Os Olhos da Cidade São Meus (1987)


O selo “Dark Side” da “Works Editora”, principal distribuidora de filmes de horror em DVD no Brasil nos últimos anos, lançou em Setembro de 2005 nas bancas de jornais e revistas o filme espanhol “Os Olhos da Cidade São Meus” (Anguish, 87), encartado na revista “Cine Monstro” número 2, que já havia sido lançada originalmente em Outubro de 2003.

Com direção de Bigas Luna e elenco liderado por Zelda Rubinstein (a baixinha sensitiva de “Poltergeist – O Fenômeno”, 82) e Michael Lerner, é importante não revelar detalhes da história. Basicamente, temos um funcionário de uma clínica de oftalmologia, John Pressman (Lerner), que está perdendo gradualmente a visão por causa da diabetes, e que é dispensado do emprego por deficiência profissional e pelas reclamações dos clientes, em especial da exigente Caroline (Isabel García Lorca). Ele vive sob o domínio possessivo de sua mãe psicótica, Alice (Rubinstein), e é hipnotizado por ela para num exercício de vingança coletar olhos humanos entre os espectadores de um cinema.

“Os Olhos da Cidade São Meus” já havia sido lançado anteriormente no mercado de vídeo VHS pela “Mundial” e o DVD traz como material extra uma breve sinopse e pequenas biografias dos atores Zelda Rubinstein e Michael Lerner. O título nacional ficaria mais apropriado se fosse a tradução literal do original em inglês “Anguish” (“Angústia”), apesar de que o nome no Brasil também procede, pois é a reprodução de uma “tagline” oficial de divulgação.

O filme possui duas características básicas que o tornam um objeto de grande interesse para os fãs do cinema de horror.
Primeiro porque a história aborda um tema que invariavelmente consegue chocar o público, ou seja, a exploração da fragilidade do olho humano. Essa que é um das partes mais vulneráveis do corpo e que a mais simples e menor possibilidade de contato direto causaria um extremo desconforto nas pessoas. Imaginem então como seria a dor e sensação de horror se tivermos nosso olho sendo perfurado e arrancado de sua órbita...
O cinema possui uma infinidade de exemplos de filmes que tiveram o olho humano como alvo de violência e sempre essas cenas perturbadoras foram responsáveis por um sentimento de repulsa do espectador. Alguns exemplos são o clássico de Roger Corman “O Homem dos Olhos de Raio-X” (63), com a chocante cena final com o angustiado cientista Dr. James Xavier (Ray Milland), ou a cena de perfuração do olho de uma vítima hospitalizada com graves queimaduras no corpo inteiro em “Os Mortos Vivos” (Dead & Buried, 81), com James Farentino, ou ainda o episódio “Olho” (Eye) dirigido por Tobe Hooper e estrelado por Mark Hamill, e que faz parte da antologia “Trilogia do Terror” (Body Bags, 93), apenas para citar três casos memoráveis. Isso sem falar no diretor italiano Lucio Fulci e sua obsessão em filmar olhos sendo machucados impiedosamente.
A outra característica que aumenta a atenção em torno do filme do cineasta espanhol Bigas Luna é abordagem também do tema sobre “um filme dentro de outro filme”, algo que quando bem trabalhado no roteiro torna-se uma interessante e divertida sessão de entretenimento. Outros exemplos desse tipo de metalinguagem podem ser encontrados em dois filmes de Wes Craven, “O Novo Pesadelo” (94), sétimo episódio da série do psicopata dos sonhos Freddy Krueger, e “Pânico 3” (2000).
E “Os Olhos da Cidade São Meus” consegue manter o nível de tensão tanto no filme “fictício” que está sendo exibido num cinema (cujos espectadores por sua vez estão assistindo o clássico “O Mundo Perdido” / “The Lost World”, de 1925, ainda da época do cinema mudo), quanto no filme “real” em que nós estamos vendo, onde no final ficção e realidade podem perigosamente se confundir.

“Os Olhos da Cidade São Meus” (Anguish, Espanha, 1987) # 338 – data: 17/09/05 – avaliação: 8,5 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 07/04/06)