“A aranha irá
devorar você vivo!”
O diretor americano Bert I.
Gordon (Bertram Ira Gordon, 1922 / 2023), também roteirista, produtor e técnico
em efeitos especiais, ficou muito conhecido na área do cinema de baixo
orçamento de horror e ficção científica por inúmeros filmes com criaturas
gigantes entre as décadas de 1950 a 1970. Sua filmografia inclui bagaceiras
divertidas como “King Dinosaur” (55), “O Começo do Fim” (57), “A Maldição do
Monstro Sinistro” (57), “O Monstro Atômico” (57), “Dr. Encolhedor” (58, sendo
este com temática ao contrário, miniaturizando pessoas), “War of the Colossal
Beast” (58), “A Cidade dos Gigantes” (65), “A Fúria das Feras Atômicas” (76) e “O
Império das Formigas” (77). Por causa desses filmes ele ficou conhecido como
“Mister BIG” (GRANDE em inglês), em referência às iniciais de seu nome, ganhando
esse apelido do lendário colecionador e pesquisador de cinema fantástico
Forrest J. Ackerman, editor da revista “Famous Monsters of Filmland”.
“A Maldição da Aranha”
(Earth vs. The Spider, 1958) foi produzido pelos lendários Samuel Z. Arkoff e
James H. Nicholson, da “American International Pictures”, e também faz parte de
seu currículo, com fotografia em preto e branco e que está disponível no
“Youtube”. Situado dentro do sub-gênero conhecido como “big bug”, que são os filmes que apresentam histórias com insetos e
similares com tamanhos imensos como formigas, gafanhotos, louva-deus, vespas e
escorpiões, sendo nesse caso uma aranha mutante invadindo uma
pequena cidade americana.
Um casal de namorados
adolescentes, os estudantes Mike Simpson (Gene Persson) e Carol Flynn (June
Kenney), estão procurando pelo pai desaparecido da garota, Jack Flynn (Merritt
Stone), que sofreu um acidente misterioso com sua camionete numa estrada nos
arredores de uma pequena comunidade rural chamada River Falls. Eles acabam
encontrando seu cadáver no interior de uma caverna, seco, com somente os ossos
e peles e sem os fluidos corporais, sugados por uma gigantesca aranha peluda.
Eles são desacreditados ao
avisarem a polícia local, liderada pelo xerife Cagle (Gene Roth), mas recebem o
apoio de seu professor de ciências Art Kingman (Ed Kemmer), que organiza um
grupo para explorar a caverna em busca do imenso aracnídeo.
Eles supostamente matam o
monstro com uma grande quantidade de veneno e decidem removê-la para a escola
para realizarem estudos na tentativa de descobrir a causa de seu crescimento
bizarro. Mas, o bicho revive e escapa do cativeiro, aterrorizando as pessoas na
cidade e deixando um rastro de destruição por onde passava, até retornar para
sua caverna, cuja entrada foi depois lacrada por uma explosão com dinamite,
prendendo inadvertidamente os jovens Mike e Carol em seu interior. Agora, resta
ao Prof. Kingman e o xerife Cagle junto com seus comandados, a tentativa de
resgate do casal de estudantes, culminando num confronto final com a aranha monstruosa.
“A Maldição da Aranha” é aquele típico
filme bagaceiro dos anos 50 do século passado com história exagerada na
fantasia e escapismo, com overdose de clichês e falhas grotescas, mas que
diverte principalmente pelos efeitos práticos toscos com os ataques da aranha
colossal. A técnica utilizada pelo especialista Bert. I. Gordon foi a filmagem
de uma aranha real numa perspectiva simulando a ilusão de um tamanho descomunal
em relação às pessoas, casas e objetos em geral, numa época sem a facilidade
dos computadores para gerar as imagens.
Para se divertir é necessário que o
espectador desconsidere a infinidade de absurdos do roteiro. São tantos e por
curiosidade seguem alguns:
* A grande tarântula é guardada num
auditório na escola para estudos posteriores, e desperta com o barulho de rock
daquele período do ensaio de uma banda de jovens estudantes, fugindo do local e
invadindo as ruas da cidade, onde agora ela parece muitas vezes maior que antes,
capaz de engolir uma casa.
* Os atores que interpretaram os
estudantes adolescentes aparentavam idades bem mais avançadas, de adultos.
* Na cena onde os policiais despejaram
veneno na caverna para matar o monstro, apenas algumas pessoas do grupo
receberam as máscaras de proteção, e outras que não ganharam foram condenadas a
inalarem o veneno mortal (eles podem ser apenas personagens insignificantes e
“extras”, mas mereceriam pelo menos suas máscaras).
* A ideia
interessante de estudar a aranha gigante para descobrir a causa do crescimento
deveria ser a maior motivação da história com os demais acontecimentos apenas
girando em torno disso. Mas, depois que a aranha foi abatida e guardada para
estudos esse tema foi deixado de lado e esquecido no resto do filme.
Entre outras curiosidades, numa sala de
cinema aparecem os cartazes de outros dois filmes do diretor, que estavam sendo
lançados na mesma época, “O Monstro Atômico” (The Amazing Colossal Man, 1957) e
“Dr. Encolhedor” (Attack of the Puppet People, 1958).
Teve uma confusão com os títulos
originais, os produtores escolheram inicialmente “The Spider” por causa de “The
Fly” (“A Mosca da Cabeça Branca”, 1958). Depois optaram por mudar para “Earth
vs. The Spider”, similar ao anterior “Earth vs. The Flying Saucers” (“A Invasão
dos Discos Voadores”, 1956). Mas, depois do sucesso de “The Fly” decidiram
mudar de novo para “The Spider” apenas nos cartazes de divulgação, mantendo o
título principal “Earth vs. The Spider”.
Um pouco antes, em 1955, teve outro filme
com aranha gigante invadindo uma pequena cidade. “Tarântula” foi dirigido por
Jack Arnold e com elenco formado por John Agar, Mara Corday e Leo. G. Carroll
no papel de um “cientista louco” envolvido com experiências bizarras que
resultaram no monstro. Em 1975 tivemos “A Invasão das Aranhas Gigantes” (The
Giant Spider Invasion), de Bill Rebane, com aranhas alienígenas que chegaram à
Terra num meteoro, inicialmente parecidas com as nossas tarântulas, e que
depois aumentaram de tamanho espalhando o caos por onde passavam. Em 2001 foi
lançada uma refilmagem, uma produção para a televisão com Dan Aykroyd (de “Os
Caça-Fantasmas”).
(RR
– 16/10/24)