Terror in the Haunted House / My World Dies Screaming (EUA, 1958)

 


“E então, através dos galhos das velhas árvores, vejo a casa novamente. Ela fica lá esperando por mim. Silenciosa, maligna. Um lugar de horror indescritível. Não há ninguém lá agora.” – Sheila Wayne

 

Terror in the Haunted House”, também conhecido como “My World Dies Screaming”, ambos títulos sonoros e chamativos, é uma produção americana de baixo orçamento com apenas 77 minutos, com direção de Harold Daniels e fotografia original em preto e branco, que também ganhou uma versão colorizada por computador. Para a satisfação dos apreciadores de filmes antigos de horror, ambas as versões estão disponíveis no “Youtube” com a opção de legendas em português.

 

A americana Sheila Wayne (Cathy O´Donnell) vive na Suiça desde a infância e sofre com constantes pesadelos envolvendo uma casa misteriosa. Ela participa de sessões de terapia com o Dr. Victor Forel (Barry Bernard) na tentativa de encontrar alívio para seu tormento. Casada há pouco tempo com Philip Tierney (Gerald Mohr), e sem resultados positivos com o tratamento, eles partem para os Estados Unidos, indo morar numa velha casa de campo na Flórida, grande, isolada e onde Sheila encontra similaridades sinistras com a mesma casa de seus pesadelos.

Lá eles encontram o amargurado zelador Jonah Snell (John Qualen), que toma conta da casa há muitos anos, além também do proprietário, Mark Snell (Bill Ching), que tenta convencer a atormentada moça a abandonar o local para sua segurança, indo contra a vontade do marido, que insiste na permanência no local, com um interesse especial pelo sótão, que parece guardar segredos obscuros.

 

“Terror in the Haunted House” possui as conhecidas características de uma produção de baixo orçamento, com elenco reduzido formado por apenas cinco atores (mais o cachorro Jaggard) e filmagens praticamente numa única locação, a casa amaldiçoada do título, envolta em mistério e palco de uma tragédia sangrenta. Tem alguns bons momentos de suspense e atmosfera de horror psicológico, mas o roteiro de Robert C. Dennis explora os velhos clichês com um conjunto de ideias recicladas misturando família amaldiçoada, trauma de infância, assassinatos com violência extrema, perturbação mental, e a tradicional reviravolta que não surpreende, pois não exige muita atenção do espectador já habituado com uma infinidade de situações iguais.

Curiosamente, o filme se apresenta como o primeiro com a técnica chamada “Psycho-Rama”, que utiliza comunicação subliminar com apresentação de flashes muito rápidos ao longo do filme mostrando imagens como o rosto de um diabo, outro com olhos arregalados, uma caveira e frases enfatizando situações de horror. Lembrando os filmes do diretor e produtor William Castle, que lançou muitos no mesmo período utilizando diversas técnicas promocionais para assustar e entreter o público com interação entre as histórias e os espectadores. Aliás, essa mesma técnica de mensagens subliminares foi utilizada na versão do diretor William Friedkin para “O Exorcista” (The Exorcist) em 2000, com imagens rápidas do demônio Pazuzu ao longo do filme.   

 

“O machado, ele está usando o machado. Parem ele! O sangue. O sangue está em mim! Está em todo lugar. É sangue! Estão todos mortos.” – Sheila Wayne

 

(RR – 29/10/24)







A Maldição do Lobisomem (The Curse of the Werewolf, Inglaterra, 1961)

 


A produtora inglesa “Hammer” refilmou em cores os monstros clássicos em preto e branco do estúdio americano “Universal”. Foram vários filmes abordando múmias, a criatura de Frankenstein e vampiros (especialmente o temível Conde Drácula), mas curiosamente o lobisomem só tem um filme.

A Maldição do Lobisomem” (The Curse of the Werewolf), também conhecido no Brasil como “A Noite do Lobisomem”, é de 1961, tem direção do especialista Terence Fisher e roteiro de Anthony Hinds (sob o pseudônimo John Elder), a partir da história “The Werewolf of Paris”, de Guy Endore.

Hinds foi produtor da “Hammer” e por causa de restrições orçamentárias decidiu assumir o roteiro do único filme de lobisomem do estúdio, utilizando pseudônimo, e a partir daí ele passou a escrever roteiros para muitos filmes seguintes como “O Fantasma da Ópera” (1962), “O Beijo do Vampiro” (1963) e “O Monstro de Frankenstein” (1964), entre outros.

 

Ambientada no pequeno vilarejo de Santa Vera, na Espanha, a história apresenta um mendigo (Richard Wordsworth, o astronauta infectado de “Terror Que Mata”, 1955) que é preso na masmorra de um castelo pelo cruel Marquês Siniestro (Anthony Dawson), depois de aparecer em sua festa de casamento pedindo comida. Após divertir os convidados com diversas humilhações, ele é abandonado na prisão por anos, onde encontra uma bela serviçal muda (Yvonne Romain). O mendigo comete atos de violência sexual contra ela e a jovem foge do castelo, sendo resgatada da morte na floresta por Don Alfredo (Clifford Evans), que a leva para sua casa, para receber os cuidados de sua bondosa empregada Teresa (Hira Talfrey).

A criança nasce no Natal e ganha o nome Leon (Justin Walters), mas a mãe morre no parto. Já adulto, Leon (Oliver Reed), vai trabalhar num vinhedo e se apaixona pela bela Cristina (Catherine Feller). Porém, por ter nascido no Natal e ter sido gerado num estupro, Leon tem que enfrentar uma terrível maldição ancestral que irá perturbá-lo por toda a vida, quando em noites de lua cheia ele se transforma num monstro misto de homem e lobo, e que aterroriza a região em busca de vítimas.

 

O lobisomem é um corpo com o espírito de um lobo em constante guerra interna entre sua humanidade e a fera selvagem sedenta de sangue e violência que está dentro de si. A alma humana enfraquece quando é alimentada com ódio, avareza e solidão, principalmente no ciclo da lua cheia, onde as forças do mal são mais fortes. Por outro lado, o espírito da besta enfraquece quando prevalece o amor, a amizade e o calor humano.

A história do cinema de horror possui uma infinidade de filmes sobre essas fascinantes criaturas mitológicas de homens transformados em lobos. “A Maldição do Lobisomem” é um dos destaques e é sempre lembrado por ser uma produção da “Hammer”, a única abordando esse monstro clássico. Faz parte de uma elite formada por outras preciosidades como “O Lobisomem” (The Wolfman, 1941), da “Universal”, e “Um Lobisomem Americano em Londres” (An American Werewolf in London, 1981), de John Landis, entre outras.

A história de um ser humano transformado em monstro assassino, com seu perturbador conflito interno entre o desejo de ter uma vida normal e a fúria incontrolável para sentir na boca o gosto do sangue e carne de animais e outras pessoas.

O ator inglês Oliver Reed (1938 / 1999), que também esteve em outros filmes de horror como “A Mansão Macabra” (Burnt Offerings, 1976) e “Os Filhos do Medo” (The Brood, 1979), tem uma performance notável enfatizando seu drama com a paixão pela jovem Cristina e a necessidade de eliminar o monstro dentro de si. Curiosamente, o eterno ator coadjuvante Michael Ripper (1913 / 2000), que tem uma grande quantidade de participações menores em filmes da “Hammer”, e mais de 200 créditos em sua longa carreira, também aparece aqui, no papel de um bêbado que sucumbe nas garras do monstro. E tanto Oliver Reed quanto Yvonne Romain fizeram parte do elenco de outro filme da “Hammer”, “A Patrulha Fantasma” (Captain Clegg, 1962).

 

(RR – 19/09/15)







Os Inocentes (The Innocents, Inglaterra, 1961, PB)

 


“Eles alguma vez voltam para possuir os vivos?”

 

Quando pensamos num filme antigo de horror sobrenatural, psicológico, com elementos góticos e temática de casa assombrada por fantasmas perturbados que atormentam os vivos, rapidamente vem à mente pelo menos dois clássicos extremamente significativos no gênero, ambos ingleses e dos anos 60 do século passado: “Desafio ao Além” (The Haunting, 1963), de Robert Wise, e “Os Inocentes” (The Innocents, 1961), produzido e dirigido por Jack Clayton, com fotografia em preto e branco de Freddie Francis (que também foi diretor de vários filmes da “Hammer” e “Amicus”), e que está disponível no “Youtube” com a opção de legendas em português, além de ter sido lançado no Brasil em mídia DVD pela “Classicline” e também pela “Versátil” num box com Blu-Ray, DVD e materiais extras.

O roteiro de William Archibald e Truman Capote é baseado no livro “A Volta do Parafuso” (The Turn of the Screw, 1898), de Henry James (1843 / 1916), que serviu de inspiração para uma infinidade de filmes, sendo “Os Inocentes” considerado o mais famoso e importante deles, e que por sua vez influenciou muitos outros como o ótimo “Os Outros” (The Others, 2001), dirigido pelo chileno Alejandro Amenábar e com Nicole Kidman.

 

Ambientado na Inglaterra da década de 1860, um aristocrata solteiro (Michael Redgrave) contrata a Srta. Giddens (Deborah Kerr) para assumir o posto de governanta numa imensa casa de campo no interior, administrando com plenos poderes o local e principalmente cuidando de seus pequenos sobrinhos órfãos, os estranhos irmãos Miles (Martin Stephens, de “A Aldeia dos Amaldiçoados”) e Flora (Pamela Franklin, de “A Casa da Noite Eterna” e “A Fúria das Feras Atômicas”). Na imensa casa ainda trabalham também as arrumadeiras Sra. Grose (Megs Jenkins) e Anna (Isla Cameron).

Porém, com o passar do tempo a Srta. Giddens testemunha eventos fantasmagóricos nos corredores escuros da casa e arredores da propriedade, com aparições sinistras, vozes e risos misteriosos, envolvendo o antigo zelador sádico Peter Quint (Peter Wyngarde) e a governanta anterior, a “mulher de preto” Srta. Mary Jessel (Clytie Jessop). Eles tinham um bizarro caso amoroso e morreram em circunstâncias trágicas, sendo que talvez seus fantasmas perturbados ainda estejam rondando o local, tentando possuir as crianças, e desestabilizando a nova governanta, já reprimida e paranoica com seus próprios demônios internos, e agora também angustiada e preocupada com a segurança delas.     

 

“Os Inocentes” tem ritmo lento e sustos discretos, é o típico filme de horror psicológico sugerido, sem correrias ou barulheiras com excesso de clichês, e não tem violência ou sangue. Por outro lado, apresenta situações desconfortáveis com aparições de espíritos malévolos de mortos inquietos com o objetivo de gelar a espinha e desafiar a sanidade dos vivos. E nesse sentido o filme funciona muito bem, sem precisar de monstros disformes e histéricos, investindo apenas na construção de uma atmosfera progressivamente sinistra.     

 O livro de Henry James foi adaptado para o cinema várias vezes e vale citar alguns exemplos. Em 1971 tivemos uma pré-sequência também inglesa chamada aqui no Brasil de “Os Que Chegam Com a Noite” (The Nightcomers), com direção de Michael Winner e Marlon Brandon no elenco, apresentando eventos anteriores focados no sinistro zelador Peter Quint e na governanta Srta. Jessel, cujas mortes afetaram o equilíbrio emocional da Srta. Giddens, a governanta seguinte. Em 2020 a plataforma de streaming “Netflix” exibiu uma série americana com 9 episódios, “A Maldição da Mansão Bly” (The Haunting of Bly Manor), criada por Mike Flanagan. No mesmo ano tivemos o filme americano “Os Órfãos” (The Turning), com Finn Wolfhard (da série “Stranger Things”).

 

“– Era somente o vento, minha querida.” – Miles

 

(RR – 23/10/24)






A Força do Mal (Something Evil, EUA, 1972)

 


“– Você pode acreditar que eu acredito que o diabo está em minha casa? – Marjorie Worden

“– Sim. Se você acredita que há um diabo, você acredita que o diabo está em sua casa; então para você isso é verdade.” – Harry Lincoln

 

O consagrado diretor americano Steven Spielberg tem vários filmes em seu currículo que todos conhecem ou já ouviram falar, e que fazem parte da “cultura pop” como “Tubarão” (Jaws, 1975), “Contatos Imediatos do Terceiro Grau” (Close Encounters of the Third Kind, 1977), “E.T.: O Extraterrestre” (E.T. the Extra-Terrestrial, 1982), “Os Caçadores da Arca Perdida” (Raiders of the Lost Ark, 1981) e “O Parque dos Dinossauros” (Jurassic Park, 1993), entre vários outros, além dos inúmeros filmes importantes que produziu como “Poltergeist: O Fenômeno” (Poltergeist, 1982) e “De Volta Para o Futuro” (Back to the Future, 1985).

É interessante registrar que sua carreira bem sucedida começou com alguns curtas metragens e participações em séries de TV, e principalmente com dois filmes produzidos para a televisão: “Encurralado” (Duel, 1971) e “A Força do Mal” (Something Evil, 1972), este último sendo o assunto desse texto e que está disponível no Youtube com a opção de legendas em português.

 

Paul Worden (Darren McGavin) trabalha numa agência de publicidade na cidade de Nova Iorque. A pedido de sua esposa Marjorie (Sandy Dennis), mãe de dois filhos pequenos, o garoto Steve (Johnny Whitaker) e a irmã caçula Laurie (interpretada pelas gêmeas Debbie e Sandy Lempert), eles se mudam para uma fazenda no Estado vizinho da Pensilvania, distante duas horas de carro.

Ao se mudarem eles são alertados pelo supersticioso fazendeiro local Gehrmann (Jeff Corey) sobre uma atmosfera amaldiçoada envolvendo a casa de campo, mas é desacreditado por Paul, que também desconsidera os conselhos do vizinho veterano pesquisador de ocultismo Harry Lincoln (Ralph Bellamy) e seu sinistro sobrinho Ernest (John Rubinstein), em abandonar o perigoso local para proteger sua família.

Porém, as coisas pioram progressivamente com uma sucessão de eventos misteriosos com uma entidade diabólica, a tal “força do mal” do título, assombrando a fazenda e tentando se apossar de Marjorie, que tem um colapso nervoso colocando em risco sua sanidade e a segurança de seus filhos.

 

O filme aborda a temática de espíritos malignos e possessão demoníaca, assuntos largamente explorados naquele período dos anos 70 do século passado, só que sendo uma produção para a televisão (71 minutos) os elementos de horror são mais sutis e sugeridos, sem violência ou sangue, apostando mais na tentativa de um clima perturbador de uma casa assombrada pelo diabo, e evidenciando a decadência mental de Marjorie contrapondo o ceticismo de seu marido Paul.

Spielberg já demonstrava seu interesse pelo cinema com elementos fantásticos, numa experiência muito bem sucedida com o anterior “Encurralado”, um eletrizante “road movie” carregado de suspense e tensão constante com perseguição numa estrada. E também com os filmes que vieram logo a seguir explorando temas como os ataques de um imenso tubarão assassino, a visita pacífica de seres de outro mundo, um extraterrestre atrapalhado perdido na Terra, a volta de dinossauros vivendo entre nós, e outros.

Porém, nesse caso de “A Força do Mal”, mesmo com as inevitáveis características impostas de um horror mais contido e narrativa mais lenta devido ao formato de baixo orçamento para a TV, o diretor não conseguiu o mesmo êxito de seus outros filmes, tornando-se meio esquecido devido aos clichês e excesso de similaridades com a infinidade de filmes voltados para a mesma ideia básica. Explicado talvez pelo fato de Spielberg ter revelado que não se sentiu confortável na direção por causa do corte de orçamento pela produtora e pela falta de liberdade de criação artística. De qualquer forma, ele teve a oportunidade de trabalhar melhor com os elementos de horror e mais recursos em “Poltergeist”, atuando na produção e também auxiliando Tobe Hooper na direção.

O ator Darren McGavin (1922 / 2006) teve uma longa carreira na telinha e é um rosto conhecido pela série “Kolchak e os Demônios da Noite” (Kolchak: the Night Stalker, 1974 / 1975), onde interpretou um repórter investigativo envolvido em casos sobrenaturais com vampiros, zumbis, lobisomens e outras criaturas bizarras.   

 

(RR – 20/10/24)






Os Bárbaros Invadem a Terra (The Mysterians, Japão, 1957)

 


Um cientista descobre um pequeno planeta localizado entre Marte e Saturno e o batiza de “Mysteroid”. Em seguida, a Terra é surpreendida pelo ataque de um robô gigante acionado por controle remoto, que pertence a uma raça alienígena vinda desse planeta. Chamados de “Mysterians” (do título original em inglês), eles ocupam uma pequena área próxima ao famoso Monte Fuji, no Japão, com uma nave gigantesca parecendo uma redoma. Eles são humanoides e solicitam para que os terráqueos forneçam mulheres para miscigenação e continuidade de sua espécie em decadência, uma vez que destruíram seu planeta com um holocausto nuclear e os poucos sobreviventes se refugiaram em Marte, com seus bebês nascendo deformados por causa dos efeitos radioativos do apocalipse.

Desconfiados das reais intenções dos extraterrestres, o governo japonês, representando a humanidade, convoca o auxílio de outros países como os Estados Unidos e a antiga União Soviética, e juntos decidem atacar os invasores com canhões, mísseis, bombas, aviões e tanques de guerra, numa luta desigual com os alienígenas possuindo uma tecnologia superior e armas potentes com raios de calor.

 

Com um sonoro título nacional, “Os Bárbaros Invadem a Terra” (The Mysterians, Japão, 1957) foi dirigido pelo especialista Ishiro Honda (1911 / 1993), de inúmeros outros filmes preciosos do cinema fantástico bagaceiro como “Godzilla” (1954), “O Monstro da Bomba H” (1958) e “Matango, a Ilha da Morte” (1963). É uma divertida ficção científica lançada na nostálgica e produtiva década de 50 do século passado, um período extremamente representativo com uma infinidade de filmes de horror e FC de todos os temas, especialmente abordando questões relacionadas com a tensão permanente da guerra fria e os efeitos de uma catástrofe atômica global.

É um filme que se situa dentro do tema que aborda invasões alienígenas, apresentando batalhas com miniaturas e um robô gigante chamado “Moguera” destruindo cenários de uma cidade, simulando terremotos e incêndios, com efeitos especiais expressivos e impressionantes para a época, difíceis de serem produzidos. Um tempo no passado onde não existiam os efeitos de computação gráfica que seriam comuns dezenas de anos depois, muitas vezes tornando tudo muito artificial. O monstro mecânico gigante é hilário de tão tosco, com antenas e um nariz pontudo, além de soltar raios mortais de calor pelos olhos. O foguete dos humanos também é divertido de tão bagaceiro, num esforço militar da Terra para tentar combater os invasores do espaço sideral. A aparência dos alienígenas é patética, eles são humanoides usando capacetes de motocicletas e vestindo capas coloridas e luvas.

Podemos perceber a tentativa de uma mensagem de advertência para a humanidade, no sentido de diminuir a tensão perturbadora da guerra fria daquele período entre as principais potências do mundo, alertando para que não seja cometido o mesmo erro dos Mysterians, que quase exterminaram por completo sua raça numa guerra nuclear. E convocando países rivais como EUA e URSS para unirem forças no combate ao inimigo comum, alienígenas invadindo nosso planeta.

Curiosamente, foram produzidas duas continuações, a primeira em 1959 com o nome “Mundos em Guerra” (Battle in Outer Space), também dirigido por Ishiro Honda. E a outra em 1977, “The War in Space”, também produção japonesa com direção de Jun Fukuda.

 

 (RR – 01/12/16)




A Maldição da Aranha (Earth vs. the Spider, EUA, 1958, PB)


 

“A aranha irá devorar você vivo!”

 

O diretor americano Bert I. Gordon (Bertram Ira Gordon, 1922 / 2023), também roteirista, produtor e técnico em efeitos especiais, ficou muito conhecido na área do cinema de baixo orçamento de horror e ficção científica por inúmeros filmes com criaturas gigantes entre as décadas de 1950 a 1970. Sua filmografia inclui bagaceiras divertidas como “King Dinosaur” (55), “O Começo do Fim” (57), “A Maldição do Monstro Sinistro” (57), “O Monstro Atômico” (57), “Dr. Encolhedor” (58, sendo este com temática ao contrário, miniaturizando pessoas), “War of the Colossal Beast” (58), “A Cidade dos Gigantes” (65), “A Fúria das Feras Atômicas” (76) e “O Império das Formigas” (77). Por causa desses filmes ele ficou conhecido como “Mister BIG” (GRANDE em inglês), em referência às iniciais de seu nome, ganhando esse apelido do lendário colecionador e pesquisador de cinema fantástico Forrest J. Ackerman, editor da revista “Famous Monsters of Filmland”.

A Maldição da Aranha” (Earth vs. The Spider, 1958) foi produzido pelos lendários Samuel Z. Arkoff e James H. Nicholson, da “American International Pictures”, e também faz parte de seu currículo, com fotografia em preto e branco e que está disponível no “Youtube”. Situado dentro do sub-gênero conhecido como “big bug”, que são os filmes que apresentam histórias com insetos e similares com tamanhos imensos como formigas, gafanhotos, louva-deus, vespas e escorpiões, sendo nesse caso uma aranha mutante invadindo uma pequena cidade americana.

 

Um casal de namorados adolescentes, os estudantes Mike Simpson (Gene Persson) e Carol Flynn (June Kenney), estão procurando pelo pai desaparecido da garota, Jack Flynn (Merritt Stone), que sofreu um acidente misterioso com sua camionete numa estrada nos arredores de uma pequena comunidade rural chamada River Falls. Eles acabam encontrando seu cadáver no interior de uma caverna, seco, com somente os ossos e peles e sem os fluidos corporais, sugados por uma gigantesca aranha peluda.

Eles são desacreditados ao avisarem a polícia local, liderada pelo xerife Cagle (Gene Roth), mas recebem o apoio de seu professor de ciências Art Kingman (Ed Kemmer), que organiza um grupo para explorar a caverna em busca do imenso aracnídeo.

Eles supostamente matam o monstro com uma grande quantidade de veneno e decidem removê-la para a escola para realizarem estudos na tentativa de descobrir a causa de seu crescimento bizarro. Mas, o bicho revive e escapa do cativeiro, aterrorizando as pessoas na cidade e deixando um rastro de destruição por onde passava, até retornar para sua caverna, cuja entrada foi depois lacrada por uma explosão com dinamite, prendendo inadvertidamente os jovens Mike e Carol em seu interior. Agora, resta ao Prof. Kingman e o xerife Cagle junto com seus comandados, a tentativa de resgate do casal de estudantes, culminando num confronto final com a aranha monstruosa.

 

“A Maldição da Aranha” é aquele típico filme bagaceiro dos anos 50 do século passado com história exagerada na fantasia e escapismo, com overdose de clichês e falhas grotescas, mas que diverte principalmente pelos efeitos práticos toscos com os ataques da aranha colossal. A técnica utilizada pelo especialista Bert. I. Gordon foi a filmagem de uma aranha real numa perspectiva simulando a ilusão de um tamanho descomunal em relação às pessoas, casas e objetos em geral, numa época sem a facilidade dos computadores para gerar as imagens.

Para se divertir é necessário que o espectador desconsidere a infinidade de absurdos do roteiro. São tantos e por curiosidade seguem alguns:

* A grande tarântula é guardada num auditório na escola para estudos posteriores, e desperta com o barulho de rock daquele período do ensaio de uma banda de jovens estudantes, fugindo do local e invadindo as ruas da cidade, onde agora ela parece muitas vezes maior que antes, capaz de engolir uma casa.

* Os atores que interpretaram os estudantes adolescentes aparentavam idades bem mais avançadas, de adultos.

* Na cena onde os policiais despejaram veneno na caverna para matar o monstro, apenas algumas pessoas do grupo receberam as máscaras de proteção, e outras que não ganharam foram condenadas a inalarem o veneno mortal (eles podem ser apenas personagens insignificantes e “extras”, mas mereceriam pelo menos suas máscaras).

* A ideia interessante de estudar a aranha gigante para descobrir a causa do crescimento deveria ser a maior motivação da história com os demais acontecimentos apenas girando em torno disso. Mas, depois que a aranha foi abatida e guardada para estudos esse tema foi deixado de lado e esquecido no resto do filme.

Entre outras curiosidades, numa sala de cinema aparecem os cartazes de outros dois filmes do diretor, que estavam sendo lançados na mesma época, “O Monstro Atômico” (The Amazing Colossal Man, 1957) e “Dr. Encolhedor” (Attack of the Puppet People, 1958).

Teve uma confusão com os títulos originais, os produtores escolheram inicialmente “The Spider” por causa de “The Fly” (“A Mosca da Cabeça Branca”, 1958). Depois optaram por mudar para “Earth vs. The Spider”, similar ao anterior “Earth vs. The Flying Saucers” (“A Invasão dos Discos Voadores”, 1956). Mas, depois do sucesso de “The Fly” decidiram mudar de novo para “The Spider” apenas nos cartazes de divulgação, mantendo o título principal “Earth vs. The Spider”.

Um pouco antes, em 1955, teve outro filme com aranha gigante invadindo uma pequena cidade. “Tarântula” foi dirigido por Jack Arnold e com elenco formado por John Agar, Mara Corday e Leo. G. Carroll no papel de um “cientista louco” envolvido com experiências bizarras que resultaram no monstro. Em 1975 tivemos “A Invasão das Aranhas Gigantes” (The Giant Spider Invasion), de Bill Rebane, com aranhas alienígenas que chegaram à Terra num meteoro, inicialmente parecidas com as nossas tarântulas, e que depois aumentaram de tamanho espalhando o caos por onde passavam. Em 2001 foi lançada uma refilmagem, uma produção para a televisão com Dan Aykroyd (de “Os Caça-Fantasmas”).

 

(RR – 16/10/24)







Um Homem na Rede (Horrors of Spider Island, Alemanha, 1960, PB)

 


" Um grupo de meninas escravizadas por uma fera humana diabólica em uma ilha onde não há saída...”

 

O filme alemão “Um Homem na Rede” (1960), com direção de Fritz Böttger, recebeu esse título no Brasil aproximado da tradução literal do original “Ein Toter hing im Netz”. Assim como em vários filmes do período, também recebeu uma versão americana com dublagem em inglês e um título mais sonoro e chamativo, “Horrors of Spider Island”, com a direção utilizando o pseudônimo Jaime Nolan.

Com uma tagline promocional exagerada, como essa na introdução do texto, entre várias outras (aliás, um procedimento típico das produções bagaceiras da época), o filme é extremamente ruim, mas com aquela sempre divertida temática de “homem transformado em monstro”. O original tem fotografia em preto e branco e existe também uma versão colorizada por computador, sendo que ambas estão disponíveis no “Youtube” com a opção de legendas em português.

 

O empresário Gary Webster (Alexander D´Arcy), auxiliado pela secretária e namorada Georgia (Helga Franck), recruta um grupo de belas mulheres para uma turnê de shows de dança em Cingapura. São elas: Ann (Helga Neuner), Gladys (Dorothee Parker), May (Gerry Sammer), Nelly (Eva Schauland), Kate (Helma Vandenberg), Linda (Elfie Wagner) e Babs (Barbara Valentin).

Porém, ocorre um acidente de avião com a queda no oceano e todos tornam-se náufragos num pequeno barco, até que após alguns dias à deriva em alto mar eles encontram terra firme e chegam numa ilha. Ao explorar o local encontram uma cabana com um homem morto preso numa enorme teia de aranha, identificado como o cientista Prof. Green (o personagem e nome do ator nem aparecem na ficha técnica do IMDB), envolvido com pesquisas e exploração de urânio.

Depois que Gary é picado por uma enorme aranha radioativa, ele se transforma num monstro assassino com o rosto deformado parecendo um homem das cavernas com presas de vampiro e enormes garras nas mãos, passando a perseguir as mulheres com uma ânsia por estrangulamento. Enquanto chegam na ilha num pequeno barco outros dois homens, Joe (Harald Maresch) e Robby (Rainer Brandt), ajudantes do cientista, que encontram as mulheres e se divertem com flertes e pequenos romances.    

 

“Um Homem na Rede” é uma tranqueira com apenas 76 minutos (versão americana), e que ainda assim é entediante graças às longas e cansativas cenas com danças das mulheres e seus relacionamentos fúteis, além de várias intrigas e conflitos gerados pela tensão do confinamento numa ilha, exigindo muita paciência do espectador que só está interessado nos elementos de horror e ficção científica bagaceiros, nos efeitos práticos toscos e nos tais “horrores da ilha da aranha”. Ou seja, as aparições do bizarro aracnídeo radioativo e as perseguições do monstro disforme com mente distorcida à procura de suas vítimas, com mortes discretas e fora da tela, comum nas tranqueiras daquele período.

Como a história é óbvia demais com tudo acontecendo de forma rasa apenas para facilitar o trabalho do roteiro, sendo um clichê exaustivamente explorado numa infinidade de produções similares, o filme poderia ser reduzido para um curta metragem de aproximadamente 20 minutos, apenas com as cenas da aranha mutante e dos ataques do monstro.

 

(RR – 06/10/24)