Mulheres Demônio (She Demons, EUA, 1958, PB)

 


“Você é louco, completamente insano!” – Jerrie Turner

 

“Não, minha querida. Você está enganada. São apenas os sem imaginação que não conseguem acreditar que o Homem é capaz de melhorar nossa natureza.” – Coronel Karl Osler

 

Em 1958 o diretor Richard E. Cunha (1922 / 2005) foi o responsável por quatro tranqueiras com elementos de horror e ficção científica produzidas com orçamentos minúsculos: “A Filha de Frankenstein” (Frankenstein´s Daughter), “Míssil Para a Lua” (Missile to the Moon), também conhecido no Brasil como “Terríveis Monstros da Lua”, “O Gigante do Outro Mundo” (Giant From the Unknown) e “Mulheres Demônio” (She Demons), que está disponível no Youtube na versão original com fotografia em preto e branco e opção de legendas em português com tradução simultânea.

 

Uma lancha turística enfrenta uma forte tempestade em alto mar e obriga seus passageiros a desembarcar numa ilha. O passeio foi financiado por um rico empresário do ramo de Eletrônica e os quatro sobreviventes náufragos são a jovem Jerri Turner (Irish McCalla), filha do empresário, o responsável pelo barco Fred Maklin (Tod Griffin) e seus ajudantes Sammy Ching (Victor Sen Yung) e Kris Kamana (Charles Opunui).

Após encontrarem uma mulher morta na praia com o rosto desfigurado e ouvirem sons de tambores, eles decidem explorar o interior da selva da ilha e encontram um grupo de mulheres dançando ao redor de uma fogueira, sendo surpreendidos em seguida por um grupo de soldados nazistas, liderados pelo carrasco Igor (Gene Roth). Eles então são capturados e apresentados ao “cientista louco” Coronel Karl Osler (Rudolph Anders), que é o chefe de uma base subterrânea com um laboratório sinistro. Ele trabalha com experiências envolvendo radiação atômica, genes de animais e a energia do calor de lavas vulcânicas do subsolo da ilha.

Depois de um acidente trágico com queimaduras no rosto de sua assistente e esposa Mona (Leni Tana), o cientista alemão passou a trabalhar em experiências para regenerar a pele humana curando feridas e cicatrizes, utilizando como cobaias outras belas mulheres nativas, que se transformavam nas criaturas do título, animalescas e com os rostos severamente deformados com olhos esbugalhados, peles enrugadas e enormes dentes tortos.

Enquanto a ilha é bombardeada pelos Estados Unidos num exercício militar destruindo a base subterrânea e liberando lava vulcânica, os náufragos Fred, Jerrie e Sammy tentam voltar à civilização fugindo da perseguição dos soldados nazistas e do cientista maluco com suas criaturas deformadas.    

 

“Mulheres Demônio” é curto com apenas 77 minutos de duração, e assim como os outros filmes do mesmo diretor citados no início desse texto, é mais um filme bagaceiro que diverte pelos efeitos práticos toscos, as maquiagens das mulheres com rostos disformes e os equipamentos bizarros do laboratório, cheios de luzes piscando e mostradores analógicos, além da história mirabolante misturando naufrágio, tempestade, ilha selvagem, lava vulcânica, testes de bombas, nazistas, base secreta subterrânea, e “cientista louco” com suas experiências extravagantes utilizando radioatividade.

Um dos destaques é a atuação exagerada do ator alemão Rudolph Anders (1895 / 1987), que também esteve em outras bagaceiras preciosas como “Fantasma do Espaço” (1953), “O Terror do Himalaia” (1954) e “O Castelo de Frankenstein” (1958). Sua performance como o “cientista louco” reserva os melhores momentos do filme, com seus discursos carregados de sarcasmo e sempre com um sorriso diabólico.

Não é um filme para se levar a sério, e sim apenas se divertir com a precariedade da produção. Exceto por Rudolph Anders, as interpretações do elenco são ruins e o roteiro com diálogos banais também não ajuda. A mocinha Jerrie Turner muda de personalidade, inicialmente mimada, arrogante e fútil, passando para corajosa e simpática com o herói Fred, formando o previsível casal no desfecho, seguindo um clichê tradicional em filmes similares. Assim como também não poderia faltar algumas eventuais piadas como alívio cômico, que não funcionam e aqui ficaram a cargo de Sammy Ching.   

Apesar do roteiro ser raso e cheio de falhas, ainda cumpre seu propósito de entretenimento escapista de filme bagaceiro de horror e ficção científica do período após a Segunda Guerra Mundial, explorando a utilização da energia nuclear com seus poderes desconhecidos e perigosos para a humanidade.

 

“Srta. Turner, em algum momento suas feições se transformarão em um ser deformado com as características de um animal. Em alguns dias você estará normal novamente, mas infelizmente nunca se lembrará de quem você é. Pelo resto de sua vida você viverá sem identidade.” – “cientista louco” Coronel Karl Osler

 

 (RR – 19/08/25)