A Macabra Arte do Caos























    O “Horror” está presente na agressividade do “Death Metal”, refletido principalmente em suas temáticas líricas, as quais falam desde satanismo, magia negra, morte, guerras apocalípticas, passando por carnificinas brutais, insanidade e decomposição do ser humano, até referências a filmes de horror. 

E se reflete também nas capas dos discos de vinil e Cds, onde fantásticos artistas exercitam suas habilidades com ilustrações que parecem descrever o próprio inferno. E quando não são desenhos insanos, são colagens de fotos reais sobrepostas de pedaços de cadáveres em decomposição e partes de corpos gangrenados ou vítimas de horrendas mutilações. Tudo com o propósito de diversão, agredindo e chocando as pessoas.

São centenas de fabulosos trabalhos onde os artistas versam sobre diversos e variados temas, viajando pelos caminhos mais obscuros da imaginação para criarem cenários lúgubres de devastação ou as mais bizarras aberrações já concebidas, num paralelo bem próximo às criaturas indizíveis do escritor H. P. Lovecraft.

Entre estes artistas, podemos citar o grande desenhista suiço H. R. Giger, cujos trabalhos ilustraram capas do “Celtic Frost” e “Massacre”; Michael R. Whelan (vencedor do “Prêmio Locus” 1996), que assinou capas do “Sepultura” e “Obituary”; ou ainda Edward J. Repka, Dan SeaGrave e Derek Riggs, que são marcas registradas das bandas “Death”, “Entombed” e “Iron Maiden”, respectivamente.

O horror é o ponto de partida desse mórbido universo da ilustração, onde as capas dos discos são desenhos que retratam a macabra arte do caos, mostrando sangrentos campos de batalhas, monstros inomináveis, demônios, cenários depressivos de devastação, autópsias, dissecações, e todo o inferno sombrio que povoa nossos pesadelos assustando e principalmente nos divertindo.

Seguindo o conceito que capas interessantes e bem trabalhadas vendem livros e discos, fica muito difícil não querer conhecer o som da banda “Exorcist”, cujo disco “Nightmare Theatre” traz uma excelente idéia, mostrando os seus quatro integrantes na capa em estado de decomposição como cadáveres em putrefação. A música é até legal, falando de bruxaria na época da inquisição, mas a capa do disco é muito melhor.

Um dos maiores monstros sagrados do “Heavy Metal” mundial é o “Iron Maiden”, cujas capas dos discos trazem variados desenhos sempre com a presença do mascote da banda, Eddie. São fantásticas ilustrações a cargo de Derek Riggs como podemos ver em “The Number of the Beast” com a criatura Eddie no inferno manipulando uma marionete que é um pequeno demônio, ou em “Piece of Mind”, com Eddie confinado e amordaçado em uma camisa de força.

O desenhista H. R. Giger marcou sua presença ilustrando o álbum “To Mega Therion” do “Celtic Frost”, mostrando um obscuro demônio agredindo Jesus Cristo.

Já o ilustrador Dan SeaGrave mostrou sua arte em cenários indescritíveis da mais profunda desolação nos discos “Left Hand Path” e “Clandestine”, do “Entombed”. E em “Effigy of the Forgotten”, do “Suffocation”, mostrou uma estranha máquina cibernética massacradora de seres humanos.

Em “Severed Survival”, do “Autopsy”, Kev Walker desenhou quatro bizarras criaturas efetuando uma sangrenta cirurgia em cujo paciente somos nós, que estamos olhando para a ilustração, e que sentimos como se rasgassem nossas carcaças ao ouvir a brutalidade sonora da banda.

As bandas americanas “Death” e “Massacre” tiveram seus discos ilustrados por Edward J. Repka, mostrando fantásticos desenhos como por exemplo as horrendas criaturas vindas do além (“From Beyond”, do “Massacre”) ou esqueletos celebrando a morte (“Scream Bloody Gore”, do “Death”).

Já os alemães do “Morgoth” tiveram em seu disco “Ressurrection Absurd”, uma excelente e incrível ilustração mostrando uma macabra criatura indizível, que parece materializar a própria dor, o sofrimento e a agonia do mundo, combinando com maestria com o arregaçador som da banda.

Estes são apenas alguns pouquíssimos exemplos do horror presente nas capas dos discos de bandas de “Death Metal” e suas ramificações, cujas imagens nos incitam à imaginação, fazendo-nos mergulhar profundamente num mundo sombrio habitado por mórbidas criaturas.   


Nota do Autor: Esse texto foi escrito originalmente em 1995 e publicado na extinta revista “Horrorshow”, número 3, da Editora Escala (São Paulo/SP). Portanto, é um texto datado, descrevendo eventos da época. Muita informação surgiu desde então, nesses últimos anos, mas independente disto, o texto pode servir como uma referência do poder criativo resultante da agressiva união entre o Horror e o Death Metal no período abordado. 

 

A Macabra Arte do Caos

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(postado em 05/04/06)