, chamando o filme de “Criatura”.

Na Ilha Damas, a 500 Km ao sul de Honolulu, no Havaí, um cientista, Prof. Nathan Phipps (William Langlois), com o auxílio da assistente e namorada Dra. Dawn Porter (Gail Harris), está trabalhando num projeto secreto do governo americano, que controla as ações de um comando naval em Pearl Harbor, sob a supervisão do General Foster (Jay Richardson) e seu assistente Tenente Jeffries (Richard Gabai). Disfarçado como um projeto para a produção de alimentos (pelo menos é que pensa o cientista ao fazer experiências para o crescimento de plantações), ele na verdade tem o objetivo de criar mutações moleculares nos animais da região, transformando os dragões de komodo em animais gigantescos comedores de homens e servindo como arma de guerra, segundo as intenções dos militares.
Além do Prof. Phipps e a Dra. Porter, ainda trabalham também na ilha a filha peituda do cientista, Rebecca (Glori-Anne Gilbert) e o capataz Hanson (Ted Monte). Paralelamente, um grupo de assaltantes de um cassino foge de helicóptero com o dinheiro roubado e são obrigados a pousar na ilha por causa de um temporal. São eles, Jack (Tim Abell), um ex-soldado que ganha a vida como piloto “freelancer”, o líder da gangue Drake (Paul Logan), sua namorada Tiffany (Melissa Brasselle) e o comparsa Reece (Cam Newlin). Agora, todos eles terão que unir forças para tentar sobreviver depois que descobrem a existência de um imenso dragão de komodo com mais de cinco metros de altura, uma criatura mutante que cresceu de forma descomunal por causa das experiências do cientista, e que está faminta por carne humana. Além de ter que fugir para não servir de alimento ao monstro (e também não entrar em contato com sua saliva, que causa uma infecção mortal), eles precisam sair o mais rápido possível da ilha, pois após os militares perceberem que perderam o controle do projeto ilegal, eles querem explodir o local com bombas incendiárias para apagar as evidências do crime.

Tudo em “Criaturas” é ruim. A história é banal e óbvia, num grande e previsível clichê: “um cientista ingênuo isolado numa ilha faz experiências genéticas com plantas e causa mutações nos animais, transformando-os em monstros gigantescos, que na verdade fazem parte de um projeto secreto de arma de guerra”. E é claro que saberemos com antecedência (e sem nenhum esforço de concentração) quem irá ser punido e morrer devorado, e quem se salvará para alertar o mundo sobre as barbaridades cometidas pelos militares sem escrúpulos. Os atores são péssimos, mesmo quando sabemos que os personagens são exageradamente fúteis, dificultando o trabalho deles. As interpretações são hilárias de tão amadoras, principalmente a atriz Melissa Brasselle (Tiffany), que nem ao menos conseguiu gritar convincentemente antes de ser devorada pelo komodo. A atriz Glori-Anne Gilbert também é péssima, e seus únicos atributos são os imensos seios, que obviamente, foram explorados pelo diretor oportunista, inserindo uma cena totalmente aleatória onde ela tira a roupa para um mergulho num lago. Os efeitos especiais são simples demais e não convencem, não passando de um trabalho vagabundo de CGI. Não tem sangue nem violência nas cenas com o komodo se alimentando de pessoas (aliás, acho que os personagens não servem nem para saciar a fome do bicho gigante). Resumindo, existe uma infinidade de produções bagaceiras que são muito divertidas, e existem também muitos filmes toscos que são ruins demais e sem interesse. “Criaturas” faz parte desse segundo grupo.

“Criaturas” (The Curse of the Komodo, Estados Unidos, 2004) # 442 – data: 26/05/07
www.bocadoinferno.com / www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 28/05/07)