Os Inocentes (The Innocents, Inglaterra, 1961, PB)

 


“Eles alguma vez voltam para possuir os vivos?”

 

Quando pensamos num filme antigo de horror sobrenatural, psicológico, com elementos góticos e temática de casa assombrada por fantasmas perturbados que atormentam os vivos, rapidamente vem à mente pelo menos dois clássicos extremamente significativos no gênero, ambos ingleses e dos anos 60 do século passado: “Desafio ao Além” (The Haunting, 1963), de Robert Wise, e “Os Inocentes” (The Innocents, 1961), produzido e dirigido por Jack Clayton, com fotografia em preto e branco de Freddie Francis (que também foi diretor de vários filmes da “Hammer” e “Amicus”), e que está disponível no “Youtube” com a opção de legendas em português, além de ter sido lançado no Brasil em mídia DVD pela “Classicline” e também pela “Versátil” num box com Blu-Ray, DVD e materiais extras.

O roteiro de William Archibald e Truman Capote é baseado no livro “A Volta do Parafuso” (The Turn of the Screw, 1898), de Henry James (1843 / 1916), que serviu de inspiração para uma infinidade de filmes, sendo “Os Inocentes” considerado o mais famoso e importante deles, e que por sua vez influenciou muitos outros como o ótimo “Os Outros” (The Others, 2001), dirigido pelo chileno Alejandro Amenábar e com Nicole Kidman.

 

Ambientado na Inglaterra da década de 1860, um aristocrata solteiro (Michael Redgrave) contrata a Srta. Giddens (Deborah Kerr) para assumir o posto de governanta numa imensa casa de campo no interior, administrando com plenos poderes o local e principalmente cuidando de seus pequenos sobrinhos órfãos, os estranhos irmãos Miles (Martin Stephens, de “A Aldeia dos Amaldiçoados”) e Flora (Pamela Franklin, de “A Casa da Noite Eterna” e “A Fúria das Feras Atômicas”). Na imensa casa ainda trabalham também as arrumadeiras Sra. Grose (Megs Jenkins) e Anna (Isla Cameron).

Porém, com o passar do tempo a Srta. Giddens testemunha eventos fantasmagóricos nos corredores escuros da casa e arredores da propriedade, com aparições sinistras, vozes e risos misteriosos, envolvendo o antigo zelador sádico Peter Quint (Peter Wyngarde) e a governanta anterior, a “mulher de preto” Srta. Mary Jessel (Clytie Jessop). Eles tinham um bizarro caso amoroso e morreram em circunstâncias trágicas, sendo que talvez seus fantasmas perturbados ainda estejam rondando o local, tentando possuir as crianças, e desestabilizando a nova governanta, já reprimida e paranoica com seus próprios demônios internos, e agora também angustiada e preocupada com a segurança delas.     

 

“Os Inocentes” tem ritmo lento e sustos discretos, é o típico filme de horror psicológico sugerido, sem correrias ou barulheiras com excesso de clichês, e não tem violência ou sangue. Por outro lado, apresenta situações desconfortáveis com aparições de espíritos malévolos de mortos inquietos com o objetivo de gelar a espinha e desafiar a sanidade dos vivos. E nesse sentido o filme funciona muito bem, sem precisar de monstros disformes e histéricos, investindo apenas na construção de uma atmosfera progressivamente sinistra.     

 O livro de Henry James foi adaptado para o cinema várias vezes e vale citar alguns exemplos. Em 1971 tivemos uma pré-sequência também inglesa chamada aqui no Brasil de “Os Que Chegam Com a Noite” (The Nightcomers), com direção de Michael Winner e Marlon Brandon no elenco, apresentando eventos anteriores focados no sinistro zelador Peter Quint e na governanta Srta. Jessel, cujas mortes afetaram o equilíbrio emocional da Srta. Giddens, a governanta seguinte. Em 2020 a plataforma de streaming “Netflix” exibiu uma série americana com 9 episódios, “A Maldição da Mansão Bly” (The Haunting of Bly Manor), criada por Mike Flanagan. No mesmo ano tivemos o filme americano “Os Órfãos” (The Turning), com Finn Wolfhard (da série “Stranger Things”).

 

“– Era somente o vento, minha querida.” – Miles

 

(RR – 23/10/24)