A produtora inglesa “Hammer”
refilmou em cores os monstros clássicos em preto e branco do estúdio americano
“Universal”. Foram vários filmes abordando múmias, a criatura de Frankenstein e
vampiros (especialmente o temível Conde Drácula), mas curiosamente o lobisomem
só tem um filme.
“A Maldição do Lobisomem” (The Curse of the Werewolf), também
conhecido no Brasil como “A Noite do Lobisomem”, é de 1961, tem direção do
especialista Terence Fisher e roteiro de Anthony Hinds (sob o pseudônimo John
Elder), a partir da história “The Werewolf of Paris”, de Guy Endore.
Hinds foi produtor da “Hammer”
e por causa de restrições orçamentárias decidiu assumir o roteiro do único
filme de lobisomem do estúdio, utilizando pseudônimo, e a partir daí ele passou
a escrever roteiros para muitos filmes seguintes como “O Fantasma da Ópera”
(1962), “O Beijo do Vampiro” (1963) e “O Monstro de Frankenstein” (1964), entre
outros.
Ambientada no pequeno vilarejo
de Santa Vera, na Espanha, a história apresenta um mendigo (Richard Wordsworth,
o astronauta infectado de “Terror Que Mata”, 1955) que é preso na masmorra de
um castelo pelo cruel Marquês Siniestro (Anthony Dawson), depois de aparecer em
sua festa de casamento pedindo comida. Após divertir os convidados com diversas
humilhações, ele é abandonado na prisão por anos, onde encontra uma bela
serviçal muda (Yvonne Romain). O mendigo comete atos de violência sexual contra
ela e a jovem foge do castelo, sendo resgatada da morte na floresta por Don
Alfredo (Clifford Evans), que a leva para sua casa, para receber os cuidados de
sua bondosa empregada Teresa (Hira Talfrey).
A criança nasce no Natal e
ganha o nome Leon (Justin Walters), mas a mãe morre no parto. Já adulto, Leon
(Oliver Reed), vai trabalhar num vinhedo e se apaixona pela bela Cristina
(Catherine Feller). Porém, por ter nascido no Natal e ter sido gerado num
estupro, Leon tem que enfrentar uma terrível maldição ancestral que irá
perturbá-lo por toda a vida, quando em noites de lua cheia ele se transforma
num monstro misto de homem e lobo, e que aterroriza a região em busca de
vítimas.
O lobisomem é um corpo com o
espírito de um lobo em constante guerra interna entre sua humanidade e a fera
selvagem sedenta de sangue e violência que está dentro de si. A alma humana
enfraquece quando é alimentada com ódio, avareza e solidão, principalmente no
ciclo da lua cheia, onde as forças do mal são mais fortes. Por outro lado, o
espírito da besta enfraquece quando prevalece o amor, a amizade e o calor humano.
A história do cinema de horror
possui uma infinidade de filmes sobre essas fascinantes criaturas mitológicas
de homens transformados em lobos. “A Maldição do Lobisomem” é um dos destaques
e é sempre lembrado por ser uma produção da “Hammer”, a única abordando esse
monstro clássico. Faz parte de uma elite formada por outras preciosidades como
“O Lobisomem” (The Wolfman, 1941), da “Universal”, e “Um Lobisomem Americano em
Londres” (An American Werewolf in London, 1981), de John Landis, entre outras.
A história de um ser humano
transformado em monstro assassino, com seu perturbador conflito interno entre o
desejo de ter uma vida normal e a fúria incontrolável para sentir na boca o
gosto do sangue e carne de animais e outras pessoas.
O ator inglês Oliver Reed
(1938 / 1999), que também esteve em outros filmes de horror como “A Mansão
Macabra” (Burnt Offerings, 1976) e “Os Filhos do Medo” (The Brood, 1979), tem
uma performance notável enfatizando seu drama com a paixão pela jovem Cristina
e a necessidade de eliminar o monstro dentro de si. Curiosamente, o eterno ator
coadjuvante Michael Ripper (1913 / 2000), que tem uma grande quantidade de
participações menores em filmes da “Hammer”, e mais de 200 créditos em sua
longa carreira, também aparece aqui, no papel de um bêbado que sucumbe nas
garras do monstro. E tanto Oliver Reed quanto Yvonne Romain fizeram parte do
elenco de outro filme da “Hammer”, “A Patrulha Fantasma” (Captain Clegg, 1962).
(RR – 19/09/15)