“ Sabe
aquela caixa de múmia que você disse que chegou pouco antes de ele morrer? Você
nunca olhou dentro, né? Bem, tem alguma coisa lá dentro!... É uma múmia com um
amuleto de ouro no pescoço, com cara de gato e esmeraldas no lugar dos olhos! ...”
– Frank Lucas
“O Amuleto Egípcio” (The
Cat Creature, EUA, 1973) foi dirigido por Curtis Harrington a partir de um
roteiro co-escrito por Robert Bloch (o autor de “Psicose”), produzido
diretamente para a televisão. Curto com apenas 72 minutos, foi exibido
originalmente no programa
“ABC Movie of the Week”, uma série semanal dos anos 70 do século passado da
rede de TV “ABC” (American Broadcasting Company), sendo o filme 34 da temporada
5.
Disponível
no “Youtube” na versão original com legendas em
português com tradução automática, o elenco principal tem dois rostos
conhecidos das telinhas, David Hedison (o Capitão Crane da série “Viagem ao
Fundo do Mar”) e Stuart Whitman (o xerife Jim Crown da série de western
“Cimarron”), além também de uma participação rápida (mas sempre bem-vinda) do
lendário John Carradine, numa ponta como um atendente de um hotel decadente.
Após a morte de um rico colecionador de artefatos antigos
egípcios, o valioso acervo formado por estátuas, ataúdes, joias e objetos de
arte é submetido à avaliação pelo advogado Frank Lucas (Kent Smith), e conforme
suas palavras no início desse texto, ele encontrou uma misteriosa múmia num
sarcófago, com um amuleto com o rosto de gato, não imaginando que o objeto
seria amaldiçoado. O amuleto é roubado por um ladrão, Joe Sung (Keye Luke), que
tenta vender para uma loja de penhores e objetos de feitiçaria da Sra. Hester
Black (Gale Sondergaard). Em paralelo, surge uma misteriosa jovem, Rena Carter
(Meredith Baxter), à procura de emprego e que é contratada para trabalhar de
balconista na loja de artefatos de ocultismo.
Depois que ocorrem mortes violentas com sinais de arranhões e
cicatrizes profundas no pescoço das vítimas, além de um suicídio suspeito da
antiga atendente da loja, Sherry Hastings (Renne Jarrett), uma investigação
policial tem início.
Com a liderança do Tenente Marco (Stuart Whitman), que é auxiliado
pelo professor de egiptologia Roger Edmonds (David Hedison), a investigação
coleta informações do legista da polícia (Milton Parsons) sobre as vítimas e do
bibliotecário Dr. Reinhart (John Abbott) sobre livros da cultura do Egito
Antigo, e eles descobrem relações entre os assassinatos brutais, a maldição do
amuleto, a múmia da Deusa egípcia Bast, que tem o poder de controle mental nas
pessoas e de se transformar num gato preto, e os ataques de uma criatura felina
(do título original).
Com um ótimo elenco contribuindo para o entretenimento com a dupla
de investigadores e a veterana proprietária da loja de magia negra, temos uma
história interessante, independente de eventuais clichês e previsibilidade, onde
sabemos com certa antecedência a autoria dos assassinatos e a ideia toda do
roteiro envolvendo a múmia, o amuleto e a “criatura gato”. Por ser um filme voltado
especialmente para a televisão, as mortes são fora de cena com a silhueta de um
gato sinistro sempre antecedendo os assassinatos de vítimas com algum
envolvimento com o amuleto.
“O Amuleto Egípcio” explora as lendas ao redor do mundo sobre os
humanos se transformando em animais, como é o caso dos seguidores da Deusa Bast
que se transformavam em gatos que adquirem imortalidade ao beberem sangue
humano, num paralelo com as lendas dos vampiros que se transformavam em
morcegos nas terras selvagens da Transilvânia. Ou os homens assumindo formas de
lobos na Alemanha, de raposas na China, de leopardos na África, ou os esquimós
do Ártico cujos magos se transformavam em ursos.
Entre as curiosidades, o diretor Curtis Harrington tem em seu
currículo títulos como “A Noite do Terror” (Night Tide, 1961), “O Planeta
Pré-Histórico” (Voyage to the Prehistoric Planet, 1965), “Planeta Sangrento”
(Queen of Blood, 1966) e “Abelhas Assassinas” (Killer Bees, 1974), entre outras
bagaceiras divertidas. Para se adequar ao padrão de metragem mais curta de
filme para a TV, foram editados doze minutos que são desconhecidos e nunca
exibidos. Um dos atores coadjuvantes é creditado como Peter Lorre Jr., mas seu
nome verdadeiro é Eugene Weingand e não tem parentesco com o famoso ator
homônimo que se tornou ícone do cinema de horror contracenando com Boris
Karloff, Bela Lugosi, Vincent Price e outros mestres. O filme é uma homenagem
do diretor Curtis Harrington para os cultuados “Sangue de Pantera” (1942) e “A
Maldição do Sangue de Pantera” (1944) do cineasta Val Lewton.
(RR – 27/04/25)