Um Grito de Mulher (The Screaming Woman, EUA, 1972)

 


Um Grito de Mulher” (The Screaming Woman, EUA, 1972) é um típico filme curto e divertido que desperta um agradável sentimento de nostalgia em quem teve o privilégio de ver nas antigas televisões de tubo. Com elementos de horror, mistério e suspense, faz parte do programa “ABC Movie of the Week” da rede de TV “ABC”, sendo o episódio 35 da terceira temporada, exibido nas telinhas do Brasil nas saudosas sessões dos anos 70 e 80 do século passado, ao lado de outras preciosidades como “A Fazenda Crowhaven”, “Escravos da Noite”, “Encurralado”, “O Grito do Lobo”, “A Força do Mal”, “Férias Mortais”, “O Amuleto Egípcio”, “Grito de Pânico”, “Os Demônios dos Seis Séculos”, “A Morte Numa Noite Fria”, “O Triângulo do Diabo”, etc.

Foi lançado em DVD no Brasil pela “Versátil Home Vídeo” no box “Obras-Primas do Terror” Volume 22, e está disponível no “Youtube” na versão dublada pela AIC, com aquelas vozes conhecidas que povoaram nossos infindáveis momentos de entretenimento na frente da televisão.

A direção é de Jack Smight (1925 / 2003) e o roteiro é uma adaptação livre de um conto do famoso autor de ficção científica Ray Bradbury. O elenco é liderado por nomes consagrados como Olivia de Havilland e Ed Nelson (de diversos filmes preciosos dos anos 1950 como “A Ilha do Pavor”, “Os Monstros Invasores”, “Devoradores de Cérebros”, “Night of the Blood Beast”, “Um Balde de Sangue” e “Parceiro do Diabo”), e com as participações especiais pequenas, mas ilustres, de Joseph Cotten e Walter Pidgeon (“Planeta Proibido”, 1956, e “Viagem ao Fundo Do Mar”, 1961).

 

A rica Sra. Laura Wynant (Olivia de Havilland) estava internada num hospital psiquiátrico e após a avaliação de seu médico Dr. Amos Larkin (Walter Pidgeon), recebeu liberação de retorno para sua casa. Num passeio aleatório pelos jardins nos arredores, num local onde ficava o porão de uma antiga caldeira desativada, ela ouve os sussurros agonizantes de uma mulher enterrada debaixo da terra com um pequeno bolsão de ar.

Ela tenta então obter ajuda para o resgate com familiares e vizinhos, mas não tem sucesso e ninguém acredita em sua história bizarra desconfiando de sua sanidade, como o filho ganancioso Howard (Charles Robinson), interessado na sua fortuna e venda da mansão, e que está em crise conjugal com processo de divórcio com a esposa infiel Caroline (Laraine Stephens), além também do advogado da família George Tresvant (Joseph Cotten).

Entre os contatos com os vizinhos, a veterana desconfia de Carl Nesbitt (Ed Nelson), que havia brigado com a esposa sumida por causa da amante Evie Carson (Alexandra Hay), e que reage de forma estranha ao saber da suposta mulher enterrada, acionando o Sargento da polícia (Lonny Chapman) e o ajudante Harry (Russell Wiggins) para investigarem o caso.

 

“Um Grito de Mulher” é um daqueles filmes para a televisão com uma história simples, mas sinistra com um forte elemento de horror através de alguém enterrado vivo. A consagrada atriz Olivia de Havilland tem um desempenho convincente como uma mulher com histórico de instabilidade mental que tem que enfrentar um evento trágico e é desacreditada por todos. A revelação do vilão é rápida e previsível, porém ainda assim a história mantém o interesse até o desfecho.

Curiosamente, há uma referência no filme para o caso real de uma mulher chamada Barbara Jane Mackle, que foi sequestrada em 1968 em Atlanta, na Geórgia, e enterrada viva por 83 horas numa caixa ventilada soterrada debaixo da terra à espera de um pagamento por seu resgate. Aliás, o cineasta Jack Smight também dirigiu em 1972 um filme inspirado nesse episódio real, “The Longest Night”, igualmente apresentado no programa “ABC Movie of the Week” (episódio 1 da temporada 4).    

 

(RR – 30/10/25)






O Monstro do Himalaia (The Abominable Snowman, Inglaterra, Hammer, 1957, PB)

 


"O Monstro do Himalaia" (The Abominable Snowman, 1957) é um filme da década de 50 do século passado, da produtora inglesa “Hammer”, com fotografia em preto e branco, estrelado por Peter Cushing e com uma história explorando o lendário “abominável homem das neves”, assunto que inspirou a realização de vários filmes especulando sua misteriosa existência. Esse conjunto de fatores é mais do que suficiente para a garantia de diversão em mais uma preciosidade do cinema fantástico bagaceiro.

“O Monstro do Himalaia” tem direção de Val Guest, o mesmo de “O Dia Em Que a Terra se Incendiou” (61) e “Quando os Dinossauros Dominavam a Terra” (70), e roteiro de Nigel Kneale, o criador do universo ficcional de “The Quatermass Experiment”. É o primeiro de muitos filmes do “Cavalheiro do Horror” Peter Cushing (1913 / 1994) para o cultuado estúdio “Hammer”. Ele que ficou eternizado no cinema fantástico por sua imensa contribuição ao gênero com participações em dezenas de filmes de horror e ficção científica, interpretando papéis marcantes e se especializando em “caçador de vampiros” e “cientistas loucos”.

O cientista botânico Dr. John Rollason (Cushing) está hospedado num monastério situado na base das montanhas geladas do Himalaia, uma região inóspita onde se encontram as montanhas mais altas do mundo, abrangendo lugares como o Tibete (na China) e o Nepal. Junto com sua esposa Helen (Maureen Connell) e o assistente Sr. Peter Fox (Richard Wattis), eles estudam ervas raras que sobrevivem nesse ambiente hostil de frio intenso. Porém, o Dr. Rollason também tem outro objetivo maior, que é fazer parte de uma expedição rumo ao topo da montanha para tentar encontrar o lendário “Yeti”, ou “homem das neves”, uma criatura primitiva enorme com pegadas de 40 cm e altura de 3 m, que poderia ser o elo evolutivo entre o macaco e o homem, e cuja lenda de sua existência fascina o mundo, tendo um equivalente paralelo nas florestas dos Estados Unidos, chamado de “Sasquatch” ou “Pé Grande”.

A expedição é liderada pelo explorador Tom Friend (Forrest Tucker), e fazem parte outros três homens, o caçador Edward Shelley (Robert Brown), o fotógrafo Andrew McNee (Michael Brill) e o guia local Kusang (Wolfe Morris). Mesmo com a oposição da esposa Helen, que teme os perigos da empreitada, e do mestre espiritual do monastério, Lhama (Arnold Marle), que tem motivos misteriosos para manter os exploradores afastados da região, o Dr. Rollason decide acompanhar a expedição. Descobrindo mais tarde as reais intenções comerciais de Tom Friend em contraste com seus objetivos científicos, e desvendando o mistério que envolve os imensos antropóides que se escondem nas mais remotas e geladas regiões do planeta.

A narrativa é lenta em boa parte do filme, mas em compensação temos a bem sucedida intenção dos realizadores em manter em segredo as enormes criaturas peludas, expondo-as sutilmente apenas no desfecho, instigando a imaginação do espectador. Mesmo que tal intenção também possa ser algo inevitável devido às deficiências orçamentárias da produção, que não permitiria uma grande exposição do “monstro do Himalaia”. Também é bastante louvável o roteiro especular que as misteriosas criaturas que são o foco da expedição, não sejam necessariamente primitivas, e que poderiam ter evoluído em paralelo com a raça humana, desenvolvendo inteligência e preferindo viver em isolamento com receio do poder de autodestruição da humanidade.   

O filme é uma refilmagem de “The Creature” (1955), episódio de TV da série “BBC Sunday-Night Theatre”, também com Peter Cushing fazendo o mesmo papel do Dr. John Rollason. Além dele, outros dois atores reprisaram seus personagens, Wolfe Morris como o guia da expedição e Arnold Marle como o líder espiritual do mosteiro.

Em 1954 foi lançado “O Terror do Himalaia” (The Snow Creature), que é considerado o primeiro filme a abordar a lenda do “Yeti”. Produzindo nos Estados Unidos com baixo orçamento e em preto e branco, tem direção de W. Lee Wilder.

“O Monstro do Himalaia” ainda faz parte da fase em preto e branco da “Hammer”. Porém, no mesmo ano de 1957 já começaria a produção dos filmes em cores como “A Maldição de Frankenstein”, também com Peter Cushing no papel do “cientista louco”, só que dessa vez ao lado de Christopher Lee como o monstro, outro ator que se transformou em ícone no gênero e que fez inúmeras parcerias com Cushing. Os filmes coloridos da “Hammer” ajudaram o estúdio a torna-se cultuado, ao mostrar o vermelho vivo do sangue e revitalizando os monstros clássicos da produtora americana “Universal”.

O ator americano Forrest Tucker (1919 / 1986), que tem um dos papéis principais no filme, tanto que seu nome aparece em destaque nos cartazes de divulgação, é mais conhecido pelos inúmeros filmes de western. Mas, ele também participou de outros dois filmes ingleses bagaceiros de ficção científica e horror, “The Trollenberg Terror” e “O Monstro Cósmico” (The Strange World of Planet X), ambos de 1958.

Curiosidades:

* Na divertida animação “Monstros S.A.” (2001), cuja história apresenta monstros diversos que vivem num universo paralelo interligado ao nosso através de portas dimensionais, o “abominável homem das neves” é um monstro banido desse mundo oculto. Ele foi obrigado a viver no nosso, isolado nas terras geladas do Himalaia e longe da humanidade. E, inevitavelmente ele despertaria uma lenda sobre sua misteriosa existência.

* “Quando a humanidade lançar a bomba atômica, também nossos descendentes viverão no gelo”. Essas palavras do explorador Tom Friend evidenciam o medo naquela época conturbada da catástrofe nuclear, um temor fortemente presente durante a paranoia da guerra fria entre Estados Unidos e a antiga União Soviética, sendo um assunto abordado à exaustão numa infinidade de filmes, principalmente nas décadas de 1950 e 60.

* O roteiro de “O Monstro do Himalaia” procurou especular o “abominável homem das neves” como um ser inteligente e não primitivo. Porém, curiosamente, apenas dois anos depois do lançamento do filme, em 2 de Fevereiro de 1959 ocorreu um massacre de nove estudantes esquiadores que viajavam pelo Norte dos Montes Urais, uma cordilheira de montanhas geladas e inóspitas na Rússia, região que divide a Europa da Ásia. Os cadáveres dos jovens foram encontrados mutilados e semi nus, e a autoria dos assassinatos tornou-se um grande mistério conhecido como “Incidente do Passo Dyatlov”, que era o nome do líder da expedição de esquiadores mortos. Existe também a especulação sobre uma investigação da polícia secreta russa KGB, escondendo informações que ajudariam a desvendar o mistério. Para muitos jornalistas investigativos e habitantes de aldeias locais, o responsável pelas mortes sangrentas é um “Yeti”, demonstrando que a criatura seria primitiva e violenta. Em 2013 tivemos um filme baseado nessa história, “O Mistério da Passagem da Morte” (The Dyatlov Pass Incident / Devil´s Pass, EUA / Inglaterra / Rússia), dirigido pelo finlandês Renny Harlin, especulando ainda mais sobre o mistério da morte sem explicações dos esquiadores.

 (RR – 17/07/15)






Férias Mortais (Home for the Holidays, EUA, 1972)

 


Disponível no “Youtube” com legendas em português, “Férias Mortais” (Home for the Holidays, EUA, 1972) é um filme de horror produzido especialmente para a televisão com a temática “slasher”, exibido pela primeira vez em 28/11/1972 como o número 20 da temporada 4 do programa “ABC Movie of the Week” da rede de TV “ABC”, que exibiu semanalmente nos anos 1970 diversas preciosidades nas telinhas como “A Fazenda Crowhaven”, “Escravos da Noite”, “Encurralado”, “O Grito do Lobo”, “A Força do Mal”, “O Amuleto Egípcio”, “Grito de Pânico”, “Abelhas Assassinas”, “Os Demônios dos Seis Séculos”, “A Morte Numa Noite Fria”, “O Triângulo do Diabo”, entre outros.

Como uma das características do orçamento pequeno, o elenco tem apenas oito atores, porém sempre trazendo nomes relevantes para agregar valor ao filme, e nesse caso temos Sally Field (série “A Noviça Voadora”, 1967/1970), Eleanor Parker (“Uma Luz nas Trevas”, 1945), Julie Harris (“Desafio do Além”, 1963), e o veterano Walter Brennan, rosto conhecido por uma infinidade de filmes de western, como o clássico “Paixão dos Fortes” (1946), sendo um dos últimos filmes da carreira, falecendo em 1974.

A produção é dos especialistas na TV Aaron Spelling e Leonard Goldberg, e a direção é de John Llewellyn Moxey, que tem no currículo vários outros filmes divertidos do mesmo período e para a televisão como “Volte Ammie, Volte!”, “A Última Criança”, “Trama Diabólica”, “Pânico e Morte na Cidade”, “A Casa dos Horrores Mortais” e “Para Onde Foram Todos?”.

 

Alexandra Morgan (Eleanor Parker), a mais velha de um grupo de quatro irmãs, está retornando após longos nove anos e a morte trágica da mãe, para a casa rural de seu pai Benjamin (Walter Brennan), um idoso rico e que está muito doente, e que convocou as filhas para visitá-lo alegando também que sua atual esposa, Elizabeth Hall Morgan (Julie Harris), está tentando matá-lo com venenos. As outras irmãs então também se juntam para as “férias mortais”, a mais jovem e inexperiente Christine (Sally Field), a festeira Joanna (Jill Haworth) e a alcoólatra viciada em remédios Frederica (Jessica Walter).

A reunião de família é realizada no feriado de Natal num clima desconfortável, com ressentimentos das filhas com relação ao pai por causa do suicídio da mãe depressiva e a relação de desconfiança com a sinistra madrasta Elizabeth, com um agravamento progressivo a partir do momento em que um assassino louco vestindo uma capa de chuva amarela, luvas e botas vermelhas, começa a agir violentamente com um forcado nas mãos.

Além do clima de tensão e insegurança ao ficarem isolados à noite na casa por causa de uma tempestade torrencial, com a inundação de um rio impedindo o acesso pela estrada e sem comunicação com o mundo externo por causa do telefone inoperante, a família Morgan precisa lidar com a desunião entre as irmãs, o pai e a madrasta e principalmente lutar pela vida contra um assassino misterioso.

 

“Férias Mortais” tem duração curta de apenas 74 minutos para o formato de exibição na TV, sendo um thriller com elementos de horror e uma atmosfera sombria numa casa afastada, com uma história de família perturbada por ressentimentos não resolvidos e relações conturbadas, piorando ainda mais com a ocorrência de mortes entre eles. Apesar de certa previsibilidade na revelação da identidade do assassino, o filme tem alguns bons momentos de suspense moderado e especialmente uma cena tensa de perseguição na floresta, além da especulação sobre as motivações para a eliminação das vítimas como desejo pela herança do patriarca (dinheiro, propriedades, mansão) ou apenas loucura e transtorno psicológico pela turbulência familiar.

 

(RR – 20/10/25)



Para Onde Foram Todos? (Where Have All the People Gone?, EUA, 1974)


A década de 1970 foi muito produtiva na produção de filmes com elementos de horror e ficção científica especialmente para a televisão, com muitos deles exibidos no Brasil nos saudosos tempos da TV de tubo. “Para Onde Foram Todos?” (Where Have All the People Gone?, EUA, 1974) é mais um deles com uma história pós-apocalíptica, sendo distribuído pela “NBC” (National Broadcasting Corporation), e para a sorte dos apreciadores desses filmes menores com orçamentos pequenos, está disponível no “Youtube” na versão original com legendas em português.

Foi dirigido pelo especialista na telinha John Llewellyn Moxey (1925 / 2019), o mesmo cineasta de outras preciosidades com as mesmas características de formato para TV como “Volte Ammie, Volte!” (1970), “Trama Diabólica” (1971), “A Última Criança” (1971), “Pânico e Morte na Cidade” (1972), “A Casa dos Horrores Mortais” (1974), e outros.

 

Uma família que reside em Malibu, Califórnia, numa casa à beira do mar, está em férias acampando e fazendo escavações arqueológicas no interior próximo da pequena cidade de Rainbow. Formada por Steven Anders (Peter Graves), a esposa Barbara (Jay W. Macintosh) e o casal de filhos adolescentes David (George O´Hanlon Jr.) e Deborah (Kathleen Quinlan), enquanto a mãe retorna para casa com o amigo da família Tom Clancy (Doug Chapin), os outros estão explorando cavernas. Repentinamente ocorre um imenso clarão no céu, seguido de um terremoto, e Jim Clancy (Noble Willingham), outro amigo da família e companhia na expedição, fica gravemente doente.

Eles especulam sobre o evento estranho, se algum tipo de explosão, teste, acidente ou guerra nuclear, tempestade solar, meteoro ou cometa, e sem respostas e com os aparelhos elétricos danificados, impedindo o funcionamento de seu carro, eles tentam encontrar ajuda para o amigo doente caminhando até a cidade.

No caminho o corpo de Jim desintegra em pó branco, sobrando apenas as roupas, e eles descobrem um mundo vazio, sem pessoas, com os cadáveres virando pó, com os cachorros ainda vivos, mas enlouquecidos e agressivos, enfrentando os perigos de um ambiente desolado e hostil, e encontrando poucos seres humanos iguais a eles, imunes ao cataclisma que assolou o planeta.

Na jornada de volta para casa na tentativa de reencontrar a mãe, a família cruza com pessoas desesperadas e confusas com a nova realidade do mundo, tornando-se uma ameaça adicional pela perda de humanidade devido ao medo e instinto de luta pela sobrevivência. E também encontram outras pessoas desorientadas e que se juntam a eles como Jenny (Verna Bloom), uma jovem mãe traumatizada pela morte dos filhos pequenos num ataque de cães ferozes, e o menino Michael (Michael-James Wixted), órfão recente depois que ladrões invadiram sua fazenda e mataram os pais.

 

Com duração de apenas 73 minutos, o filme foi produzido como piloto para uma série de TV que infelizmente nunca foi lançada, e perdemos a oportunidade de ver um interessante argumento de ficção científica apocalíptica com grande potencial para contar várias histórias com os sobreviventes enfrentando os desafios de um mundo devastado pela radiação solar.

No elenco, a liderança é do ator Peter Graves (1926 / 2010), um rosto conhecido nas telinhas principalmente pela série “Missão Impossível” (1967 / 1973).

O filme é simples, com pequeno orçamento, sem efeitos especiais ou ação com ritmo acelerado, apostando mais na construção de uma história dramática com um grupo de sobreviventes de um desastre global tentando se adaptar a uma nova realidade caótica.

Curiosamente, podemos identificar semelhanças com vários outros filmes com a mesma temática, como “Os Últimos Cinco” (Five, 1951), onde um grupo de cinco pessoas são os únicos sobreviventes de uma guerra atômica, ou “O Dia do Fim do Mundo” (Day the World Ended, 1955), de Roger Corman, ou ainda “Pânico no Ano Zero” (Panic in Year Zero, 1962), sobre uma família tentando sobreviver em meio ao caos de um holocausto nuclear.

 

(RR – 17/10/25)




Volte Ammie, Volte! (The House That Would Not Die, EUA, 1970)

 


Volte Ammie, Volte!” (The House That Would Not Die, EUA, 1970) é mais um filme com elementos de horror apresentado no programa “ABC Movie of the Week” da rede de TV “ABC”, que exibiu semanalmente nos anos 70 do século passado uma grande quantidade de filmes com orçamentos pequenos que ficaram nas memórias de quem teve o privilégio de ver nas telinhas como “A Fazenda Crowhaven”, “Escravos da Noite”, “Encurralado”, “Trama Diabólica”, “A Força do Mal”, “Pânico e Morte na Cidade”, “Os Demônios dos Seis Séculos”, “A Morte Numa Noite Fria”, “O Triângulo do Diabo”, entre vários outros.

Sendo o filme # 31 de um total de 183 do programa, “Volte Ammie, Volte!” foi exibido pela primeira vez em 27/10/1970 como o número 6 da temporada 2, e está situado no subgênero de casas assombradas por fantasmas perturbados. Está disponível dublado no “Youtube” com as vozes clássicas daquela época saudosa para a diversão de quem lembra dos velhos filmes exibidos nas televisões de tubo, e também foi lançado em DVD no Brasil pela "Versátil" como material extra no box "Obras-Primas do Terror" Volume 22.

Com um elenco reduzido com apenas seis atores, o destaque é a presença de Barbara Stanwyck (1907 / 1990) e a estreia de Kitty Winn, que foi a secretária Sharon no clássico “O Exorcista” (1973).

 

 Dirigido por John Llewellyn Moxey (de “A Última Criança” e “Trama Diabólica”, ambos de 1971 e também do programa “ABC Movie of the Week”), produzido pelo especialista da TV Aaron Spelling, e com roteiro baseado no livro “Ammie, Come Home”, de Barbara Michaels, a história é sobre a veterana Ruth Bennett (Barbara Stanwyck) que vai morar com a sobrinha Sara Dunning (Kitty Winn) numa antiga casa rural, herança de família, que esconde segredos terríveis de um passado sinistro.

Elas conhecem o vizinho e professor de antropologia Pat McDougal (Richard Egan), que dá as tradicionais boas vindas às novas moradoras da região, e apresenta para elas seu aluno Stan Whitman (Michael Anderson Jr.), além de sua tia Sra. McDougal (Mabel Albertson) e a amiga dela, que é médium e comanda sessões de espiritismo, Sylvia Wall (Doreen Lang).   

E é após uma dessas sessões que dois fantasmas atormentados passam a assombrar a casa e possuir os vivos, com a jovem Sara (sempre assustada) e o professor Pat (sempre frio e com o olhar intenso) sendo as vítimas. Procurando respostas e informações sobre o passado dos antigos moradores da casa, Ruth e sua sobrinha, além de Pat e Stan, decidem investigar o sótão, onde encontram documentos de 1780, época da guerra revolucionária, que revelam problemas familiares com o General Douglas Campbell e sua filha Amanda (ou Ammie), que saiu de casa para se casar com o Capitão Anthony Doyle, sem a aprovação do pai.

Depois de vários momentos envolvendo a manifestação dos fantasmas atormentados, com vozes de desespero e cenas de possessão, eles exploram o porão da casa, que guarda segredos enterrados que podem trazer a paz definitiva ou o caos eterno para os espíritos amargurados e os novos moradores.

 

Com apenas 74 minutos, metragem adequada para exibição na televisão com comerciais, “Volte Ammie, Volte!” é um filme de horror sobrenatural sugerido que investe mais em momentos tensos com fantasmas aflitos à procura de descanso e na atmosfera sombria de uma casa assombrada. Sendo uma produção para a televisão a violência das possessões é apenas moderada, com alguns sustos leves, ritmo mais lento, rajadas de vento, e certa previsibilidade na revelação dos fantasmas e origem dos conflitos.

Com o foco no drama psicológico de uma “casa que não morreria” (do título original) por causa de uma família atormentada por uma tragédia histórica, o filme tem seus momentos de diversão rápida, a presença sempre significativa de Barbara Stanwyck (a matriarca da série de TV de western “The Big Valley”), e é um exemplo do cinema de horror feito para a televisão na década de 1970.

 

(RR – 16/10/25)




O Único Sobrevivente (Sole Survivor, EUA, 1984)

 


A bem sucedida franquia “Premonição” (Final Destination), que se iniciou em 2000, tem vários filmes lançados comercialmente nas telas grandes dos cinemas e explora histórias com pessoas escapando misteriosamente da morte em acidentes trágicos e sendo depois perseguidas para um “acerto de contas do além”. Um detalhe interessante é que sua ideia teve inspiração no filme “O Único Sobrevivente” (Sole Survivor, EUA, 1984), que por sua vez recebeu influências de “O Parque Macabro”, também conhecido por “Carnaval de Almas” (Carnival of Souls, 1962).

 

Dirigido e escrito por Thom Eberhardt (de “A Noite do Cometa”, também de 1984), o filme está disponível no “Youtube” dublado na versão brasileira “Álamo”, e apresenta a história da produtora de comerciais para a televisão Denise Watson (Anita Skinner), que é a única sobrevivente de um desastre aéreo, escapando da morte certa misteriosamente sem ferimentos. E ainda tem a premonição da atriz decadente e depressiva Karla Davis (Caren Larkey), que possui o desconfortável poder psíquico de visões aterradoras e previu o acidente de avião, tentando sem sucesso alertar sobre o fato trágico.    

A partir daí, a sobrevivente Denise conhece o médico Brian Richardson (Kurt Johnson), com quem mantém um romance e tenta entender o estranho sentimento de ser a única pessoa a escapar da morte na queda do avião, passando a ouvir vozes e ter visões assustadoras com pessoas sinistras, incluindo uma menina no porão do hospital, um velho no parque, um homem que surge no meio de uma estrada na frente de seu carro, e outro homem que a persegue na garagem no subsolo de um prédio.

Uma vez perturbada com esses encontros macabros, ela tenta encontrar explicações com o médico e também procura companhia e distração com a amiga e vizinha Kristy Cutler (Robin Davidson), porém ocorre uma série de assassinatos violentos com as pessoas ao seu redor, com a investigação ineficiente da polícia através do Tenente Patterson (Daniel Cartwell), e com os mortos assassinados voltando a caminhar e assombrar o mundo dos vivos.  

 

“O Único Sobrevivente” tem apenas 85 minutos de duração e apresenta uma premissa básica interessante, sobre a questão de uma improvável sobrevivência num grave acidente aéreo e a implicação sobrenatural com a própria “morte” perseguindo sua vítima para corrigir a “falha”. Com um ritmo arrastado, o filme poderia investir em mais agilidade nas ações, porém mesmo assim ainda garante bons momentos com uma atmosfera sinistra na aparição dos mortos e nas cenas de assassinatos, e principalmente com um desfecho trágico, ousado e memorável envolvendo a descoberta do patologista Artie (William Snare), curioso sobre os estranhos cadáveres que chegam ao necrotério.

Parece ter sido mesmo inspirado no anterior “O Parque Macabro”, onde uma mulher sobrevive a um acidente de carro e começa a ser assombrada por zumbis intencionados em resolver uma pendência entre o mundo dos vivos e mortos, e também parece que serviu de influência para “Premonição”, cuja franquia de sucesso até já faz parte da cultura popular, e o primeiro filme também aborda um acidente de avião.

Entre as curiosidades, é considerado uma refilmagem do australiano “Aterrorizante Confronto Final” (The Survivor, 1981), dirigido por David Hemmings e com roteiro baseado no livro homônimo de James Herbert publicado em 1976.

Sobre o elenco, a atriz principal Anita Skinner, “a única sobrevivente”, só fez dois filmes na curta carreira, esse do texto e o anterior “Duas Mulheres em Nova York” (1978), um drama com comédia. O ator Kurt Johnson, que fez o médico Brian, também teve uma carreira bem curta com apenas quatro filmes, e morreu ainda jovem em 1986 com apenas 34 anos. Para Robin Davidson, que interpretou a amiga festeira Kristy, foi seu único trabalho no cinema. E tem a cultuada atriz Brinke Stevens numa ponta, ela que tem um currículo imenso com mais de 200 filmes.     

 

(RR – 15/10/25)





O Grito do Lobo (Scream of the Wolf, EUA, 1974)


“Um bom caçador nunca tem certeza de nada, a não ser que sua presa fará o inesperado.” – Byron Douglas

 

O Grito do Lobo” (Scream of the Wolf, EUA, 1974) é mais um filme do programa “ABC Movie of the Week” da rede de TV “ABC”, que exibiu semanalmente na década de 1970 uma infinidade de preciosidades do cinema fantástico de baixo orçamento como “A Fazenda Crowhaven”, “Escravos da Noite”, “Encurralado”, “Trama Diabólica”, “A Força do Mal”, “Pânico e Morte na Cidade”, “Os Demônios dos Seis Séculos”, “A Morte Numa Noite Fria”, “O Triângulo do Diabo”, entre vários outros. O programa teve 183 filmes, sendo que “O Grito do Lobo” foi o número 42 da temporada 5.

Está disponível dublado no “Youtube”, com a nostálgica versão brasileira “Álamo São Paulo” de quando foi exibido em nossas televisões. O filme reúne em seu elenco e equipe de realizadores alguns nomes conhecidos das telinhas como o produtor e diretor Dan Curtis, o escritor Richard Matheson e os atores Peter Graves (série “Missão Impossível”), Clint Walker (série “Cheyenne”) e Philip Carey (série “Laredo”).

 

Após a ocorrência de várias mortes violentas e misteriosas numa pequena cidade rural dos Estados Unidos, com as vítimas encontradas mutiladas, o xerife Vernon Bell (Philip Carey) solicita ajuda nas investigações para o antigo caçador John Wetherby (Peter Graves), por sua experiência com animais selvagens. Porém, uma vez aposentado da função, ele recorre ao companheiro da época de caçadas, o impiedoso, frio e calculista Byron Douglas (Clint Walker). Após análise das cenas dos crimes e com a contagem de cadáveres cada vez aumentando mais, eles acreditam que a autoria dos assassinatos brutais pode ser de um lobo com a capacidade de se transformar em humano.

Preocupado com a segurança dos habitantes da comunidade ameaçados por algo desconhecido, e especialmente com sua namorada Sandy Miller (Jo Ann Pflug), o antigo caçador e agora escritor John Wetherby tenta desvendar o mistério das mortes, desconfiando de Byron e seu estranho empregado Grant (Don Megowan).  

 

O filme é curto com apenas 74 minutos e por ser uma produção voltada para a televisão a violência é mais contida, com pouca exposição de sangue e com as diversas mortes fora da tela. O foco da história está mais direcionado para a investigação e especulação sobrenatural da autoria dos assassinatos, com uma atmosfera interessante nas sombras de uma floresta envolta em névoas.

Curiosamente, próximo do desfecho temos uma sequência que lembra o filme “Zaroff, o Caçador de Vidas” (The Most Dangerous Game, 1932), com um jogo mortal entre os companheiros de antigas caçadas.

Sobre o escritor Richard Matheson (1926 / 2013), que colaborou com o roteiro de “O Grito do Lobo”, vale registrar algumas informações sobre sua carreira. Seu nome está associado ao Horror, com créditos em filmes como “Mortos Que Matam” (1964) e “A Última Esperança da Terra” (1971), inspirados em seu livro de vampiros “Eu Sou a Lenda”. Ele foi o roteirista de vários filmes baseados na obra de Edgar Allan Poe e dirigidos por Roger Corman nos anos 60 do século passado, como “O Solar Maldito”, “A Mansão do Terror”, “Muralhas do Pavor” e “O Corvo”. Além também de outras preciosidades como “O Incrível Homem Que Encolheu” (1957), “Robur, o Conquistador do Mundo” (1961), “Farsa Trágica” (1964), “As Bodas de Satã” (1968, produção da “Hammer”), “Encurralado” (1971, de Steven Spielberg) e “A Casa da Noite Eterna” (1973). Sua participação em séries de televisão é igualmente significativa tendo escrito vários episódios de “Além da Imaginação” (1959/1964).     

(RR – 02/10/25)