Caltiki, o Monstro Imortal (Caltiki, the Immortal Monster, Itália / EUA, 1959, PB)


"Esta é uma pirâmide sagrada na antiga cidade deserta de Tikal, a 300 milhas ao sul da Cidade do México. Nesta cidade morta, viveu por milhares de anos o povo pacífico e culto conhecido por nós como Maias, um povo versado na ciência da matemática e da astronomia. Mas, um dia no ano de 607 D.C. os Maias migraram para o norte distante e selvagemm, abandonando suas casas, pirâmides e templos que haviam construído tão artisticamente. Nenhuma pessoas ficou para trás, e a cidade permaneceu deserta. Aos poucos, a selva engoliu suas ruas e prédios, não deixando vestígios do que um dia foi uma civilização próspera. As expedições científicas que tentaram esclarecer as razões dessa migração nunca conseguiram explicá-la. Antigamente, acreditava-se que eles tinham sido derrotados por uma tribo inimiga. Mas que tribo poderia ter sido forte o suficiente para derrotar o grande povo Maia? Não há nenhuma indicação de qualquer cataclisma que pudesse ter forçado um povo inteiro a abandonar a terra em que sempre viveu para construir um novo reino em outro lugar. O mistério ainda existe. E hoje, os poucos índios nômades que cruzam esta área contam como os seus ancestrais fugiram desta terra, para escapar da ira de uma deusa vingativa. Uma deusa que tinha fome de sangue, Caltiki.”

 

“A Bolha” (The Blob, EUA, 1958), com Steve McQueen, é um filme cultuado produzido nos longínquos anos 50 do século passado, a década dourada do cinema fantástico, e que lançou na cultura pop dos apreciadores do cinema bagaceiro com elementos de horror e ficção científica, um monstro gosmento vindo do espaço, parecido com uma bolha que aumenta de tamanho conforme destrói e engole tudo em seu caminho.

O cinema italiano também contribuiu de forma significativa com uma infinidade de preciosidades e sua resposta para a “bolha assassina” foi “Caltiki, o Monstro Imortal” (Caltiki il Mostro Immortale / Caltiki, the Immortal Monster, 1959), com direção de Riccardo Freda (creditado como Robert Hamton), que abandonou o projeto antes do término das filmagens, passando a função para Mario Bava (não creditado). Bava mais tarde seria consagrado como um mestre do cinema gótico de horror italiano. Com fotografia original em preto e branco e duração de 76 minutos, o filme está disponível no “Youtube” com dublagem em inglês e opção de legendas automáticas em português. E foi lançado em DVD no Brasil pela “Versátil” na coleção “Clássicos Sci-Fi” Volume 4.

 

Ambientada no México, a história é sobre um grupo de arqueólogos trabalhando em escavações de ruínas Maias, liderado pelo Prof. John Fielding (o canadense John Merivale), que trouxe sua esposa Ellen (a irlandesa Didi Sullivan) para acompanhá-lo. Faz parte ainda da equipe seu amigo traiçoeiro Max Gunther (o alemão Gerard Haerter), que demonstrou não ser confiável, além de rude com a namorada Linda (a italiana Daniela Rocca).

Eles exploram uma caverna num sítio arqueológico na cidade de Tikal (mencionada no prólogo transcrito no início desse texto, com narração não creditada de Renzo Palmer), e encontram em seu interior uma estátua da deusa maligna Caltiki, que exigia sacrifícios humanos, além de um lago com vários objetos de ouro abandonados no fundo. Ao tentarem resgatar o tesouro, eles são surpreendidos por um monstro ancestral enorme, formado por uma massa gosmenta que devora as pessoas dissolvendo a carne e tecidos vitais das vítimas, e que tem relações com a radioatividade de um meteoro em aproximação da Terra e a lenda da maldição de Caltiki.      

 

Felizmente para os apreciadores do cinema antigo bagaceiro com monstros toscos, o filme nos presenteia com várias cenas de ataques da bolha orgânica, ácida e carnívora (vulnerável apenas ao fogo), que destrói tudo por onde passa e se multiplica aumentando progressivamente de tamanho. Através de divertidos efeitos práticos (mistura de tecidos e tripas, que cheiravam mal no set de filmagens e atraía moscas), os quais devem ser enaltecidos pelas dificuldades óbvias da época, além dos recursos escassos da produção, num período onde nem se imaginava os efeitos com computação gráfica, que tornariam tudo mais artificial.

Outros destaques dentro desse contexto de diversão com cinema de gênero (horror e FC) e baixo orçamento, são a imensa máquina que fez a leitura da idade do monstro através de um pedaço recuperado num confronto, cheia de luzes piscando e indicadores analógicos para simular uma tecnologia avançada na época, e a sequência final de batalha entre o exército e as criaturas disformes, com miniaturas de tanques lança-chamas.

Entre as curiosidades, o filme recebeu uma versão colorizada e Caltiki foi uma invenção dos roteiristas, não existindo realmente essa divindade na cultura Maia.

 

(RR – 03/07/25)