Van Helsing - O Caçador de Monstros (Van Helsing, EUA / República Tcheca, 2004)

Fazendo parte da galeria dos grandes monstros clássicos do Horror estão o vampiro “Drácula”, a “Criatura de Frankenstein”, e o “Lobisomem”, personagens criados por escritores como Bram Stoker e Mary Shelley, e largamente explorados em uma infinidade de filmes ao longo de mais de um século de cinema. As mais famosas produções foram aquelas filmadas em preto e branco nos anos 30 e 40 pela “Universal” e as refilmagens a cores do estúdio inglês “Hammer” entre o final da década de 50 e meados de 70.
Outro personagem importante criado pelo irlandês Bram Stoker em sua obra “Drácula” (1897) foi o antropólogo holandês Prof. Abraham Van Helsing, um sexagenário mais conhecido como um incansável “caçador de vampiros” e estudioso de ocultismo e doenças exóticas, com uma missão histórica de combater o mal representado pelo sugador de sangue “Conde Drácula”. O personagem foi imortalizado principalmente pelo ator inglês Peter Cushing (1913 / 1994) em vários filmes da “Hammer”.
Os chamados “crossovers” ou cruzamentos entre os vários personagens num mesmo filme não é uma novidade no cinema pois a própria “Universal” já fez muito isso na década de 40, como na comédia de humor negro “Abbott & Costello Encontram Frankenstein” (48). E agora a produtora decidiu investir novamente numa mistura desses monstros clássicos sendo todos eles combatidos por um destemido Van Helsing, bem mais jovem e habilidoso com armas, apresentando uma nova visão das famosas criaturas utilizando os mais modernos recursos técnicos e efeitos especiais de uma tecnologia avançada que estão disponíveis nesse início de século XXI. O resultado pode ser visto em “Van Helsing – O Caçador de Monstros” (Van Helsing), que teve estréia mundial nos cinemas em 07/05/04, com direção e roteiro de Stephen Sommers, que fez o divertido “Tentáculos” (98), mas que é mais conhecido pelos seus dois filmes sobre múmias com o par central Brendan Fraser e Rachel Weisz, misturando muita aventura e ação, com excepcionais efeitos especiais, porém em histórias repletas de clichês e pouco horror.

A história é ambientada no final século XIX, onde o famoso caçador de monstros Dr. Gabriel Van Helsing (o australiano Hugh Jackman, mais conhecido como o Wolverine de “X-Men”), é um jovem mercenário a serviço de uma organização secreta religiosa sediada na cidade do Vaticano, em Roma, Itália, e que não se lembra de seu misterioso passado. Ele é enviado pelo cardeal Jinette (Alun Armstrong) numa missão no leste europeu, para combater o histórico vampiro Conde Vladislaus Drácula (o também australiano Richard Roxburgh). Em sua árdua empreitada, ele recebe a ajuda de Carl (David Wenham), um frade que lhe fornece armas especiais, inventadas e fabricadas por ele próprio.
Drácula tem um plano maléfico para procriar seus descendentes com suas três lindas noivas vampiras, Aleera (Elena Anaya), Verona (Silvia Colloca) e Marishka (Josie Maran). Porém, como todas as suas tentativas são frustradas com o nascimento de milhares de bebês sem vida, ele precisa do monstro de Frankenstein, que é uma criatura artificial não concebida por Deus, para numa experiência com aparelhos elétricos e a ação de relâmpagos, conseguir efetivar seu plano de reprodução e reanimar todas as crianças vampiras hibernadas em casulos. O poderoso conde vampiro recebe a ajuda nas experiências do servo deformado Igor (Kevin J. O’Connor), que era o assistente do Dr. Frankenstein.
Antes, em Paris, Van Helsing tem uma caçada mortal contra o maligno Sr. Hide (Robbie Coltrane), o lado monstruoso e insano do médico Dr. Jekyll (Stephen Fisher, que não disse uma única palavra), criação literária de Robert Louis Stevenson e levado às telas do cinema inúmeras vezes, primeiramente pela “Paramount”. Depois, no caminho até seu principal inimigo na Transilvânia, ele terá que enfrentar outros monstros que surgem para atrapalhar a missão, como a criatura de Frankenstein (Shuler Hensley), que veio ao mundo pelas mãos de um ladrão de túmulos, o cientista Dr. Victor Frankenstein (Samuel West), e um homem chamado Velkan (Will Kemp) que foi amaldiçoado por ter sido mordido por um lobisomem e obrigado a se transformar na criatura nas noites de lua cheia, sendo manipulado contra sua vontade por Drácula.
Entretanto, para auxiliá-lo na batalha, Van Helsing recebe a ajuda significativa da bela Anna Valerious (a inglesa Kate Beckinsale, de “Underworld”), uma guerreira irmã de Velkan e última descendente de uma antiga família historicamente inimiga de Drácula há quatro séculos.

Excelente fotografia de uma atmosfera sombria e monstros muito bem produzidos em efeitos especiais memoráveis, porém uma história pouco convincente priorizando essencialmente as cenas de ação e aventura, em detrimento de mais situações de horror num roteiro mais interessante. Esse é o resumo em poucas palavras de “Van Helsing – O Caçador de Monstros” (novamente eu gostaria de saber por que os responsáveis em nomear os filmes quando chegam no Brasil gostam tanto de inventar sub-títulos completamente desnecessários...).
Ou seja, o filme garante bons momentos de diversão desde que estejamos preparados para ver quase que exclusivamente durante mais de duas horas de projeção, seqüências bem filmadas de ação e aventura ininterruptas, além de correrias para todos os lados e muito barulho, tudo devidamente amparado por modernos efeitos de computação gráfica, onde o protagonista principal, o caçador de monstros Van Helsing, pode ser considerado um típico “Indiana Jones do Horror”. Existem muitas semelhanças com os filmes da série “A Múmia”, produzidos em 1999 e 2001, também de Stephen Sommers, no mesmo estilo de apresentação de um herói destemido que combate o mal. Acho que a melhor definição para “Van Helsing” é que trata-se de um intenso filme de aventura, e de forma secundária, traz elementos de horror através da participação dos monstros clássicos.
Entretanto, o visual desses monstros é até bem interessante numa criativa idéia de apresentar características diferentes daquelas que estamos acostumados a ver nos filmes anteriores. A criatura de Frankenstein tem uma aparência de morto-vivo, com seu corpo evidenciando orgãos internos como a placa de vidro no peito que permite ver o coração pulsando, além do cérebro exposto. E a transformação do Lobisomem não é daquela forma tradicional que mostra pausadamente o crescimento de grandes unhas, garras e dentes afiados, além dos pêlos aparecendo por todo o corpo. A fera assassina está na verdade dentro do homem amaldiçoado e vem à tona muito rapidamente, rasgando brutalmente a pele e surgindo de dentro para fora do corpo da vítima. E no caso do insano Sr. Hide, a materialização do lado maligno do Dr. Jekyll, a criatura lembra a mesma de “A Liga Extraordinária” (2003), com enormes braços desproporcionais ao resto do corpo.
Outro destaque notável é a sempre presença marcante das noivas vampiras voadoras, que de belíssimas mulheres quando na condição humana, transformam-se em terríveis e mortalmente ameaçadoras criaturas aladas e predadoras, cuja maior frustração é não conseguirem dar vida a sua imensa prole proveniente dos relacionamentos com Drácula.
Mas, “Van Helsing” apresenta mais erros do que acertos e ainda assim leva uma nota 5,5 (de 0 a 10) exclusivamente pelos esforços na área dos efeitos especiais. A história é pouco convincente, com um excesso de situações forçadas e inverossímeis, além de um final totalmente previsível e decepcionante. Tem a presença típica de um personagem atrapalhado responsável pelas piadas idiotas e cenas ridículas, e que no caso a responsabilidade desse papel é de Carl, o frade candidato a monge e assistente de Van Helsing. Tem a inevitável cena do beijo entre o herói e a mocinha, que ensaiaram o ato várias vezes até consumar o fato, numa cena desnecessária e descartável, inserida apenas para satisfazer aquela audiência menos selecionada. Sabemos que a criatura de Frankenstein não é essencialmente maligna, sendo mais uma vítima da ganância e arrogância do homem em querer imitar Deus. Porém, no filme, essa característica foi realçada em excesso, fazendo do monstro de Frankenstein um coadjuvante de bom coração que quase não transmite nenhuma imponência por sua imagem grotesca de um ser formado a partir de pedaços de cadáveres. Tanto que o roteiro piegas reservou um destino especial para ele. Sem contar que várias vezes durante o filme podemos pensar que estamos vendo o “homem aranha” em ação, pois são tantas as cenas onde vários personagens se utilizam de cordas para saírem voando pelos ares com uma desenvoltura e habilidade impressionantes, que chega a incomodar, atingindo o ápice numa seqüência onde o pesado monstro de Frankenstein certamente causou inveja à Tarzan quando saiu voando por uma corda numa fuga espetacular.
Não há dúvida que os efeitos especiais são excelentes, mas eles deveriam ser o “aperitivo” e não o “prato principal”, e “Van Helsing” funcionaria bem melhor se houvesse menos exageros numa aventura desenfreada, e mais atenção para um argumento interessante priorizando os elementos de horror que fizeram desses monstros clássicos um eterno pesadelo na história do cinema fantástico.

Mesmo sem saber os resultados de bilheterias de “Van Helsing” (e o orçamento foi bem alto, mais de US$ 150 milhões), os produtores trataram de agilizar a efetivação de alguns projetos envolvendo a franquia. Entre esses produtos está uma animação com os personagens do filme, com Van Helsing dublado pelo próprio Hugh Jackman, e que estará disponível no DVD que será lançado ainda em 2004. Existem planos também para uma série de televisão ambientada no mesmo universo ficcional do filme, e que será chamada de “Transylvania”, e até de uma seqüência que já estaria em fase de pré-produção em Praga, capital da República Tcheca, que foi o local das filmagens do primeiro filme.
É curioso notar como antigamente era bem mais difícil existirem continuações, onde os produtores pensavam bastante antes de investirem seu dinheiro, e hoje em dia as seqüências são tão comuns (e mais ainda com uma moda de “trilogias”) que são planejadas antes mesmo de se saber se haverá sucesso com o filme original e se será bem recebido pelo público. Isso se deve ao fato de talvez o retorno financeiro ser quase sempre garantido, ou pelo desempenho do filme nos cinemas ou pelas vendas mundiais dos diversos produtos relacionados.
Outras curiosidades interessantes são o fato da possibilidade do filme ter sido uma continuação para “Drácula de Bram Stoker”, dirigido por Francis Ford Coppola em 1992, onde o papel do caçador de vampiros Van Helsing foi interpretado por Anthony Hopkins. Inclusive, ele estava nos planos para fazer o mesmo papel novamente. E a cena de abertura filmada em preto e branco, ambientada no interior da Romênia, na Transilvânia, homenageando os clássicos “Frankenstein” (31) e “A Noiva de Frankenstein” (35), dirigidos por James Whale com Boris Karloff, onde um grupo de aldeões enfurecidos e portando tochas acesas e foices e machados, caminha decidido rumo ao castelo utilizado como laboratório para as experiências macabras do Dr. Frankenstein, e logo em seguida em direção ao moinho de vento onde o cientista e sua criatura são encurralados.

“Van Helsing – O Caçador de Monstros” (Van Helsing, 2004) # 250 – data: 08/05/04 – avaliação: 5,5 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com.br
blog: www.juvenatrix.blogspot.com.br
(postado em 03/03/06)

“Van Helsing – O Caçador de Monstros” (Van Helsing, Estados Unidos / República Tcheca, 2004). Universal Pictures. Duuração: 132 minutos. Direção e roteiro de Stephen Sommers. Produção de Bob Ducsay e Stephen Sommers. Produção Executiva de Sam Mercer. Fotografia de Allen Daviau. Música de Alan Silvestri. Edição de Bob Ducsay. Direção de Arte de Steve Arnold, Keith P. Cunningham, Giles Masters, Tony Reading e Jaromir Svarc. Desenho de Produção de Allan Cameron. Cenários de Cindy Carr e Anna Pinnock. Efeitos Especiais: Industrial Light & Magic. Site Oficial: www.vanhelsing.net . Elenco: Hugh Jackman (Dr. Gabriel Van Helsing), Kate Beckinsale (Anna Valerious), Richard Roxburgh (Conde Vladislaus Drácula), Shuler Hensley (Monstro de Frankenstein), Will Kemp (Velkan Valerious / Lobisomem), David Wenham (Carl), Elena Anaya (Aleera), Kevin J. O’Connor (Igor), Alun Armstrong (Cardeal Jinette), Silvia Colloca (Verona), Josie Maran (Marishka), Samuel West (Dr. Victor Frankenstein), Robbie Coltrane (Sr. Hide), Stephen Fisher (Dr. Jekyll), Tom Fisher, Dana Moravková, Zuzana Durdinova, Jaroslav Vízner, Marek Vasut.

Anjos da Noite - Underworld (Underworld, EUA / Alemanha / Inglaterra / Hungria, 2003)

Uma batalha imortal por supremacia

“Vampiros” e “Lobisomens” são algumas das mais fascinantes criaturas do Horror, e o cinema sempre procurou explorar da melhor forma possível o fascínio que esses monstros mitológicos despertam no público, através de uma infindável listagem de filmes de todos os níveis de qualidade imagináveis. Sobre isso, podemos dizer que é muito bem vinda a idéia de unir numa única produção esses dois tipos de seres misteriosos, e nesse caso envolvidos numa violenta batalha milenar travada num submundo sombrio, à margem da humanidade, cuja função parece ser mesmo apenas servir de alimento. Essa sangrenta e histórica guerra pode agora ser conferida em “Anjos da Noite – Underworld” (Underworld), do diretor estreante Len Wiseman e que entrou em cartaz nos cinemas brasileiros em 16/04/04.
O filme estreou nos Estados Unidos em 19/09/03, quase sete meses antes, e no Brasil recebeu um título meio equivocado, pois seria bem mais interessante manter apenas o nome original “Underworld” (que traduzindo seria algo como “submundo”) também para o lançamento por aqui. Com distribuição nacional da “Europa Filmes”, uma outra sugestão opcional de título poderia ser então “Demônios da Noite”, pois as criaturas do filme estão longe de anjos e muito mais próximos de criaturas sombrias e seres do inferno.

Durante centenas de anos, duas raças sobrenaturais e mortalmente inimigas estão travando secretamente uma guerra sangrenta numa metrópole gótica, um submundo escondido da humanidade. Esses seres são os aristocráticos vampiros, que vivem numa sociedade sofisticada, tendo como seu líder atual o arrogante Kraven (o irlandês Shane Brolly, de “Impostor”), substituindo temporariamente o adormecido chefe supremo Viktor (Bill Nighy), e como principal guerreira, Selene (Kate Beckinsale), e os lycans (ou lobisomens), criaturas ferozes que vivem em menor número nos subterrâneos, liderados por Lucian (Michael Sheen, de “Linha do Tempo”) e tendo como um de seus membros mais brutais e agressivos o gigante Raze (Kevin Grevioux).
Numa ronda noturna, a vampira Selene descobre a existência de uma grande quantidade de lycans vivendo nos subterrâneos da cidade, sendo que se acreditava que eles estivessem quase exterminados. Porém, ao contrário, os lobisomens estão ainda mais fortes e se organizando para um ataque planejado, podendo se transformar independente da aparição da lua cheia, além de utilizarem armas modernas como projéteis formados de raios ultravioletas, mortais aos vampiros. E estes por sua vez, são seres que não temem crucifixos e símbolos religiosos, não tem aversão ao alho e possuem reflexos nos espelhos, ao contrário do que normalmente sabemos sobre essas criaturas, e entre suas armas poderosas estão projéteis carregados com nitrato de prata, fatais contra os lobisomens.
Quando numa noite ocorre um violento confronto entre as duas raças numa estação de metrô, a vampira Selene descobre que seus inimigos estavam na verdade perseguindo um humano, mas aparentemente não como alimento e sim com um propósito misterioso. Decidida a investigar a verdade, ela descobre que o homem é um jovem médico chamado Michael Corvin (Scott Speedman), que foi mordido pelo líder Lucian e que por isso está condenado a se tornar um lobisomem na próxima lua cheia. Selene acaba protegendo e se apaixonando pelo humano, criando com esse amor proibido um enorme conflito interior pois ele se transformará num ser que é historicamente seu inimigo mortal. Enquanto isso, ela descobre também a existência de uma perigosa conspiração envolvendo os líderes da batalha entre vampiros e lobisomens, o mistério do sangue de Michael, cobiçado pelos lycans para uma experiência científica de criação de uma nova raça predadora e superior, e principalmente algumas revelações trágicas sobre seu passado, ainda como uma humana, além da origem da guerra e as razões que iniciaram o conflito que perdura por séculos.

“Underworld” possui fortes elementos e relações com outros filmes similares como principalmente as franquias “Blade” (na violência e profusão de sangue) e “Matrix” (no visual da cidade, vestuário e cenas coreografadas de lutas, com direito até ao já famoso e mais do que manjado efeito “bullet time”). Antes de assistir o filme, eu não estava muito entusiasmado pois apesar de gostar de vampiros e lobisomens e achar interessante um crossover entre eles, eu estava esperando ver apenas muita porrada e excesso de violência em detrimento de uma história bem contada, tendo como base os dois filmes da série “Blade” que particularmente não me agradaram tanto, justamente pelo excesso de sangue e um personagem herói cheio de habilidades, e também pela trilogia “Matrix”, com seu excesso de lutas e efeitos pirotécnicos, misturados numa história filosófica cansativa. Além da própria história de amor proibido, que poderia ser tornar um drama sem graça e previsível.
Porém, após assistir “Underworld”, fiquei surpreso e satisfeito com o resultado final, pois a violência das lutas faz parte de uma história interessante sobre uma guerra histórica entre vampiros e lobisomens, que inclusive desconsidera os elementos tradicionais presentes nas lendas que conhecemos sobre esses seres obscuros, fato em que não vejo problema algum, num exercício de liberdade de criação de seus poderes, principalmente pela substituição do misticismo pela ciência, uma vez que esses seres no filme foram criados por um vírus.
A história de amor entre Selena e Michael também foi bem discreta e não pareceu óbvia e banal como eu confesso que receava que acontecesse, com aqueles beijos cinematográficos e diálogos descartáveis que felizmente não ocorreram. As cenas de lutas lembraram demais “Matrix”, mas ainda assim não incomodoram tanto. A transformação dos lobisomens ficou um pouco abaixo do esperado, principalmente quando se sabe o quanto é possível fazer coisas incríveis com os efeitos especiais atuais, e quando se tem em mente situações similares em filmes nostálgicos mais antigos como “Grito de Horror” (The Howling), de Joe Dante, e “Um Lobisomem Americano em Londres” (An American Werewolf in London), de John Landis, ambos do início dos anos 80, e que mesmo sem os recursos de computação gráfica disponíveis hoje em dia, ainda são extremamente marcantes.
Algumas cenas de mortes são muito bem feitas, onde destaque-se uma seqüência envolvendo o corte cirúrgico de uma cabeça, bem no estilo já lançado pelo excepcional “Cubo” e utilizado como algo rotineiro depois em vários outros filmes como “Resident Evil – O Hóspede Maldito”, “Premonição 2”, “Treze Fantasmas” e “Navio Fantasma”, entre outros. Os cenários em estilo gótico, de um ambiente constantemente escuro, também foram bem produzidos realçando a característica de uma atmosfera visual de um submundo sombrio.

A história de “Underworld”, cujos comentários dizem ser baseada em jogos de R.P.G. – Role Playing Game (aliás, não creditados), deixou de forma proposital um enorme gancho para seqüências, e confirmando a tendência da realização de trilogias após o sucesso comercial do filme original (orçamento de U$ 24 milhões com uma renda bem superior a esse valor investido), os produtores anunciaram os próximos projetos da franquia. E em 17/03/06 entrou em cartaz nos cinemas brasileiros a continuação “Anjos da Noite: Evolução” (Underworld: Evolution), com a mesma direção de Len Wiseman e roteiro de Danny McBride (que curiosamente era coordenador de dublês), além de trazer novamente a dupla principal de atores, Kate Beckinsale e Scott Speedman.

CURIOSIDADES

- Os produtores de “Underworld” foram processados pela Editora “White Wolf Publishing Inc.” e pela escritora Nancy A. Collins, que alegaram que o filme tem grande quantidade de elementos baseados nos jogos interativos de R. P. G. “Vampiro: A Máscara” e “Lobisomem: Apocalypse”, assim como a história de amor de Selene e Michael, envolvendo criaturas de raças distintas e inimigas, teria sido inspirada no livro de Collins, “Amor de Monstros”.
- Numa jogada interessante de marketing promocional para o filme, foi lançado um jornal fictício chamado “The Underworld Chronicle” e distribuído nos cinemas americanos trazendo informações como sendo “reais” de uma violenta guerra entre vampiros e lobisomens, publicando detalhes sobre um enorme tiroteio numa estação de metrô e uma possível relação com a descoberta de uma mansão misteriosa que escondia estranhas armas com projéteis formados com nitrato de prata.
- No Brasil, o filme iria se chamar primeiramente “Underworld – A Noite dos Vampiros”, nome que foi alterado depois para o definitivo “Anjos da Noite – Underworld”, provavelmente porque a noite também é dos lobisomens.
- A campanha publicitária em nosso país incluiu a exposição de belos outdoors espalhados pela cidade de São Paulo, destacando o rosto da atriz Kate Beckinsale como a vampira Selene.
- O grandalhão ator negro Kevin Grevioux, que fez o papel do violento lobisomem Raze, também foi o co-autor da história de “Underworld”, que serviu de base para o roteiro final de Danny McBride. Como fã de ficção científica e formado em Engenharia Genética, Grevioux também escreve roteiros e livros. Curiosamente, ele tem uma voz natural carregada com tons extremamente guturais que mais parecem um demônio rosnando blasfêmias quando ele fala suas frases no filme, lembrando também a voz igualmente gutural de um outro ator negro e enorme, Michael Clarke Duncan (de “À Espera de Um Milagre”, “Planeta dos Macacos” (2001) e “Demolidor – O Homem Sem Medo”).
- A bela atriz inglesa Kate Beckinsale (de “Pearl Harbor”), que nunca tinha feito um filme de horror antes, recusou o convite para atuar antes mesmo de ler o roteiro de “Underworld”, que envolve o confronto entre vampiros e lobisomens, e somente aceitou o papel de Selene depois de ser convencida por seu empresário a conhecer a história e ver várias ilustrações interessantes sobre as criaturas, desenhadas pelo diretor Len Wiseman. Ela também participou de um outro filme de horror, “Van Helsing – O Caçador de Monstros”, da “Universal”, atuando ao lado de Hugh Jackman, e sob a direção e roteiro de Stephen Sommers (de “A Múmia”), com lançamento mundial em 07/05/04.
- Scott Speedman, o ator que interpretou o humano Michael Corvin que se transforma num lobisomem, teve que se submeter a um árduo trabalho de maquiagem que envolvia várias pessoas da equipe de produção e muitas horas na aplicação de próteses. O mesmo aconteceu com o veterano ator inglês Bill Nighy, que fez o papel do vampiro supremo Viktor, que estava adormecido num processo de mumificação, e que foi despertado por Selene.
- Tanto as filmagens externas quanto os interiores utilizaram locações na cidade de Budapeste, capital da Hungria, no leste europeu, onde os produtores encontraram as características de arquitetura ideais para o que foi imaginado em “Underworld”, sem contar a existência de um clima naturalmente sombrio na Hungria, envolvendo histórias ancestrais de vampiros e lobisomens.
- Os efeitos especiais, principalmente a concepção dos lobisomens, foram criados e supervisionados pelo francês Patrick Tatopoulos, conhecido profissional da área, tendo trabalhos importantes na criação de monstros para séries de TV como “Jornada nas Estrelas: A Nova Geração” e filmes populares de horror e ficção científica a partir dos anos 90 como “Drácula de Bram Stoker”, “Stargate”, “Independence Day”, “Godzilla”, “Supernova”, “A Reconquista” e “Eclipse Mortal”.
- O próximo projeto em conjunto entre o diretor Len Wiseman e o roteirista Danny McBride é o suspense sobrenatural “Black Chapter”, com produção da “Disney”.
- A “Lakeshore Entertainment” é um exemplo de um estúdio bem sucedido na produção de cinema independente. Criada em 1994 e localizada no terreno da famosa “Paramount”, em Hollywood, suas realizações mais recentes no gênero fantástico foram “O Dom da Premonição” (The Gift), de Sam Raimi e “A Última Profecia” (The Mothman Prophecies), com Richard Gere.
- Quando eu e o Marcelo Milici, webmaster do site de horror “Boca do Inferno” (www.bocadoinferno.com), estávamos a caminho de uma sessão especial de “cabine de imprensa” no Shopping Center Frei Caneca (São Paulo/SP), a convite da “Europa Filmes”, tivemos que enfrentar um trânsito incrivelmente lento, muito mais que o normal que já é tradicionalmente caótico. Fomos obrigados a desviar o caminho e por causa de uma direção errada (ou o famoso “Wrong Turn” dos filmes de horror) quase nos perdemos e chegamos atrasados para a exibição do filme (na verdade chegamos depois da hora marcada, mas tivemos sorte do filme atrasar seu início e não perdemos nada). E mais tarde descobrimos que todo aquele congestionamento infernal foi por causa de um buraco numa rua em obras que dá acesso a sempre concorrida e famosa Av. Paulista...

Nota do Autor: “Anjos da Noite – Underworld” gerou uma franquia com mais outros dois filmes, “Anjos da Noite – Evolução” (Underworld: Evolution, EUA, 2006) e “Anjos da Noite – Rebelião” (Underworld: Rise of the Lycans, EUA / Nova Zelândia, 2009).

“Anjos da Noite – Underworld” (Underworld, 2003) # 238 – data: 14/04/04 – avaliação: 7 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com.br
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(postado em 02/03/06)

Anjos da Noite – Underworld (Underworld, Estados Unidos / Alemanha / Inglaterra / Hungria, 2003). Lakeshore Entertainment / Screen Gems. Duração: 121 minutos. Direção de Len Wiseman. Roteiro de Danny McBride, a partir de história de Kevin Grevioux, Len Wiseman e Danny McBride. Produção de Gary Lucchesi, Tom Rosenberg e Richard S. Wright. Fotografia de Tony Pierce-Roberts. Edição de Martin Hunter. Direção de Arte de Kevin Phipps e Csaba Stork. Desenho de Produção de Bruton Jones. Figurinos de Wendy Partridge. Design das criaturas de Patrick Tatopoulos. Elenco: Kate Bechinsale (Selene), Scott Speedman (Michael Corvin), Michael Sheen (Lucian), Shane Brolly (Kraven), Bill Nighy (Viktor), Kevin Grevioux (Raze), Erwin Leder, Sophia Myles, Robbie Gee, Wentworth Miller, Zita Gorog, Dennis J. Kozeluh, Scott McElroy.

Um Grito Embaixo D´Água (2003)


Um Grito Embaixo D’Água” é um filme europeu, com produção alemã de 2001, que não deixa nada a desejar para os piores exemplos de horror adolescente com psicopata mascarado feito nos Estados Unidos, principalmente aqueles pertencentes à safra pós “Pânico” (Scream, 96), de Wes Craven. O filme tem todos os conhecidos clichês óbvios e desgastados, sem apresentar praticamente nada que já não se tenha visto largamente em produções anteriores. O pior é que também não demonstra nenhuma intenção de tentar mostrar algo novo, copiando livremente aquela mesma tradicional história de um assassino com o rosto coberto por uma máscara, motivado por ressentimentos de rejeição, matando com um facão vários adolescentes que estão fazendo uma festa secreta num clube aquático.

Um grupo de jovens ricos de diversas nacionalidades, os quais estudam numa escola internacional de classe alta em Praga, capital da República Tcheca, conclui o curso e se reúne para comemorar numa festa não oficial de formatura, invadindo ilegalmente um parque aquático privado. Dentre eles estão a loirinha Sarah (Kristen Miller), que tem medo de piscina por causa de um trauma motivado pela morte do pai afogado ao tentar salvá-la num acidente, o seu namorado e líder do grupo Greg (Thorsten Grasshoff), sua melhor amiga, a nadadora Carmen (Elena Uhlig), e outros amigos como o esquisito Frank (John Hopkins), o inexpressivo Chris (Jonah Lotan), o imbecil Mike (James McAvoy), que não liga para a bela namorada, e o delinquente Martin (Jason Liggett), que é especialista em arrombar portas e fraudar sistemas de segurança, sendo o responsável pela invasão ao clube aquático. Os outros jovens do grupo são Mel (Cordelia Bugeja), interesse romântico de Martin, o dispensável argentino Diego (Maximilian Grill), e o casal Carter (Bryan Carney) e Svenja (Linda Rybová), que parece que não foram contratados para atuar, mas apenas para morrer em cena.
Fazem parte ainda do convívio escolar do grupo a namorada de Mike, Kim (Isla Fisher), que não é filha de ricos como os outros e não conseguiu se formar, ficando magoada e deixando de participar da festa, e o casal Catherine (Anna Geislerová) e Oliver (Josef Peichal), que não tiveram oportunidade de comemorar pois foram os primeiros a sentir, ainda na casa da moça, a fúria de um psicopata assassino usando uma manjada máscara de caveira, além de uma roupa preta apertada ridícula e portando uma enorme faca para sangrar suas vítimas.
A partir daí, enquanto os jovens divertem-se nadando nas belas piscinas do clube, aproveitando o momento para beberem e transarem, o psicopata mascarado começa a agir retalhando os corpos de suas vítimas com seu facão manchado de sangue, despertando a atenção de um incompetente policial investigador, Kadankov (Jan Vlasák). Agora, todos juntos terão que lutar por suas vidas, pois ninguém ouvirá seus gritos embaixo d’água.

É curioso observar, e até difícil de entender, como existem profissionais do cinema dispostos a investir dinheiro e trabalho num filme completamente dispensável como esse “Um Grito Embaixo D’Água”. A resposta pode ser que apesar de contar uma história extremamente óbvia e explorada à exaustão, ainda existe um público que prestigia esses tipos de filmes, justificando suas produções e lançamentos em vídeo ao redor do mundo, onde o retorno financeiro certamente deve compensar com lucros os gastos efetuados.
O filme copia descaradamente vários clichês de outros similares e produzidos recentemente, como a cena de abertura (que encontra um paralelo em “Pânico”), com uma moça ao telefone falando com a mãe enquanto aguarda a chegada do namorado para jantar em casa. É óbvio que ambos terão seus corpos cortados pela lâmina afiada de um assassino. Ainda sem chegar ao clímax da história, com os jovens sendo chacinados na piscina do clube, existe uma sequência que lembra os tradicionais “slasher movies” dos anos 80, onde a personagem Kim é perseguida pelo psicopata numa floresta, em trajes de banho, após um mergulho num lago.
Já durante a festa na piscina, as cenas de perseguições, correrias, gritarias e mortes são todas comuns, não impressionando ou despertando um interesse maior, com exceção da morte bem dolorosa e sangrenta da personagem Svenja (que nome estranho...), quando ela descia alegremente por um enorme escorregador percebendo tarde demais a presença da arma do assassino estrategicamente posicionada para lhe dilacerar a vagina. Além de algumas cenas passadas no interior de uma tubulação de ar, transmitindo um incômodo sentimento de claustrofobia.
Dentre os vários furos no roteiro, é difícil deixar de registrar uma cena onde a personagem Mel está deitada num aparelho de levantamento de peso e é surpreendida pelo assassino, que derruba sobre seu peito uma barra de ferro com pesos. Alguns instantes depois, ela consegue se livrar da barra arremessando-a contra seu agressor como se fosse de papel, e foge para um vestiário. Outro momento de incompetência dos autores da história é quando dois dos personagens, os dispensáveis Chris e Diego, somem de cena numa sequência onde Greg sai à procura de sua namorada Sarah, entrando numa tubulação de ar. Eles somente voltam a aparecer discretamente no desfecho do filme, demonstrando que os roteiristas perderam uma grande oportunidade de utilizar melhor a presença dos jovens, nem que fosse pelo menos para transformar seus corpos em simples retalhos de carne nas mãos do psicopata.

Curiosamente, o desfecho previsível e totalmente sem graça ainda reserva uma pequena homenagem e citação ao filme “Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado” (97), um fato desnecessário e irrelevante, e que só serve para enfatizar ainda mais que “Um Grito Embaixo D’Água” é uma cópia sem criatividade de vários filmes americanos populares do final dos anos 90. Outro detalhe curioso é que pelo menos nesses tipos de filmes de horror adolescente com psicopata mascarado, as mulheres são jovens com belos rostos e corpos atraentes, e no caso desse filme, apenas a atriz Isla Fisher se destaca em termos de beleza (e apareceu muito pouco), sendo que as outras mulheres, além de interpretações ruins, especialmente a péssima atriz Elena Uhlig, ainda não são tão bonitas como seria esperado.

O filme foi lançado no mercado brasileiro de DVD no primeiro semestre de 2003 pela “Europa Filmes” (www.europafilmes.com.br), trazendo muito pouco material extra através de um trailer e um documentário de apenas 10 minutos com entrevistas de alguns atores e poucas cenas de bastidores das filmagens. O curioso é que durante as entrevistas, os atores utilizaram um discurso muito parecido, onde comentavam que estavam procurando uma oportunidade para participar de um filme de horror e que ficaram muito satisfeitos com o convite para estrelarem “Um Grito Embaixo D’Água” por causa do roteiro interessante. Sobre isso, podemos concluir que, ou os depoimentos são falsos e os atores foram obrigados politicamente a falarem bem do filme, ou eles são parecidos com os personagens que interpretaram e apreciam filmes de horror óbvios como esse.
A capa do DVD mantém o padrão comercial sem criatividade adotado para os filmes do mesmo estilo, destacando apenas os principais jovens atores que irão sentir em suas carnes a lâmina afiada da faca do psicopata mascarado. A tagline presente na capa é bem enganosa (“Você também perderá a respiração”), pois pelo menos no meu caso, minha respiração permaneceu normal durante todo o filme, numa prova de que a intenção dos produtores em tentar manipular a emoção do espectador não surtiu muito efeito.
Finalizando, o nome nacional “Um Grito Embaixo D’Água” é bem diferente do original em inglês (para distribuição pelo mundo) que traduzindo significa simplesmente “A Piscina”, um título que possui relação direta com os eventos da história, ou seja, um grupo de adolescentes se divertindo perigosamente num parque repleto de belas piscinas.

“Um Grito Embaixo D’Água” (The Pool, 2001) # 252 – data: 13/05/04 – avaliação: 4 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 02/03/06)

“Um Grito Embaixo D’Água” (The Pool / Swimming Pool / Der Tod Feiert Mit, Alemanha, 2001). Duração: 89 minutos. Direção de Boris von Sychowski. Roteiro de Boris von Sychowski, Lorenz Stassen e Ryan Carrassi. Produção de Benjamin Herrmann e Werner Possardt. Produção Executiva de Hanno Huth. Fotografia de Notker Mahr. Música de Johannes Kobilke. Edição de Sabine Mahr-Haigis. Desenho de Produção de Gerald Damovsky. Direção de Arte de Martin Vackar. Elenco: Kristen Miller (Sarah), Elena Uhlig (Carmen), Thorsten Grasshoff (Greg), John Hopkins (Frank), Isla Fisher (Kim), Jason Liggett (Martin), Jonah Lotan (Chris), Cordelia Bugeja (Mel), James McAvoy (Mike), Linda Rybová (Svenja), Bryan Carney (Carter), Maximilian Grill (Diego), Anna Geislerová (Catherine), Jan Vlasák (Kadankov), Josef Peichal (Oliver).

Todo Mundo em Pânico 3 (Scary Movie 3, EUA, 2003)

Os irmãos comediantes Keenan Ivory, Shawn e Marlon Wayans foram os criadores da série “Todo Mundo em Pânico” (Scary Movie) com dois filmes em 2000 e 2001, que exploravam basicamente os clichês habituais do cinema de horror (principalmente), tentando satirizar com bom humor uma infinidade de situações vistas em filmes modernos e clássicos como a série “Pânico” e seus infindáveis derivados do chamado horror adolescente como “Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado”, além de “O Sexto Sentido” e “A Bruxa de Blair” (no caso do primeiro filme), e “A Casa Amaldiçoada”, “O Homem Sem Sombra”, “Hannibal”, “Premonição”, “Revelação” e “O Exorcista” (na segunda parte). Sem deixar de citar também filmes populares como a trilogia de FC “Matrix” e o policial “As Panteras”, entre outros mais.
Dessa vez, dando seqüência à franquia, e visando a obtenção de lucro fácil, porém sem a presença dos irmãos Wayans que se afastaram do projeto, foi lançado “Todo Mundo em Pânico 3” (Scary Movie 3), criado agora pelo diretor David Zucker e pela roteirista Pat Proft, ambos especialistas em comédias. O filme estreou nos cinemas brasileiros em 09/01/04, enfocando principalmente paródias às fitas de horror “Sinais”, de M. Night Shyamalan, e “O Chamado”, de Gore Verbinski, além do drama urbano “8 Mile – Rua das Ilusões”, com citações ainda para “Os Outros”, de Alejandro Amenábar e “Matrix Reloaded”, dos irmãos Andy e Larry Wachowski.

Como “Todo Mundo em Pânico 3” tem como objetivo satirizar outros filmes e a “cultura pop” em geral, sua história acaba não importando muito mesmo, sem a necessidade de coerência ou lógica. Uma apresentadora de TV, a agora loira Cindy Campbell (Anna Faris), é enviada para investigar o misterioso surgimento de enormes sinais numa plantação da fazenda de Tom Logan (Charlie Sheen), que vive com sua filha pequena Sue (Jianna Ballard) e seu irmão George (Simon Rex), um incompetente aspirante à rapper e amigo íntimo do igualmente rapper negro Mahalik (Anthony Anderson).
Durante a investigação, a jornalista Cindy acaba tendo um romance com o panaca George e entra em contato também com um outro mistério, dessa vez envolvendo uma fita de vídeo amaldiçoada que causou a morte da professora de seu sobrinho, Brenda Meeks (Regina Hall), sete dias após ter assistido o conteúdo da fita.
Além de tudo isso, e para complicar ainda mais a história, ela entra em contato com outras figuras enigmáticas como a Tia ShaNeequa ou “Oráculo” (Queen Latifah), seu marido “Orpheus” (Eddie Griffin) e o solitário “Arquiteto” (George Carlin), precisando também ajudar o confuso e atrapalhado Presidente dos Estados Unidos (interpretado pelo veterano comediante Leslie Nielsen), para evitar uma invasão alienígena à Terra devido também à tal fita de vídeo amaldiçoada.

Confesso que não aprecio esses filmes de paródias, e não consigo achar engraçado muitas das cenas que são filmadas exatamente para serem comédias. Alguns dos poucos filmes que realmente gostei dentro desse gênero foram as produções inglesas “Dr. Fantástico” (64), de Stanley Kubrick, sátira à paranóia da guerra fria entre Estados Unidos e União Soviética e a constante ameaça nuclear, e “A Dança dos Vampiros” (67), de Roman Polanski, paródia aos filmes de vampirismo.
Os dois primeiros filmes da série “Todo Mundo em Pânico” não me despertaram nenhum interesse e somente gostei de uma seqüência no início do segundo filme satirizando o clássico “O Exorcista” (73), onde o ator James Woods interpreta um sósia do Padre Merrin na tentativa debochada de exorcizar uma menina possuída pelo demônio.
E agora com o lançamento do terceiro filme da franquia, a minha impressão de desinteresse se reforçou ainda mais, pois praticamente não consegui rir de nada. As poucas cenas que achei realmente engraçadas foram com os alienígenas, onde eles mostram algumas de suas excentricidades para o imbecil George Logan, como o curioso cumprimento de despedida (se a moda pega aqui na Terra, os efeitos seriam desastrosos para os homens...). Ou ainda uma cena envolvendo e surpreendendo o fazendeiro Tom Logan, que estava com algo não muito agradável na boca quando foi informado por onde os alienígenas costumam urinar. Um outro momento engraçado ocorreu também na apresentação das imagens bizarras contidas na misteriosa fita de vídeo que mata quem a assiste após sete dias, onde um homem pretende defecar num orifício semelhante a um poço, numa sátira da fita de vídeo maldita em “O Chamado”. Agora, a tal da Tabitha (Marny Eng) é uma verdadeira ofensa para as temíveis e malignas Sadako e Samara, de “Ringu” e “O Chamado”, respectivamente...
Mas, no final de “Todo Mundo em Pânico 3”, passados pouco menos de uma hora e meia de sua curta duração, fica a sensação de se ter visto um filme muito pouco engraçado e totalmente descartável, do tipo que se esquece facilmente e que se lembra apenas de algumas pequenas cenas realmente bem humoradas.
Como curiosidades, vale registrar a citação da nossa cidade de São Paulo como um local de evidência do surgimento dos alienígenas, numa cena hilária onde um extraterrestre está passando próximo a cachorros copulando, numa sátira à seqüência similar de “Sinais”. E também a homenagem ao ator Harrison Ford, que interpretou o Presidente americano em “Força Aérea Um” (97), numa cena onde seu retrato aparece numa sala presidencial.
A franquia “Todo Mundo em Pânico”, que conta com três filmes no momento, já tem previsão de produção de uma quarta parte ao longo de 2004, igualmente dirigida por David Zucker e escrita pelos mesmos roteiristas da parte 3, porém dessa vez o enfoque principal não será a paródia de filmes de horror, dando lugar agora aos filmes de super heróis.
O nome nacional “Todo Mundo em Pânico” é um dos exemplos de como os filmes são mal nomeados quando chegam ao Brasil. Seria muito mais fácil e coerente nesse caso apenas traduzir o original “Scary Movie” para algo como “Filme Assustador”, ou até manter o nome original que soa bem e é fácil de se pronunciar. Como curiosidade, no início da produção de “Todo Mundo em Pânico 3”, em 2002, o filme iria se chamar originalmente “Scary Movie 3: Episode I – Lord of the Brooms”, e o foco principal seria parodiar as franquias “Star Wars”, “Harry Potter” e “O Senhor dos Anéis”. E quase que o filme ainda seria chamado no Brasil como “Scary Movie – Um Susto de Filme 3”, cogitação de um nome tão infeliz que não merece nem comentários.
Outra curiosidade é o fato de duas atrizes do elenco terem participado de todos os três filmes interpretando os mesmos papéis. São elas, Anna Faris, como Cindy Campbell, e Regina Hall, como Brenda Meeks. Geralmente é difícil para os produtores conseguir manter os mesmos atores ao longo de uma franquia, devido a uma série de fatores como desinteresse do próprio ator (muitas vezes não querendo mais associar sua imagem à do personagem ou até mesmo ao filme), ou diferenças salariais, ou ainda agenda comprometida e questões contratuais diversas.
O filme estreou nos Estados Unidos em 24/10/03, ocupando o primeiro lugar de bilheteria com a expressiva marca de aproximadamente U$50 milhões somente na primeira semana de exibição, num imenso sucesso de público, e demostrando a grande aceitação dos fãs de cinema por filmes que exploram paródias e “besteirol” em geral.
O veterano diretor, produtor e roteirista David Zucker nasceu em 1947 no Estado americano de Wisconsin. Considerado um especialista em comédias, é muito conhecido por filmes como “Apertem os cintos... o piloto sumiu!” (80), “Top Secret!” (84) e “Corra que a polícia vem aí” (88). Seu trabalho mais recente é a comédia adolescente “A Filha do Chefe” (My Boss’s Daughter, 2003).
De todo o elenco, destacam-se apenas alguns nomes mais conhecidos como Charlie Sheen, Denise Richards, e o experiente comediante Leslie Nielsen. Sheen nasceu em 1965 e já tem mais de 60 filmes em seu currículo, como o drama de guerra “Platoon” (86), o western “Os Jovens Pistoleiros” (88) e a FC “Invasão” (96). Ele já possuía experiência em paródias pois participou de algumas como “Top Gang” (91) e “Top Gang 2 – A Missão” (93), satirizando os filmes no estilo de “Rambo”, e também “Máquina Quase Mortífera 1” (93). A bela atriz Denise Richards fez o papel de Annie Logan, a esposa do fazendeiro Tom, participando apenas de uma cena rápida satirizada de “Sinais”. Ela nasceu em 1971, e entre seus filmes estão “Tropas Estelares” (97), “Garotas Selvagens” (98), “007 – O Mundo Não é o Bastante” (99) e o descartável thriller de horror adolescente “O Dia do Terror” (Valentine, 2001). Já o canadense Leslie Nielsen nasceu em 1926, sendo muito conhecido por sua participação nas franquias de humor “Apertem os cintos, o piloto sumiu” e “Corra que a polícia vem aí”. Curiosamente, Nielsen iniciou sua carreira em 1956 estrelando o clássico da ficção científica “Planeta Proibido”, ao lado de Walter Pidgeon, Anne Francis e Warren Stevens, e somente passou a ser conhecido muitos anos mais tarde ao fazer uma infinidade de comédias.

“Todo Mundo em Pânico 3” (Scary Movie 3, EUA, 2003) # 215 – data: 10/01/04 – avaliação: 5 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com.br
blog: www.juvenatrix.blogspot.com.br
(postado em 02/03/06)

Todo Mundo em Pânico 3 (Scary Movie 3, Estados Unidos, 2003). Duração: 84 minutos. Dimension / Miramax. Direção de David Zucker. Roteiro de Craig Mazin e Pat Proft, baseados em personagens criados por Shawn Wayans, Marlon Wayans, Buddy Johnson, Phil Beauman, Jason Friedberg e Aaron Seltzer. Produção de Robert K. Weiss, Grace Gilroy, Phil Dornfeld e Kevin Marcy. Produção Executiva de Andrew Rona, Bob Weinstein, Harvey Weinstein e Brad Weston. Música de James L. Venable. Fotografia de Mark Irwin. Edição de Malcolm Campbell e Jon Poll. Desenho de Produção de William A. Elliott. Direção de Arte de William Heslup. Elenco: Charlie Sheen (Tom Logan), Simon Rex (George Logan), Anna Faris (Cindy Campbell), Regina Hall (Brenda Meeks), Denise Richards (Annie Logan), Leslie Nielsen (Presidente Harris), Queen Latifah (Tia ShaNeequa), Eddie Griffin (Orpheus), George Carlin (Arquiteto), Camryn Manheim (Oficial Champlin), Jianna Ballard (Sue), Jeremy Piven (Ross Giggins), Pamela Anderson (Becca), Jenny McCarthy (Kate), Marny Eng (Tabitha), Edward Moss (Michael Jackson), Anthony Anderson (Mahalik), Timothy Stack (Carson Ward), Elaine Klimaszewski (Elaine), Diane Klimaszewski (Diane).

Star Wars: Episódio III - A Vingança dos Sith (2005)


- Lord Vader!
- Sim, Mestre!
- Levante!
(diálogo entre Darth Sidious e Darth Vader)

Dessa pequena troca de palavras, numa montagem especial que aparece apenas num trailer promocional, surge um dos mais fascinantes vilões de toda a história do cinema. O temível e imponente Darth Vader, com a voz cavernosa de James Earl Jones e com sua tradicional armadura negra, tornou-se um ícone popular graças ao talento imaginativo de seu criador George Lucas, que o apresentou ao mundo na saga de aventura espacial e ficção científica “Guerra nas Estrelas” (Star Wars). Finalmente, agora sua história foi revelada com a explicação de sua origem em “Star Wars: Episódio III – A Vingança dos Sith” (Star Wars: Episode III – Revenge of the Sith), filme intensamente esperado por uma imensa legião de fãs e que teve lançamento mundial nos cinemas em 19 de Maio de 2005.
Eu me situo entre a multidão de admiradores da saga, a qual tive o raro privilégio de assistir todos os seis filmes em tela grande na época de seus lançamentos no Brasil, incluindo as versões estendidas da primeira trilogia filmada, lançadas em 1997 com cenas inéditas e acréscimos de efeitos especiais mais modernos. Dentre as mais populares e milionárias franquias do cinema fantástico da atualidade, ou seja, “Matrix”, “Harry Potter”, “O Senhor dos Anéis” e “Star Wars”, estas últimas são as que mais aprecio. Na verdade, não sou muito fã da trilogia “Matrix”, que apresenta ação, efeitos especiais e filosofia demais para diversão autêntica de menos (e nesse caso considero o primeiro filme como sendo o melhor da série). Também não apreciei muito os filmes do bruxo Harry Potter, cujas histórias parecem mais voltadas para um público infanto-juvenil.
Já a saga “O Senhor dos Anéis” achei simplesmente maravilhosa, uma odisséia de Fantasia com memoráveis elementos de horror e violentas cenas de batalhas, tanto que avaliei a nota 10 para toda a trilogia formada por “A Sociedade do Anel”, “As Duas Torres” e “O Retorno do Rei”. Acredito que o cineasta Peter Jackson, de cultuados filmes de horror como “Trash, Náusea Total” (87) e “Fome Animal” (92), atingiu o ápice do cinema de entretenimento, e que dificilmente será superado, ou mesmo igualado.
Quanto à franquia “Star Wars”, escrita, dirigida e produzida por George Lucas, com seus seis filmes divididos em duas trilogias, é um épico da Ficção Científica que, assim como “O Senhor dos Anéis”, também dificilmente encontrará um paralelo em alguma outra série similar. Ou seja, são marcas únicas que ficarão registradas para sempre na história do cinema e na memória de seus fãs, com suas histórias imortalizadas através dos filmes.
“Star Wars: Episódio III – A Vingança dos Sith” é uma seqüência de “Ataque dos Clones” (2002) e “A Ameaça Fantasma” (1999), os quais narram os eventos ocorridos cronologicamente antes da trilogia intermediária da saga, filmada há mais de vinte anos atrás, formada por “Star Wars: Episódio IV – Uma Nova Esperança” (77), “Star Wars: Episódio V – O Império Contra-Ataca” (81) e “Star Wars: Episódio VI – O Retorno de Jedi” (83). George Lucas havia há muito tempo atrás anunciado a intenção de filmar três trilogias, mas a última, que contaria os acontecimentos posteriores ao “O Retorno de Jedi”, parece que não será concretizada, conforme informações do próprio criador, que revelou seu desejo de não continuar a série no cinema.

A HISTÓRIA

Passaram-se três anos após a violenta batalha entre os andróides dos separatistas e os clones da República, travada no planeta “Geonosis” e conhecida como as “Guerras Clônicas”. O experiente Mestre Jedi Obi-Wan Kenobi (Ewan McGregor), agora também um respeitado General, acompanhado de seu aprendiz Anakin Skywalker (Hayden Christensen), agora também um cavaleiro treinado nas artes Jedi, partem numa missão de resgate do Chanceler Supremo Palpatine (Ian McDiarmid), seqüestrado e mantido como refém pelos líderes dos Separatistas, o Conde Dooku (o lendário Christopher Lee, eterno vampiro “Drácula” da “Hammer”), um antigo Jedi que passou para o lado negro da “Força” se transformando num Lord Sith, e o horrendo General Grievous (Voz de Matthew Wood), uma criatura orgânica misturada com andróide, num visual sinistro.
Palpatine retorna para “Coruscant”, mas a falta de confiança entre ele e os membros do Conselho Jedi, liderado principalmente pelos Mestres Mace Windu (Samuel L. Jackson) e a pequenina criatura verde Yoda (Voz de Frank Oz), se intensificam a ponto de romperem relações. Enquanto Anakin tenta manter em sigilo seu casamento com Padmé Amidala (a bela Natalie Portman), ele recebe a notícia de que será pai. Como sempre demonstrou um comportamento estranho, com constantes atos de indisciplina e falta de paciência, aumentando suas dúvidas quanto à filosofia Jedi, e uma vez atormentado por pesadelos que revelam um destino trágico para sua esposa durante o futuro parto, Anakin cada vez mais se aproxima do sinistro Chanceler Supremo Palpatine, que vagarosamente tenta transformá-lo em seu aprendiz nos ensinamentos do lado negro da “Força”.

COMENTÁRIOS

“Star Wars: Episódio III – A Vingança dos Sith” é nitidamente exagerado em efeitos especiais quando comparado aos três filmes do final dos anos 70 e início da década de 80. Mas esses efeitos são um show à parte, e sua imensa quantidade é justificável por dois motivos: primeiro que a tecnologia atual do cinema permite a criação de situações antes inimagináveis se tornando agora realidade, e segundo porque justamente o universo ficcional criado por George Lucas possui extrema complexidade, incluindo planetas exóticos, passando por alienígenas e naves espaciais de todos os tipos, até batalhas colossais no espaço (daí o título “Guerra nas Estrelas”) e em terra firme também. Essa complexidade exige inevitavelmente a interferência dos efeitos especiais para transformar em realidade os diversos eventos e torná-los convincentes para o espectador.
É quase inevitável não se impressionar com as belíssimas e imensas naves espaciais, ou os caças de combate, os enormes veículos de guerra em terra, a infinidade de variações de raças alienígenas e os planetas exóticos, com “Coruscant” aparecendo novamente com suas cidades imensas e intenso tráfego aéreo. E dessa vez somos apresentados às cavernas profundas de “Utapau”, onde ocorreu uma violenta batalha entre separatistas e clones da República, ou ainda o planeta “Mustafar”, repleto de rios de larva incandescente (que lembram o cenário opressivo de “Mordor” na saga de “O Senhor dos Anéis”), local de refúgio de alguns dos líderes separatistas e palco de uma luta sufocante de sabres de luz entre Anakin e Obi-Wan Kenobi.
Os fãs que acompanham a série sabem exatamente os destinos dos principais personagens em “A Vingança dos Sith” (ou seja, o que acontecerá com Anakin Skywalker, sua esposa Padmé, além de Palpatine / Darth Sidious, Yoda, Mace Windu, Obi-Wan Kenobi e outros), e os principais eventos também (derrubada do Conselho Jedi, ascensão do Império contra a República, o fortalecimento do lado negro da Força, o surgimento de Darth Vader, a revelação dos verdadeiros propósitos da criação do exército dos clones, a construção da Estrela da Morte, o nascimento de Luke e Léia, e outros). Isso porque justamente os acontecimentos desse filme necessariamente se encaminharão para a seqüência já conhecida do primeiro episódio filmado da série, “Uma Nova Esperança”. Mas, mesmo assim, a história não perde seu impacto em nenhum momento, levando o espectador a participar e interagir com os acontecimentos trágicos narrados sem se importar com sua previsibilidade.
Num determinado momento do filme, carregado de intensidade dramática, uma imensa reunião do Senado liderada por Palpatine, estava decretando uma nova ordem política de teor autoritário para toda a Galáxia, com a aceitação entusiasmada da platéia de líderes de várias raças alienígenas do Universo. Numa resposta decepcionada da Senadora Amidala, ela lamenta em voz baixa dizendo algo como “... assim acaba uma liberdade, com todos aplaudindo...”. Um comentário interessante, para se pensar...
Porém, nem tudo é tão positivo assim em “A Vingança dos Sith”. O roteiro de George Lucas falha em alguns momentos com frases clichês, forçadas demais, e apropriadas exclusivamente para facilitar o seu trabalho em amarrar todos os eventos entre si. Por exemplo, é sabido desde os episódios anteriores que Anakin Skywalker sempre teve um comportamento rebelde, psicologicamente instável e com atos de indisciplina, revelando aos poucos sua inclinação futura para o lado negro da “Força”, porém na cena em que ele interfere na luta entre o Mestre Jedi Mace Windu e Dath Sidious, sua decisão foi rápida demais e sua atitude posterior em invadir o templo dos Jedi e definir violentamente um destino trágico para os jovens aprendizes foi pouco convincente. E alguns diálogos entre ele e sua esposa Padmé também são bem sofríveis de tão óbvios e superficiais. Mas, se o roteiro tem momentos fracos, o resto do filme compensa com as impressionantes cenas de guerra e lutas com os sabres de luz.
Basicamente, a saga “Star Wars” é um eterno duelo de disputas pelo poder entre o “Bem” (representado pelos Cavaleiros Jedi e a democracia da República) e o “Mal” (personificado pelo lado sombrio da “Força” através dos Sith e o Império Galático com um regime político opressivo e ditatorial). E os seis filmes da série procuram contar a história de Anakin Skywalker, desde sua infância como escravo, sua adolescência e juventude como um aprendiz que se tornou Jedi e a conversão para o lado negro na ascensão de Darth Vader, enquanto em paralelo a República enfrenta uma grave crise política com separatistas que formam o Império. Ou seja, começa com uma “Ameaça Fantasma” provocada por Anakin ainda criança, passando por um “Ataque dos Clones” contra o exército de andróides dos separatistas, e culminando com a “Vingança dos Sith”, na tomada do poder pelo “Mal”. Depois, surge “Uma Nova Esperança”, com o treinamento Jedi do jovem Luke Skywalker e a Princesa Léia liderando os rebeldes da República, enfrentando a fúria do “Império Contra-Ataca”, e terminando finalmente com “O Retorno de Jedi”, com os cavaleiros do “Bem” retomando suas posições na galáxia. Como tudo na vida, sempre existem os dois lados da moeda, e assim como há o “Bem”, também existe o “Mal”, e justamente o maior desafio é encontrar um ponto de equilíbrio entre os dois. E confesso que no caso de “Star Wars” fui atraído para ambos os lados, às vezes me identificando com os Jedi, torcendo principalmente por Obi-Wan Kenobi e Yoda, e às vezes foi inevitável a identificação com Darth Vader, principalmente agora que sabemos toda a trajetória de sua vida conturbada, tornando-se um vilão fascinante. Dizem que toda unanimidade é burra, e então eu proponho que a escolha não seja nem o “Bem” nem o “Mal”, e sim apenas um equilíbrio entre ambos.

CURIOSIDADES

Entre a infinidade de curiosidades, vale destacar algumas. Os atores Anthony Daniels e Kenny Baker, que interpretaram os divertidos robôs C-3PO e R2-D2 respectivamente, são os únicos que participaram de todos os seis filmes da saga. Outros atores que também tiveram várias participações são Frank Oz, como a voz de Yoda, que esteve em cinco filmes, e James Earl Jones, que fez a voz gutural de Darth Vader, aparecendo em quatro filmes. Mas Peter Mayhew (como o gigantesco peludo Wookie Chewbacca) e Ian McDiarmid (o Chanceler Supremo Palpatine e também o obscuro Darth Sidious) igualmente estiveram em quatro filmes da série. O personagem Obi-Wan Kenobi, um importante Mestre Jedi, apareceu em todos os seis episódios, mas na primeira trilogia filmada ele foi interpretado por Alec Guinness, e na trilogia seguinte (de eventos anteriores), o papel foi feito pelo talentoso Ewan McGregor.
Na primeira trilogia filmada o vilão Darth Vader foi interpretado por David Prowse e em “A Vingança dos Sith”, o papel foi desempenhado por Hayden Christensen, que ganhou uma armadura negra especialmente projetada para seu tamanho, e sua diferença de altura para Prowse (que é maior) foi compensada com truques de câmera nas gravações. Aliás, o ator Bob Anderson foi o responsável pelas cenas de lutas de Darth Vader em “O Império Contra-Ataca” e “O Retorno de Jedi”, e Sebastian Shaw foi o ator que fez Anakin deformado na cena em que seu capacete negro é retirado em “O Retorno de Jedi”.
O ator Temuera Morrison, que fez o papel do caçador de recompensas Jango Fett em “Ataque dos Clones”, voltou à saga como o Comandante Cody, e o próprio cineasta George Lucas aparece numa ponta não creditada como um alienígena azul chamado de Barão Papanoida, na única vez em que ele participou como ator em toda a série. Outro ator que retorna é Ahmed Best, numa participação ultra rápida e sem falas como Jar Jar Binks, o alienígena tagarela e atrapalhado de “A Ameaça Fantasma”, que não agradou muito e por isso mesmo teve suas características alteradas no episódio seguinte, “Ataque dos Clones”, sendo um personagem mais sério e com responsabilidade política. O Governador Tarkin, que no primeiro filme da saga foi interpretado pelo genial Peter Cushing (morto em 1992), aparece agora mais jovem numa participação rápida no final do filme, feito dessa vez por Wayne Pygram.
O título “A Vingança dos Sith” foi inspirado num nome alternativo do terceiro filme da primeira trilogia filmada, que seria “A Vingança dos Jedi”. Porém, esse nome foi abandonado e substituído pelo definitivo “O Retorno de Jedi”, com a explicação de George Lucas que os Mestres Jedi não possuem comportamentos motivados por sentimentos de vingança.
Com um orçamento de US$ 115 milhões, as filmagens foram todas realizadas em estúdio, com os atores atuando com uma tela azul ao fundo, onde depois seriam acrescentados os efeitos de computador simulando os cenários e ambientes externos.

Nota: O filme foi lançado no mercado brasileiro de DVD pela “Fox” em 01/11/05, em dois discos. Entre os extras temos aproximadamente 6 horas de materiais interessantes como cenas excluídas, galeria de fotos, comentários em áudio e em texto (legendas) de George Lucas e equipe, documentário e featuretes, trailers e spots de TV, documentários para a WEB, e demo de videogames.

“Star Wars: Episódio III – A Vingança dos Sith” (Star Wars: Episode III – Revenge of the Sith, 2005) # 315 – data: 21/05/05 – avaliação: 10 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 01/03/06)

Star Wars: Episódio III – A Vingança dos Sith (Star Wars: Episode III – Revenge of the Sith, Estados Unidos, 2005). 20th Century Fox / Lucasfilm. Duração: 140 minutos. Direção e roteiro de George Lucas. Produção de Rick McCallum. Produção Executiva de George Lucas. Música de John Williams. Fotografia de David Tattersall. Direção de Arte de Ian Gracie, Phil Harvey, David Lee e Peter Russell. Desenho de Produção de Gavin Bocquet. Edição de Roger Barton e Ben Burtt. Efeitos Especiais: Industrial Light & Magic. Elenco: Ewan McGregor (Obi-Wan Kenobi), Natalie Portman (Senadora Amidala / Padmé Naberrie-Skywalker), Hayden Christensen (Anakin Skywalker / Darth Vader), Ian McDiarmid (Chanceler Supremo Palpatine / Darth Sidious), Samuel L. Jackson (Mace Windu), Frank Oz (Voz de Yoda), Anthony Daniels (Robô C-3PO), Kenny Baker (Robô R2-D2), Christopher Lee (Conde Dooku / Darth Tyranus), Peter Mayhew (Chewbacca), Jimmy Smits (Senador Bail Organa), Ahmed Best (Jar Jar Binks), James Earl Jones (Voz de Darth Vader), Matthew Wood (Voz do General Grievous), Michael Kingma (Tarfful, Wookie), Temuera Morrison (Comandante Cody), George Lucas (Barão Papanoida, não creditado).

Star Wars: Episódio II - Ataque dos Clones (Star Wars: Episode II – Attack of the Clones, EUA, 2002)

Uma aventura de ficção científica repleta de ação e efeitos especiais modernos, com história ambientada no fantástico universo de Star Wars, criado por George Lucas, e representante absoluto do cinema comercial de entretenimento e de grandes bilheterias. Resumindo em poucas palavras, isso significa “Star Wars: Episódio II – Ataque dos Clones” (Star Wars: Episode II – Attack of the Clones), que estreou nos cinemas brasileiros em 01/07/02, oportunamente no início das férias escolares. É o segundo filme da trilogia inicial da popular saga de “space opera” e seqüência de “Star Wars: Episódio I – A Ameaça Fantasma” (1999). Juntos, eles trazem os acontecimentos que antecederam os eventos narrados na famosa trilogia filmada entre o final dos anos 1970 e início da década de 1980, formada por “Star Wars: Episódio IV – Uma Nova Esperança” (1977), “Star Wars: Episódio V – O Império Contra-Ataca” (1981) e “Star Wars: Episódio VI – O Retorno de Jedi” (1983).
Novamente dirigido por George Lucas, nesse segundo episódio da franquia, passados 10 anos de “A Ameaça Fantasma”, o jovem Anakin Skywalker (Hayden Christensen) tem agora 19 anos de idade e é um “padawan”, ou seja, um aprendiz aspirante à cavalheiro Jedi, treinado nos poderes da “Força” pelo mestre Obi-Wan Kenobi (Ewan McGregor). Eles foram chamados para garantir a segurança da agora Senadora da República Padmé Amidala (Natalie Portman), que era rainha do planeta “Naboo” no “Episódio I”, após ela ter sofrido um atentado contra sua vida planejado por separatistas políticos da República ao chegar no planeta “Coruscant”, centro de comando do Conselho dos Cavalheiros Jedi. Os separatistas estão organizando uma guerra civil com centenas de milhares de robôs, liderados pelo sinistro Conde Dookan / Darth Tyranus (Christopher Lee), um veterano cavalheiro Jedi que se voltou para o lado negro da “Força”. Os andróides estavam sendo construídos secretamente no planeta “Geonosis”, e para combatê-los, a favor da República, também havia a formação em segredo por vários anos, de um imenso exército de soldados clones, gerados a partir de um caçador de recompensas humano, Jango Fett (Temuera Morrison), os quais estavam sendo criados por uma raça altamente inteligente no planeta chuvoso “Kamino”.
Enquanto os jovens Anakin Skywalker e Padmé Amidala inevitavelmente se apaixonam, apesar das dificuldades impostas ao romance que entra em conflito com o código de ética Jedi e com a carreira política da senadora, o Mestre Jedi Obi-Wan Kenobi parte numa missão para descobrir os autores do atentado e numa investigação localiza ambos os exércitos de clones e andróides, relatando suas descobertas para o Conselho Jedi em “Coruscant”, formado principalmente pelos mestres Yoda (voz de Frank Oz) e Mace Windu (Samuel L. Jackson).
Após muitas lutas, perseguições, reviravoltas e conspirações políticas confusas envolvendo principalmente o sinistro Senador Palpatine / Darth Sidious (Ian McDiarmid), além de uma violenta batalha entre os clones da República e os robôs dos separatistas, as guerras clônicas (citada por Obi-Wan Kenobi em “Guerra nas Estrelas” / 1977) tem seu início reservando ainda muita aventura para o próximo episódio da saga.
Dois atores merecem um destaque especial em “Ataque dos Clones”: Christopher Lee e Samuel L. Jackson. O Conde Dookan é interpretado pelo magnífico e veterano Lee, imortalizado como um dos grandes astros do cinema de horror, e por seu papel do vampiro “Drácula” em inúmeros filmes dos anos 1960 e 70. Ele também apareceu como um dos vilões do primeiro filme da saga “O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel”, constituindo-se essas participações em justas homenagens para um ícone do cinema fantástico. Jackson é outro ator que deve ser enaltecido por ser um dos melhores em seu ofício na atualidade, ele que interpretou tanto em “A Ameaça Fantasma” quanto neste segundo filme da saga, o Jedi Mace Windu, um dos membros de elite do Conselho.
Como curiosidades, o personagem Jar Jar Binks (voz de Ahmed Best), que teve grande participação no “Episódio I” como uma criatura atrapalhada que protagoniza diversas cenas de humor, e que não foi bem aceito pelos fãs na época, tem agora um papel pequeno e discreto (dessa vez sem piadas), onde ele acaba sendo o substituto de Amidala no Senado da República (como ele evoluiu em dez anos...). E os engraçados robôs R2D2 (Kenny Baker) e C3PO (Anthony Daniels) voltaram a se encontrar e a garantir as ótimas cenas humorísticas que já são uma marca característica ao longo da saga. Outro fato curioso é que no original o maligno e principal líder dos separatistas da República chama-se “Dooku”, e que na versão brasileira do filme foi transformado em “Dookan”, e o falecido mestre Jedi “Sypho Dias” do original foi modificado para “Saifo Vaias”, devido às complicações evidentes que a pronúncia desses nomes no nosso idioma geraria entre o público.
Algumas seqüências são grande destaque como a batalha travada na arena do planeta vermelho “Geonosis”, entre os clones e os andróides, numa overdose sufocante de cenas de guerra, e em especial um momento antológico envolvendo o confronto direto entre Dookan e Yoda, numa magistral luta com sabres de luz e poderes da mente e que curiosamente lembra um duelo similar no clássico do horror “O Corvo” (1963), onde os mágicos interpretados pelos imortais atores Vincent Price e Boris Karloff se confrontam com seus poderes numa sucessão magnífica de cenas. Alguns outros pontos altos desse “Episódio II” são a belíssima fotografia e os impressionantes efeitos especiais a cargo da “Industrial Light & Magic” ao retratar os diferentes e exóticos planetas que aparecem na trama, como o super populoso “Coruscant” com seus imponentes prédios e intensos tráfegos aéreos de naves; “Naboo” com suas lindas paisagens entre montanhas, lagos e cachoeiras; “Tatooine” com seus imensos desertos de areia, e os até então inéditos “Kamino”, sempre envolto em tormentas e ventos fortes, e “Geonosis”, repleto de rochas e clima árido, e com sua imensa população de seres voadores que lembram disciplinadas formigas trabalhadoras.
“Ataque dos Clones”, assim como seu antecessor “A Ameaça Fantasma” procuram explicar os eventos que antecederam a história que já foi contada há vários anos atrás por George Lucas, tendo como principal enfoque a vida de Anakin Skywalker quando garoto (“Episódio I”) e adolescente (“Episódio II”), seu envolvimento amoroso com Amidala e que gerou seus filhos Luke e Léia, que tiveram importantes participações posteriores na trama, culminando com sua passagem para o lado negro da “Força” vindo a se transformar no temível vilão Darth Vader, um dos mais poderosos do universo, e que deverá ocorrer no próximo capítulo, assim como a criação do Império.
Aliás, nesse “Episódio II” já podemos notar claramente o temperamento rebelde de Anakin com atitudes de indisciplina, falta de concentração aos ensinamentos, idéias distorcidas, como quando diz para Amidala que não aprecia política e defende a manutenção da ordem mesmo que seja por tirania e ditadura, e atos movidos pelo ódio, como no momento em que massacrou o povo da areia em “Tatooine” ao resgatar sua mãe, Shmi Skywalker (Pernilla August), seqüestrada por eles.
De negativo a ser mencionado, são as monótonas cenas do romance “proibido” entre o jovem Skywalker e Amidala que atrapalharam um pouco o ritmo de ação da movimentada aventura, porém isso é até compreensível devido à importância dessa relação amorosa para o contexto da saga e os acontecimentos que viriam a surgir a partir desse fato.
Porém, o mais importante para quem procura diversão no cinema é relaxar e viajar juntamente com os fascinantes personagens e mundos do universo de “Star Wars”, mergulhando em mais uma aventura intergaláctica em meio ao misterioso espaço infinito, com suas incontáveis criaturas, planetas estranhos, conspirações políticas e “guerras nas estrelas”...

Nota: O filme foi exibido pela primeira vez na televisão aberta em 16/05/05, pela TV Record, um Domingo à noite, aproveitando o momento oportuno em que “Star Wars: Episódio III – A Vingança dos Sith” entraria em cartaz nos cinemas na Sexta-feira seguinte em 20/05.

“Star Wars: Episódio II – Ataque dos Clones” (Star Wars: Episode II – Attack of the Clones, Estados Unidos, 2002) – avaliação: 8,5 (de 0 a 10)
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(postado em 01/03/06)

A Sétima Vítima (Darkness, EUA / Espanha, 2002)

Existem filmes que são lançados aqui no Brasil diretamente no mercado de vídeo, e outros que ganham uma oportunidade nos cinemas. Nem sempre essa política de lançamento recebe a atenção que deveria, com um estudo mais aprimorado e cuidadoso dos filmes que chegam até nós. Como resultado de um trabalho feito de forma deficiente e precária, temos uma série de possibilidades, desde o lançamento direto em vídeo de filmes interessantes que mereceriam também uma exibição anterior nas telas grandes (por exemplo, “Garganta do Diabo”), ou o contrário, filmes ruins que passam em nossos cinemas e deveriam ser completamente ignorados (como “Anaconda 2: A Caçada Pela Orquídea Sangrenta”), sendo que a melhor estratégia para eles seria o lançamento direto para o vídeo.
E ainda temos outras variações como filmes muito bons que demoram demais para estrearem nos cinemas brasileiros (caso do remake de “O Massacre da Serra Elétrica”, 2003), e outros que ganham espaço nos cinemas, mas sem nenhuma campanha de divulgação, jogados literalmente em poucas salas e dificultando demais o acesso pelo público (como aconteceu com o interessante thriller francês “Rios Vermelhos 2: Anjos do Apocalipse”). Esses comentários são apenas para os casos de filmes que chegam ao Brasil, sendo que muito pior que isso é a infinidade de excelentes outros exemplos de todas as épocas e subgêneros do horror, produzidos ao redor do mundo, que ainda continuam inéditos por aqui, e que muitos deles provavelmente nem serão lançados.
A Sétima Vítima” (Darkness, 2002) é mais uma co-produção entre os Estados Unidos e Espanha, através do estúdio “Fantastic Factory” de Brian Yuzna e Julio Fernández, e que estava previsto inicialmente para entrar em cartaz em nossos cinemas em 26/11/04 e foi adiado para a semana seguinte, em 03/12. Com a mudança, haveria a coincidência com a estréia super atrasada também da refilmagem “O Massacre da Serra Elétrica”, que por causa disso foi transferida mais uma vez. “A Sétima Vítima”, que deveria ter recebido simplesmente o nome “Escuridão” como no original, bem mais apropriado com a temática de sua história, faz parte daquele grupo de filmes muito bons que demoraram demais para entrar no circuito de exibição nas telas grandes, além de ser disponibilizado apenas em poucas salas e de forma quase despercebida, com pouca divulgação na imprensa, atrapalhando muito para o público que aprecia o horror em tentar conferir sua exibição.

Na história, uma antiga criatura vive oculta nas trevas, habitando à espreita uma casa desde que foi invocada há longos quarenta anos atrás. Abandonado, o misterioso ser apenas fica aguardando a chegada de uma nova família no local para poder colocar em prática um plano diabólico.
Uma família americana se muda para a Espanha, indo morar num casarão um pouco afastado da cidade. Formada pelo pai Mark (Iain Glen), portador de uma doença rara que em momentos de crise manifesta-se através de uma perigosa e violenta instabilidade nervosa, a mãe Maria (Lena Olin), uma enfermeira, além do casal de filhos, a bela adolescente Regina (Anna Paquin), que gosta de natação, e o caçula Paul, que passa o tempo livre fazendo desenhos.
Aos poucos, a ocorrência de fatos estranhos e misteriosos revela a existência de um segredo obscuro no passado da casa, causando uma série de conflitos que abalam a estrutura da família. O funcionamento intermitente da energia elétrica, os desenhos sinistros feitos por Paul, mostrando crianças feridas violentamente na garganta, e as aparições macabras de vultos escondidos nos cantos, entre outros eventos incomuns, acabam criando um clima de tensão no ambiente. E para aumentar ainda mais o mistério, surge também um homem enigmático, o arquiteto Villalobos (Fermín Reixach), que passa a observar do lado de fora a casa e a nova família que a está habitando, geralmente à espreita sob pesada chuva.
A jovem Regina sente-se extremamente incomodada na casa e percebe o estranho comportamento do irmão mais novo, em cujo corpo aparecem machucados inexplicáveis, e que diz estar sendo observado constantemente por crianças que o odeiam. Perturbada com a insólita situação, ela pede ajuda para um amigo espanhol fotógrafo, Carlos (Fele Martínez), e também para seu avô, o médico Albert Rua (Giancarlo Giannini), cujo passado reserva uma série de surpresas e revelações.

Sinceramente, eu não esperava muito de “A Sétima Vítima”, principalmente depois de constatar a passagem despercebida em nossos cinemas e a pouca atenção com a divulgação promocional do filme, além de ler a sinopse que revela tratar-se novamente de um tema já muito explorado no gênero fantástico, a velha casa que esconde um segredo obscuro envolvendo uma profecia amaldiçoada num ritual de violência e sangue para a invocação do mal absoluto. Sem falar que a história não apresenta elementos novos, apenas reciclando idéias desgastadas como a presença perturbadora de crianças e o tema da escuridão. Mas, principalmente a partir da segunda metade, com a história atingindo seu clímax com revelações importantes sobre a trama, além de um desfecho ousado e apropriado, o filme surpreendeu e merece uma atenção especial.
Entre os destaques, vale registrar as cenas no interior da casa onde vultos de crianças aparecem à espreita nas sombras, e o final fora do convencional, marcante e carregado de pessimismo, onde os produtores não tiveram receio em desagradar o grande público que sempre prefere as conclusões óbvias e tradicionais (uma prova disso eu testemunhei na sessão em que vi o filme, onde percebi uma reação de desaprovação das pessoas com o final, ou porque não entenderam completamente ou porque se decepcionaram com a mensagem proposta). Para os fãs do cinema de horror, e não aqueles apreciadores de cinema comercial em geral, o final é um dos melhores do ano de 2004, rivalizando apenas com o remake de “Dawn of the Dead”.
Já entre os pontos baixos em “A Sétima Vítima”, estão os clichês representados pela presença misteriosa de crianças, uma marca registrada em vários filmes de horror produzidos nos últimos anos, num tema que está se tornando desgastante, além das inevitáveis situações forçadas do roteiro como por exemplo quando a bela Regina pede para o amigo Carlos levar de carro a mãe e o irmão para o hospital acompanhar a internação do pai doente (tinha acabado de sofrer uma crise de nervos), e ela fica sozinha na casa durante a noite, numa atitude insensata (mas providencial para os roteiristas) com o objetivo de enfrentar os mistérios do interior da mansão e tentar descobrir algo revelador sobre os estranhos acontecimentos envolvendo sua família e o lugar.
Curiosamente, no final de semana de estréia de “A Sétima Vítima” em nossos cinemas, houve também a exibição de outros três filmes de horror na televisão aberta, privilegiando o fã desse gênero. Além de “Octopus” (2000), sobre um polvo gigantesco que ataca um submarino, e o slasher “Wishcraft: Feitiço Macabro” (2002), sobre um totem mágico que permite a realização de qualquer desejo, ambos os filmes fracos e logo esquecidos, tivemos a exibição do excelente “Cães de Caça” (Dog Soldiers, 2002), uma produção de baixo orçamento e muita criatividade sobre lobisomens extremamente agressivos.

O produtor, cineasta e roteirista Brian Yuzna é um nome conhecido do cinema fantástico, diretor de filmes como “A Noiva do Re-animator” (90) e um dos episódios de “Necronomicon: O Livro Proibido dos Mortos” (93). Ao se unir ao produtor espanhol Julio Fernández eles criaram o estúdio “Fantastic Factory”, especializado em filmes de horror com a maioria da equipe técnica e locações na Espanha. Dessa parceria, além do thriller sobrenatural “A Sétima Vítima”, surgiram outros filmes que já foram lançados no Brasil em vídeo como “Faust – O Pesadelo Eterno” (Faust – Love of the Damned, 2000), “Arachnid” e “Dagon” (ambos de 2001), “Re-animator: Fase Terminal” (Beyond Re-animator, 2003) e “Romasanta – A Casa da Besta” (Romasanta – The Werewolf Hunt, 2004), além de outros em fase de produção como “Rottweiler”, “The Nun” e “Beneath Still Waters”.
“A Sétima Vítima” teve um orçamento de US$ 12 milhões e foi lançado em vídeo nos Estados Unidos com um outro título original alternativo, trocando o manjado “Darkness” para o igualmente comum “The Dark”. O motivo da mudança é evitar um transtorno no público menos atento que poderia confundir o nome com o de outro filme recente, “Darkness Falls”, que recebeu o título de “No Cair da Noite” quando foi lançado por aqui nos cinemas em 28/03/03.
Aliás, como o tema tanto de “No Cair da Noite” quanto de “A Sétima Vítima” é a escuridão, para encerrar esse artigo vale a pena reproduzir um pequeno texto do escritor Dennis Weatley (que também citei em minha análise crítica de “Darkness Falls”), transcrito do final do filme “Uma Filha Para o Diabo” (To the Devil a Daughter, 1976), com o genial Christopher Lee:

Na luz todas as coisas florescem e reproduzem... Na escuridão elas decaem e morrem. Eis porque nós devemos seguir os ensinamentos dos senhores da luz

Sobre isso, não posso deixar de reconhecer a sabedoria dessas palavras, principalmente depois de assistir “A Sétima Vítima”, mas também não posso deixar de revelar o quanto a escuridão exerce em nós, apreciadores do Horror, um misterioso fascínio com suas trevas escondendo um mundo habitado por criaturas indizíveis, e um macabro universo repleto de sensações desconhecidas, aguardando apenas serem exploradas.

O filme foi lançado no mercado nacional de DVD pela “Europa” em Julho de 2005 trazendo como materiais extras: trailer, cenas de bastidores, entrevistas, notas sobre o elenco e o diretor Jaume Balagueró, além de um depoimento do cineasta sobre “Medo do Escuro”.

“A Sétima Vítima” (Darkness, 2002) # 285 – data: 05/12/04 – avaliação: 8 (de 0 a 10)
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(postado em 01/03/06)

A Sétima Vítima (Darkness, Estados Unidos / Espanha, 2002). Duração: 102 minutos. Estúdio: Fantastic Factory. Distribuição: Dimension Films / Europa Filmes. Direção de Jaume Balagueró. Roteiro de Jaume Balagueró, Fernando de Felipe e Miguel Tejada-Flores. Produção de Julio Fernández e Brian Yuzna. Produção Executiva de Carlos Fernández, Guy J. Louthan, Antonio Nava, Bob Weinstein e Harvey Weinstein. Fotografia de Xavi Giménez. Música de Carles Cases. Edição de Luis De La Madrid. Desenho de Produção de Llorenç Miquel. Efeitos Especiais de David Martí e Amador Rehak. Maquiagem de Alma Casal. Elenco: Anna Paquin (Regina), Lena Olin (Maria), Iain Glen (Mark), Giancarlo Giannini (Albert Rua), Fele Martínez (Carlos), Stephan Enquist (Paul), Fermín Reixach (Villalobos), Francesc Pagés, Craig Stevenson, Paula Fernández, Gemma Lozano, Xavier Allepuz, Joseph Roberts.