Até o Fim (2001)


Produzido, escrito e dirigido pela dupla Scott McGehee e David Siegel, “Até o Fim” (The Deep End) é um interessante filme de suspense psicológico que entrou em cartaz nos cinemas brasileiros em 17/05/02. Baseado no livro noir “The Blank Wall” de Elisabeth Sanxay Holding e filmado previamente em 1949 com o título de “Na Teia do Destino” (The Reckless Moment), com James Mason e Joan Bennett, “Até o fim” conta a história da até então pacata vida de uma mãe de família, que desaba repentinamente numa sucessão de eventos inesperados como um acidente de carro com seu filho, a descoberta que ele é homossexual, o envolvimento com um suposto assassinato do amante dele e a chantagem de um conhecido do morto.

(Atenção: o texto a seguir contém spoilers)

A atriz escocesa Tilda Swinton interpreta Margaret Hall, uma mãe que vive com o sogro e seus três filhos (um garoto pequeno, uma adolescente e um jovem) numa bela casa à beira de um lago na cidade de Lake Tahoe, California. Seu marido, um oficial da marinha americana, está quase sempre fora em missões no mar.
Tudo vai bem numa vida rotineira até que Margaret descobre o envolvimento de seu filho Beau (Jonathan Tucker) com outro homem, Darby Reese (Josh Lucas), que trabalha numa boate gay na cidade vizinha de Reno. Após um acidente de carro com seu filho dirigindo embriagado à noite, ela decide ir à boate pedir para o namorado dele não incomodá-lo mais. Porém, o rapaz vai à sua residência em Tahoe na mesma noite para encontrar Beau. Eles acabam discutindo e acidentalmente Darby é morto caindo sobre uma âncora de barco. Margaret encontra o corpo pela manhã na beira do lago e para proteger o filho decide ocultar o cadáver escondendo-o num grupo de recifes.
Mais tarde, o corpo é encontrado e a polícia inicia uma investigação. Porém, não são os policiais uma ameaça para Margaret e sim um conhecido do morto, Alek Spera (Goran Visnjic), que aparece para chantageá-la tentando conseguir alta quantia em dinheiro alegando possuir uma fita de vídeo VHS com cenas de sexo entre Darby e seu filho Beau, e que entregaria à polícia determinando seu filho como um suspeito de assassinato.
Quando o chantagista Alek aparece para cobrar o dinheiro, coincidentemente o sogro de Margaret tem um enfarte e ele acaba ajudando a salvar o idoso, ressuscitando seu coração novamente. A partir daí, o criminoso Alek passa a demonstrar uma personalidade diferente com a história tomando rumos inesperados, principalmente com o surgimento também de um parceiro perigoso de Alek que aparece para cobrar o dinheiro da chantagem.
“Até o Fim” é um thriller com uma história envolvente mostrando como a vida normal de uma mãe de família pode se transformar num enorme pesadelo sem fim de uma hora para outra, bastando cometer um pequeno erro, nesse caso o de ocultar um corpo para supostamente proteger o filho. Os destaques ficam para a premiada fotografia de Giles Nuttgens com tomadas belíssimas do lago Tahoe, um dos mais profundos do mundo, e pela ótima interpretação dramática da atriz Tilda Swinton, como a mãe perturbada Margaret Hall. Apesar da história apresentar situações incomuns como a transformação da personalidade de Alek Spera, de chantagista para protetor, o filme consegue manter um interessante clima de suspense psicológico “até o fim” (usando um pequeno trocadilho), garantindo bons momentos de diversão.

“Até o Fim” (The Deep End, Estados Unidos, 2001) – avaliação: 7,5 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 28/04/06)

Amaldiçoados (2005)


Um casal de irmãos órfãos, Ellie (Christina Ricci) e Jimmy (Jesse Eisenberg), sofre um acidente noturno de carro numa estrada pouco movimentada em Los Angeles, e ao tentarem ajudar a vítima do outro carro que caiu numa depressão de uma floresta, eles são atacados por um lobisomem, onde são apenas levemente feridos. Mas a partir daí carregarão uma maldição que os transformará lentamente em feras assassinas, a não ser que descubram a identidade humana do lobisomem que os atacou, matando-o e separando a cabeça do corpo.
Basicamente essa é a sinopse de “Amaldiçoados” (Cursed), que entrou em cartaz nos cinemas brasileiros em 15/07/05. E Infelizmente sou obrigado a iniciar essa breve análise utilizando um trocadilho de forma irônica: “amaldiçoados” somos nós que assistimos esse filme completamente dispensável e decepcionante, principalmente pela direção ser de Wes Craven, um cineasta acostumado com o gênero horror e que criou as franquias de sucesso “A Hora do Pesadelo” (A Nightmare On Elm Street) em 1984 e “Pânico” (Scream) em 96, e que no passado teve a ousadia e coragem de nos presentear com filmes agressivos e não comerciais como “Aniversário Macabro” (Last House on the Left, 72) e “Quadrilha de Sádicos” (The Hills Have Eyes, 77).
Não adiantou nada também o fato do roteirista ser Kevin Williamson, parceiro de Craven na trilogia “Pânico” (que se não é uma maravilha, pelo menos injetou motivação ao gênero em meados dos anos 90, com os filmes de horror adolescente). Pois a história é sofrível de tão ruim: não consegui rir de nenhuma tentativa de humor, não me impressionei com nenhuma tentativa de susto (todos ridículos e banais), os personagens são tão descartáveis que mereceriam as mortes mais dolorosas possíveis, a violência é super contida (típico de um filme adolescente comercial), tanto que o ataque do lobisomem contra uma mulher num elevador está “off screen”, assim como uma cena de decapitação próxima do final. Isso sem contar o desfecho patético e previsível, que conseguiu ser um dos piores e mais detestáveis dos últimos tempos.
A maioria das críticas e comentários sobre “Amaldiçoados” dizia ser um filme de lobisomens que está bem abaixo de outros dentro desse subgênero que foram produzidos há cerca de 25 anos atrás como “Um Grito de Horror” (The Howling, 80), de Joe Dante, e “Um Lobisomem Americano em Londres” (An American Werewolf in London, 81), de John Landis. Isso é correto, mas na verdade é uma completa heresia sequer mencionar alguma comparação. O filme de Craven (seu retorno à direção depois de 5 anos após “Pânico 3”) é infinitamente inferior, não acrescentando absolutamente nada para este fascinante subgênero, onde até os efeitos especiais são tão artificiais que não despertam interesse. E falando em filmes de lobisomens, não podemos deixar de citar dois grandes exemplos produzidos nos últimos anos: a franquia canadense “A Possuída” (Ginger Snaps), iniciada em 2000, e o inglês “Cães de Caça” (Dog Soldiers, 2002).
Outro detalhe interessante a ser comentado é que muitas pessoas estão dizendo que pelo fato de “Amaldiçoados” ter enfrentado um trabalho de produção bem tumultuado, com várias mudanças no elenco e refilmagens de muitas cenas, o resultado final ficou comprometido. Na verdade, independente disso, da produção conturbada e cheia de problemas, o filme é ruim mesmo, não tem elementos atrativos, é um completo desfile de clichês desgastados, com aqueles mesmos personagens fúteis com diálogos banais de boa parte dos filmes de horror adolescente produzidos nesse início do século XXI. Se for para fazer filmes como esse, é melhor Wes Craven ficar fora das telas mesmo, e retornar somente quando tiver boas idéias e principalmente ousadia para filmar algo perturbador.
“Amaldiçoados” recebe uma nota 3 exclusivamente pela presença de Christina Ricci no elenco (que esteve em filmes bem mais interessantes como “A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça” e “Monster – Desejo Assassino”), e pelas homenagens ao lobisomem do lendário ator Lon Chaney Jr. da década de 40 nas cenas do museu de cera, pois são as únicas coisas que merecem ser enaltecidas. De resto, o filme é completamente decepcionante e dispensável...

“Amaldiçoados” (Cursed, 2005) # 326 – data: 19/07/05 – avaliação: 3 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 28/04/06)

Alucinação (2001)


Após um ano de atraso desde seu lançamento nos Estados Unidos, os executivos de distribuição de filmes no Brasil aproveitaram agora uma rara combinação de data e na sexta-feira 13 de setembro de 2002 programaram a estréia em nosso país de mais um thriller de horror adolescente, “Alucinação” (Soul Survivors).
Produzido por Neal H. Moritz e Stokely Chaffin, os mesmos realizadores de “Eu sei o que vocês fizeram no verão passado” (1997), e dirigido e escrito por Steven Carpenter, “Alucinação” segue a mesma linha de produções similares como a série “Pânico” criada em 1996 por Wes Craven, trazendo elementos presentes em filmes como “O Sexto Sentido” (1999) e “Os Outros” (2001). Teve um desempenho fraco nas bilheterias e quase não cobriu os custos de produção, num orçamento avaliado em US$ 14 milhões.
A história é sobre uma bela jovem, Cassandra (Melissa Sagemiller), que vai comemorar sua entrada na faculdade numa festa gótica com o namorado Sean (Casey Affleck), a amiga Annabel (Eliza Dushku) e o ex-namorado Matt (Wes Bentley). Lá, Matt tenta novamente seduzir a jovem, que acaba beijando-o no momento em que é flagrada por seu namorado Sean, causando uma briga entre eles e culminando com um grave acidente de carro que causou a morte de Sean.
A partir daí, Cassandra começa a sofrer com um forte sentimento de culpa e fatos estranhos passam a atormentá-la como situações em que se sente perseguida por perigosos homens que viu na festa ou a existência de terríveis visões com o fantasma do namorado morto. Ela conhece a misteriosa Raven (Angela Featherstone), que faz uma amizade mais íntima com Annabel, e procura ajuda com um jovem padre, Jude (Luke Wilson), tentando decifrar as horríveis alucinações que aparecem à sua frente na forma de pesadelos, como um ralo de banheiro explodindo em sangue ou quando sua cadeira na escola enche-se de sangue que jorra em abundância de seu nariz. Aos poucos, Cassandra vai entendendo o que realmente está acontecendo e tenta sobreviver em meio ao caos entre a realidade e a imaginação, descobrindo a verdade sobre as pessoas que a cercam, e caminhando numa linha tênue que separa o mundo dos vivos e dos mortos.
“Alucinação” procura novamente explorar aqueles velhos clichês já largamente utilizados em outras produções similares, investindo em sustos fáceis, algumas doses discretas de sangue, correrias, perseguições, pesadelos, surpresas, reviravoltas na trama e principalmente na confusão entre realidade e imaginação. O filme apresenta um tema bastante desgastado, com um suspense morno, um elenco convencional, e principalmente um desfecho previsível e com o tradicional final feliz, não mostrando nada de novo para os fãs mais experientes do cinema de horror. Ainda assim, com muito esforço e sem exigência, podemos até encontrar alguns poucos momentos de interesse no drama sobrenatural vivido pela personagem Cassandra, atormentada por misteriosas alucinações, e o filme pode talvez até servir de um passatempo rápido.

“Alucinação” (Soul Survivors, Estados Unidos, 2001) – avaliação: 4 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 27/04/06)

Alta Velocidade (2001)


Em 10/08/01 entrou em cartaz mais um filme de Sylvester Stallone, “Alta Velocidade” (Driven). Na verdade, o filme deveria se chamar “Alta Previsibilidade”, pois a quantidade de absurdos e cenas previsíveis chega a ser impressionante. É pena que Stallone, que também participa do roteiro e produção, em fim de carreira esteja fazendo filmes tão óbvios como esse, dirigido por Renny Harlin (de “Do Fundo do Mar”), e também a decepção anterior com o inexpressivo policial “O Implacável” (Get Carter). Ele que foi astro de grandes filmes como “Rambo” e “Rocky, o Lutador”, e que geraram inúmeras sequências inferiores porém divertidas.

(Atenção: o texto a seguir contém spoilers)

Em “Alta Velocidade” o ator é um experiente piloto de Fórmula Um, Joe Tanto, que estava aposentado devido a um grave acidente nas pistas, e retorna a correr para auxiliar um jovem piloto de talento em início de carreira, Jimmy Bly (Kip Pardue), a superar a pressão de uma fase ruim em busca do título de campeão da temporada. O interesse não correspondido por uma bela jovem, Sophia (Estella Warren), e a pressão psicológica imposta pelo dono de sua equipe, Carl Henry (Burt Reynolds), e por seu irmão e empresário pentelho (Robert Sean Leonard), contribuem para suas dificuldades.
Os clichês são tantos e tão óbvios que chegam a causar risos dos absurdos. Coisas como um “passeio” em alta velocidade pelas ruas de Chicago, num “racha” entre Tanto e Bly; ou as cenas de acidentes nas pistas, onde os carros voam tão altos que mais parecem aviões; ou ainda quando ocorre um grave acidente com um piloto que voa da pista e cai num lago, sendo resgatado por dois companheiros que largam seus carros no meio da corrida, se jogam na água, retiram o piloto preso nas ferragens quase morrendo afogado exatamente antes da explosão do carro pelo contato do fogo com o combustível, e sobre isso a única coisa que posso dizer é como a equipe de resgate do autódromo é incompetente... E para completar, não precisa nem dizer quem acabou ganhando o campeonato, numa disputa palmo a palmo no final com seu maior rival (parecendo aquelas corridas de cavalo disputadas cabeça a cabeça).
Como curiosidade, tem uma cena da bela atriz Estella Warren (de “Planeta dos Macacos”, 2001) onde ela faz uma pequena exibição de nado sincronizado numa piscina, sendo na verdade uma campeã desse esporte fora das telas. No final, o filme tenta mostrar o “circo” da Fórmula Um, e parece que o palhaço ficou para Stallone, que já fez filmes muito divertidos e melhores e poderia selecionar com mais critério seus últimos trabalhos.

“Alta Velocidade” (Driven, Estados Unidos / Canadá / Austrália, 2001) – avaliação: 3 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 27/04/06)

O Alerta Vermelho (França, 2002)


Talvez este mundo seja o inferno de outro planeta” – Aldous Huxley

Particularmente, a frase acima, reproduzida do início do filme francês “O Alerta Vermelho” (La Sirène Rouge / The Red Siren, 2002), foi uma das mais significativas e sonoras que tive acesso nos últimos anos, e que se aplica perfeitamente no argumento apresentado pelo filme, o qual evidencia a incrível maldade e instinto de violência que existem naturalmente na humanidade.

A história é inicialmente ambientada na França, onde uma menina de doze anos, Alice (Alexandra Negrao), procura a polícia, em especial a detetive Anita Staro (Asia Argento), para denunciar um assassinato cruel praticado por sua mãe perversa, a rica empresária Eva Kristensen (Frances Barber), que gosta de filmar em vídeo caseiro suas vítimas sendo brutalmente torturadas.
Uma vez não existindo meios legais para a condenação da influente mulher, a garota Alice passa a ficar sob a custódia das autoridades policiais e consegue fugir com destino à Portugal, onde estaria seu pai, Stephen Travis (Johan Leysen), supostamente morto num acidente de barco. Porém, enquanto fugia dos capangas de sua mãe, entre eles o mau caráter Koesler (Andrew Tiernan), Alice é resgatada por acaso por Hugo (Jean-Marc Barr), um ex-soldado combatente de guerra e assassino profissional, que trabalha para uma organização libertária secreta e sofre com um sentimento de culpa por causa de um incidente ocorrido no campo de batalha. Ele logo simpatiza com a garota e decide ajudá-la a fugir da mãe assassina e encontrar o pai.
Paralelamente, para tentar localizar Alice, a inspetora Anita parte também em seu encalço, recebendo em Portugal a ajuda de um policial extrovertido, o detetive Oliveira (Edouard Montoute).
Porém, eles não imaginariam que teriam que enfrentar assassinos profissionais contratados para recuperar a menina e trazê-la de volta à mãe, liderados pelo frio e calculista Coronel Vondt (Carlo Brandt).

Dirigido por Olivier Megaton, “O Alerta Vermelho” é um thriller policial com todos os elementos típicos do gênero, com muita ação, violência, pancadaria, perseguições e tiroteios. Não apresenta nada que já não tivesse sido visto em outra produções similares anteriores, mas independente disso, sua maior qualidade é justamente ser um filme honesto e totalmente despretensioso em sua proposta, conseguindo o objetivo de manter a atenção do espectador durante as quase duas horas de projeção, a despeito de todos os clichês e situações absurdas. Falhas como por exemplo, quando um grupo de homens fortemente armados invade um pequeno hotel em Portugal e detona tudo com a artilharia pesada, à procura da menina Alice e de seu protetor Hugo, e mesmo após um longo período de tiroteios, a polícia portuguesa nem apareceu no local.
O filme tem uma dose de violência bastante significativa, conseguindo enfatizar o instinto assassino natural da raça humana, e com isso concebendo cada vez mais credibilidade à memorável frase do escritor Aldous Huxley, sobre nosso mundo ser um inferno de algum outro planeta (não faltam exemplos reais para justificar essa idéia, com tantas guerras e atos de violência urbana espalhados em todos os países).

“O Alerta Vermelho” foi lançado no mercado brasileiro no formato DVD em Junho de 2005, distribuído pela “Europa”.
Curiosamente, no pequeno hotel português, o recepcionista está assistindo uma partida de futebol com um jogo do Flamengo, inclusive com a narração original brasileira, onde até aparece um gol do time rubro negro. É interessante notar como o Flamengo, por ser um dos times mais populares do Brasil, foi o escolhido para aparecer no filme, e nos últimos anos o time carioca somente tem lutado para escapar do rebaixamento do Campeonato Brasileiro (no dia 16/10/05 o Flamengo conseguiu a proeza de tomar uma histórica goleada de 6 a 1 jogando em casa, na Ilha do Governador, para o tricolor paulista São Paulo).

“O Alerta Vermelho” (La Sirène Rouge / The Red Siren, França, 2002) # 345 – data: 18/10/05 – avaliação: 7 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 26/04/06)

Água Negra (2005)


O cineasta carioca Walter Salles teve como seu primeiro filme em língua inglesa a produção “Água Negra” (Dark Water, 2005), que estreou nos cinemas brasileiros em 12/08/05. O filme segue a tendência desse início do século XXI do mercado americano investir em refilmagens de filmes de horror japoneses. Nesse caso trata-se de mais um thriller psicológico com elementos sobrenaturais que não conseguiu conquistar a atenção do público, e que foi inspirado numa produção japonesa de 2002.
A história apresenta o drama enfrentado por uma jovem mãe, Dhalia (Jennifer Connelly), recentemente divorciada, em tentar seguir sua vida com a pequena filha Cecilia (Ariel Gade), evitando o máximo possível que as conseqüências da separação prejudique as relações com a garota. Ela se muda para um apartamento em condições precárias num bairro pobre de New York, e o maior desafio de adaptação em sua nova moradia é enfrentar uma misteriosa e indesejada infiltração de “água negra” acumulando-se no teto do quarto, vinda do andar de cima, supostamente vazio, e que era habitado por uma família onde o pai e a mãe abandonaram a filha pequena.
“Água Negra” é um suspense psicológico com uma narrativa bastante lenta e que provavelmente não irá agradar aqueles que estão esperando ação, sangue e sustos. A história é apenas convencional servindo mais como um drama familiar que esbarra no sobrenatural, tendo alguma movimentação somente próximo de seu final, mas nada que mereça grandes destaques. Pelo contrário, é mais um filme que explora o tema de fantasmas perturbados de crianças, algo que já se transformou num clichê que não desperta mais tanto interesse. Mas ainda assim, é uma diversão rápida e sutil para os fãs de horror psicológico.

“Água Negra” (Dark Water, Estados Unidos, 2005) – avaliação: 6 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 25/04/06)

A. I. - Inteligência Artificial (2001)


Em 07/09/01 entrou em cartaz nos cinemas a ficção científica “A. I. – Inteligência Artificial” (A.I. – Artificial Intelligence), dirigido por Steven Spielberg, num projeto em parceria com o genial cineasta Stanley Kubrick (que faleceu antes do início das filmagens), a partir de uma história do escritor Brian Aldiss. Participam do elenco o garoto Haley Joel Osment (de “O Sexto Sentido”), em outra excelente performance, e o jovem Jude Law (do drama de guerra “Círculo de Fogo”), além de Frances O´Connor, Sam Robards e o experiente William Hurt.
O menino Osment interpreta o robô David, que foi criado para sentir emoções e que tem a capacidade de amar. Num futuro não muito distante, o planeta sofreu uma grande inundação nas cidades litorâneas devido ao derretimento das calotas polares pelo superaquecimento do sol através do efeito estufa. A natalidade passou a ser controlada pelos governos e as grandes empresas de robótica criaram então andróides como filhos para as famílias que por algum motivo não podiam ter suas crianças. O robô David foi concebido como a mais sofisticada versão da robótica com capacidade de sentir o amor, e ele foi então passado a uma família cujo filho estava em estado de congelamento devido a uma enfermidade terminal, aguardando o despertar num momento de tecnologia mais favorável à cura.
Após um tempo de adaptação para todos no relacionamento de David com os pais (O´Connor e Robards, um funcionário da empresa que concebeu o pequeno robô), o filho “real” do casal acaba despertando e se junta novamente à família, gerando alguns conflitos e um incidente que leva os pais a abandonarem David à mercê dos perigos de uma civilização preconceituosa contra as máquinas. A partir daí, o pequeno robô, ajudado por um outro andróide (Law) criado como amante sexual dos humanos, parte em busca de seu espaço num mundo hostil e seu sonho de se tornar humano e ter seu amor reconhecido pela mãe.
Os efeitos especiais são magníficos como já é de se esperar numa produção de Spielberg, destacando-se as cenas de uma New York inundada onde apenas os prédios mais altos estavam acima do nível do mar, lembrando um outro filme similar, “Waterworld”, com grandes cidades totalmente submersas. A história do robô com sentimentos e que quer se tornar humano, no estilo do conto de fadas “Pinóquio”, lembra também outro filme de FC, “O Homem Bicentenário”, com Robin Williams e baseado em obra do escritor Isaac Asimov.
E Spielberg sabe muito bem como contar uma história de entretenimento, a exemplo dos outros filmes de Ficção Científica que dirigiu, “Contatos Imediatos do Terceiro Grau” (1977) e “E.T. – O Extraterrestre” (1982), de onde percebe-se inspirações para esse “Inteligência Artificial”. Ele abusou um pouco do sentimentalismo e o filme se arrasta em alguns momentos em seus longos 146 minutos, e certamente se Kubrick ainda estivesse vivo, com sua visão de um mundo decadente e com pouco espaço para conclusões otimistas e “felizes”, o filme tomaria outros rumos. Mas, como cinema de entretenimento, a especialidade indiscutível de Spielberg, ele funciona bem e cumpre seu papel.

Nota: O filme foi exibido pela primeira vez na televisão aberta em 29/12/04, pela TV Globo, às 22:30 horas, na sessão “Cinema Especial”, que acontece às quartas-feiras em ocasiões especiais, quando não há a exibição de algum jogo de futebol.

“A. I. – Inteligência Artificial” (A. I. – Artificial Intelligence, Estados Unidos, 2001) – avaliação: 8 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 25/04/06)

2000.1 - Um Maluco Perdido no Espaço (2000)


Em 27/07/01 estreou com grande atraso nos cinemas brasileiros (a produção é canadense de 2000) a comédia “2000.1 – Um Maluco Perdido no Espaço” (2001 – A Space Travesty), novamente com o comediante Leslie Nielsen, das séries “Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu” e “Corra Que a Polícia Vem Aí”.
Quem viu o jovem Nielsen estrelando o clássico da ficção científica de 1956 “Planeta Proibido”, com Walter Pidgeon, Anne Francis e Warren Stevens, nunca imaginaria que o ator decolasse sua carreira mesmo somente muitos anos mais tarde e fazendo filmes de humor. Atualmente, já bem velho, ele é a cara de vários filmes de comédia, sendo um dos maiores e mais requisitados humoristas do cinema.
Dessa vez ele interpreta um agente federal super atrapalhado chamado Dick Dix, que é requisitado para uma missão secreta na base espacial Vega, fundada e mantida pelos humanos na Lua, e povoada por todos os tipos de alienígenas possíveis. Lá, existem rumores que um plano maquiavélico alienígena está em andamento clonando as principais personalidades da Terra, e entre elas, o Presidente dos Estados Unidos, que na época da produção era Bill Clinton. Dix é então enviado para investigar a suposta possibilidade do presidente real estar prisioneiro em Vega, com seu clone atuando na Casa Branca.
Na verdade o filme é uma paródia com citações à diversos filmes de ficção científica, desde “2001 – Uma Odisséia no Espaço” (principalmente esse, emprestando a idéia do nome, utilizando várias referências e logicamente aproveitando o momento propício para a paródia), passando por “Guerra nas Estrelas” e “Homens de Preto” com seus exóticos alienígenas, e com citações a “Jornada nas Estrelas” e até o recente “O Sexto Sentido” (“Eu vejo pessoas mortas...”). No filme, desfilam diversos sósias de personalidades importantes mundiais de vários segmentos como os famosos três tenores comandados por Luciano Pavarotti, o papa João Paulo II, os cantores pop stars Madonna e Prince, o vilão iraquiano Saddam Hussein, o presidente americano Bill Clinton e a primeira dama Hillary, até rápidas aparições de Monica Levinski e até de Elvis Presley.
Tem alguns poucos momentos engraçados, mas no geral a história é ridícula, os efeitos especiais são medíocres (os alienígenas mais parecem fantasias de borracha da época da série de TV “Ultraman”, e percebemos facilmente que os cenários externos são maquetes), além do fato que no elenco apenas Leslie Nielsen consegue manter um pouco a atenção e diversão discreta. Ele que já participou antes de uma outra paródia de filme fantástico, no igualmente sem graça “Drácula, Morto Mas Feliz” (1996). Certamente existe algo muito errado com esse filme, pois é uma comédia em que dificilmente o público ri e que aguardamos ansiosamente que termine.

“2000.1 – Um Maluco Perdido no Espaço” (2001 – A Space Travesty, Canadá, 2000) – avaliação: 3 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 25/04/06)

13 Fantasmas (Thir13en Ghosts, EUA / Canadá, 2001)


Novamente o fascinante tema “Casa Assombrada” do gênero horror voltou às telas dos cinemas, dessa vez com “13 Fantasmas” (Thirteen Ghosts), que entrou em cartaz no Brasil em 22/03/02. Na verdade, o filme é uma refilmagem de um homônimo de 1960, dirigido e produzido por William Castle, o mesmo criador de “A Casa dos Maus Espíritos” (58), com o magnífico ator Vincent Price, e que também foi refilmado em 1999 como “A Casa da Colina”.
Juntamente com “A Casa Amaldiçoada” (99), uma espécie de refilmagem de “Desafio ao Além” (63) e de “A Casa da Noite Eterna” (73), eles formam um trio de filmes inspirados em mansões mal assombradas e que foram lançados aproximadamente na mesma época.

(Atenção: o texto a seguir contém spoilers)

Em “13 Fantasmas”, um milionário excêntrico, Cyrus Kriticos (F. Murray Abraham), supostamente morre e deixa como herança uma misteriosa mansão para seu único sobrinho, Arthur (Tony Shalhoub) e família formada pelos filhos Kathy (Shannon Elizabeth) e Bobby (Alec Roberts), que estavam falidos perdendo a casa num incêndio que também matou a mãe das crianças. A enorme casa está repleta de portas de vidro com inscrições cabalísticas e passagens secretas por todos os lados. Eles então acabam sendo aprisionados pela casa macabra, que ainda evidencia a existência de diversas entidades sobrenaturais habitantes do local e aprisionadas no porão, que conseguem sua libertação e passam a perseguir e assombrá-los.
Para visualizar os fantasmas eles utilizam um óculos especial que permite ver suas aparências grotescas. A mansão acaba se revelando uma complexa máquina repleta de engrenagens e sistemas mecânicos cujo projeto é de autoria do próprio diabo e com sua movimentação feita através da energia dos mortos. Ajudados por um caça fantasmas responsável pela captura dos espíritos torturados, Rafkin (Matthew Lillard), e por uma suposta simpatizante pela liberdade dos fantasmas, Kalima (Embeth Davitz), a família Kriticos tenta escapar dos espíritos malignos e sobreviver às armadilhas mortais da obscura casa maldita, e para isso eles precisam descobrir os segredos da mansão e vencer a batalha contra os demoníacos espectros do além.

Os destaques vão para a cena sangrenta da morte do jovem advogado do milionário Cyrus, literalmente cortado ao meio com precisão cirúrgica por uma parede de vidro, e pelas aparições dos diversos fantasmas, todos grotescos e ameaçadores. Como ponto negativo, não podia faltar no roteiro as piadas idiotas e mal colocadas, que os realizadores sempre insistem em inserir nas tramas de horror atuais, ficando dessa vez o papel ridículo para uma incompetente babá do garoto Bobby.
O diretor Steve Beck é estreante no ofício, já tendo trabalhado antes como profissional de efeitos visuais da poderosa “Industrial Light and Magic”. Como curiosidade, assinam a produção Joel Silver (Matrix) e o conhecido cineasta Robert Zemeckis (Náufrago).
“13 Fantasmas” é mais um filme de horror a retratar o ambiente maléfico do subgênero “casa assombrada”, que não traz grandes novidades, com os mesmos velhos clichês do estilo (mansão macabra, passagens secretas, fantasmas perversos, sustos fáceis, final feliz e previsível, etc.), porém numa abordagem auxiliada pela moderna tecnologia dos efeitos especiais que garante alguns bons momentos de diversão para os apreciadores não exigentes do tema.
Assim como os filmes similares “A Casa da Colina” e “A Casa Amaldiçoada”, refilmagens de clássicos do passado, e ainda o excepcional “Os Outros” (2001), de Alejandro Amenábar, eles formam uma tentativa de revitalizar o cinema de horror das casas assombradas por fantasmas. Porém, ao contrário dos filmes antigos, que optavam pelo horror sugerido e nunca se via realmente o fantasma, as produções atuais fazem questão de um horror explícito (com exceção de “Os Outros”), com muito sangue e violência, mostrando os fantasmas detalhadamente, investindo em sustos e muito barulho, não se preocupando em povoar o imaginário do público com situações sugeridas. De qualquer forma, há espaço para todos os tipos de horrores e o mais importante é se divertir com as diferentes situações e abrangências do medo.

“13 Fantasmas” (13 Ghosts, Estados Unidos, 2001) – avaliação: 5 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 07/04/06)

A Relíquia (1997)


Algumas coisas são melhores se não forem descobertas

Muitos filmes de horror apresentam suas histórias referenciando-se na imensa e misteriosa Amazônia, com citações ao Brasil. Pois até hoje ela é considerada uma região intrigante e que pode esconder segredos desconhecidos pela humanidade em seu território de proporções continentais e áreas ainda inexploradas. Filmes importantes como “Delírio de um Sábio” (Dr. Cyclops, 1940), “O Monstro da Lagoa Negra” (Creature From the Black Lagoon, 54) e “O Mundo Perdido” (The Lost World, 60) foram alguns que utilizaram a Amazônia como tema de suas histórias. E mais recentemente tivemos um outro exemplo, “A Relíquia” (The Relic, 97), dirigido por Peter Hyams, cineasta nascido em 1943 e com algumas participações no cinema fantástico como em “Outland – Comando Titânio” (81), um western espacial com Sean Connery, “2010 – O Ano em que Faremos Contato” (84), e “Fim dos Dias” (99), com Arnold Schwarzenegger. “A Relíquia” foi escrito num trabalho em conjunto de quatro roteiristas, Amy Holden Jones, John Raffo, Rick Jaffa e Amanda Silver, os quais se basearam no livro homônimo de Douglas Preston e Lincoln Child.

O filme começa com um antropólogo americano, John Whitney (Lewis Van Berger), realizando pesquisas na selva amazônica brasileira, estudando tribos indígenas e antigos rituais para o Museu de História Nacional de Chicago, em Illinois. Quando ele retorna para os Estados Unidos num navio brasileiro levando algumas descobertas em containers, uma série de eventos misteriosos começam a surgir. Primeiramente, o navio chega ao seu destino em Chicago com todos os tripulantes mortos e o pesquisador desaparecido. Depois que os engradados são levados ao museu, começam a ocorrer violentos assassinatos no local, com a primeira vítima sendo um guarda, Frederick Ford (Jophery C. Brown), que tem sua cabeça decapitada e o cérebro extraído do crânio.
As mortes chamam a atenção da polícia e o supersticioso Tenente da Divisão de Homicídios Vincent D´Agosta (Tom Sizemore, de “O Apanhador de Sonhos”) é o encarregado das investigações, recebendo o auxílio de informações da Dra. Margo Green (Penelope Ann Miller, de “Lua Mortal”), uma bióloga evolucionista interessada nas pesquisas de John Whitney, e contando também com a parceria do detetive Hollingsworth (Clayton Rohner). Porém, os responsáveis pela administração do museu estavam organizando uma importante exposição com o tema “Superstição”, e por interesses comerciais eles ignoraram o mistério do assassinato do guarda e não adiaram o evento. Como consequência, todos os visitantes, entre eles o ilustre prefeito da cidade Owen (Robert Lesser), foram aprisionados no museu, sendo impiedosamente caçados por uma enorme criatura monstruosa e mutante, uma mistura de homem e animal, de extrema agilidade e agressividade, com dentes imensos e afiados, e cuja maior característica é decepar as cabeças de suas vítimas.

O filme é mais um entre a infinidade de produções similares que evidenciam um velho clichê do gênero, um grupo de pessoas sendo perseguidas por um monstro feroz, assassino e violento em busca de suas carnes macias. Não faltam as tradicionais cenas de mortes sangrentas, muitas decapitações, correrias desenfreadas, histeria em massa, perseguições desesperadas nos subterrâneos escuros do museu, uma dupla de protagonistas principais metidos a heróis, formada pelo policial D´Agosta e pela bióloga Green, um perturbador clima de claustrofobia pelo fato das pessoas estarem presas num ambiente sem saída e com suas vidas sendo ameaçadas com uma morte violenta por um monstro bizarro, e finalmente aquele conhecido e já manjado desfecho previsível. “A Relíquia” diverte, mas não empolga tanto, principalmente por não apresentar nada novo e apenas reciclar uma história já explorada à exaustão pelo cinema fantástico.
Um destaque é a presença ilustre do veterano ator James Withmore, nascido em 1921 e com uma extensa filmografia tendo o clássico do gênero “big bug” “O Mundo em Perigo” (54) entre seus filmes mais importantes. Em “A Relíquia”, ele faz o papel de um cientista paraplégico, Dr. Albert Frock, numa participação rápida mas significativa. Outro destaque são as cenas de mortes sangrentas proporcionadas pela criatura faminta, conhecida como “Kothoga”, e a própria caracterização convincente do monstro, num trabalho bem produzido pelo especialista e premiado Stan Winston, que recentemente criou os canibais deformados de “Pânico na Floresta” (Wrong Turn, 2003).

“A Relíquia” (The Relic, Estados Unidos, 1997) # 236 – data: 05/04/04 – avaliação: 6 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 07/04/06)

Os Olhos da Cidade São Meus (1987)


O selo “Dark Side” da “Works Editora”, principal distribuidora de filmes de horror em DVD no Brasil nos últimos anos, lançou em Setembro de 2005 nas bancas de jornais e revistas o filme espanhol “Os Olhos da Cidade São Meus” (Anguish, 87), encartado na revista “Cine Monstro” número 2, que já havia sido lançada originalmente em Outubro de 2003.

Com direção de Bigas Luna e elenco liderado por Zelda Rubinstein (a baixinha sensitiva de “Poltergeist – O Fenômeno”, 82) e Michael Lerner, é importante não revelar detalhes da história. Basicamente, temos um funcionário de uma clínica de oftalmologia, John Pressman (Lerner), que está perdendo gradualmente a visão por causa da diabetes, e que é dispensado do emprego por deficiência profissional e pelas reclamações dos clientes, em especial da exigente Caroline (Isabel García Lorca). Ele vive sob o domínio possessivo de sua mãe psicótica, Alice (Rubinstein), e é hipnotizado por ela para num exercício de vingança coletar olhos humanos entre os espectadores de um cinema.

“Os Olhos da Cidade São Meus” já havia sido lançado anteriormente no mercado de vídeo VHS pela “Mundial” e o DVD traz como material extra uma breve sinopse e pequenas biografias dos atores Zelda Rubinstein e Michael Lerner. O título nacional ficaria mais apropriado se fosse a tradução literal do original em inglês “Anguish” (“Angústia”), apesar de que o nome no Brasil também procede, pois é a reprodução de uma “tagline” oficial de divulgação.

O filme possui duas características básicas que o tornam um objeto de grande interesse para os fãs do cinema de horror.
Primeiro porque a história aborda um tema que invariavelmente consegue chocar o público, ou seja, a exploração da fragilidade do olho humano. Essa que é um das partes mais vulneráveis do corpo e que a mais simples e menor possibilidade de contato direto causaria um extremo desconforto nas pessoas. Imaginem então como seria a dor e sensação de horror se tivermos nosso olho sendo perfurado e arrancado de sua órbita...
O cinema possui uma infinidade de exemplos de filmes que tiveram o olho humano como alvo de violência e sempre essas cenas perturbadoras foram responsáveis por um sentimento de repulsa do espectador. Alguns exemplos são o clássico de Roger Corman “O Homem dos Olhos de Raio-X” (63), com a chocante cena final com o angustiado cientista Dr. James Xavier (Ray Milland), ou a cena de perfuração do olho de uma vítima hospitalizada com graves queimaduras no corpo inteiro em “Os Mortos Vivos” (Dead & Buried, 81), com James Farentino, ou ainda o episódio “Olho” (Eye) dirigido por Tobe Hooper e estrelado por Mark Hamill, e que faz parte da antologia “Trilogia do Terror” (Body Bags, 93), apenas para citar três casos memoráveis. Isso sem falar no diretor italiano Lucio Fulci e sua obsessão em filmar olhos sendo machucados impiedosamente.
A outra característica que aumenta a atenção em torno do filme do cineasta espanhol Bigas Luna é abordagem também do tema sobre “um filme dentro de outro filme”, algo que quando bem trabalhado no roteiro torna-se uma interessante e divertida sessão de entretenimento. Outros exemplos desse tipo de metalinguagem podem ser encontrados em dois filmes de Wes Craven, “O Novo Pesadelo” (94), sétimo episódio da série do psicopata dos sonhos Freddy Krueger, e “Pânico 3” (2000).
E “Os Olhos da Cidade São Meus” consegue manter o nível de tensão tanto no filme “fictício” que está sendo exibido num cinema (cujos espectadores por sua vez estão assistindo o clássico “O Mundo Perdido” / “The Lost World”, de 1925, ainda da época do cinema mudo), quanto no filme “real” em que nós estamos vendo, onde no final ficção e realidade podem perigosamente se confundir.

“Os Olhos da Cidade São Meus” (Anguish, Espanha, 1987) # 338 – data: 17/09/05 – avaliação: 8,5 (de 0 a 10)
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Enigma do Pesadelo (1988)


O já falecido diretor italiano Lucio Fulci é bem conhecido e cultuado entre os apreciadores do cinema de horror por seus incontáveis filmes carregados em violência e sangue em profusão como “Zombie – A Volta dos Mortos” (79) e “Terror nas Trevas / A Casa do Além” (80), entre outros. Mas, ele também cometeu os seus deslizes e dirigiu filmes bem tranqueiras, com histórias descartáveis e indo contra uma de suas principais características que é a presença de cenas sangrentas. Um desses exemplos de filme convencional e totalmente dispensável na carreira de Fulci é “Enigma do Pesadelo” (Aenigma, 88), uma co-produção entre Itália e a antiga Iugoslávia (vários atores e membros da equipe de produção são desse país europeu), que já havia sido lançado no mercado brasileiro de vídeo VHS pela “Universo” na década de 80, e que está fora de catálogo há muitos anos sendo agora um produto raro de colecionador.

Kathy (Milijana Zirojevic) é filha de uma faxineira com problemas mentais, Mary (Ljiljana Blagojevic), que trabalha na “Saint Mary’s College”, uma escola interna para moças localizada em Boston, Estados Unidos, sob a supervisão da governanta Sra. Jones (Dusica Zegarac). A moça é sempre vítima de gozações e brincadeiras pelo resto da turma, e numa dessas brincadeiras ela sofre um atropelamento de carro ao fugir desorientada após descobrir que os colegas estavam observando-a e gravando suas declarações de amor para o cobiçado professor de ginástica Fred Vernon (Riccardo Acerbi).
Sofrendo ferimentos graves, ela fica hospitalizada em estado de coma profundo, ficando aos cuidados do médico Dr. Robert Anderson (Jared Martin) e a enfermeira Betty (Dragan Bjelogrlic). Porém, mesmo desacordada e mantida viva através de aparelhos, Kathy consegue desenvolver poderes mentais capazes de incorporá-la de forma lenta e gradual no corpo de uma nova estudante que acabava de chegar à escola, a bela Srta. Eva Gordon (Lara Naszinsky). E através dela, a atormentada Kathy consegue se vingar violentamente das colegas que zombavam de sua timidez, entre elas Jennifer Clark (Ulli Reinthaler), a companheira de quarto de Eva, e as jovens Kim (Sophie d’Aulan), Virginia Williams (Kathi Wise) e Grace O’Neil (Jennifer Naud), as quais sentirão na pele sua fúria vingativa.

“Enigma do Pesadelo” apresenta tipicamente uma história de vingança largamente explorada no cinema, no estilo de “Carrie, A Estranha” (Carrie, 76), filme dirigido por Brian De Palma e que foi baseado num livro homônimo de Stephen King. Ou seja, uma garota constantemente ridicularizada pelos colegas que após sofrer um acidente por causa de uma brincadeira de mau gosto, encontra um meio sobrenatural para se vingar de todos que a maltrataram, descarregando sua ira através de assassinatos violentos.
Esse filme de Lucio Fulci tem uma fotografia muito escura, uma trilha sonora sem graça, uma história simples sem idéias interessantes, explorando um tema desgastado, com personagens que merecem morrer de forma dolorosa, e um elenco desconhecido (exceto por Jared Martin, um rosto mais conhecido e visto na série de TV dos anos 70 “Viagem Fantástica”), com interpretações sofríveis. E o pior, com cenas de mortes apenas razoáveis, sem a conhecida ousadia do diretor em chocar o público com atrocidades e muito sangue. Temos uma ou outra cena mais violenta, como os lábios do médico Dr. Anderson sendo arrancados a dentadas pela namorada Eva Gordon (numa sequência de pesadelo), ou a decapitação de um dos namorados das estudantes, através de uma janela que fechou bruscamente sobre sua cabeça. Até uma cena de morte envolvendo um ataque de caramujos nojentos pareceu bem inofensiva e decepcionante. Ou seja, nada que impressione ou lembre momentos mais perturbadores de outros filmes do diretor.
Aliás, “Enigma do Pesadelo” ganha apenas uma nota 4, e somente porque atrás das câmeras está o cineasta especialista em “gore” Lucio Fulci, dessa vez num trabalho bem menos inspirado, e essa nota é atribuída exclusivamente em respeito ao seu currículo sangrento dentro do cinema de horror, pois fora isso, praticamente não há nada mais para ser enaltecido no filme.
Curiosamente, nos quartos das estudantes poderiam ser encontrados posters de ícones populares na década de 80 como o Mestre Jedi “Yoda” (da saga de George Lucas “Star Wars”), ou o ator brucutu Sylvester Stallone como “Rocky, o Lutador”, ou ainda um jovem e iniciante Tom Cruise posando para uma foto promocional de “Top Gun – Ases Indomáveis” (86). E o próprio diretor Lucio Fulci aparece de forma não creditada numa ponta como um inspetor da polícia.

“Enigma do Pesadelo” (Aenigma, Itália / Iugoslávia, 1988) # 328 – data: 27/07/05 – avaliação: 4 (de 0 a 10)
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Apocalypse Now Redux (1979 / 2001)


Em 21 de dezembro de 2001 retornou aos cinemas o excepcional drama de guerra “Apocalypse Now Redux” (1979/2001), dirigido pelo prestigiado cineasta Francis Ford Coppola. Já considerado um clássico absoluto do gênero, enfocando nesse caso os horrores da guerra do Vietnã, essa nova versão é a fita original do final dos anos 1970 acrescida de mais 45 minutos de filmagens não aproveitadas na época. “Apocalypse Now”, juntamente com os posteriores “Platoon” (1986), “Nascido Para Matar” (1987), ambos também sobre a Guerra do Vietnã, e “O Resgate do Soldado Ryan” (1998), “Além da Linha Vermelha” (1998), “Pearl Harbor” (2001) e “Círculo de Fogo” (2001), estes últimos sobre a Segunda Guerra Mundial, completam uma safra de filmes de guerra produzidos nos últimos vinte anos e que estão entre os melhores de todos os tempos, fato este ajudado pela moderna tecnologia de efeitos especiais que propiciaram uma chocante realidade da violência e horror da guerra em seu estado absoluto. Essas produções são muito importantes como um alerta sobre a irracionalidade bestial da guerra e colocam em evidência a fragilidade, mediocridade e insanidade da humanidade como uma espécie supostamente “inteligente”.
“Apocalypse Now Redux” expõe de forma crua a loucura da guerra em seus longos 197 minutos de projeção, destacando algumas das seqüências mais memoráveis da história do gênero, como o ataque de um grupo de helicópteros a uma aldeia vietnamita na costa de uma praia, comandada por um militar já “louco” pelas atrocidades do campo de batalha (interpretado por Robert Duvall) que utiliza-se de música clássica em enormes megafones presos aos helicópteros como guerra psicológica enquanto bombardeia o inimigo; ou quando o mesmo comandante, um apreciador de surfe, obriga dois de seus soldados a surfarem nas ondas da praia no meio do tiroteio e ataques com armamentos pesados; ou ainda quando ele ordena o lançamento de bombas napalm sobre as árvores da costa queimando tudo e ainda comenta que aprecia o cheiro de napalm pela manhã, parecendo um cheiro de “vitória” (nada mais insano que esta afirmação, pois o cheiro é de morte e derrota, destruindo a natureza e o ambiente em que vivemos).

(Atenção: o texto a seguir contém spoilers)

O filme conta a trajetória de um capitão do exército americano, Willard (Martin Sheen) que é convocado para uma missão especial durante a guerra do Vietnã: chegar até o Camboja por barco navegando num perigoso rio cercado de inimigos com o objetivo de encontrar e assassinar um ex-coronel, Kurtz (Marlon Brando), que havia supostamente enlouquecido e se tornado uma espécie de “deus” para uma legião de nativos pagãos, utilizando-se de métodos incomuns e violentos para manter o poder, ameaçando os interesses políticos dos Estados Unidos na guerra.
O elenco é bastante expressivo, formado por Brando, Sheen, Duvall, Dennis Hopper, Harrison Ford (numa ponta como um militar de alta patente) e Laurence Fishburne (ainda bem jovem e que viria a se destacar somente mais tarde em filmes como “Enigma do Horizonte” e a trilogia “Matrix”). Algumas cenas são grande exemplo do estado de tensão ininterrupto num ambiente de guerra como por exemplo quando o capitão Willard e um de seus soldados saem do barco para a selva à procura de mangas, frutas características das selvas tropicais do Vietnã, e são surpreendidos e quase mortos por um tigre selvagem, obrigando-os a lembrarem que devem se proteger não somente das balas do inimigo como também dos perigos naturais da floresta.
Como curiosidade, podemos notar a inscrição “Apocalypse Now” rapidamente numa parede de pedra na aldeia comandada pelo coronel Kurtz.
O final é um dos mais significativos do gênero, onde o capitão Willard completa sua missão assassinando de forma extremamente brutal o coronel Kurtz, enquanto um violento e sangrento ritual de sacrifício de um boi é realizado ao mesmo tempo pelos nativos, demonstrando de forma definitiva a insanidade e os horrores da guerra. Nada é mais marcante do que as palavras finais do coronel Kurtz agonizando em seu leito de morte: “The Horror... The Horror”.

“Apocalypse Now Redux” (Estados Unidos, 1979/2001) – avaliação: 10 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 06/04/06)

A Mão (1981)


A década de 1980 certamente foi muito significativa para o cinema de horror. Basta citar filmes como “The Evil Dead” e “Hellraiser” para termos uma idéia da produção desse período. Porém, outros filmes menores, menos badalados e mais desconhecidos, mas igualmente super divertidos, também são bons exemplos do que foi feito nessa época. “A Mão” (The Hand, 81) foi escrito e dirigido por Oliver Stone, bem antes de seu nome ser consagrado em filmes como o genial drama da Guerra do Vietnã “Platoon” (86), ou “Nascido em 4 de Julho” (89), ou “Assassinos Por Natureza” (94), ou ainda também muito tempo antes de tropeços monumentais como o épico “Alexandre” (2004), uma mega produção que foi um fracasso comercial tão grande quanto seu orçamento milionário. Mas poucos sabem que um dos primeiros filmes de sua carreira é do gênero horror.

Na história, um famoso cartunista, Jonathan Lansdale (o inglês Michael Caine), está enfrentando uma crise conjugal com sua bela esposa Anne (Andrea Marcovicci). Para complicar ainda mais, ele perde a mão direita num acidente de carro, um fato que o prejudica profissionalmente impedindo de continuar a desenhar uma história em quadrinhos de sucesso. Despedido pela editora Karen Wagner (Rosemary Murphy), ele é convidado a lecionar numa faculdade em outra cidade. Porém, fatos misteriosos começam a acontecer com pessoas que estão próximas ao desenhista e que por algum motivo despertaram sua ira, como a jovem estudante Stella Roche (Annie McEnroe) ou o companheiro de bar Brian Ferguson (Bruce McGill), em eventos repletos de situações bizarras envolvendo a mão decepada de Lansdale que se movimenta sozinha com vida própria, e a questão de sua sanidade.

Alguns destaques ficam por conta da forte cena do acidente de carro em que o desenhista tem sua mão brutalmente decepada; pelas cenas de assassinatos envolvendo um criminoso no mínimo estranho e fora do comum, ou seja, uma mão em início de decomposição da carne, movimentando-se como uma criatura bizarra em busca de vingança; e pelo desfecho sinistro encerrando a história de uma forma que permite uma incrível dupla interpretação pelo espectador.
O tema da mão que ganha vida própria já foi bastante explorado pelo cinema fantástico, e dentre os inúmeros filmes que abordaram o assunto, podemos citar alguns deles à título de ilustração. “The Hands of Orlac”, também conhecido como “Mad Love” (35), do cineasta alemão Karl Freund, e “The Beast With Five Fingers” (47), de Robert Florey, são ambos estrelados por Peter Lorre. No primeiro, um pianista perde suas mãos num acidente de trem e recebe um transplante de mãos de um assassino, as quais adquirem vida própria e obrigam o músico a cometer crimes. O outro filme conta a história de também um pianista que tem uma mão decepada, que ganha vida e passa a caminhar sozinha em busca de suas vítimas. O estúdio inglês “Amicus” (rival da “Hammer”), produziu uma antologia chamada “Dr. Terror´s House of Horrors” em 1965, onde em uma das histórias, “The Crawling Hand”, estrelada por Christopher Lee, apresenta um crítico de arte sendo atormentado pela mão decepada de um artista, que passa a persegui-lo à procura de vingança. Uma outra referência que merece registro é o hilariante “Evil Dead 2”, de Sam Raimi, onde o herói Ash (Bruce Campbell) luta contra a sua própria mão decepada e possuída por um demônio.
O roteiro de “A Mão” de Oliver Stone foi inspirado no livro “The Lizard´s Tail”, de Marc Brandel. Os efeitos especiais são bem interessantes, principalmente pela época da produção, com o trabalho sob a responsabilidade do veterano técnico italiano Carlo Rambaldi, conhecido por filmes como “King Kong” (76), “Alien, o Oitavo Passageiro” (79), “ET – O Extraterrestre” (82), “Conan, o Destruidor” e “Duna” (ambos de 84), “Olho de Gato” e “A Hora do Lobisomem” (ambos de 85), e “O Armário do Diabo” (89), entre outros. Com 105 minutos de duração, o filme foi lançado no mercado brasileiro de vídeo VHS pela “Warner”, já fora de catálogo há muito tempo, e atualmente apenas encontrado com sorte em acervos antigos de locadoras, ou perdidos em sebos, ou em videotecas particulares de colecionadores.

“A Mão” (The Hand, 1981) # 301 – data: 23/02/05 – avaliação: 7,5 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 06/04/06)

Por Uns Dólares a Mais (1965)


Para quem aprecia o gênero western no cinema, e mencionarmos um filme italiano da década de 60, dirigido por Sergio Leone e estrelado por Clint Eastwood e Lee Van Cleef, acho que não seria necessário dizer mais nada, pois certamente seria uma sessão garantida de entretenimento. Porém, “Por Uns Dólares a Mais” (For A Few Dollars More, 65), é tão marcante que vale comentar mais algumas palavras.
A história, escrita por Luciano Vincenzoni, é sobre os chamados “caçadores de recompensas”, aqueles homens solitários e silenciosos que ganhavam a vida procurando e capturando, vivos ou mortos, importantes criminosos fugitivos da lei, em troca de prêmios em dinheiro. Seus maiores companheiros são o cavalo como indispensável meio de transporte através das imensas e agressivas regiões continentais que separavam as cidades, e a arma, um revólver, que carregava na cintura e que seria sua forma de se defender e salvar a vida, e também a forma de alcançar seu objetivo, eliminando seus inimigos.
Dentro desse contexto, aparecem dois personagens com características similares entre si, os caçadores de recompensas Monco (Clint Eastwood, diretor e ator do fenomenal “Os Imperdoáveis”, de 1992) e o Coronel Douglas Mortimer (o não menos excepcional Lee Van Cleef, presente numa infinidade de maravilhosos filmes “B” do gênero). O primeiro busca apenas uma forma de obter riquezas para talvez um dia poder comprar um pedaço de terra e se estabelecer definitivamente, já o outro parece buscar algo mais que apenas o dinheiro, principalmente quando o homem a ser caçado é o perigoso assassino Índio (Gian Maria Volonte), que geralmente está segurando nas mãos um relógio que também toca música, e que parece familiar ao Cel. Mortimer. Ambos os cavaleiros são extremamente hábeis no gatilho, calados e pensativos, se comunicando na maioria das vezes apenas com os olhares frios e determinados.
Porém, a princípio rivais na captura do mesmo criminoso e sua enorme e violenta gangue de bandidos e assaltantes de banco, eles terão que unir as forças trabalhando em equipe para garantirem sua sobrevivência e alcançarem o objetivo do significativo prêmio em dinheiro pelas cabeças dos assassinos.
“Por Uns Dólares a Mais” faz parte de uma trilogia de Sergio Leone (“Era Uma Vez no Oeste”, 69) estrelando o ator Clint Eastwood, que na época era apenas um coadjuvante nos Estados Unidos, e que posteriormente transformou-se num dos grandes atores americanos de filmes de western e policiais. A trilogia é ainda formada por “Por Um Punhado de Dólares” (A Fistful of Dollars, 64) e “Três Homens em Conflito” (The Good, the Bad and the Ugly, 66). O filme é indispensável para os apreciadores do western, com vários destaques indo desde a direção do especialista Sergio Leone, passando pela música do mestre Ennio Morricone e a apresentação de todos aqueles elementos tradicionais do gênero, até a performance da dupla de protagonistas, que apenas com a expressão dos olhos transmitem toda a solidão e frieza do homem do velho oeste.
De negativo, podemos considerar apenas que o filme é excessivamente longo com seus 131 minutos e uma narrativa lenta demais em alguns momentos. E também tem o fato de que pela violência mostrada em cena faltou mais sangue, numa percebida ausência do líquido vermelho vital nos tiroteios. Mas, independente disso, “Por Uns Dólares a Mais” é um filme obrigatório dentro do western italiano e da bem sucedida carreira de Clint Eastwood.

“Por Uns Dólares a Mais” (For A Few Dollars More, Itália, 1965) # 325 – data: 19/07/05 – avaliação: 8 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 06/04/06)

Sodom - Um dos Precursores do Thrash Metal



The sin of Sodom is the sign of evil

O estilo de música “Metal” e o gênero artístico “Horror” sempre tiveram uma aproximação muito grande, exemplificado pela temática das letras, ilustrações das capas dos discos, ou pela própria postura e proposta agressiva das bandas em geral. No início da década de 1980, o “Heavy Metal” estava se desmembrando numa série de ramificações criando vários estilos ainda mais rápidos e extremos de sua já diferenciada música. Um dos primeiros novos rótulos foi denominado na época como “Thrash Metal”. Depois vieram o “Power Metal”, “Black Metal”, “Death Metal”, “Doom Metal” e mais uma infinidade de outros subgêneros. Na minha opinião, esses rótulos todos não trouxeram grandes benefícios ao estilo principal de onde originaram, ao contrário, de certa forma acabaram criando uma confusão com um inevitável desgaste. No final das contas, concordo plenamente com as sábias palavras do saudoso e falecido Chuck Schuldiner (1967-2001), guitarrista, vocalista e líder da banda americana “Death”, uma das mais significativas de todos os tempos: “Para mim é tudo Metal. Este monte de categorias acaba com tudo. Tire a primeira palavra de todas e deixe só uma: Metal”.

Com o surgimento do “Thrash Metal”, três bandas alemãs em especial podem ser consideradas precursoras desse agressivo estilo musical: “Destruction”, “Kreator” e “Sodom”. Curiosamente, todas estão na ativa até hoje, mesmo enfrentando uma série de dificuldades ao longo dos anos, e também todas já estiveram no Brasil em várias oportunidades mostrando suas performances ao vivo em ótimos e memoráveis shows.
O “Sodom” foi criado em 1983 pelo líder Angel Ripper (baixo e vocais, que mais tarde passou a ser conhecido como Tom Angelripper), além de Witch Hunter (bateria, e posteriormente assinando seu nome como Chris Witchhunter) e Aggressor (guitarra e vocais). Eles inicialmente buscavam referências e influências musicais em bandas consagradas como “Venom” e “Motorhead”. Os primeiros trabalhos foram as demo tapes “Witching Metal” (83) e “Victims of Death” (84), e com o lançamento dessa última o guitarrista Aggressor deixou a banda sendo substituído por Grave Violator, e Angel Ripper assumiu os vocais sozinho.
Com essa formação, surgiu o primeiro disco, o clássico EP “In the Sign of Evil” (84), que trazia na capa a figura bizarra de um carrasco, com músicas que tornaram-se imortais por sua brutalidade sonora como “Sepulchral Voice” e “Blasphemer”. Sobre esse disco, tenho uma curiosidade para relatar: antes de ser lançado oficialmente no Brasil, eu adquiri um vinil pirata em forma de split, trazendo “In the Sign of Evil” em um lado e o EP “Sentence of Death” do “Destruction” do outro lado, com capas em preto e branco, constituindo-se numa raridade de valor inestimável.
A troca de guitarristas ainda continuava e dessa vez Destructor assumia agora a posição para o álbum seguinte, “Obsessed By Cruelty” (86), que teve um nível de produção ruim e uma baixa performance do novo guitarrista. Ele também foi substituído passando a vaga para Frank Blackfire, um músico bem mais técnico com o instrumento. Com essa formação, a banda se estabilizou por alguns anos e lançou mais cinco álbuns até 1989: “Expurse of Sodomy” (EP de 87), “Persecution Mania” (LP de 87), “The Mortal Way of Life” (88, ao vivo), “Agent Orange” (LP de 89) e “Ausgebombt” (EP de 89). Nesses trabalhos, o “Sodom” mostrou um metal poderoso, com um vocal gritado e rasgado, além de uma bateria detonadora num ritmo à velocidade da luz, explorando com maior ênfase nas letras o tema da brutalidade da Guerra e suas consequências devastadoras para a humanidade. Músicas marcantes como “Nuclear Winter” e “Agent Orange” destacam-se dentro dessa idéia. Curiosamente, a banda gravou também dois covers do “Motorhead”. Um é “Iron Fist”, numa ótima versão que foi veiculada no LP “Persecution Mania”, e o outro é “Ace of Spades”, gravado ao vivo em “One Night in Bangkok”.
Em 1990, o “Sodom” lançou o disco “Better off Dead”, já com um outro novo guitarrista, Michael Hoffmann, mudando um pouco o estilo musical da banda, investindo menos na sua agressividade tradicional, o que de certa forma começou a mostrar sinais de decadência e desgaste, principalmente também pelo fato de na mesma época estarem proliferando uma infinidade de outras excelentes bandas apresentando um estilo musical ainda mais agressivo, rotulado como “Death Metal”.
A banda sempre teve problemas de instabilidade com os guitarristas e após o lançamento do EP “The Saw is the Law” em 1991, Michael Hoffmann é substituído por Andy Brings, que ficou com o grupo até 1994. Nesse período o “Sodom” gravou três álbuns, “Tapping the Vein” (92), “Aber bitte mit Sahne!” (93) e “Get What You Deserve” (94). Porém, nessa época também o tradicional baterista Chris Witchhunter, que estava com a banda desde o início, resolveu sair após a gravação de “Tapping the Vein”, e em seu lugar Atomic Steif assumiu as baquetas, vindo em 1995 um novo trabalho chamado “Masquerade in Blood”, com outro guitarrista, Dirk Strahlmeier.
As constantes mudanças de formação juntamente com um desgaste natural de tantos anos de estrada, fez com que o “Sodom” diminuísse sua produção inédita. Tanto que em 1996 foi lançado “Ten Black Years – Best of”, um disco duplo trazendo uma coletânea das melhores músicas da carreira ao longo de mais de uma década de metal.
Somente em 1998 o “Sodom” retornaria, com o líder Tom Angelripper em outra nova e definitiva formação até o momento, trazendo ao seu lado o baterista Bobby Schottkowski e o guitarrista Bernemann. Eles lançaram então “’Til Death Do Us Unite”, sendo o primeiro disco não produzido pela tradicional gravadora “Steamhammer/SPV”, que esteve com a banda desde sua criação. Depois vieram ainda mais dois álbuns, “Code Red” (1999) e “M-16” (2001), este último voltando a ser produzido pela “SPV”.

Nesse meio tempo, um grupo de bandas foi convidada para gravarem covers para um disco em tributo ao “Sodom” chamado “Homage to the Gods – Tribute to Sodom”. Foi um total de quinze bandas, entre elas “Cradle of Filth”, “Impaled Nazarene” e “Dark Funeral”, e curiosamente teve a participação da excelente banda gaúcha “Krisiun” (com o cover de “Nuclear Winter”), bastante conhecida e admirada internacionalmente através de várias turnês divulgando seu trabalho e o nome do Brasil por todo o mundo.

“M-16” tem um excelente e agressivo desenho de capa mostrando um imponente soldado carregando um companheiro morto em adiantado estado de putrefação, com a temática das letras abordando principalmente a “Guerra do Vietnã”, com mensagens críticas e de alerta para a irracionalidade da guerra.
E em 2003 o “Sodom” lançou seu terceiro trabalho ao vivo (depois de “The Mortal Way of Life”, 88, e “Marooned”, 94), o disco duplo “One Night in Bangkok”, gravado na Tailândia, com 24 músicas representando toda a carreira da banda, incluindo “Outbreak of Evil”, “Blasphemer” e “Witching Metal”, do já clássico EP “In the Sign of Evil”.
Em 2006 eles lançaram um CD auto intitulado “Sodom” e em 2007 a banda lançou “The Final Sign of Evil”, uma regravação das cinco músicas do EP de 84 acrescentando outras sete inéditas que foram criadas para este álbum, mas que foram descartadas por decisão da gravadora. Além disso, foi reunida a formação original do EP “In the Sign of Evil”, com Tom Angelripper no vocal e baixo, Grave Violator na guitarra e Chris Witchhunter na bateria.
Com esses últimos trabalhos, a banda tem procurado consolidar sua força com uma das grandes bandas do Metal mundial, numa veterana e consagrada carreira artística apoiada por milhares de fãs espalhados ao redor do planeta.
“Sodom” e “Nuclear Assault” em São Paulo:
Um terremoto sonoro que abalou as estruturas do “Direct TV Music Hall”

No final de Fevereiro de 2005 tive o privilégio de testemunhar no “Direct TV Music Hall”, em Moema, São Paulo, o show das bandas “Sodom” e “Nuclear Assault” (EUA). Ambas já tinham vindo tocar no Brasil, porém só pude ver na época o “Nuclear Assault” (foi num show com o “Sepultura” em 1989 no extinto “Dama Xoc” em Pinheiros, São Paulo, sendo que eles também vieram ao Brasil em 2002). A banda americana foi formada em 1985, conta com John Connelly (vocal / guitarra), Danny Lilker (baixo), Glenn Evans (bateria) e Scott Harrington (guitarra), e estão lançando seu novo álbum, Alive Again.
Já o “Sodom” esteve antes no Brasil em 1997. Com seus primeiros discos priorizando temas satânicos (onde o EP de estréia, “In the Sign of Evil”, é um dos mais autênticos e memoráveis trabalhos do gênero), o “Sodom” depois direcionou a temática das letras de suas músicas para assuntos como a violência das guerras que assolam a humanidade ao redor do mundo.
Eu particularmente prefiro as primeiras formações do “Sodom” e os álbuns produzidos até o início dos anos 90, cuja música representou uma agressividade sonora que ficou registrada para sempre na história do metal. Mas a banda é guerreira e todos os seus trabalhos são dignos de serem enaltecidos constantemente pelos fãs (como eu) ao redor do mundo.
O dia 20/02 foi extremamente especial, primeiro porque o “São Paulo” ganhou de 3x0 do rival “Palmeiras” pelo Campeonato Paulista de Futebol 2005, com direito até a um gol do goleiro artilheiro Rogério Ceni, e depois pelo show arrasador do “Nuclear Assault” e “Sodom”, um terremoto de porradas sonoras para ficarem gravadas na memória para sempre.
A banda americana abriu o espetáculo com uma apresentação de aproximadamente 45 minutos, com destaque para o baterista Glenn Evans, que massacrou seu instrumento com uma energia incrível. Depois vieram os alemães do “Sodom” em mais uma hora e quinze minutos de um show inesquecível. O líder, baixista e vocal Tom Angelripper é muito carismático e tem uma excelente presença de palco, interagindo constantemente com o público que lotou o “Direct TV Music Hall”. Ele informou que o show estava sendo gravado para compor um futuro DVD, esperando uma grande recepção dos fãs.
Das músicas escolhidas para o repertório, muitas são antigas e pertencentes aos primeiros trabalhos da banda. Entre elas, “The Saw is the Law”, “Sodomized”, “Outbreak of Evil” e “Witching Metal”, sendo essas duas clássicas e tocadas em versões mais modernas e furiosas, “Bombenhagal” e “Ausgebombt”, além de “Remember the Fallen” e “Sodomy and Lust”, ambas junto com o convidado Frank Blackfire, que foi o guitarrista da banda até o final dos anos 80, tocando também com o “Kreator”, e que se mudou para o Brasil montando a banda de Thrash Metal “Mystic” e adotando o nome Frank Gosdzik. Teve também “Blasphemer”, com outro convidado, Danny Lilker, baixista do “Nuclear Assault”, e com Tom Angelripper fazendo somente os vocais, e até um cover da lendária banda “Motorhead”, com “Ace of Spades”.
Um evento único que ficará registrado para sempre no pensamento de todos aqueles que tiveram o privilégio de testemunhar mais uma ferocidade do metal, pois “The sin of Sodom is the sign of evil”.
O ex-baterista da banda alemã de Thrash Metal “Sodom”, Chris Witchhunter, morreu em 07/09/08

É desanimador constatar que o tempo está passando e que ídolos do metal extremo, personalidades lendárias e de extrema importância para a história desse estilo musical, estão morrendo (não de velhice, mas por problemas de saúde). Basta citar rápidos exemplos como Quorthon (Tomas Forsberg, 1966 / 2004, do “Bathory”), Paul Baloff (1960 / 2002, do “Exodus”), Chuck Schuldiner (Charles Michael Schuldiner, falecido em 2001, do “Death”), e Jesse Pintado (falecido em 2006, do “Terrorizer”).
Dessa vez, a notícia ruim é a morte (não foram divulgadas as causas) de Chris Witchhunter (Christian Dudeck), que foi o baterista do “Sodom” entre 1982 e 1992, e também na gravação do CD “The Final Sign of Evil” (2007), uma homenagem ao Thrash Metal dos anos 80.
A melhor e inigualável formação do “Sodom” em minha opinião foi com Tom Angelripper no baixo e vocal, Frank Blackfire na guitarra e Chris Witchhunter na bateria (foto).
Ele participou dos seguintes álbuns: In the Sign of Evil (1984, EP), Obsessed by Cruelty (1986), Expurse Of Sodomy (1987, EP), Persecution Mania (1987), Mortal Way Of Live (ao vivo, 1988), Agent Orange (1989), Ausgebombt (1989, EP), Better Off Dead (1990), Tapping the Vein (1992) e The Final Sign Of Evil (2007).
Fica aqui minha homenagem e tributo, em nome do site “Boca do Inferno.Com”, do blog “Infernotícias” e de meus fanzines “Astaroth” e “Juvenatrix”, para Chris Whitchhunter, um dos mais fudidos bateristas de todos os tempos, e que permanecerá imortal através do legado deixado por sua música.

DEMO TAPES

Witching Metal (1983). Formação: Angel Ripper (baixo e vocais), Witchhunter (bateria), Aggressor (guitarra e vocais). Músicas: Devil´s Attack / Witching Metal / Live From Hell / Poisoned Blood

Victim of Death (1984). Formação: Angel Ripper (baixo e vocais), Witchhunter (bateria), Aggressor (guitarra e vocais). Músicas: Witchhammer / Devil´s Attack / Let´s Fught in the Darkness of Hell / Victim of Death / Live From Hell / Poisoned Blood /Satan´s Configuration / Witching Metal

DISCOGRAFIA

In The Sign Of Evil (Steamhammer/SPV – 1984). Formação: Angel Ripper (vocal e baixo), Witchhunter (bateria), Grave Violator (guitarra). Músicas: Outbreak Of Evil / Sepulchral Voice / Blasphemer / Witching Metal / Burst Command Til War
Obsessed By Cruelty (Steamhammer/SPV – 1986). Formação: Angel Ripper (vocal e baixo), Witchhunter (bateria), Destructor (guitarra). Músicas: Deathlike Silence / Brandish The Sceptre / Proselytism Real / Equinox / After The Deluge / Obsessed By Cruelty / Fall Of Majesty Town / Nuctemeron / Pretenders To The Throne / Witchhammer / Volcanic Slut
Expurse Of Sodomy (Steamhammer/SPV – 1987). Formação: Tom Angelripper (vocal e baixo), Chris Witchhunter (bateria), Frank Blackfire (guitarra). Músicas: Sodomy And Lust / The Conqueror / My Atonement
Persecution Mania (Steamhammer/SPV – 1987). Formação: Tom Angelripper (vocal e baixo), Chris Witchhunter (bateria), Frank Blackfire (guitarra). Músicas: Nuclear Winter / Electrocution / Iron Fist (cover do “Motorhead”) / Persecution Mania / Enchanted Land / Procession To Golgatha / Christ Passion / Conjuration / Bombenhagel
Mortal Way Of Live (Steamhammer/SPV – 1988) LIVE. Formação: Tom Angelripper (vocal e baixo), Chris Witchhunter (bateria), Frank Blackfire (guitarra). Músicas: Persecution Mania / Outbreak Of Evil / Conqueror / Iron Fist / Obsessed By Cruelty / Nuclear Winter / Electrocution / Blasphemer / Enchanted Land / Sodomy And Lust / Christ Passion / Bombenhagel / My Atonement / Conjuration Agent Orange (Steamhammer/SPV – 1989). Formação: Tom Angelripper (vocal e baixo), Chris Witchhunter (bateria), Frank Blackfire (guitarra). Músicas: Agent Orange / Tired And Red / Incest / Remember The Fallen / Magic Dragon / Exhibition Bout / Ausgebombt / Baptism Of Fire / Don't Walk Away
Ausgebombt (Steamhammer/SPV – 1989). Formação: Tom Angelripper (vocal e baixo), Chris Witchhunter (bateria), Frank Blackfire (guitarra). Músicas: Ausgebombt / Don’t Walk Away / Incest
Better Off Dead (Steamhammer/SPV – 1990). Formação: Tom Angelripper (vocal e baixo), Chris Witchhunter (bateria), Michael Hoffmann (guitarra). Músicas: An Eye For An Eye / Shellfire Defense / The Saw Is The Law / Turn Your Head Around / Capture The Flag / Cold Sweat / Bloodtrails / Never Healing Wound / Better Off Dead / Resurrection / Tarred And Feathered / Stalinorgel
The Saw Is The Law (Steamhammer/SPV – 1991). Formação: Tom Angelripper (vocal e baixo), Chris Witchhunter (bateria), Michael Hoffmann (guitarra). Músicas: The Saw Is The Law / Tarred And Feathered / The Kids Wanna Rock
Tapping the Vein (Steamhammer/SPV – 1992). Formação: Tom Angelripper (vocal e baixo), Chris Witchhunter (bateria), Andy Brings (guitarra). Músicas: Body Parts / Skinned Alive / One Step Over the Line / Deadline / Bullet in the Head / The Crippler / Wachturm / Tapping the Vein / Back to War / Hunting Season / Reincarnation
Aber bitte mit Sahne! (Steamhammer/SPV – 1993). Formação: Tom Angelripper (vocal e baixo), Atomic Steif (bateria), Andy Brings (guitarra). Músicas: Aber bitte mit Sahne / Sodomized / Abuse / Skinned Alive '93
Get What You Deserve (Steamhammer/SPV – 1994). Formação: Tom Angelripper (vocal e baixo), Atomic Steif (bateria), Andy Brings (guitarra). Músicas: Get What You Deserve / Jabba The Hut / Jesus Screamer / Delight In Slaying / Die Stumme Ursel / Freaks Of Nature / Eat Me / Unbury The Hatchet / Into Perdition / Sodomized / Fellows In Misery / Tribute To Moby Dick (instrumental) / Silence Is Consent / Erwachet! / Gomorrah / Angel Dust
Marooned (1994). LIVE. Formação: Tom Angelripper (vocal e baixo), Atomic Steif (bateria), Andy Brings (guitarra). Músicas: Intro / Outbreak of Evil / Jabba the Hut / Agent Orange / Jesus Screamer / Ausgebombt / Tarred ant Fathered / Abuse / Remember the Fallen / An Eye For An Eye / Tired and Red / Eat Me / Die Stumme Ursel / Sodomized / Gomorrah / One Step Over the Line / Freaks of Nature / Aber Bitte Mit Sahne / Silence is Consent / Wachturm/Erwachtet / Stalinhagel / Fratucide / Gone to Glory.
Masquerade In Blood (Steamhammer/SPV – 1995). Formação: Tom Angelripper (vocal e baixo), Atomic Steif (bateria), Dirk Strahlmeier (guitarra). Músicas: Masquerade In Blood / Gathering Of Minds / Fields Of Honour / Braindead / Verrecke! / Shadow Of Damnation / Peacemaker's Law / Murder In My Eyes / Unwanted Youth / Mantelmann / Scum / Hydrophobia / Let's Break The Law
Ten Black Years - Best Of (Steamhammer/SPV – 1996) DUPLO. CD 1 – Tired And Red / The Saw Is The Law / Agent Orange / Wachturm/Erwachet / Ausgebombt / Sodomy And Lust / Remember The Fallen / Nuclear Winter / Outbreak Of Evil / Resurrection / Bombenhagel / Masquerade In Blood / Bullet In The Head / Stalinhagel / Shellshock / Angel Dust. CD 2 – Hunting Season / Abuse / 1000 Days Of Sodom / Gomorrah / Unwanted Youth / Tarred & Feathered / Iron Fist / Jabba The Hut / Silence Is Consent / Incest / Shellfire Defense / Gone To Glory / Fratricide / Verrecke! / One Step Over The Line / My Atonement / Sodomized / Aber bitte mit Sahne / Die stumme Ursel / Mantelmann
'Til Death Do Us Unite (GUN/BMG – 1998). Formação: Tom Angelripper (vocal e baixo), Bernemann (guitarra), Bobby Schottkowski (bateria). Músicas: Frozen Screams / Fuck The Police / Gisela / That's What An Unknown Killer Diarized / Hanging Judge / No Way Out / Polytoximaniac / 'Til Death Do Us Unite / Hazy Shade Of Winter / Suicidal Justice / Wander In The Valley / Sow The Seeds Of Discord / Master Of Disguise / Schwerter zu Pflugscharen / Hey, Hey, Hey Rock'n Roll Star
Code Red (Drakkar/BMG – 1999). Formação: Tom Angelripper (vocal e baixo), Bernemann (guitarra), Bobby Schottkowski (bateria). Músicas: Intro / Code Red / What Hell Can Create / Tombstone / Liquidation / Spiritual Demise / Warlike Conspiracy / Cowardice / The Vice of Killing / Visual Buggery / Book Burning / The Wolf and the Lamb / Addicted to Abstinence
Homage To The Gods - Tribute To Sodom. 1. Cradle of Filth - Sodomy and Lust / 2. Impaled Nazarene - Burst Command 'til War / 3. Krisiun - Nuclear Winter / 4. Dark Funeral - Remember the Fallen / 5. Luciferion – Blasphemer / 6. Atanatos - Outbreak of Evil / 7. Decayed Remains - Christ Passion / 8. Enthroned – Conqueror / 9. Desaster - Proselytism Real / 10. Swordmaster – Witchhammer / 11. Reverant - Agent Orange / 12. Goddess of Desire – Bombenhagel / 13. Order from Chaos – Nuctemeron / 14. Brutal Truth - Sepulchral Voice / 15. Randalica - Ausbruch des Bösen
M-16 (SPV – 2001). Formação: Tom Angelripper (vocal e baixo), Bernemann (guitarra), Bobby Schottkowski (bateria). Músicas: Among The Weirdkong / I Am The War / Lead Injection / Little Boy / M-16 / Minejumper / Napalm In The Morning / Marines / Genocide / Cannon Fodder / Surfin`Bird
One Night in Bangkok (2003). LIVE. Formação: Tom Angelripper (vocal e baixo), Bernemann (guitarra), Bobby Schottkowski (bateria). Músicas: Disco 1 – Among The Weirdkong / The Vice of Viking / Der Wachturm / The Saw is the Law / Blasphemer / Sodomized / Remember the Fallen / I Am the War / Eat Me! / Masquerade in Blood / M-16 / Agent Orange / Outbreak of Evil. Disco 2 – Sodomy and Lust / Napalm in the Morning / Fuck the Police / Tombstone / Witching Metal / The Enemy Inside / Die Stumme Ursel / Ausgebombt / Code Red / Ace of Spades (cover do “Motorhead”) / Stalinhagel. Inclui um vídeo com a música Among The Weirdkong.
Sodom (Steamhammer / SPV – 2006). Formação: Tom Angelripper (vocal e baixo), Bernemann (guitarra), Bobby Schottkowski (bateria). Músicas; Blood On Your Lips / Wanted Dead / Buried in the Justice Ground / City of God / Bibles and Guns / Axis of Evil / Lords of Depravity / No Captures / Lay Down the Law / Nothing to Regret / The Enemy Inside
The Final Sign of Evil (Steamhammer / SPV – 2007). Formação: Tom Angelripper (Thomas Such – vocal e baixo), Grave Violator (Josef “Peppi” Dominic – guitarra), Chris Witchhunter (Christian Dudeck – bateria). Músicas: The Sino f Sodom / Blasphemer / Bloody Corpse / Witching Metal / Sons of Hell / Burst Command Til War / Where Angels Die / Sepulchral Voice / Hatred of the Gods / Ashes to Ashes / Outbreak of Evil / Defloration

SODOMY AND LUST

“Sodom: Um dos Precursores do Thrash Metal”
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 05/04/06)

Deicide - In Torment in Hell (2001)


O “Death Metal” é um estilo musical que exerce grande fascínio por sua agressividade sonora com fortes relações com o “Horror” como gênero artístico. É um tipo de música extrema e avassaladora que transmite um sentimento parecido como se “seu cérebro estivesse sendo esfolado violentamente contra um muro de pedras pontiagudas”, e sua agressividade se opõe a tudo que existe de mais hipócrita no mundo (numa brincadeira despretensiosa com o estilo).
Sendo assim, vale registrar a existência do CD “In Torment in Hell”, da banda americana “Deicide”, gravado em abril de 2001 em Tampa, Florida. Os vocais guturais do líder e baixista Glen Benton parecem vir do além para vomitar sua fúria ecoando como trovões do juízo final, misturados aos zumbidos agonizantes das imponentes guitarras dos irmãos Eric Hoffman e Brian Hoffman, além das porradas brutais à velocidade da luz da bateria de Steve Asheim, culminando numa carnificina sonora capaz de abalar os alicerces das mais fortes e sólidas estruturas da humanidade e incitar até os mortos a levantarem de seus frios túmulos de pedra para tomar o poder no planeta, espalhando o horror de seus supremos reinados de dor.
A temática das letras é basicamente satânica, e nesse caso seria bem vinda também uma abordagem de outros temas importantes como a cruel realidade que está em nossa volta evidenciando a decadência de nossa espécie com a agonia e desespero de um mundo mergulhado em guerras. Mas independente disso, o que prevalece mesmo e interessa mais, é a violência sonora que parece anunciar o fim dos tempos.
A capa do CD é bem agressiva, reproduzindo símbolos cabalísticos e demônios agredindo imagens cristãs, num trabalho com oito petardos do mais puro e brutal “Death Metal”, denominados “In Torment in Hell”, “Christ Don’t Care”, “Vengeance Will Be Mine”, “Imminent Doom”, “Child of God”, “Let it Be Done”, “Worry in the House of Thieves” e “Lurking Among Us”.
Enfim, “Metal” e “Horror” juntos num pesadelo eterno, mergulhando-nos impiedosamente “em tormento no inferno...”

Observações:
1) Os guitarristas Eric e Brian Hoffman saíram da banda logo após a gravação do CD “Scars of the Crucifix” (2004), e em seus lugares vieram Jack Owen e Ralph Santolla.
2) O “Deicide” tocou pela primeira vez no Brasil em Março de 2006, fazendo um show destruidor em São Paulo no dia 02/03 no “Hangar 110” (Bom Retiro), com abertura da banda paulista “Ancestral Malediction”. Eles tocaram também em Osasco/SP no “Arena Metal”, em 04/03, com abertura das bandas nacionais “Funeral Putrid” e “Eternal Malediction”.
3) Discografia: “Deicide” (90), “Legion” (92), “Amon: Feasting the Beast” (93), “Once Upon the Cross” (95), “Serpents of the Light” (97), “When Satan Lives” (98, live), “Insineratehymn” (2000), “In Torment in Hell” (2001), “Scars of the Crucifix” (2004), “The Stench Of Redemption” (2006). DVD: “When London Burns” (2006).

“Deicide – In Torment in Hell” – site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 05/04/06)

A Macabra Arte do Caos























    O “Horror” está presente na agressividade do “Death Metal”, refletido principalmente em suas temáticas líricas, as quais falam desde satanismo, magia negra, morte, guerras apocalípticas, passando por carnificinas brutais, insanidade e decomposição do ser humano, até referências a filmes de horror. 

E se reflete também nas capas dos discos de vinil e Cds, onde fantásticos artistas exercitam suas habilidades com ilustrações que parecem descrever o próprio inferno. E quando não são desenhos insanos, são colagens de fotos reais sobrepostas de pedaços de cadáveres em decomposição e partes de corpos gangrenados ou vítimas de horrendas mutilações. Tudo com o propósito de diversão, agredindo e chocando as pessoas.

São centenas de fabulosos trabalhos onde os artistas versam sobre diversos e variados temas, viajando pelos caminhos mais obscuros da imaginação para criarem cenários lúgubres de devastação ou as mais bizarras aberrações já concebidas, num paralelo bem próximo às criaturas indizíveis do escritor H. P. Lovecraft.

Entre estes artistas, podemos citar o grande desenhista suiço H. R. Giger, cujos trabalhos ilustraram capas do “Celtic Frost” e “Massacre”; Michael R. Whelan (vencedor do “Prêmio Locus” 1996), que assinou capas do “Sepultura” e “Obituary”; ou ainda Edward J. Repka, Dan SeaGrave e Derek Riggs, que são marcas registradas das bandas “Death”, “Entombed” e “Iron Maiden”, respectivamente.

O horror é o ponto de partida desse mórbido universo da ilustração, onde as capas dos discos são desenhos que retratam a macabra arte do caos, mostrando sangrentos campos de batalhas, monstros inomináveis, demônios, cenários depressivos de devastação, autópsias, dissecações, e todo o inferno sombrio que povoa nossos pesadelos assustando e principalmente nos divertindo.

Seguindo o conceito que capas interessantes e bem trabalhadas vendem livros e discos, fica muito difícil não querer conhecer o som da banda “Exorcist”, cujo disco “Nightmare Theatre” traz uma excelente idéia, mostrando os seus quatro integrantes na capa em estado de decomposição como cadáveres em putrefação. A música é até legal, falando de bruxaria na época da inquisição, mas a capa do disco é muito melhor.

Um dos maiores monstros sagrados do “Heavy Metal” mundial é o “Iron Maiden”, cujas capas dos discos trazem variados desenhos sempre com a presença do mascote da banda, Eddie. São fantásticas ilustrações a cargo de Derek Riggs como podemos ver em “The Number of the Beast” com a criatura Eddie no inferno manipulando uma marionete que é um pequeno demônio, ou em “Piece of Mind”, com Eddie confinado e amordaçado em uma camisa de força.

O desenhista H. R. Giger marcou sua presença ilustrando o álbum “To Mega Therion” do “Celtic Frost”, mostrando um obscuro demônio agredindo Jesus Cristo.

Já o ilustrador Dan SeaGrave mostrou sua arte em cenários indescritíveis da mais profunda desolação nos discos “Left Hand Path” e “Clandestine”, do “Entombed”. E em “Effigy of the Forgotten”, do “Suffocation”, mostrou uma estranha máquina cibernética massacradora de seres humanos.

Em “Severed Survival”, do “Autopsy”, Kev Walker desenhou quatro bizarras criaturas efetuando uma sangrenta cirurgia em cujo paciente somos nós, que estamos olhando para a ilustração, e que sentimos como se rasgassem nossas carcaças ao ouvir a brutalidade sonora da banda.

As bandas americanas “Death” e “Massacre” tiveram seus discos ilustrados por Edward J. Repka, mostrando fantásticos desenhos como por exemplo as horrendas criaturas vindas do além (“From Beyond”, do “Massacre”) ou esqueletos celebrando a morte (“Scream Bloody Gore”, do “Death”).

Já os alemães do “Morgoth” tiveram em seu disco “Ressurrection Absurd”, uma excelente e incrível ilustração mostrando uma macabra criatura indizível, que parece materializar a própria dor, o sofrimento e a agonia do mundo, combinando com maestria com o arregaçador som da banda.

Estes são apenas alguns pouquíssimos exemplos do horror presente nas capas dos discos de bandas de “Death Metal” e suas ramificações, cujas imagens nos incitam à imaginação, fazendo-nos mergulhar profundamente num mundo sombrio habitado por mórbidas criaturas.   


Nota do Autor: Esse texto foi escrito originalmente em 1995 e publicado na extinta revista “Horrorshow”, número 3, da Editora Escala (São Paulo/SP). Portanto, é um texto datado, descrevendo eventos da época. Muita informação surgiu desde então, nesses últimos anos, mas independente disto, o texto pode servir como uma referência do poder criativo resultante da agressiva união entre o Horror e o Death Metal no período abordado. 

 

A Macabra Arte do Caos

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(postado em 05/04/06)

Horror Metal


The end is near! Lucifer’s angels of death are ready for attack. They’ve got only one aim: Total Destruction!”
“O fim está próximo! Os anjos de Lucifer da morte estão prontos para o ataque. Eles tem um único objetivo: Destruição total!
” – Destruction, EP “Sentence of Death” (1984)

Existem inúmeras manifestações artísticas do “Horror”, como o cinema, literatura, quadrinhos, RPG, e na música o agressivo tema também está presente, principalmente no “Heavy Metal” e suas facções. Em todos os gêneros costumamos rotular as subdivisões porque sempre existem diferenças entre elas, e também para facilitar a compreensão dos vários estilos. Assim como no “Horror” temos por exemplo o “gótico” e o “splatter”, no “Heavy Metal” existem várias facções destacando-se principalmente o “Death Metal”, cujo som é infinitamente brutal e agressivo, e as letras abordam uma temática mais violenta, a maioria com citações explícitas de “Horror”.
O “Death Metal” ainda tem várias ramificações como o “Splatter”, “Black”, “Doom”, e começou aproximadamente em 1982 com a banda suiça “Hellhammer”, sendo um estilo musical considerado como uma porrada sonora, com vocais guturais que parecem ecoar do próprio inferno e letras podres e sangrentas, que agridem os tímpanos mais sensíveis parecendo que seu cérebro está sendo esfolado violentamente contra um muro de pedras pontiagudas e cortantes.
E é notável como o “Death Metal” é forte no meio underground com um universo vastíssimo de bandas, fanzines e fãs no mundo todo, e com um movimento bem sólido no Brasil.
Os nomes e logotipos das bandas, capas dos discos e CDs, e principalmente as letras das músicas são puras referências ao “Horror”, como podemos ver em nomes de músicas como “Vomited Anal Tract” e “Feast on Dismembered Carnage” do “Carcass”, “Carnage in the Temple of the Damned” do “Deicide”, “Premature Autopsy” do “Entombed”, “Post Mortal Ejaculation” do “Cannibal Corpse”, “Bitch Death Teenage Mucous Monster From Hell” do “Impetigo”, ou “Blood, Pus and Gastric Juice” do “Pungent Stench”.
Ou nas capas dos discos como do “Celtic Frost” (To Mega Therion) e “Massacre” (Corpse Grinder), ilustradas pelo especialista H. R. Giger, que desenhou os cenários de “Alien” (1979); do “Destruction” (Mad Butcher), que traz um açougueiro psicopata em seu matadouro humano; ou ainda a capa de “Reek of Putrefaction” do “Carcass”, que traz uma montagem com cenas de cadáveres humanos desmembrados.
Cannibal Corpse, Pungent Stench, Carcass, Deicide, Suffocation, Death, Morbid Angel, Autopsy, Entombed, Dismember, Malevolent Creation, Possessed, Slayer, Bathory, Venom (estas quatro últimas mais antigas) são apenas algumas das bandas cujas temáticas líricas são tão sangrentas quanto os maiores filmes “splatter” do cinema como “Fome Animal” (Braindead, 1992) ou “Renascido do Inferno” (Hellraiser, 1987). E no Brasil, bandas como “Sarcófago”, com faixas tipo “Recrucify” (gutural invocação às trevas para recrucificar Cristo), ou “Sepultura” (que hoje é um grande sucesso fora do país), principalmente no início de carreira em seus primeiros trabalhos, os álbuns “Bestial Devastation” e “Morbid Visions”, também referenciam o “Horror” em suas músicas. Outras bandas de estilo musical mais suave como o “Heavy Metal” de Alice Cooper ou King Diamond utilizam o Horror em suas letras, mas nada de forma tão agressiva como o “Death Metal”.
Em alguns casos o material lírico são verdadeiros contos sangrentos, onde não faltam decapitações, esquartejamentos, carnificinas, mortos-vivos em decomposição e todo e qualquer tipo de atrocidades, com muito, muito sangue em profusão, como em “Mutilation”, do “Death”, “The Cyptic Stench” e “Beyond the Cemetery”, do “Cannibal Corpse”, ou “Blood Pit of Horror”, do “Impetigo”, que mostra a agonia e desespero de uma mulher sendo ferozmente torturada num aparelho que estica seus ossos até trincarem.
Outras letras falam de insanidade e obsessão pela morte, evidenciando uma mórbida atração pelo lado obscuro do além e a satisfação de ter suas carcaças podres de vísceras e ossos sendo devoradas por vermes pestilentos.
Há também a vertente do satanismo e bruxaria, onde as letras falam de legiões de demônios malignos asquerosos aliados a anticristãos na incessante batalha contra o Bem, destruindo igrejas e massacrando anjos, santos, padres e todos os seguidores de Cristo, não poupando nem as freiras, que são estupradas violentamente por demônios putrefatos, como em “The Invocation”, do “Morbid Angel”, que narra a invocação gutural de um demônio, “Sacrificial Suicide” e “In Hell I Burn”, do “Deicide”, ou “Satan’s Curse” do “Possessed”.
Outras bandas referenciam explicitamente grandes clássicos do cinema como “O Exorcista” (The Exorcist, 1973) e “The Evil Dead” (1982), homenageados por “Possessed” e “Death” respectivamente, ou grandes obras da literatura como em “Dead By Dawn”, do “Deicide”, referenciando o livro dos mortos Necronomicon, criado por H. P. Lovecraft.
O “Horror” e o “Death Metal” são agressivos por natureza e há uma forte ligação entre eles devido à violência de suas propostas de chocar as pessoas. Porém, ambos possuem um único objetivo que é o de entreter os fãs, através de ficção e músicas agressivas. O que realmente assusta é a violência urbana e a realidade de um mundo em constantes conflitos e guerras, que nos obriga a sermos agressivos e fortes também para sobrevivermos em meio ao caos. E a ficção e a música resumem-se numa única palavra: DIVERSÃO!

... I like to slide my hand inside your stomach and rip out the putrid remains, drink the pus and munch on internal organs...”
“... Eu gosto de deslizar minha mão por dentro de seu estômago e rasgar as sobras pútridas, beber o pus e mastigar os órgãos internos...
” - “Psychopathologist”, da banda “Carcass”

Nota do Autor: Esse texto foi escrito originalmente em 1995 e publicado na extinta revista “Horrorshow”, número 1, da Editora Escala (São Paulo/SP). Portanto, é um texto datado, descrevendo eventos da época. Muita informação surgiu desde então, nesses últimos anos, mas independente disto, o texto pode servir como uma referência do poder criativo resultante da agressiva união entre o Horror e o Death Metal no período abordado.

“Horror Metal”
(postado em 05/04/06)