"Eu era o principal
cirurgião de Gênova – a maior autoridade no cérebro humano, até que lhes contei
algo sobre seus próprios cérebros. Então eles disseram que eu estava louco.
Olhe para mim. Eu sou louco?”
“Eu queria que meu trabalho fosse entregue ao mundo para
ser usado para o bem comum, mas eles não aceitaram! Eles não acreditaram em
mim... eles riram. Tudo bem, vou guardá-lo para mim e usá-lo para meus próprios
fins.”
- do
“cientista louco” Dr. Laurience
As frases acima, carregadas de
amargura e indignação, de um cientista incompreendido por seu trabalho abnegado
para o suposto bem da humanidade, são de autoria do Dr. Laurience, um brilhante
estudioso da mente humana, mas considerado pelos colegas e sociedade acadêmica e
científica apenas como mais um “cientista louco” (sempre interpretado
magistralmente por Boris Karloff), ou em outras palavras aproveitando o título
nacional do filme de produção inglesa, “O Homem Que Mudou de Alma”, ou
ainda também “O Homem Que Mudou Sua Mente” e “Viveu Novamente”, utilizando as
referências dos nomes originais, através de suas experiências bizarras com
transferência do conteúdo mental entre animais, com casos bem sucedidos em
chimpanzés, e também nos próprios seres humanos.
Lançado em 1936 com fotografia
em preto e branco e direção de Robert Stevenson, “O Homem Que Mudou de Alma” (“The Man Who Changed His Mind”, também conhecido como “The Man Who Lived
Again”) tem apenas 66 minutos de duração e está disponível no Youtube
com opção de legendas em português, além também em DVD no mercado brasileiro
pela “Versátil”, na coleção “Mestres do Terror: Boris Kaloff”.
O especialista em cérebros Dr.
Laurience (Karloff) está trabalhando com experiências secretas em sua mansão
sinistra, com o objetivo de transferir a mente entre corpos. Em sua casa
sombria vive também outra pessoa, o ressentido Clayton (Donald Calthrop),
doente numa cadeira de rodas e paciente do cientista, esperando por uma cura
para sua grave enfermidade.
Para ajudar nas experiências é
recrutada uma cirurgiã de sua confiança, a jovem Dra. Clare Wyatt (Anna Lee),
noiva do jornalista fanfarrão Dick Haslewood (John Loder), que por sua vez é
filho do arrogante Lord Haslewood (Frank Cellier), um rico empresário dono de
um jornal, que decide patrocinar o trabalho do Dr. Laurience com um laboratório
melhor equipado.
Porém, depois que o cientista
é ridicularizado por seus colegas de profissão numa conferência, e a ajuda
financeira do Lord Haslewood é cancelada, ele decide utilizar os resultados de
suas experiências para seu próprio benefício, ocasionando um caos com mentes
trocadas de corpo, confusões e mortes, restando para a Dra. Clare a missão de
tentar reestabelecer a ordem novamente.
Boris Karloff foi o melhor “cientista
louco” da história do cinema de horror e ficção científica, fazendo esse papel numa
infinidade de filmes com histórias muito similares, com interpretações
convincentes e marcantes que o imortalizaram no gênero, juntamente com sua
performance como o clássico monstro de Frankenstein da “Universal” nos anos
1930. Sempre com atuações de um cientista inicialmente com boas intenções e
depois de mal compreendido pelas bizarrices de suas ideias e experiências
científicas com eventos trágicos, se transformaria em vilão criminoso e assassino
com a mente distorcida pelo ódio e sentimento de vingança.
Em “O Homem Que Mudou de
Alma”, temos a mesma recorrência de enredo básico, onde Karloff é um cientista
fumante inveterado, obcecado em transferir a mente entre corpos, com seu
laboratório repleto de equipamentos elétricos bizarros, máquinas com alavancas,
botões, mostradores e luzes piscando, com todas as suas cenas tornando-se os
destaques do filme. E o resto da história sendo o mesmo velho clichê com
personagens bem menos interessantes interagindo entre si, com tentativas
dispensáveis de humor e alívio cômico que deveriam ser necessários na visão dos
produtores, ou esperados pelas plateias da época que consumiam filmes com
elementos fantásticos.
Mas, o que interessa mesmo é a
presença imponente de Boris Karloff e suas loucuras científicas.
(RR
– 16/07/25)