“A hora: em algum momento no
futuro. A Sra. Miller vai ter um filho. Mas a lei diz que ela não pode. A lei
diz que o mundo está superpovoado. Corra, Sra. Miller! Corra!”
“A Última Criança” (The Last Child, 1971) é um filme de Ficção
Científica distópica produzido diretamente para a televisão, com metragem mais
curta (73 minutos) para
ser adaptado com os comerciais e totalizar o tempo padrão de uma hora e meia. Foi
exibido como o sétimo filme da terceira temporada do programa americano “ABC
Movie of the Week”, uma série semanal do início dos anos 1970 que foi ao ar na
rede de TV “ABC”, com filmes de temáticas variadas, muitos deles com elementos
de FC, suspense, mistério e horror sutil. Alguns exemplos: “A Fazenda
Crowhaven” (1970, “Escravos da Noite” (1970), “Encurralado” (1971), “A Força do
Mal” (1972), “Pânico e Morte na Cidade” (1972), “A Noite do Lobo” (1972), “Os
Demônios dos Seis Séculos” (1972), “Satan´s School for Girls” (1973), “All the Kind Strangers” (1974), “O Triângulo do
Diabo” (1975), entre outros.
Foi exibido nas nossas telinhas e está
disponível no “Youtube” com a dublagem clássica com direito até para a frase
nostálgica “versão brasileira Cine Castro Rio de
Janeiro e São Paulo”. Bons tempos de filmes divertidos na televisão de tubo.
Com direção de John Llewellyn Moxey e
produção executiva de Aaron Spelling (da série de TV “As Panteras”, 1976/1981),
a história é ambientada nos Estados Unidos “num futuro não muito distante”, com
a sociedade sofrendo as consequências de superpopulação e um governo
autoritário que controla a natalidade com leis rígidas e perversas, onde os
casais somente podem ter um único filho e os idosos acima de 65 anos de idade
são abandonados para morrer sem assistência médica do poder público.
Nesse ambiente opressor, com excesso de
gente se esbarrando para todos os lados, temos o casal formado por Allen Miller
(Michael Cole) e a esposa Karen (Janet Margolin), que está grávida novamente
depois de perder uma filha com poucos dias de nascimento. Porém, como a lei
proíbe o segundo filho, eles são identificados e detidos pela polícia
repressora para impedir o nascimento da criança.
O irmão da futura mãe, Howard Drumm (Harry
Guardino), um funcionário do governo, tenta ajudá-la utilizando sua influência
para tirá-la da prisão, mas ainda assim impedindo o nascimento da criança. Desesperados
para proteger o filho, Allen e Karen fogem num trem, onde conhecem e são
ajudados pelo senador aposentado Quincy George (Van Heflin), que não concorda
com a tirania da lei de controle populacional e hospeda o casal em sua casa,
para depois tentarem fugir para o Canadá, sendo perseguidos implacavelmente
pelo agente especial Barstow (Edward Asner), obcecado em capturá-los e cumprir
a lei.
“A Última Criança” apresenta a
história de um futuro distópico com tirania do governo controlador, e uma
sociedade oprimida que enfrenta o desconforto com o excesso de pessoas, o
controle de natalidade e o descaso com os veteranos.
Entre os destaques que valem
registro, além de todo o contexto de crítica social contra a falta de
liberdade, temos a presença de Van Heflin no elenco em seu último filme, um excelente
ator veterano de clássicos como “Os Brutos Também Amam”, western de 1953, e que
morreu logo após as filmagens aos 62 anos. E em especial, vale também citar uma
tensa perseguição de carros numa estrada com destino ao Canadá.
Curiosamente, na distopia do
filme o Estado controla os cidadãos através de um cartão de identificação com
todas as informações das pessoas, o qual é inserido num computador imenso cheio
de botões e luzes piscando. E diferente da visão do roteirista Peter S. Fischer
(em seu primeiro trabalho), mais de meio século depois do ano de lançamento do
filme, e provavelmente já atingindo a data imaginada na linha de tempo do
“futuro próximo” da história, nossos computadores são bem menores e mais
eficazes, incluindo os smartphones que conectam o mundo.
Também por curiosidade, vale
citar alguns outros filmes que também abordaram o tema distópico de controle
populacional: “É Proibido Procriar” (1972), “No Mundo de 2020” (1973), “Fuga do
Século 23” (1976), “A Fortaleza” (1992) e “Onde Está Segunda?” (2017).
(RR
– 11/02/25)