Casa do Medo (The House of Fear, EUA, 1945, PB)

 


“Os eventos que estou prestes a relatar começaram há duas semanas. Em uma casa antiga e sombria situada no alto de um penhasco na costa oeste da Escócia. Esta estrutura singular é conhecida como Driercliff House. Ali reunidos para jantar estavam os sete membros de um clube extraordinário chamado Bons Camaradas. Nessa reunião singular entrou a melancólica governanta, a Sra. Monteith, trazendo uma mensagem para Ralph King, um advogado aposentado. King recebeu... casualmente. Quando viram o conteúdo, os Bons Camaradas consideraram tudo uma piada, mas a governanta tinha razão, não era motivo de riso.” – Narração de introdução, pelo agente de seguros Chalmers

 

O cultuado escritor escocês Sir Arthur Conan Doyle (1859 / 1930) é bastante conhecido principalmente pela criação do detetive Sherlock Holmes, um homem aristocrático de grande inteligência e astúcia para desvendar casos misteriosos e de difícil solução, juntamente com seu amigo inseparável Dr. Watson. Muitas de suas histórias foram adaptadas no cinema como “O Cão dos Baskervilles” (The Hound of the Baskervilles, 1939), com Basil Rathbone no papel de Holmes e Nigel Bruce como seu fiel ajudante Dr. Watson. A partir daí veio uma imensa série de filmes com a mesma dupla de atores, totalizando 14 produções americanas com fotografia em preto e branco, sendo os dois primeiros produzidos pela “20th Century Fox” e o restante pela “Universal”, que tem metragem mais curta com pouco mais de uma hora de duração.

Casa do Medo” (The House of Fear, 1945), disponível no “Youtube” com opção de legendas em português, é considerado o décimo filme dessa lista, precedido por “As Aventuras de Sherlock Holmes” (1939), “Sherlock Holmes e a Voz do Terror” (1942), “Sherlock Holmes e a Arma Secreta” (1942), “Sherlock Holmes em Washington” (1943), “Sherlock Holmes Enfrenta a Morte” (1943), “Sherlock Holmes e a Mulher Aranha” (1943), “Garra Escarlate” (1944) e “Pérola Negra” (1944). E sucedido por mais quatro filmes, “A Mulher de Verde” (1945), “Desforra em Argel” (1945), “Noite Tenebrosa” (1946) e “Melodia Fatal” (1946).  

 

Com direção de Roy William Neill (que também foi o diretor de todos os outros filmes produzidos pela “Universal”), o filme é inspirado parcialmente no conto de Conan Doyle “The Five Orange Pips”. Um grupo de sete homens ricos faz parte de um clube secreto. Eles vivem num castelo escocês, a tal “Casa do Medo” do título, devido seu aspecto sombrio no alto de uma colina com vistas para o mar, cercada de penhascos imensos. São eles, o proprietário do imponente imóvel Bruce Alastair (Aubrey Mather), o cirurgião Simon Merrivale (Paul Cavanagh), Alan Cosgrave (Holmes Herbert), Capitão John Simpson (Harry Cording), Guy Davies (Wilson Benge), Ralph King (Richard Alexander) e Stanley Raeburn (Cyril Delevanti). No castelo ainda vive a mal-humorada governanta Sra. Monteigh (Sally Shepherd).

Cada membro do clube possui apólice de seguro de vida, sendo eles próprios beneficiários entre si, e depois que começam a morrer de forma violenta, sempre recebendo cartas antes de suas mortes misteriosas, contendo sementes de laranja (daí o nome original da história de Conan Doyle), o corretor de seguros Chalmers (Gavin Muir) pede a ajuda da dupla Holmes e Watson para investigar o caso, auxiliando também a polícia através do atrapalhado Inspetor da Scotland Yard Lestrade (Dennis Hoey), que é o responsável por garantir o alívio cômico com seus comentários.  

 

“Casa do Medo” é um filme de baixo orçamento e tem um ritmo ágil e dinâmico, algo que não é visto frequentemente nos similares do mesmo período, mantendo a atenção do espectador com a ocorrência de assassinatos e a investigação da autoria, envolto na atmosfera sombria do castelo, com suas passagens secretas, quartos e corredores imensos, sinistros e mal iluminados. Tem também uma tempestade torrencial que ajuda a intensificar o clima de desconforto e insegurança de um ambiente naturalmente já tétrico, além da tradicional reviravolta com a revelação do mistério.

Basil Rathbone é um ótimo ator e é sempre lembrado por sua associação ao cinema de horror. Sua performance como o lendário detetive Sherlock Holmes, além da ótima química com Nigel Bruce como seu fiel companheiro Dr. Watson, rendeu muitos filmes com histórias de mistérios e assassinatos com elementos sutis de horror.  

 

Assassinato é uma coisa insidiosa, Watson. Depois que um homem mergulha os dedos em sangue, mais cedo ou mais tarde ele sentirá vontade de matar novamente.” – Sherlock Holmes para Dr. Watson

 

(RR – 09/09/24)