Voando Para Marte (Flight to Mars, EUA, 1951)

 


"A Terra é tão grande quando estamos nela. E agora ela parece tão pequena, tão insignificante. É como fechar os olhos no escuro e tentar ver onde você está apenas com a sua alma.” – Steve Abbott

 

Voando Para Marte” (Flight to Mars, 1951) é mais um daqueles divertidos filmes bagaceiros de Ficção Científica dos anos 50 do século passado, com história ingênua e efeitos toscos abordando o tema de viagens espaciais e invasões alienígenas. Lembra aqueles filmes preciosos que eram exibidos na antiga “Sessão da Tarde” da TV Globo. Com direção de Lesley Selander, a fotografia é colorida, algo raro para o cinema de gênero da época, principalmente os filmes de pequenos orçamentos. A produção é da “Monogram”, conhecida por trabalhar com pouco dinheiro, e que viria a mudar de nome logo depois para “Allied Artists”   

 

Na história simples e carregada dos mesmos clichês dos filmes similares americanos, uma expedição exploratória de cinco pessoas viaja para Marte num foguete. O grupo é formado por quatro homens e uma mulher, sendo o líder cientista Dr. Jim Barker (Arthur Franz) e seus colegas mais velhos Dr. Lane (John Litel) e Prof. Jackson (Richard Gaines). Completam o time o jovem jornalista Steve Abbott (Cameron Mitchell) e a bela cientista Carol Stafford (Virginia Huston).

No percurso eles enfrentam algumas dificuldades como uma chuva de meteoros e a nave fica avariada resultando num pouso conturbado no planeta vermelho, com o foguete se chocando contra uma montanha. Ao desembarcarem, eles encontram uma civilização de marcianos humanoides, liderados por Ikrom (Morris Ankrum), o Presidente do Conselho Governante, que demonstra inicialmente boas intenções e cortesia, e depois revela sinais de tirania, e que como em todo sistema político, tem como oponente o Conselheiro Senior Tillamar (Robert H. Barratt), mais pacifista.

Os humanos recebem ajuda dos marcianos para consertar o foguete avariado no pouso, para poderem retornar à Terra, mas descobrem depois que a real intenção dos anfitriões é utilizar o foguete para engenharia reversa e produção de uma frota de invasão. Pois Marte está morrendo pela falta de um minério chamado Corium, responsável pelo oxigênio e hidrogênio que mantém as condições de vida no planeta gerando calor, luz e energia, obrigando seus habitantes a migrar para outros mundos como a vizinha Terra, em busca de sobrevivência.

Porém, os terráqueos recebem o apoio de Tillamar e de outro cientista, Justin (Edward Earle), para tentarem uma estratégia de fuga, enquanto o Dr. Barker conhece e se apaixona pela bela filha do cientista marciano, Alita (Marguerite Chapman).      

 

“Voando Para Marte” tem apenas 72 minutos de duração e é uma diversão escapista com sua história carregada de clichês e elementos patéticos como os desnecessários conflitos de relacionamentos amorosos entre o Dr. Barker e a assistente Carol e o triângulo formado ainda pelo jornalista Steve, além da paixão instantânea entre o mesmo Dr. Barker e a marciana Alita. O roteiro é tão simplório e óbvio que não desperta grande interesse, preferindo perder tempo com bobagens em vez de desenvolver boas ideias com o primeiro contato entre humanos e marcianos. A diversão fica por conta dos efeitos especiais toscos e os cenários externos de Marte, assim como suas cidades subterrâneas com tecnologia avançada, mas ainda incapaz de construir com sucesso uma nave capaz de viajar pelo espaço.

É uma produção de baixo orçamento, filmada em alguns dias e concluída para exibição em somente seis semanas, mas que ainda assim se destaca pelo uso da fotografia em cores, ao contrário da grande maioria dos filmes similares da época, que optavam pelo preto e branco, reduzindo os custos de produção. A despeito do roteiro banal, a diversão dos apreciadores do cinema de gênero mais antigo é garantida com materiais reutilizados de outros filmes, nas cenas com o foguete tosco soltando fumaça, desde a decolagem na Terra, a viagem pelo espaço e o pouso em Marte, além da posterior fuga apressada. Tem também o bizarro vestuário alienígena, que vai desde os trajes exageradamente coloridos usados na superfície, quanto as roupas femininas de tamanhos reduzidos de forma proposital das belas marcianas em suas cidades subterrâneas. Além do ambiente externo com estruturas artificiais que abrigam enormes poços de ventilação e elevadores de acesso às camadas inferiores do planeta. E o sempre esperado uso da técnica “matte painting” para representar os cenários grandiosos pintados, associados com movimentos integrados simulando o cotidiano das cidades abaixo da superfície.

As situações são todas preparadas para facilitar o trabalho do roteiro e os momentos na Terra que antecedem a viagem espacial são tediosos e arrastados. O que interessa mesmo, compensando as bobagens do roteiro, começa após a decolagem do foguete e nas ações em Marte, apesar que também no planeta vermelho tudo é simplificado demais. As interpretações parecem teatrais, com vários núcleos de sequências isoladas que acabam se conectando sem muita preocupação com coerência ou realismo. Os marcianos inicialmente tratam bem os hóspedes humanos, depois é revelada a intenção hostil de invasão (clichê largamente explorado), e ocorre a reviravolta previsível com a fuga de volta à Terra.

Curiosamente, a atriz Marguerite Chapman, que tinha um significativo prestígio na época, com uma carreira bem sucedida, foi o principal nome no elenco, com destaque nos cartazes de divulgação, apesar de entrar em cena somente a partir da metade do filme, como a marciana Alita. Já o ator Cameron Mitchell, dono de extenso currículo, é um rosto conhecido na televisão, como na série de western “Chaparral” (1967 / 1971).

 

(RR – 16/04/22)