Comentários de Cinema - Parte 28


Filmes abordados:

Besta do Milhão de Olhos, A (The Best With a Million Eyes, EUA, 1955, PB)
Dia dos Independentes / Ultimato, O (Independents´ Day, EUA, 2016)
El Grito de la Muerte (The Living Coffin, México, 1959)
Monstro de Pedras Brancas, O (The Monster of Piedras Blancas, EUA, 1959, PB)
The Hollow (EUA, 2015)

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* Besta do Milhão de Olhos, A (1955)
O “Rei dos Filmes B” Roger Corman, cultuado produtor e diretor americano do cinema bagaceiro de horror e ficção científica, começou sua carreira no início dos anos 1950, a década de ouro das tranqueiras divertidas do gênero fantástico com histórias absurdas e efeitos toscos (monstros de borracha e naves espaciais hilárias). Um de seus primeiros filmes como produtor (nesse caso, executivo) e direção (porém, ambos não creditados), recebeu o nome por aqui de “A Besta do Milhão de Olhos” (1955), com fotografia em preto e branco e metragem curta com apenas 78 minutos. Trazendo um título sonoro, cartazes e taglines promocionais exagerados e uma introdução sensacionalista narrada por um líder alienígena tirano e conquistador (voz de Bruce Whitmore), cujo propósito evidente era chamar a atenção dos espectadores.
“Eu preciso da Terra. De milhões de anos-luz eu me aproximo de seu planeta. Logo, minha espaçonave aterrissará na Terra. Eu preciso de seu mundo. Eu me alimento do medo, vivo do ódio humano. Eu, uma mente poderosa sem carne e sangue, quero seu mundo. Primeiro, o impensável, os pássaros do ar, os animais da floresta, então o mais fraco dos homens estará sob meu comando. Eles serão meus ouvidos, meus olhos, até que seu mundo me pertença. E porque posso ver seus atos mais íntimos, vocês me conhecerão como A Besta do Milhão de Olhos.”
Allan Kelley (Paul Birch, de “Rebelião dos Planetas”, 1958, entre outras tranqueiras) é um ex-combatente que participou da Segunda Guerra Mundial e agora tenta administrar uma fazenda decadente localizada no meio de um deserto impiedoso da Califórnia, nos Estados Unidos. Sua esposa Carol (Lorna Thayer) está infeliz com a rotina local e eles têm uma filha adolescente, Sandy (Dona Cole), que é namorada do assistente de xerife Larry Brewster (Dick Sargent, um rosto conhecido pela popular série de TV “A Feiticeira”). Tem também um sinistro ajudante de serviços gerais que é mudo e deficiente mental, que apenas é chamado de “ele” (Leonard Tarver). Os negócios do rancho não vão muito bem, e as coisas pioram depois que um objeto voador não identificado (que eles acham inicialmente ser um avião a jato) atravessa o céu muito baixo e com um zumbido tão agudo que quebrou janelas e copos de vidro.
A partir daí, os pássaros da floresta, as pacíficas galinhas, a vaca leiteira do vizinho Ben Webber (o comediante veterano Chester Conklin) e o cachorro dócil da família (Duke), começam a ter comportamentos bizarros e agressivos, com suas mentes controladas para atacar as pessoas. Preocupado com a segurança da família, o fazendeiro decide investigar a relação dos acontecimentos estranhos com um objeto voador metálico pousado numa cratera no deserto, descobrindo uma terrível e mortal ameaça de outro mundo.
“A Besta do Milhão de Olhos” foi dirigido por David Kramarsky (seu único trabalho nesse ofício e que também participou da produção do filme) a partir do roteiro de Tom Filer. Tem uma produção paupérrima e história ingênua típica do cinema fantástico bagaceiro de baixo orçamento de meados do século passado. O filme é repleto de erros de continuidade e com uma narrativa lenta, sendo interessante mesmo o desfecho, apesar de previsível. No confronto de Allan Kelley, que lidera as ações, contra o monstro espacial invasor, uma criatura extremamente tosca com olhos esbugalhados (criada pelo especialista Paul Blaisdell), dentro de uma nave esquisita, que mais parece um artefato militar de espionagem como uma sonda ou satélite. De resto, a história é cansativa e exagerada nos clichês, furos de roteiro e previsibilidade. Mas, é um dos primeiros trabalhos com a participação de Roger Corman (na direção de algumas cenas e produção executiva, ambos não creditados). Ele que é um dos nomes mais importantes e significativos do cinema fantástico, principalmente de orçamentos reduzidos, de todos os tempos, com mais de 400 filmes no currículo, e isso já é motivo suficiente para conhecer mais essa bagaceira. 
Curiosamente, o filme foi distribuído pela ARC (American Releasing Corporation), da conhecida dupla Samuel Z. Arkoff e James H. Nicholson, que depois virou a cultuada AIP (American International Pictures), responsável pela distribuição de uma infinidade de pérolas do cinema fantástico com produções modestas.
(RR – 25/09/16)
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* Dia dos Independentes (2016)
A produtora “The Asylum” costuma lançar cópias porcarias de filmes feitos com orçamentos milionários nos cinemas, sendo o destino o mercado de televisão e vídeo. São os chamados “mockbusters”, filmes apenas oportunistas e muito ruins, principalmente os elencos e roteiros.
Em resposta a “Independence Day – O Ressurgimento”, continuação do filme de 1996 sobre invasão alienígena, a produtora lançou “Dia dos Independentes” (que também recebeu o nome por aqui de “O Ultimato” quando exibido pelo canal de TV a cabo “SyFy”). A direção inexpressiva é de Laura Beth Love, mais conhecida pela fotografia de uma infinidade de tranqueiras modernas como as partes 3 e 4 da franquia “Sharknado”, onde tubarões se locomovem através de tornados e atacam as grandes cidades americanas.
A história é tão ruim que nem merece uma sinopse detalhada, e sim apenas uma abordagem bem superficial. O filme já começa com imensas naves espaciais surgindo em vários locais do mundo. Não sabendo se as intenções dos visitantes são pacíficas ou não, o exército americano tenta uma comunicação através de uma equipe liderada pela vice-presidente Raney (Fay Gauthier). Ela é auxiliada pelo General Roundtree (Sal Landi, creditado como Salvatore Garriola), o Capitão Goddard (Johnny Rey Diaz, creditado como Jonathan Ortiz), o Senador Randall Rayne (Jon Edwin Wright, creditado como Jon Wright), que é o marido da presidente, e pelo agente Taylor (Jude Lanston).
Eles tentam negociar com os alienígenas invasores, que querem a evacuação do planeta oferecendo de forma suspeita naves de transporte para a retirada da humanidade. Porém, uma milícia armada chamada “Terra Primeiro” oferece uma resistência gerando um confronto sangrento com os invasores do espaço.
Pela falta de criatividade onde o que interessa é copiar, temos aqui a já conhecida cena da Casa Branca sendo destruída pelos alienígenas, matando o presidente americano, obrigando a vice a assumir o cargo. E temos também aquelas frases banais e ridículas que só depreciam ainda mais o filme, como “é hora de explodir mais alguns ET´s, a gente vai resistir até a morte” e “esses desgraçados de alienígenas mexeram com o planeta errado”. Nada mais patético do que evidenciar o heroísmo americano como salvador da Terra e a única esperança da humanidade.
O elenco é desconhecido e é difícil imaginar como os atores encontram algum tipo de motivação para participar da realização de algo tão inexpressivo. O filho da presidente, Bobby (Mathew Poalillo), é um personagem extremamente irritante e chorão, e o ator medíocre ainda consegue tornar as coisas ainda piores. Sabemos que os efeitos de CGI são necessários em filmes de invasão alienígena, com naves rasgando o céu e tiroteios para todos os lados, e então podemos até tolerar essa questão em “Dia dos Independentes”, mas o grande problema mesmo é a história reciclada e totalmente previsível, que não desperta interesse.
Os filmes bagaceiros dos anos 50 do século passado, com suas histórias absurdas e muitas delas ingênuas, são eternamente mais divertidos justamente pelas características toscas de um cinema produzido dezenas de anos atrás. Mas, esses filmes do início do novo século produzidos pela “The Asylum” são difíceis de digerir até mesmo para os apreciadores do cinema fantástico bagaceiro, principalmente pelos roteiros de péssima qualidade. Se essas porcarias um dia se tornarão cultuadas só o tempo dirá, mas o que é certo é que o espectador precisa ter muita tolerância para conseguir assistir um filme desses até o fim, sabendo antecipadamente que será um desperdício de tempo.
Imediatamente após seu lançamento, o filme já faz parte do limbo dos esquecidos e dispensáveis, e está no cemitério das tranqueiras que não agregam nada ao gênero. Passe longe ou tente assistir apenas para conhecer as bagaceiras da produtora “The Asylum”. 
(RR – 19/09/16)
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* El Grito de la Muerte (1959)
A lenda da “Maldição da Chorona”, sobre uma mulher fantasma que assombra com seus gritos desesperados de angústia por causa da morte de seus dois filhos soterrados na areia movediça de um pântano, é a ideia básica do filme “El Grito de la Muerte” (1959), produção colorida mexicana com direção de Fernando Méndez (1908 / 1966), que tem no currículo outras tranqueiras do período como “O Morcego” (1957), “Ladrón de Cadáveres” (1957), “O Ataúde do Vampiro” (1958) e “Misterios de Ultratumba” (1959).
Essa mesma famosa lenda mexicana também foi explorada no posterior “A Maldição da Chorona” (La Maldición de la Llorona / The Curse of the Crying Woman, 1963), produção em preto e branco escrita e dirigida por Rafael Baledón, sendo um excelente filme de horror gótico, com todas as características desse fascinante estilo e rivalizando com os melhores exemplos da cultuada produtora inglesa “Hammer”.
O cowboy detetive Gastón (Gastón Santos), acompanhado de seu parceiro “Coiote Louco” (Pedro de Aguillón), investiga o rancho da jovem e bela Maria Elena Garcia (Maria Duval) e sua severa tia Dona Maria (Hortensia Santoveña). Elas tentam administrar o local em decadência, com a morte trágica de Clotilde (Carolina Barret), após seus filhos morrerem no pântano que cerca a fazenda. As coisas complicam com a ocorrência de mortes misteriosas creditadas pelos supersticiosos como relacionadas à maldição de uma mulher chorona que abandonou a tumba em busca de vingança.    
Em “El Grito de la Muerte” (“The Living Coffin” nos Estados Unidos), temos uma mistura de gêneros com elementos de western, horror gótico e comédia pastelão, cujo resultado final não funcionou. A presença de um cowboy herói, perseguições a cavalo, tiroteios e brigas de bar nos remetem para um filme comum de western, sem apresentar nenhum diferencial e se perdendo na infinidade de produções similares. Os elementos de comédia, mesmo que em pequena quantidade em cenas num estilo pastelão, não combinam em nenhum momento com o argumento central de horror com as várias mortes misteriosas e a especulação da maldição da chorona. Essas cenas fora de contexto ficaram a cargo do personagem “Coiote Louco”, que está sempre desesperado para encontrar um local para dormir, e seus momentos hilários são acompanhados por sons cômicos. Além de enfatizar o cavalo do mocinho herói com habilidades improváveis como atirar com um revólver, salvar seu dono de uma areia movediça e descobrir uma passagem secreta no casarão com grande importância para a solução do mistério que assombra o local.
Dessa salada de estilos, o que realmente se destaca e salva o filme do limbo são os elementos de horror gótico, com as mortes violentas causadas supostamente por uma mulher atormentada que retornou do mundo dos mortos em busca de vingança e alívio para seu eterno desespero pela morte trágica dos filhos. O vilarejo decrépito e deserto, os gritos sombrios pela casa, a atmosfera sinistra de ambientes escuros, corredores mal iluminados e criptas geladas, a especulação de lendas e maldições familiares, e o clima desconfortável de mistério e assassinatos, garantem bons momentos de diversão para os apreciadores do estilo.
Apesar disso, infelizmente, “El Grito de la Muerte” perdeu uma grande oportunidade de se destacar no cinema de horror que explora fantasmas assassinos vingativos, por causa da história com mistura de gêneros, principalmente o humor deslocado, além de reviravoltas na trama também mal sucedidas. O filme é curto com apenas 71 minutos de duração, e vale conhecer por curiosidade devido ao tema da lenda da “maldição da chorona”, e pelos bons momentos de horror gótico.
(RR – 12/10/16)
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* Monstro de Pedras Brancas, O (1959)
Sturges (John Harmon) é um homem viúvo que administra o funcionamento de um farol instalado numa construção à beira do mar, com o objetivo de alertar as diversas embarcações durante a noite sobre o perigo de acidentes contra os rochedos, responsáveis por muitos naufrágios. Ele tem uma jovem e bela filha, Lucille (Jeanne Carmen), que trabalha de garçonete num restaurante da pequena vila próxima, e é a namorada do jovem bioquímico Fred (Don Sullivan, das bagaceiras “O Gigante Monstro Gila” e “Teenage Zombies”). Quando assassinatos misteriosos e violentos começam a ocorrer na região, com vítimas degoladas e sem sangue, os moradores do vilarejo, especialmente o dono de um açougue, Kochek (Frank Arvidson), ficam assustados e creditam a responsabilidade das mortes para um lendário monstro que habita as cavernas nos penhascos logo abaixo do farol. Como Sturges parece esconder um terrível segredo, ele não é bem visto pelos habitantes, enfrentando problemas de relacionamento.
Mais mortes estranhas acontecem e o xerife George Matson (Forrest Lewis) está liderando as investigações, sempre fumando seu charuto e bastante intrigado pelas cabeças cortadas com precisão e a ausência de sangue nos cadáveres. Ele é auxiliado pelas perícias e análises do médico Dr. Sam Jorgenson (o inglês Les Tremayne, visto em outras bagaceiras divertidas do período como “Rastros do Espaço” e “Viagem ao Planeta Proibido”, além do clássico “A Guerra dos Mundos”). Devido ao crescente perigo ameaçando os moradores da pequena vila, e para interromper os assassinatos violentos, eles organizam um grupo para caçar o monstro. 
Dirigido por Irvin Berwick, com fotografia em preto e branco e curto (apenas 71 minutos), “O Monstro de Pedras Brancas” é mais um daqueles típicos filmes bagaceiros indispensáveis dos saudosos anos 50 do século passado, com seu roteiro simples e cheio de clichês, onde basicamente uma pequena cidade próxima do mar é atacada por um monstro carnívoro. E para os apreciadores dessas tranqueiras, a diversão está garantida justamente por esse tipo de história e pelos efeitos toscos de maquiagem com mortes violentas para a época, com um ator alto vestindo uma fantasia de borracha para interpretar o monstro assassino. Nesse caso, o trabalho é do ator Pete Dunn, que interpreta também outro personagem no filme, Eddie, um ajudante do açougue. Aliás, a concepção do monstro foi inspirada na criatura do clássico “O Monstro da Lagoa Negra” (Creature From the Black Lagoon, 1954), onde percebemos muitas similaridades. Isso pode ser explicado pelo fato do técnico em efeitos de maquiagem Jack Kevan, ter trabalhado na equipe que criou o famoso monstro que vivia nas águas escuras de uma região remota na Amazônia, e ele é o produtor de “O Monstro de Pedras Brancas”. Por curiosidade o nome do filme refere-se às rochas abaixo do farol, que pareciam brancas pela grande quantidade de gaivotas desorientadas que se lançavam para a morte à noite contra as pedras.
O monstro é uma mutação da família dos diplovertebrons, uma raça pré-histórica anfíbia extinta, e de tão tosco consegue despertar aquele bem vindo sentimento de nostalgia dos incontáveis filmes de baixo orçamento que eram produzidos com histórias parecidas, e que divertiam pelas características bagaceiras. E não falta a tradicional cena onde o monstro caminha carregando em seus braços a mocinha indefesa e desacordada.
Numa época que não existia computação gráfica, os efeitos eram toscos pela falta de recursos técnicos e indisponibilidade de investimentos para resultados com mais qualidade, mas ainda assim eram infinitamente mais divertidos. Até mesmo pela ingenuidade das histórias absurdas, quando em comparação com o cinema fantástico bagaceiro do início do século 21 com efeitos em CGI que não despertam o mesmo interesse pelo excesso de artificialidade, e que facilitam o trabalho preguiçoso dos realizadores em tentar contar uma história melhor.
Em 2005 foi lançado “The Naked Monster”, que é uma homenagem aos filmes “B” da década de 1950, com a participação de muitos atores veteranos, os quais tornaram possíveis e imortalizadas aquelas tranqueiras divertidas do passado. Com uma ideia de comédia de ficção científica e horror, o filme homenageia “O Monstro de Pedras Brancas” numa cena passada num farol, com os atores originais John Harmon e Jeanne Carmen. Curiosamente, um dos diretores dessa paródia é Wayne Berwick (filho de Irvin Berwick), que também esteve no filme de 1959, num papel menor interpretando o garoto Jimmy, que era manco de uma perna e corria aos gritos avisando para todos que o monstro tinha assassinado outra vítima.   
Também por curiosidade, vale citar que antigamente eu visitava os sebos do centro de São Paulo à procura de raridades sobre cinema fantástico, e comprei um poster gigante (70 x 90 cm) nacional e da época de lançamento do filme, com uma arte desenhada destacando o rosto do monstro. “O Terror Invade a Praia... Surge das Profundezas... O Monstro de Pedras Brancas”.
(RR – 07/09/16)

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* The Hollow (2015)
É uma pena que existam tantos filmes que desqualificam o tão fascinante cinema de horror, com roteiros exageradamente ruins, desfile de clichês, previsibilidade e um monstro criado por CGI tão patético que inevitavelmente arremessa o resultado final no limbo das produções que merecem ser esquecidas. É o caso da tranqueira “The Hollow” (2015), com direção do canadense Sheldon Wilson e história dele em parceria com Rick Suvalle. A dupla já havia trabalhado junto em outra porcaria similar, o anterior “Espantalho Assassino” (Scarecrow, 2013).
Três irmãs adolescentes, Sarah (Stephanie Hunt), Marley (Sarah Dugdale) e a caçula Emma (Alisha Newton) vão visitar sua tia Cora (Deborah Kara Unger) numa pequena cidade que fica numa ilha, na época do Halloween. Elas enfrentaram uma tragédia familiar com a morte dos pais num acidente de carro.  Porém, ao chegarem ao local, se deparam com um cenário deserto de mortes e mistérios envolvendo uma lenda de uma criatura sobrenatural da floresta, formada por fogo, ossos e terra, que está em busca de sangue e vingança.
“The Hollow” pode ser resumido rapidamente como uma história banal com ideia central já vista incontáveis vezes, sem absolutamente nada que já não tenha sido explorado à exaustão anteriormente, com os mesmo velhos e muitas vezes entediantes clichês do gênero. As três irmãs ficam o tempo todo correndo de um lado a outro, em encontros e desencontros, perseguições, tiroteios, gritarias e confrontos com um monstro de computação gráfica que não desperta qualquer interesse. Elas eventualmente encontram outros personagens tão patéticos quanto elas, que surgem apenas para serem vítimas da criatura. É o típico filme que nasceu para ser esquecido, premiando com isso a falta de criatividade e preguiça dos realizadores em tentar fazer algo melhor 
(RR – 14/10/16)

Comentários de Cinema - Parte 27


Filmes abordados:

Lago dos Tubarões, O (Shark Lake, EUA, 2015)
Maldição de Ghor, A (Dark Echoes, Iugoslávia / EUA, 1977)
Perigo Vem do Lago, O (Beneath, EUA, 2013)
Terror Tropical (Dragon Wasps, EUA, 2012)
Tubarões de Gelo (Ice Sharks, EUA, 2016)

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* Lago dos Tubarões, O (2015)
Os tubarões são os animais mais maltratados pelos roteiristas no cinema. São tantos os filmes ruins abordando essas feras do mar que uma missão de catalogação é bem difícil. Esses animais foram transformados em fantasmas, zumbis, demônios, monstros geneticamente modificados, criaturas pré-históricas, assassinos que habitam lagos e rios, criaturas que se locomovem através de tornados e avalanches, surgem debaixo da areia, e inúmeras outras coisas absurdas. Quase em sua totalidade, os filmes são patéticos ao extremo, e em alguns poucos e raros casos até proporcionam alguma diversão discreta justamente por suas características bagaceiras.
Não é o caso de “O Lago dos Tubarões” (Shark Lake, 2015), dirigido por Jerry Dugan. Aqui, a regra se mantém como um filme sem atrativos e totalmente descartável, tendo como único diferencial a presença no elenco do ator sueco Dolph Lundgren (das franquias “O Soldado Universal” e “Os Mercenários”), que aparece no cartaz apelativo estampando seu rosto para tentar chamar a atenção dos fãs. Ele que é um ator conhecido pelos filmes de ação com tiroteios, porradas, perseguições e explosões para todos os lados, mas que pertence a um escalão menor, ficando o topo desse gênero do cinema para astros lendários como Sylvester Stallone e Arnold Schwarzenegger. Uma vez precisando de trabalho, Lundgren obviamente aceitou o papel, independente da história ruim e precariedade geral da produção, e teve como resultado apenas mais um filme que não agrega nada em sua carreira.
Ele é o viúvo Clint Gray, que passou cinco anos preso por fazer parte de um esquema de tráfico de animais, deixando sua filha pequena Carly (Lily Brooks O´Briant) para ser cuidada pela policial Meredith Hernandez (Sara Lane), xerife de uma pequena cidade americana no Estado de Nevada. As coisas começam a se complicar quando ocorrem mortes sangrentas misteriosas num lago, creditadas inicialmente e de forma equivocada para um urso. Porém, com a investigação de um professor de oceanografia, Peter Mayes (Michael Aaron Miligan), descobre-se logo que a autoria dos assassinatos brutais no lago é de uma família de tubarões (nem é “spoiler”, pois o título do filme já entrega a revelação). Resta ao herói Clint salvar a cidade da ameaça das feras aquáticas.
A história é carregada de clichês que não despertam interesse. As cenas de mortes não impressionam. Os efeitos em CGI vagabundo não convencem e só contribuem para tornar a produção ainda mais descartável. Tudo é muito óbvio e sem graça, num convite ao sono. Dolph Lundgren nem é o protagonista, ele aparece pouco e sua participação resume-se ao velho clichê de um personagem canastrão metido a durão, e que luta com os tubarões de borracha numa cena tão patética que dá pena. “O Lago dos Tubarões” certamente está entre os piores de todos os filmes ruins com tubarões, mesmo sem exagerar nas ideias absurdas que normalmente o cinema utiliza para ridicularizar essas feras das águas. Mas, a história é tão desinteressante que o resultado foi apenas mais um filme destinado ao limbo dos esquecidos.
(RR – 26/07/16)

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* Maldição de Ghor, A (1977)
Um exemplar tosco e bagaceiro do cinema fantástico de meados dos anos 1970, numa co-produção entre a antiga Iugoslávia e Estados Unidos, dirigido e escrito pelo americano George Robotham (1921 / 2007), em seu único trabalho nesse ofício, uma vez que sua carreira foi como ator de séries de TV e principalmente dublê. Estamos falando de “A Maldição de Ghor” (Dark Echoes), lançado no Brasil em VHS, com a típica história de uma pequena cidade no meio das montanhas amaldiçoada por um fantasma zumbi vingativo.
Em 1874 um navio com cerca de oitenta pessoas afundou num lago próximo de uma cidadezinha na Áustria. A culpa pelo naufrágio recaiu para o capitão Manfred Ghor (Norman Marshall), que voltou do mundo dos mortos para se vingar dos moradores da cidade, especialmente os descendentes dos promotores responsáveis por sua condenação. Quando mortes violentas começam a acontecer, aterrorizando a cidade e dando-lhe a fama de assombrada, um detetive da polícia, Inspetor Woelke (Wolfgang Brook), coordena as investigações e chama para ajudá-lo seu amigo americano Bill Cross (Joel Fabiani), que tem poderes mediúnicos. Juntamente com uma jornalista, Lisa Bruekner (Karin Dor), eles investigam os assassinatos, entrevistam os moradores como a misteriosa Sra. Ziemler (a atriz húngara Hanna Hertelendy), que tem um corvo de estimação e lidera um estranho culto secreto de feitiçaria, e tentam localizar o fantasma do capitão Ghor.
A história é um grande clichê, sem novidades e previsível do início ao fim, principalmente no desfecho. Mas, independente disso, o filme até diverte justamente pelas características bagaceiras da produção, somadas às atuações inexpressivas do elenco e dos efeitos toscos do monstro assassino, com um trabalho risível de maquiagem, numa época sem computação gráfica. Tem também boas cenas com mortes violentas como uma decapitação sangrenta. A condução da investigação policial não empolga e é até bem sonolenta, mas o filme tenta passar um clima sinistro no interior de cavernas e nas ruínas de um castelo de uma pequena cidade atormentada por um fantasma em busca de vingança contra seus algozes. Além de interessantes sequências aquáticas quando um grupo de mergulhadores investiga o barco naufragado no fundo do lago e é surpreendido pelo capitão Ghor apodrecido e ansioso para aumentar sua coleção de vítimas.
As primeiras cenas de ataques do fantasma zumbi até conseguem estabelecer um atmosfera sombria onde o assassino sobrenatural não é visto, aparecendo apenas sua sombra e ouvindo seus grunhidos nos últimos momentos que antecedem a morte das vítimas. E depois que ele é mostrado, com uma maquiagem tosca de cadáver podre, suas aparições tornam-se os destaques do filme, justamente pelas características bagaceiras. Vale conhecer o obscuro “A Maldição de Ghor” por curiosidade e para comprovar como os efeitos toscos são bem mais divertidos que o CGI vagabundo do cinema tranqueira do século XXI.
(RR – 10/08/16)

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* Perigo Vem do Lago, O (2013)
Exibido pelo canal de TV a cabo “SyFy”, “O Perigo Vem do Lago” (Beneath) parece tratar-se num primeiro momento de apenas mais um filme bagaceiro com tubarões. É até compreensível a comparação, pois ao invés de um tubarão assassino temos um imenso peixe carnívoro que ataca um grupo de jovens num barco à deriva num lago. Porém, a história traz elementos interessantes, ao contrário das incontáveis tranqueiras com roteiros completamente desprovidos de conteúdo. Nesse filme dirigido por Larry Fessenden (que também é ator e produtor com muitos trabalhos no currículo), o foco é evidenciar a fragilidade da amizade entre os jovens, que em situações perigosas com ameaças reais de morte, permite que venha à tona a verdadeira face da natureza humana. Outro diferencial é a troca dos efeitos vagabundos de CGI que tornam tudo muito artificial por um monstro mecânico de borracha que devora suas vítimas, lembrando aquelas preciosas bagaceiras dos anos 1950 que faziam do cinema fantástico de baixo orçamento uma grande opção de diversão sem compromisso.
Em “O Perigo Vem do Lago”, seis estudantes que acabaram de se formar decidem se reunir pela última vez para comemorar a amizade da escola, antes de cada um deles tomar seus próprios rumos em novos desafios. O grupo é formado por quatro homens e duas mulheres. Eles decidem passear de barco num lago localizado numa região rural próxima à propriedade do avô de Johnny (Daniel Zovatto), e que parece esconder um segredo mortal em suas águas. O grupo de amigos é ainda formado pelo nerd Zeke (Griffin Newman), que gosta de filmar tudo que acontece, além da morena Deb (Mackenzie Rosman), os irmãos Matt (Chris Conroy) e Simon (Jonny Orsini), e a loira Kitty (Bonnie Dennison), que é a namorada de Matt, o líder do grupo.
A diversão com direito a nadar no lago e beber cerveja logo é interrompida quando um enorme peixe com dentes pontiagudos ataca o grupo e começa a colecionar vítimas, degustando o sangue e carne humanos. A partir daí, sem remos e com rachaduras no casco do barco, eles não conseguem voltar para a segurança da margem do lago, E precisam lutar por suas vidas combatendo o monstro e também uns aos outros, depois que os laços de amizade que pareciam fortes se rompem facilmente com conflitos. Onde cada um deles passa a defender seus próprios interesses, não hesitando em colocar em prática e hipocrisia da raça humana com traição e exposição do rancor que todos carregam dentro de si.
No final das contas, o filme é simples e não tem nada de especial, utilizando uma ideia básica com clichês já muito explorados. Mas, o fato dos realizadores optarem em não utilizar ridículos efeitos de computação gráfica para o monstro aquático e contar uma história destacando o conflito entre os personagens num ambiente ameaçador de morte com desfecho pessimista, já o torna diferente da infinidade de produções do mesmo tema, as quais priorizam CGI vagabundo com histórias fúteis e dispensáveis.
(RR – 05/08/16)

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* Terror Tropical (2012)
Dirigido por Joe Knee, “Terror Tropical” é outra bagaceira moderna com elementos de horror e ficção científica que o canal de TV a cabo “SyFy” gosta de exibir em sua programação. Faz parte daquela manjada equação que pode ser representada como “roteiro desinteressante” + “elenco inexpressivo” + “CGI vagabundo” = tranqueira dispensável.
O cientista entomologista Dr. Humphries (David Stasko), especialista em engenharia biogenética, está trabalhando para uma empresa misteriosa chamada “Transgen Tech” e se perde numa floresta tropical na América Central. Sua filha Gina (a polonesa Dominika Juillet) e a amiga Rhonda Guiterrez (Nikolette Noel) partem em sua procura, unindo-se com um grupo do exército americano que patrulha a floresta combatendo terroristas e traficantes, liderado por John Hammond (Corin Nemec) e entre os soldados, Willy Meyers (Benjamin Easterday). Ao investigarem a mata fechada, são obrigados a enfrentar dois grandes problemas, sendo um deles um grupo de guerrilheiros fortemente armados e supersticiosos, sob o comando de Jaguar (Gildon Roland), um líder violento que acredita em magia e na proteção de espíritos da floresta. O outro, bem pior, é enfrentar um inesperado ataque de vespas gigantes mutantes que cospem fogo.
O desfile de clichês é enorme. Tem o imperialismo americano num país “que não consegue cuidar de suas fronteiras”, o militar metido a herói, as piadas banais, o “cientista louco” (que nesse caso não tem quase importância na história, deixando o protagonismo para sua filha), os tiroteios óbvios na floresta, e os ataques dos insetos modificados geneticamente. De um filme apresentando vespas dragões incendiárias (daí o título) logicamente já se espera um roteiro absurdo e carregado de clichês, perdido numa avalanche de produções com temática similar. Talvez um dia num futuro distante, essas porcarias até possam se tornar cultuadas dentro de um estilo de cinema fantástico bagaceiro produzido exaustivamente nesse início de século XXI, de forma parecida com o que aconteceu com os nostálgicos filmes dos anos 1950. Porém, pelo menos por enquanto, filmes como esse “Terror Tropical” ainda são extremamente ruins e difíceis de assistir, com uma história patética e insetos gigantes não convincentes, criados por efeitos artificiais de computação gráfica.
Curiosamente, as filmagens ocorreram em Belize, na América Central. E Corin Nemec, o ator que interpretou o soldado durão e herói, também foi um dos produtores do filme. Seu nome está envolvido em inúmeras outras tranqueiras como “Tubarões Assassinos” (Raging Sharks, 2005), “Mosquito Man” (2005), “Tubarões da Areia” (Sand Sharks, 2012), “Dracano” (2013), “Robocroc” (2013) e “Pânico no Lago: Projeto Anaconda” (Lake Placid vs. Anaconda, 2015).
(RR – 06/07/16)

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* Tubarões de Gelo (2016)
Como a moda é lançar filmes ridículos com ataques de tubarões, numa espécie de sub-gênero do cinema fantástico bagaceiro do início do século XXI, a parceria entre a produtora “The Asylum” e o canal de TV a cabo “SyFy”, conhecidos pelos filmes ruins, resultou em outra tranqueira chamada “Tubarões de Gelo” (Ice Sharks, 2016). A direção e o roteiro são de Emile Edwin Smith, que têm muitos trabalhos na área de efeitos visuais (como na franquia “Sharknado”), e dirigiu a tranqueira “Mega Shark vs. Mecha Shark” (2014).
As histórias são sempre as mesmas, e o objetivo é encontrar um meio de colocar tubarões atacando as pessoas, não importando como, onde ou os motivos. No Ártico, uma pequena estação de pesquisas chamada “Oásis” está trabalhando para identificar as razões do derretimento do gelo na região. Entre os técnicos e pesquisadores temos o casal David (Edward DeRuiter) e Tracy (Jenna Parker). Ao investigarem o misterioso desaparecimento de vários caçadores, eles descobrem que tubarões vindos da Groenlândia evoluíram e tornaram-se mais ágeis e violentos, atacando animais e pessoas rompendo facilmente as finas camadas de gelo enfraquecidas pelo derretimento. Os animais conseguem isolar a estação de pesquisas, que primeiramente flutua à deriva no mar, e depois afunda sem controle, obrigando seus ocupantes a lutarem pela vida combatendo os tubarões ávidos por suas carnes, enquanto esperam a possibilidade de resgate por um navio quebra gelo.
Trata-se de apenas mais um filme com história ruim e elenco inexpressivo, utilizando tubarões em efeitos vagabundos de computação gráfica. Tem algumas mortes sangrentas bem artificiais e cenas que tentam passar sem sucesso a tensão e claustrofobia de um ambiente fechado atacado pelas criaturas aquáticas assassinas. Mas, até os tubarões, que obviamente são os elementos principais da trama, aparecem pouco quando em comparação com outros filmes similares, e então temos menos cenas ridículas do que o habitual visto nas dezenas de produções genéricas do tema. O filme tenta ser sério, sem apelar para o tradicional “pastelão” que vemos na maioria dos filmes de tubarão, mas ainda assim não funcionou. Percebemos que o diretor preferiu investir mais num suspense com a luta dos pesquisadores para sobreviver ao ataque dos tubarões, mas o convite ao tédio é inevitável. O espectador, mesmo com muito esforço, não consegue estabelecer qualquer tipo de empatia com os personagens, não se importando com suas mortes. Se, até eles próprios não demonstram nenhuma reação convincente em relação à perda violenta dos amigos, é praticamente impossível para quem está assistindo também se importar com eles.
Seria ótimo se os realizadores parassem de explorar esses animais e os deixassem em paz nos oceanos.  
(RR – 01/08/16)

Comentários de Cinema - Parte 26

Filmes abordados:

Dracano (Dracano / Dragon Apocalypse, EUA / Canadá, 2013)
Incrível Homem Que Encolheu, O (The Incredible Shrinking Man, EUA, 1957, PB)
Monstro de Mil Olhos, O (Return of the Fly, EUA, 1959, PB)
Mosca da Cabeça Branca, A (The Fly, EUA, 1958)

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* Dracano (2013)
“Dracano” ou “Dragon Apocalypse” é mais um daqueles típicos filmes ruins exibidos no canal de TV a cabo “SyFy”, com um roteiro péssimo, elenco inexpressivo e efeitos especiais em CGI vagabundo, que são as características principais do que costumo chamar de “cinema fantástico bagaceiro do século XXI”.
Na história, um casal de cientistas, Simon Lowell (Corin Nemec) e a namorada Carla Simms (Victoria Pratt), trabalham juntos numa faculdade com um projeto intitulado “Kronos”, estudando as atividades de vulcões com uma tecnologia experimental instalada no Monte Baker, no Estado americano de Washington. Entre os objetivos estão a detecção prévia de erupções, minimizando a ação de desastres, e a conversão da lava vulcânica em energia limpa. Ainda tem a adolescente Heather Lowell (Mia Faith), filha do cientista, que está sempre acompanhando o trabalho do pai. Porém, um acidente faz com que a faculdade cancele o apoio e os cientistas tornam-se alvos de perseguição, tentando provar que o projeto não tem responsabilidade numa erupção que dizimou muitas pessoas. Em paralelo, ficamos sabendo que os vulcões escondem por séculos casulos em seu interior que abrigam criaturas aladas carnívoras, um fato que já é de conhecimento do governo americano há muito tempo e que tem sido mantido oculto da população, numa típica conspiração, por não saberem como combater a ameaça. Depois que uma infestação de dragões invade os céus em busca de alimento, com os humanos no cardápio, o exército, com as ações lideradas pelo austero General Hodges (Troy Evans), auxiliado pelo Coronel Maxwell (Robert Newman), localiza o cientista Lowell para tentarem utilizar seus conhecimentos como especialista em vulcanologia e o projeto “Kronos” e impedir o apocalipse dos dragões.
  O mais importante em qualquer filme é contar uma boa história. Se o roteiro for interessante, a diversão já é garantida, e o restante, como efeitos especiais e a produção em geral, tornam-se apenas complementos de importância menor. Mas, se a história é ruim, cheia de clichês e absurdos, é muito difícil criar uma empatia, por menor que seja, com o filme.
Em “Dracano”, dirigido por Kevin O´Neill (cujo currículo é maior na área de efeitos especiais), a história é patética, com personagens fúteis, piadas ridículas, monstros artificiais em péssima computação gráfica que não convence, e um desfecho previsível e extremamente banal. Tem o cientista injustiçado que salva o mundo, a adolescente acéfala que torcemos inutilmente para virar comida dos monstros, e os militares calculistas metidos a heróis e que acham que a solução é destruir o inimigo com violência não se importando em explodir a ameaça com uma bomba nuclear.
A única pergunta que fica é como os produtores e toda a equipe envolvida, de técnicos aos atores, conseguem encontrar um mínimo de motivação para fazerem um filme tão descartável e que cujo lugar é o inevitável limbo eterno das produções esquecidas. 
(RR – 15/03/16)

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* Incrível Homem Que Encolheu, O (1957)
Produção da “Universal” de 1957 com fotografia em preto e branco, “O Incrível Homem Que Encolheu” tem direção de Jack Arnold e história de Richard Matheson, dois especialistas no gênero fantástico. Arnold (1916 / 1992) tem no currículo preciosidades como “Veio do Espaço” (1953), “O Monstro da Lagoa Negra” (1954), “A Revanche do Monstro” (1955), “Tarântula!” (1955), “Mensagem do Planeta Desconhecido” (1958) e “O Monstro Sanguinário” (1958). E o escritor Matheson (1926 / 2013) escreveu vários episódios da série de TV “Além da Imaginação” e roteiros de filmes produzidos por Roger Corman e inspirados em Edgar Allan Poe como “O Solar Maldito” (1960), “O Poço e o Pêndulo” (1961), “Muralhas do Pavor” (1962) e “O Corvo” (1963). Também escreveu os roteiros de “Farsa Trágica” (1964), “As Bodas de Satã” (1968), da “Hammer” e “Encurralado” (1971), de Steven Spielberg, e parte de seus livros foram adaptados para o cinema em filmes como “Mortos Que Matam” (1964) e “A Casa da Noite Eterna” (1973).

“Minha prisão. Uma área perigosa e solitária no espaço e no tempo. Pensei que assim como o homem tinha dominado o seu mundo, eu dominaria o meu.” – Scott Carey, analisando o porão de sua casa.

Scott Carey (Grant Williams) está passeando com sua esposa Louise (Randy Stuart) num barco no mar, descansando e tomando um banho de sol. Porém, uma misteriosa nuvem radioativa surge no caminho e apenas ele entra em contato com a estranha neblina. Passados alguns meses e depois que ele também entra em contato aleatório com uma névoa de inseticida, percebe que suas roupas estão ficando folgadas no corpo. Analisando melhor o mistério, descobre que está incrivelmente encolhendo e exames médicos indicaram uma reorganização da estrutura molecular das células de seu corpo, provocada pela exposição à radiação misturada com o inseticida. Com o encolhimento crescente e desenfreado de seus órgãos, Scott Carey tornou-se vítima da imprensa sensacionalista e se isolou do convívio social. Diminuiu tanto de tamanho que passou a morar numa casa de bonecas, lutando por sua vida contra a ameaça de seu gato de estimação. Com o encolhimento progressivo e depois de um acidente num confronto com o imenso gato, ele cai no porão e mora numa caixa de fósforos. Na nova condição repleta de perigos e dificuldades para a sobrevivência, ele terá que lutar o tempo todo por sua vida, encolhendo sem parar, enfrentando desde uma inundação com um vazamento de água de um cano até a batalha mortal com uma aranha enorme que vive no porão e quer manter seu domínio no local.

“Meu inimigo parecia imortal. Mais que uma aranha, ele representava todos os medos desconhecidos do mundo. Todos eles, juntos num medonho horror negro.” – Scott Carey, sobre a guerra contra a aranha colossal.

“O Incrível Homem Que Encolheu” é uma pérola do cinema fantástico dos anos 50 do século passado, geralmente considerado pelos apreciadores do gênero como um dos mais importantes filmes de todos os tempos. Ambientado numa época onde a guerra fria entre os Estados Unidos e a antiga União Soviética pela supremacia do mundo, gerava um clima desconfortável de constante instabilidade e medo de um apocalipse nuclear, com a especulação dos efeitos destrutivos do uso indevido da radiação. A espetacular história mantém o interesse contínuo fazendo o espectador torcer pelo sucesso do protagonista, entendendo seu drama incomum e criando uma empatia por sua grave situação de homem encolhido que luta pela vida num ambiente onde tudo se transforma em perigoso e potencialmente mortal. Sem contar o imenso esforço psicológico para suportar a nova condição e não enlouquecer ou entrar num estado de depressão sem volta, perante o completo cenário pessimista ao seu redor. É difícil até imaginar como seriam nossas ações se tivéssemos que enfrentar uma situação similar, num mundo novo de desafios e perigos, onde o ápice do caos está no confronto com uma aranha que se transformou num monstro gigante pela perspectiva do homem encolhido.
Apesar de uma produção de baixo orçamento, os efeitos especiais são excelentes, principalmente pela época e pelos recursos disponíveis, num período sem a facilidade e artificialidade da computação gráfica, utilizando a construção de mobílias e objetos gigantes para simular a condição diminutiva do personagem. Além de efeitos eficientes de trucagem em cenas como a perseguição do gato de estimação, que de dócil tornou-se um monstro carnívoro ameaçador.
O desfecho, carregado de comentários filosóficos do protagonista, refletindo sobre questões existenciais, é memorável e se destaca na história do cinema de Ficção Científica, ao lado de outros marcantes como “O Homem dos Olhos de Raio-X” (1963) e “O Planeta dos Macacos” (1968).

“Mas, de repente entendi que eram dois extremos de um mesmo conceito. O incrivelmente pequeno e o vasto acabaram se encontrando, como se um grande círculo se fechasse. Olhei para o céu como se de algum modo pudesse compreender, o céu, o universo, os mundos infinitos, a tapeçaria prateada de Deus que cobre a noite. Eu ainda existo.” – Scott Carey, refletindo sobre sua nova condição como “o incrível homem que encolheu”, e que continua encolhendo de forma infinitesimal.

Curiosamente, o escritor Richard Matheson criou uma história para possível sequência onde Louise Carey, a esposa do homem encolhido, também teria que enfrentar o mesmo drama, porém o projeto foi cancelado pelos produtores. E um erro atribuído ao filme é que a aranha utilizada é uma tarântula, porém esses aracnídeos não vivem em teias como mostrado, e sim em tocas e buracos.
(RR – 19/02/16)

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* Monstro de Mil Olhos, O (1959)
O sucesso de “A Mosca da Cabeça Branca” (The Fly, 1958) inevitavelmente despertou a atenção dos produtores para o lançamento de uma continuação. Então, no ano seguinte, só que com fotografia em preto e branco para reduzir os custos, foi lançado “O Monstro de Mil Olhos”, escrito e dirigido por Edward L. Bernds (1905 / 2000), um cineasta mais conhecido por seus filmes de comédia, mas que dirigiu algumas preciosidades do cinema fantástico bagaceiro como “Vinte Milhões de Léguas a Marte” (1956), “Rebelião dos Planetas” (1958) e “Valley of the Dragons” (1961).
Após quinze anos da experiência com teletransporte do “cientista louco” do filme original, cujos resultados catastróficos transformaram-no num monstro misto de homem e mosca, seu filho Philippe Delambre (Brett Halsey) tenta seguir os passos do pai., depois da morte da mãe, deprimida com a tragédia do passado. Ele convence com muito custo o tio François (Vincent Price) para patrocinar a aquisição de novos equipamentos para montar um novo laboratório e retomar o projeto de desintegração e reintegração de matéria, transmitindo estruturas moleculares e explorando terras selvagens do conhecimento científico. Ele tem um parceiro, Alan Hinds (David Frankham), que possui interesses obscuros ao fazer parte do projeto, roubando as ideias com o intuito de vendê-las para magnatas da indústria eletrônica. Ele é aliado de Max Barthold (Dan Seymour), um criminoso interceptador de objetos roubados. Num confronto entre eles, o jovem cientista Philippe torna-se vítima do mesmo acidente que ocorreu com seu pai. Virando um monstro com cabeça, braço esquerdo e perna direita de mosca, fugindo desorientado do laboratório e despertando a atenção da polícia, através das investigações do Inspetor Beecham (John Sutton), que já tinha enfrentado situação similar ao auxiliar o Inspetor Charas no filme anterior.  
Essa continuação é uma produção com orçamento bem modesto e duração curta, com apenas 77 minutos. Foi claramente lançada numa jogada oportunista dos produtores para tentar lucrar com a boa receptividade do filme original. Tanto que a história é muito similar, contando apenas com o acréscimo de outros personagens coadjuvantes e o fato do “homem transformado em monstro” sair do laboratório e percorrer as ruas em busca de vingança, com algumas mortes dos oponentes que causaram sua tragédia. Os efeitos são extremamente bagaceiros, principalmente a representação de um porquinho da índia com mãos humanas, depois que o bicho se misturou com um policial que investigava os crimes de Alan Hinds, e foi colocado na máquina de teletransporte, se transformando numa criatura bizarra com as patas do animal. Mas em compensação, o cientista com uma cabeça enorme de mosca ficou mais interessante que no filme original, onde a cabeça de mosca do cientista transformado era bem menor e menos assustadora. Outro detalhe desabonador é o desfecho comum e previsível, com resultados improváveis. 
A questão é que “O Monstro de Mil Olhos” é na verdade apenas mais um filme bagaceiro de horror com elementos de ficção científica, igual a centenas de outros com características parecidas. E o diferencial que o tornou mais conhecido é apenas o fato de ser uma continuação do clássico “A Mosca da Cabeça Branca”, além também por ter o privilégio da presença de Vincent Price no elenco. Se não fosse por isso, provavelmente o filme se perderia na imensidão de produções similares.  
“O Monstro de Mil Olhos” foi seguido por “A Maldição da Mosca” (1965), que concluiu a trilogia. Depois, em 1986, a história de George Langelaan foi novamente adaptada para o cinema em “A Mosca”, de David Cronenberg, apostando em cenas sangrentas, que por sua vez inspirou a sequência “A Mosca II” (1989), de Chris Wallas.
(RR – 28/02/16)

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* Mosca da Cabeça Branca, A (1958)
“A Mosca” é um conto de Ficção Científica com elementos de Horror escrito pelo francês George Langelaan e publicado na edição de Junho de 1957 da revista americana “Playboy”. No ano seguinte, a ótima história com grande potencial para o cinema, transformou-se no filme “A Mosca da Cabeça Branca” (The Fly), produzido e dirigido pelo alemão Kurt Neumann (1908 / 1958), de “Da Terra à Lua” (1950) e “Kronos, o Monstro do Espaço” (1957). No elenco, temos o ícone Vincent Price num papel coadjuvante, e David Hedison como o protagonista, ele que esteve em “O Mundo Perdido” (1960) e seu rosto é mais conhecido pelo papel do Capitão Lee Crane da série de TV “Viagem ao Fundo do Mar” (1964 / 1968).

“Quanto mais eu sei, mais eu tenho certeza que sei tão pouco. O eterno paradoxo.” – frase do “cientista louco” Andre Delambre num momento de reflexão sobre seus avanços científicos 

A história é ambientada na cidade canadense de Montreal, onde o cientista Andre Delambre (David Hedison) faz experiências com teletransporte de matéria. Casado com a bela Helene (a canadense Patricia Owens) e pai do pequeno Phillipe (Charles Herbert), ele também é sócio de seu irmão François (Vincent Price) numa bem sucedida empresa de eletrônica. Obcecado por seu trabalho na pesquisa científica para o bem da humanidade, ele não mede esforços para conseguir seus objetivos. Fazendo testes de desintegração de objetos e cobaias vivas (sua gata de estimação e um porquinho da índia) numa cabine especial, com seus átomos viajando na velocidade da luz pelo tempo e espaço até se reintegrarem novamente em outro local. Porém, após a ocorrência de um acidente onde ele próprio decidiu ser a cobaia da experiência, seu corpo misturou-se ao de uma mosca intrusa na câmara de teletransporte. Como resultado desastroso, o cientista transformou-se num monstro onde sua cabeça e braço esquerdo eram de uma mosca, e o inseto fugiu com cabeça e braço humanos. Para tentar reverter o processo, ele pede para sua esposa e filho tentarem capturar a “mosca da cabeça branca”, antes que ele pudesse perder a sanidade e o resto de sua humanidade pela influência da mosca em seu corpo. Paralelamente, a polícia, sob a liderança do Inspetor Charas (o inglês Herbert Marshall), investiga os mistérios e eventos sinistros envolvendo o cientista e seu trabalho pioneiro de teletransporte.

O filme é um clássico dos saudosos anos 50 do século passado abordando as temáticas de “cientista louco” e “homem transformado em monstro”. Faz parte de um período fértil com centenas de filmes divertidos do cinema fantástico, muitos deles produzidos com orçamentos baixos e roteiros exagerados na fantasia, com características bagaceiras que justamente despertam o interesse dos apreciadores do estilo. O laboratório do “cientista louco” possui todos aqueles aparelhos sofisticados da época, repletos de luzes piscando, botões e mostradores analógicos, num período turbulento onde a humanidade convivia com a paranoia nuclear da guerra fria, com a preocupação e medo da destruição do planeta e das consequências de atos equivocados com o avanço da tecnologia, dos aparelhos eletrônicos, foguetes, satélites espaciais e vôos supersônicos.

Foi criada uma franquia dentro desse interessante universo ficcional, inicialmente com uma trilogia composta pelo original de 1958 e outras duas sequências com fotografia em preto e branco, “O Monstro de Mil Olhos” (Return of the Fly, 1959), e “A Maldição da Mosca” (Curse of the Fly, 1965). Cerca de vinte anos depois, o cineasta David Cronenberg retomou o assunto e lançou a refilmagem “A Mosca” (The Fly, 1986), com horror gráfico e mortes sangrentas em ótimos efeitos especiais, e que foi seguido por “A Mosca II” (The Fly II, 1989), de qualidade bem inferior. “A Mosca da Cabeça Branca” foi lançado em DVD no Brasil pela “Fox”, com a opção de exibição do filme com a dublagem em português da época em que foi exibido na televisão. Na parte de materiais extras, temos apenas os trailers sem legendas do próprio filme e também da refilmagem de 1986, sua continuação de 1989, e do clássico de FC “Viagem Fantástica” (Fantastic Voyage, 1966).
(RR – 22/02/16)

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Comentários de Cinema - Parte 25

Filmes abordados:

Carnossauro (Carnosaur, EUA, 1993) + Carnossauro 2 (Carnosaur 2, EUA, 1995) + Criaturas do Terror (Carnosaur 3: Primal Species, EUA, 1996)
Doce Aroma da Morte, O (The Sweet Scent of Death, Inglaterra, 1984)
Drácula, o Perfil do Diabo (Dracula Has Risen From the Grave, Inglaterra, 1968)
Era dos Dinossauros, A (Age of Dinosaurs, EUA, 2013)
Maldição da Múmia, A (The Curse of the Mummy´s Tomb, Inglaterra, 1964)
Mulheres Pré-Históricas (Slave Girls / Prehistoric Women, Inglaterra, 1967)
Presentes (Offerings, EUA, 1989)
Tatuagem – A Marca do Diabo (Mark of the Devil, Inglaterra, 1984)
Tempestade Solar (Exploding Sun, Canadá, 2013)
The Man and the Monster / El Hombre y el Monstruo (México, 1959, PB)
Vingança da Deusa, A (The Vengeance of She, Inglaterra, 1968)


* Carnossauro (1993)
 “A Terra não foi criada para nós. Ela foi feita para os dinossauros. Estava desenhada para suas dimensões. Os seres humanos são como formigas passeando pelos seus quartos.” – comentário da “cientista louca” Dra. Jane Tiptree
Aproveitando o lançamento em 1993 de “Jurassic Park – O Parque dos Dinossauros”, de Steven Spielberg, que gerou uma franquia milionária, o produtor e também diretor Roger Corman, com centenas de filmes no currículo, a maioria situados no gênero fantástico, aproveitou o momento favorável comercialmente e lançou o cultuado “Carnossauro”. O filme é uma tranqueira divertida de dinossauros que gerou outras duas continuações. Corman é conhecido como “O Rei dos Filmes B” por seu incrível talento em produzir filmes com orçamentos baixos e filmagens em tempos curtos, e sua carreira marcante teve início nos anos 1950, já tendo acumulado mais de 400 filmes no currículo, e também grande quantidade de créditos na função de diretor, tendo trabalhado com atores ícones do Horror como Vincent Price e Boris Karloff. É uma pena que seu último trabalho na direção foi em 1990 com “Frankenstein – O Monstro das Trevas” (Frankenstein Unbound). Mas, em compensação, como produtor Corman tem mais de 60 anos de contribuições para o cinema fantástico bagaceiro, com um legado eterno de filmes de qualidade duvidosa, mas a maioria com diversão garantida.
Em “Carnossauro”, dirigido por Adam Simon (de “Brain Dead”, 1990) e com sequências adicionais por Darren Moloney, temos uma história tosca ao extremo apresentando a “cientista louca” Dra. Jane Tiptree (Diane Ladd) liderando um projeto científico de engenharia genética com estudos de recombinação de DNA e manipulação de um vírus de frangos. Como resultados, temos dinossauros nascendo em ovos de galinha, crescendo numa velocidade extremamente rápida, e devorando as pessoas. Além da propagação de uma contaminação nas mulheres causando uma febre misteriosa e transformando-as em grávidas de dinossauros. Tudo faz parte de um plano maquiavélico da cientista para eliminar as mulheres e consequentemente a raça humana, dando lugar para os dinossauros pré-históricos povoarem novamente nosso planeta. Para tentar combatê-la, temos um vigia noturno, Doc Smith (Raphael Sbarge), que toma conta dos tratores de uma empresa que está destruindo a natureza, e uma ecologista hippie, Ann Thrush (Jennifer Runyon, atriz casada com um sobrinho de Corman), que defende o slogan “As grandes corporações estão matando nosso mundo”. E tem também um xerife durão, Fowler (Harrison Page), que tenta impedir a invasão dos dinossauros. 
Ao contrário da produtora picareta “The Asylum”, que copia ideias e faz filmes modernos extremamente ruins e exagerados nos efeitos de computação gráfica, o cultuado produtor Roger Corman sempre aproveitou argumentos e cenários usados para fazer filmes também ruins, mas divertidos. Principalmente pela precariedade dos recursos, sem a utilização dos efeitos artificiais de CGI, como exemplificado nos dinossauros toscos de “Carnossauro”, feitos por bonecos em miniatura com controle remoto e fantoches de mão, ou como no caso do tiranossauro, por um robô desajeitado com quase cinco metros de altura. Temos as sempre esperadas cenas de mortes violentas de dezenas de vítimas com o sangue jorrando, e pedaços de seus frágeis corpos destroçados pelas garras e dentes das feras, que vão de um imponente tiranossauro aos ágeis deinonicos (animais parecidos com velociraptores). É verdade que o roteiro é bem exagerado na fantasia, desde a ideia insana da cientista geneticista até a forma como ela coloca seu plano diabólico em ação, mas em compensação, a overdose de mortes sangrentas e o desfecho pessimista contribuem significativamente para o interesse pelo filme, que concluiu com um gancho para sequências inferiores que foram lançadas nos anos seguintes. 
Curiosamente, a veterana atriz Diane Ladd é mãe de Laura Dern, que no mesmo ano de 1993 atuava ao lado de Sam Neill, Jeff Goldblum e Richard Attenborough em “Jurassic Park – O Parque dos Dinossauros”. O experiente ator Clint Howard, com mais de 230 créditos no currículo, tem uma participação rápida com destaque para uma cena onde conta uma piada num bar antes de virar comida de dinossauro. A famosa cena do bebê alien rasgando o ventre de seu hospedeiro no clássico “Alien, o Oitavo Passageiro” (1979) é também referenciada em cena similar no filme produzido por Corman.
Carnossauro 2 (1995)
“Carnossauro” impulsionou a realização de outros filmes ambientados em seu universo ficcional, nas mesmas mãos de Roger Corman como produtor. Em 1995 foi lançado “Carnossauro 2” (Carnosaur 2), com direção de Louis Morneau (de “Morcegos”, 1999 e “Lobisomem: A Besta Entre Nós”, 2012) e com o veterano ator John Savage, com mais de duas centenas filmes na carreira. Foi exibido na televisão na “Sessão das Dez” do SBT.
Na história, ocorre um acidente numa mina de urânio operada por militares, uma unidade secreta localizada no meio do deserto. Depois que os funcionários morrem misteriosamente, cortando as comunicações, o governo americano decide enviar um representante para averiguar, Major Tom McQuade (Cliff De Young). Ele é acompanhado por um grupo contratado de especialistas em missões especiais de resgate, liderado por Jack Reed (John Savage). A equipe é ainda formada por Ben Kahane (Don Stroud), Monk Brody (Rick Dean), a bela Sarah Rowlins (Arabella Holzbog), o expert em computação e piadista Ed Moses (Miguel A. Núñez Jr.) e a piloto de helicóptero Joanne Galloway (Neith Hunter). Ao entrar nas instalações militares, o grupo encontra um cenário de destruição com mortes violentas, e resgatam um sobrevivente em estado de choque, o adolescente Jesse Turner (Ryan Thomas Johnson). Mas, o pior ainda viria com a descoberta de que o local está infestado de dinossauros ávidos por suas frágeis carnes.
Em termos de roteiro, mesmo sendo um clichê colossal, podemos considerar que é melhor do que o filme original, cuja história básica é extremamente exagerada na fantasia. Mas, por outro lado, temos aqui a tão manjada ambientação claustrofóbica, onde um grupo de pessoas está encurralado num local isolado, sendo atacado por dinossauros carnívoros e tentando desesperadamente lutar por suas vidas. Esse argumento é um dos mais explorados no cinema de horror e ficção científica, com centenas de filmes similares, alternando apenas as pessoas, o local e a ameaça. Como sendo nitidamente uma produção de baixo orçamento, o ambiente interno é bem escuro para ajudar a camuflar a precariedade dos efeitos dos dinossauros, mas assim como no filme anterior, temos várias cenas de mortes sangrentas, com braço decepado, cabeça arrancada a dentadas e dilacerações diversas. Porém, os ataques dos monstros demoram e a carnificina inicia apenas depois de meia hora de filme (antes, as cenas de mortes são “off screen”).
“Carnossauro 2” é curto, com pouco mais de 80 minutos, e o desfecho é bem similar ao filme original, com um confronto inverossímil e exagerado entre o adolescente metido a herói Jesse, dirigindo uma grande empilhadeira, contra um tiranossauro, culminando com aqueles resultados já previsíveis. Curiosamente, e talvez como uma homenagem ao clássico da guerra do Vietnã “Apocalipse Now” (1979), de Francis Ford Coppola, quando o helicóptero do grupo de resgate chega à instalação militar, um dos membros da equipe faz questão de ouvir um trecho da música clássica “Cavalgada das Valquírias”, do alemão Richard Wagner. É uma referência para uma cena similar do filme de Coppola, onde um grupo de helicópteros ataca uma aldeia vietnamita ao som da mesma música.
Criaturas do Terror (1996)
Em 1996 veio o terceiro filme da franquia, que recebeu por aqui o manjado título sem criatividade “Criaturas do Terror” (Carnosaur 3: Primal Species), dirigido por Jonathan Winfrey. O pior é que ainda recebeu outro nome patético quando foi exibido na telinha na “Sessão Especial” da TV Record, “Carnossauro: O Monstro Destruidor”, apenas para confundir e dificultar ainda mais um trabalho de catalogação dos filmes que chegam no Brasil.
Um comboio do exército escoltando um caminhão misterioso é surpreendido numa emboscada por mercenários terroristas, que o roubam acreditando num carregamento valioso de urânio. Porém, eles descobrem que na verdade a carga trata-se de uma criação de répteis carnívoros que logo os transforma em alimento. São réplicas de dinossauros geneticamente construídos através de um projeto científico que buscava a cura de várias doenças, estudando sua estrutura de DNA regenerativa. Uma equipe especial de militares, liderada pelo Coronel Rance Higgins (Scott Valentine) e contando com soldados treinados como Sanders (Rodger Halston) e o piadista Polchek (Rick Dean, que curiosamente esteve também em “Carnossauro 2” como outro personagem), é convocada pelo General Pete Mercer (Anthony Peck) para investigar a ocorrência do roubo da carga secreta. Eles encontram corpos despedaçados e sangue espalhado para todos os lados e ficam sabendo através da cientista Dra. Hodges (Janet Gunn) sobre o projeto científico de criação de dinossauros e da necessidade de capturar as criaturas vivas. O grupo do Cel. Higgins une-se com uma equipe de fuzileiros navais para combater as feras, primeiramente num galpão e depois num navio, onde um tiranossauro rex imenso montou um ninho no porão de carga e está criando dúzias de ovos para reprodução.
O terceiro filme da franquia “Carnossauro” pode ser classificado simplesmente como “mais do mesmo”. Ou seja, roteiro similar aos anteriores, explorando o velho clichê formado por um grupo de soldados num ambiente fechado e com atmosfera de claustrofobia (galpão, depois navio), combatendo uma ameaça (dinossauros famintos por suas carnes). O filme tem até um desfecho novamente com gancho, mas a série parou por aí, até porque não tinha mais como contar uma história com um mínimo de interesse. Também temos os mesmos efeitos bagaceiros e fotografia escura para esconder a precariedade, e os mesmos personagens estereotipados como um líder militar metido a durão. E continuam as piadas banais e comentários absurdos de personagens que estão prestes a morrer de forma violenta, e ainda encontram humor nos últimos momentos de vida, não combinando com a postura esperada de soldados. Tudo isso até consegue divertir um pouco, principalmente para os apreciadores de cinema bagaceiro, mas no caso desse “Carnossauro 3” a repetição de clichês tornaram o filme mais cansativo, num último suspiro da franquia.  
Curiosamente, um dos policiais que chega ao local onde está o caminhão roubado pelos terroristas com a carga de dinossauros, encontra um cenário sangrento repleto de vítimas esquartejadas, e faz um comentário hilário: “Isto aqui está parecendo um pesadelo de sexta-feira 13”.
(RR – 17/02/16)

* Doce Aroma da Morte, O (1984) – Episódio 8 da série de TV “Hammer House of Mystery and Suspense”, produzida em 1984 pelo cultuado estúdio inglês “Hammer”, em parceria com a americana “Fox”, sendo por isso também conhecida como “Fox Mystery Theatre”. Foram apenas 13 episódios com duração aproximada de 70 minutos, que acabaram transformando-se em filmes independentes. No Brasil, foi exibida em nossas televisões com os títulos “Suspense” ou “Cine Suspense”. “O Doce Aroma da Morte” (The Sweet Scent of Death) tem direção do húngaro Peter Sasdy, cineasta conhecido da própria “Hammer”, assinando filmes como “O Sangue de Drácula” (1970) e “Condessa Drácula” (1971). No elenco, temos os experientes Dean Stockwell, com mais de 200 créditos na longa carreira e Shirley Knight, que não fica muito atrás, com uma infinidade de trabalhos no currículo. O diplomata americano Greg Denver (Dean Stockwell) se muda para a Inglaterra para assumir a embaixada em Londres. Muito atarefado, ele decide passar mais tempo com a esposa Ann Fairfax (Shirley Knight), uma advogada que deixou a profissão para acompanhar o marido. Eles se mudam para uma mansão rural, porém depois instalados na nova casa, fatos misteriosos começam a ocorrer e Ann sente que está sendo observada e atormentada por alguém à espreita. Levantando suspeitas sinistras de acontecimentos de seu passado nos Estados Unidos, onde ela defendeu no tribunal o suspeito pelo assassinato de uma jovem que ia se casar com Terry Marvin (Michael Gothard), que vive agora nos arredores da mansão como florista, especializado em rosas vermelhas (daí a relação com o título do filme). Outras personagens se envolvem no mistério como a estranha secretária de Greg, Paula (Toria Fuller), e a responsável pelas Relações Públicas do embaixador, a bela Suzy Kendrick (Carmen Du Sautoy), despertando a investigação policial a cargo da dupla de detetives formada pelo Sargento Wells (Robert Lang) e Constable Gray (Struan Rodger). É uma típica história de detetive, com seus elementos característicos, assassinatos, vinganças, clima de mistério, tensão e suspense, com investigação policial e as tradicionais reviravoltas, tudo funcionando até de forma eficiente, mas sem fugir muito do comum, faltando as sempre esperadas novidades ou mais ousadia no roteiro. É um episódio ligeiramente menor dessa interessante série da “Hammer”. (RR – 22/12/15)

* Drácula, o Perfil do Diabo (1968) – Terceiro filme da produtora inglesa “Hammer” com o famoso vampiro Drácula interpretado por Christopher Lee. Antes tivemos “O Vampiro da Noite” (Horror of Dracula, 1958) e “Drácula: Príncipe das Trevas” (Dracula: Prince of Darkness, 1966), e depois mais quatro filmes, “O Sangue de Drácula” (Taste the Blood of Dracula, 1970), “O Conde Drácula” (Scars of Dracula, 1970), “Drácula no Mundo da Mini Saia” (Dracula AD 1972, 1972) e “Os Ritos Satânicos de Drácula” (The Satanic Rites of Dracula, 1973). “Drácula, o Perfil do Diabo” tem direção de Freddie Francis e roteiro de Anthony Hinds, creditado como John Elder. A história se passa um ano após os eventos do filme anterior, com a chegada do monsenhor Ernst Muller (Rupert Davies) ao vilarejo próximo do castelo de Drácula. Vendo que os aldeões continuavam aterrorizados mesmo após a suposta destruição do vampiro, ele decide subir ao castelo no alto das montanhas para recitar em latim um ritual de exorcismo, deixando uma imensa cruz na porta da imponente e sombria construção de pedra. Ele é acompanhado pelo padre local (Ewan Hooper) e após um acidente com sua queda e um ferimento na cabeça, seu sangue ressuscita o cadáver de Drácula, preso nas águas congeladas próximas ao castelo. A criatura da noite ressurge e transforma o padre em seu servo, partindo para a vingança contra o monsenhor que lacrou a porta do castelo com a cruz. Chegando numa pequena cidade vizinha, ele espalha o horror fazendo vítimas como Zena (Barbara Ewing), a garçonete de um bar, e tem um interesse especial na jovem Maria. Ela é sobrinha do monsenhor e é interpretada pela bela Veronica Carlson, de filmes como “Frankenstein Tem Que Ser Destruído” (1969), “O Horror de Frankenstein” (1970) e “O Carniçal” (1975). Drácula tem que enfrentar uma batalha contra o namorado ateu da moça, Paul (Barry Andrews), que trabalha na pousada de Max (Michael Ripper, o recordista de papéis coadjuvantes na “Hammer”).  Se no filme anterior, “Drácula: O Príncipe das Trevas”, o vampiro não diz uma única palavra, por imposição de Christopher Lee, insatisfeito com o roteiro e receoso por alguma repercussão negativa do personagem, em “Drácula, o Perfil do Diabo”, o temível vampiro sugador de sangue tem até algumas falas, mas são poucas. Sempre rude e agindo com selvageria e violência, certamente seria mais interessante se Drácula tivesse uma participação maior. Suas expressões faciais continuam intimidadoras e seus olhos vermelhos de sangue traduzem o ódio e horror de forma avassaladora. Mas, o vampiro aparece pouco, no meio de uma história comum e previsível, onde sabemos sempre antecipadamente como será o desfecho num confronto final (similar em todos os filmes com o vampiro, nem sendo mais considerado um “spoiler”). Geralmente sabemos o destino dos personagens, e nesse filme as coisas não são diferentes, contando ainda com um acréscimo de moralismo religioso católico. Por outro lado, não faltam as esperadas cenas e elementos tão característicos do horror gótico que se transformaram na marca registrada da “Hammer”, motivo maior da existência de uma imensa legião de cultuadores eternos que o estúdio ganhou a partir de suas atividades iniciadas em meados dos anos 50 e permanecendo por mais duas décadas. Temos o castelo sombrio, as carruagens, os vilarejos em pânico com seus aldeões supersticiosos, as névoas sinistras, a floresta fantasmagórica e aquela atmosfera constantemente perturbadora de medo e insegurança. Curiosamente, o mesmo ritual de exorcismo recitado em latim que foi proferido pelo monsenhor para livrar o castelo de Dráculo do mal absoluto, foi também reproduzido na introdução de uma música da banda de metal extremo “Marduk” (Suécia). Trata-se da faixa “Accuser / Opposer”, do álbum “Rom 5:12” (2007). No “Youtube” tem vários vídeos dessa música, segue dois deles: https://www.youtube.com/watch?v=6_eMI6HM4kY e https://www.youtube.com/watch?v=rGPhzzN11fo (sendo este um show na Alemanha em 2008). (RR – 30/12/15)

* Era dos Dinossauros, A (2013) – A produtora americana “The Asylum”, especializada em cinema fantástico bagaceiro, com o apoio do canal de TV a cabo “SyFy” na exibição, é a responsável por outra tranqueira colossal envolvendo dinossauros recriados por biotecnologia, que invadem a cidade de Los Angeles se alimentando de carne humana. “A Era dos Dinossauros” (Age of Dinosaurs) tem direção de Joseph J. Lawson, o mesmo cineasta de “Nazistas no Centro da Terra” (2012), e nome mais associado como técnico em efeitos visuais em dezenas de outras porcarias. O filme também tem a presença dos veteranos atores Ronny Cox, de “Robocop, o Policial do Futuro” (1987), e Treat Williams, de “Tentáculos” (1998). “Geneti-Sharp” é uma empresa de biotecnologia que conseguiu sucesso com a pesquisa de regeneração de tecidos, ajudando muitas pessoas queimadas a recuperarem a pele. Seu presidente, Justin (Ronny Cox), decidiu então conquistar objetivos mais audaciosos e patrocinou um projeto científico liderado pelo inescrupuloso Doug (Jose Rosete) e o veterinário Dr. Craig Carson (Joshua Michael Allen), para trazer de volta à vida vários tipos de dinossauros, através de amostras do DNA. Porém, ocorre um acidente com o sistema de segurança no teatro onde os animais eram apresentados ao público, e todo o prédio transforma-se num ambiente de desespero, com as pessoas lutando por suas vidas para não serem alimento dos dinossauros. Em meio à confusão, um bombeiro em folga, Gabe Jacobs (Treat Williams), que só precisa de um machado para resolver os problemas, se perde de sua filha adolescente, Jade (Jillian Rose Reed), que parece um zumbi que não larga o telefone celular, enquanto o prédio é cercado pela polícia para tentar inutilmente impedir a invasão dos monstros pré-históricos pela cidade em busca do sangue e carne de suas vítimas. Como sendo mais uma produção da picareta “The Asylum”, é plenamente possível sabermos com antecedência que “A Era dos Dinossauros” tem todos os elementos tradicionais de seus filmes ruins. O maior problema, como sempre, é o roteiro patético, e nesse caso tendo como foco um imenso clichê, ou seja, “alguém metido a herói que no meio do caos precisa encontrar e proteger um familiar do perigo mortal de uma ameaça monstruosa”. E essa história banal está acompanhada de efeitos especiais vagabundos, os eternos “CGI” que tornam tudo muito artificial, exagerado e inverossímil. E, claro, também não vai faltar o manjado desfecho previsível, dessa vez envolvendo o bombeiro herói, sua filha, um helicóptero e um pteranodonte, no meio do famoso letreiro gigante de “Hollywood”. Enquanto os dinossauros estão dentro do prédio da empresa de biotecnologia, percorrendo os andares e colecionando vítimas, até existe uma razoável atmosfera de claustrofobia, com as pessoas desesperadas lutando por suas vidas, que mesmo já vista em centenas de filmes similares, ainda funciona, auxiliada por cenas de mortes sangrentas. Enquanto os dinossauros estão dentro do prédio da empresa de biotecnologia, percorrendo os andares e colecionando vítimas, até existe uma razoável atmosfera de claustrofobia, com as pessoas desesperadas lutando por suas vidas, que mesmo já vista em centenas de filmes similares, ainda funciona, auxiliada por cenas de mortes sangrentas. Mas, depois que os bichos carnívoros escapam para as ruas de Los Angeles, perseguindo carros, derrubando helicópteros, destruindo construções de concreto e comendo as pessoas, o filme se perde totalmente tornando-se exagerado e ridículo, características registradas da produtora “The Asylum”, não passando de apenas mais um produto descartável destinado ao esquecimento rápido. (RR – 01/02/16)

* Maldição da Múmia, A (1964) – A contribuição do estúdio inglês “Hammer” para o universo ficcional das múmias do antigo Egito é composta por quatro filmes. São eles: “A Múmia” (The Mummy, 1959), de Terence Fisher e com Christopher Lee e Peter Cushing, “A Maldição da Múmia” (The Curse of the Mummy’s Tomb, 1964), de Michael Carreras, “A Mortalha da Múmia / O Sarcófago Maldito” (The Mummy’s Shroud, 1967), de John Gilling e com André Morell, e “Sangue no Sarcófago da Múmia” (Blood From the Mummy’s Tomb, 1971), de Seth Holt e Michael Carreras, e com Andrew Keir. No segundo filme da série, a história é ambientada no Egito de 1900, onde um grupo de arqueólogos europeus encontra a tumba de 3000 anos do príncipe Ra-Antef, um dos filhos gêmeos do faraó Ramsés VIII, após uma exaustiva jornada de dezoito meses pelo deserto. A equipe é formada pelos egiptólogos ingleses Sir Giles Dalrymple (Jack Gwillim) e John Bray (Ronald Howard), além da bela francesa Annette Dubois (Jeanne Roland) e do empresário americano da área de entretenimento Alexander King (Fred Clark), o financiador da expedição. A múmia preservada em seu sarcófago, e todos os tesouros, pertences pessoais e artefatos valiosos, foram levados para Londres para serem apresentados à imprensa. E depois seguiriam para os Estados Unidos com o objetivo de serem expostos num evento itinerante, mesmo contra a vontade do governo egípcio, representado por Hashmi Bey (George Pastell), que não queria que a múmia saísse de seu país de origem. Durante o trajeto por navio até a Inglaterra, os arqueólogos conhecem outro estudioso e colecionador de objetos do antigo Egito, o misterioso Adam Beauchamp (Terence Morgan), que desperta um interesse amoroso em Annette. Após chegarem a Londres, tem início uma ocorrência de fatos estranhos, como o desaparecimento da múmia em seu sarcófago seguido de uma série de ataques violentos com mortes envolvendo a equipe e todos que testemunharam a abertura da tumba, desencadeando “a maldição da múmia” (do título). De todos os quatro filmes de múmias da “Hammer”, certamente o melhor disparado é o clássico “A Múmia” (1959), dirigido pelo especialista Terence Fisher (o melhor cineasta do estúdio) e estrelado pela dupla dinâmica Christopher Lee (como o monstro) e Peter Cushing (como o arqueólogo rival). Como esse trio não fez parte dos outros três filmes, a qualidade e interesse inevitavelmente diminuíram. Mas, apesar disso, “A Maldição da Múmia” é um filme da cultuada produtora (curto, com apenas 78 minutos) e está situado dentro da temática de um dos grandes monstros sagrados do cinema de horror. E esses já são motivos suficientes para agregar valores ao filme e despertar o interesse dos fãs. Michael Carreras fez de tudo aqui, dirigiu, escreveu o roteiro sob o pseudônimo de Henry Younger e produziu o filme. Porém, é uma pena comprovar que ele é mais talentoso apenas como produtor de muitos filmes divertidos da “Hammer”, e seu trabalho principalmente como roteirista, é bem inferior. A história desse filme é apenas trivial, exagerada nos clichês e com uma “surpresa” envolvendo o personagem Adam Beauchamp que teve um efeito contrário (na verdade, a tal surpresa é até previsível e exagerada na fantasia). O que realmente vale destacar nesse segundo filme da série de múmias da “Hammer”, é o mesmo que acontece com os outros dois seguintes: as cenas de ataque do monstro envolto em bandagens (interpretado por Dickie Owen) contra os profanadores de sua tumba, e as eventuais mortes violentas. Curiosamente, o eterno ator coadjuvante Michael Ripper também aparece aqui, numa ponta rápida no início como o serviçal egípcio Achmed. Ele que é o campeão de participações em filmes da “Hammer”. (RR – 10/02/16)

* Mulheres Pré-Históricas (1967)O estúdio inglês “Hammer” tem uma importância extremamente significativa na história do cinema fantástico, principalmente com seus filmes de atmosfera gótica, uma marca registrada que tornou a produtora tão cultuada. Porém, vários outros temas também foram abordados, como o sub-gênero de civilizações perdidas no tempo, com histórias classificadas como aventura com elementos de fantasia. É o caso de “Mulheres Pré-Históricas”, filme de 1967 dirigido, escrito e produzido por Michael Carreras, e com um elenco enorme formado especialmente por belas mulheres vestidas com poucas roupas. David (Michael Latimer) é um guia de expedições de caça de animais selvagens, que encontra no meio da selva uma misteriosa tribo de nativos que querem matá-lo em nome de seu deus, uma imagem de um rinoceronte branco. Porém, em meio ao ritual de sacrifício, ocorre um evento onde ele é transportado para o passado encontrando uma civilização formada por mulheres de cabelos morenos e “pré-históricas” (do título original adotado nos Estados Unidos). Elas são lideradas pela rainha tirana Kari (Martine Beswick), que mantém as mulheres de cabelos loiros como serviçais “escravas” (do título original na Inglaterra). Os poucos homens são também escravizados e mantidos presos numa caverna. O jovem inglês recém chegado se apaixona por uma das mulheres loiras, Saria (a húngara Edina Ronay), e juntos eles tentam organizar uma revolta contra a tirania da rainha morena, libertando as loiras da escravidão e impedindo os constantes sacrifícios oferecidos para uma tribo violenta de homens negros que mantém a paz num acordo que exige as mulheres em troca. Ao contrário de alguns dos outros filmes da “Hammer” com temática de civilizações perdidas, nesse não há dinossauros ameaçadores caminhando pela Terra. Porém, encontramos clichês tradicionais com o roteiro apresentando uma rainha que governa sua tribo com tirania, despertando a fúria dos escravos, que desejam a liberdade. E como herói opositor, surge um homem vindo do futuro que desperta um interesse amoroso na rainha, mas que se apaixona por uma das escravas, se engajando numa luta para se livrarem da opressão. A história é simples demais e repleta de danças e cantorias entediantes, num inevitável convite ao sono. Por outro lado, o que realmente consegue manter a atenção do espectador é o desfile de belíssimas mulheres, tanto morenas quanto loiras, em trajes sumários, garantindo a diversão, juntamente com os elementos fantásticos como a viagem no tempo do protagonista, visitando e interferindo nas ações de um mundo do passado. Curiosamente, “Mulheres Pré-Históricas” foi filmado em apenas quatro semanas, utilizando os mesmos cenários e vestuários reaproveitados do filme anterior “Mil Séculos Antes de Cristo” (1966), de Don Chaffey e com a belíssima Rachel Welch no elenco. (RR – 09/02/16)

* Presentes (1989)Exibido na televisão brasileira no cultuado “Cine Trash” da Band, “Presentes” (Offerings) tem direção, roteiro e produção de Christopher Reynolds. É um filme slasher de 1989 e extremamente datado, onde tudo, desde trilha sonora, figurinos, diálogos, atmosfera e história sobre um serial killer vingativo, nos remetem aos anos 80 do século passado. Após o abandono do pai, o menino John Radley (Josh Coffman) parou de falar, e passou a viver recluso com a mãe megera (Rayette Potts), sofrendo perseguições e bullyng dos vizinhos e colegas da mesma idade, exceto pela amiga Gretchen (Kerri Bechthold), que o defende das ofensas dos outros. Mas, um acidente num poço traria consequências trágicas para John, que ficou deformado e foi internado numa clínica psiquiátrica pelos próximos dez anos. Fugindo do hospício e agora adulto, John (Richard A. Buswell) usa uma máscara para ocultar as feridas de seu rosto, e retorna para o bairro onde viveu na infância à procura de vingança contra os antigos colegas que o insultavam, como Kacy (Elizabeth Greene) e Linda (Heather Scott), além de Jim Paxton (Jerry Brewer), David (Tobe Sexton) e Greg (Patrick H. Berry). Enquanto ocorrem muitas mortes violentas e misteriosas, além de pedaços de corpos serem oferecidos como presentes (daí o título), a polícia tenta desvendar os assassinatos com a investigação do Xerife Chism (G. Michael Smith). Completamente influenciado por “Halloween: A Noite do Terror” (1978), do psicopata mascarado Michael Myers, “Presentes” na verdade não oferece nada que não sejam os tradicionais e manjados clichês do subgênero “slasher”. Tudo é muito óbvio e previsível, e as cenas de mortes, apesar de sangrentas em alguns casos, também estão longe de permanecer na memória após alguns minutos do término do filme. Visto muitos anos depois, é lógico que desperta aquele sentimento de nostalgia da década de 1980, um período muito significativo para o cinema de horror, especialmente os filmes com psicopatas chacinando suas vítimas das mais diversas maneiras, com Jason Voorhees, Michael Myers e Freddy Krueger, entre outros, disputando um campeonato de empilhamento de cadáveres. Mas, além da nostalgia oitentista, sobra pouco de um filme apenas comum e que se perde na infinidade de produções similares. O diretor e roteirista Christopher Reynolds não seguiu a carreira, tendo um currículo pequeno, formado apenas por esse “Presentes” e o seguinte “Lethal Justice” (1991). (RR – 24/12/15)

* Tatuagem – A Marca do Diabo (1984) – Em 1984 a produtora inglesa “Hammer” lançou uma série para a televisão que recebeu o nome no Brasil de “Suspense” ou “Cine Suspense” (Hammer House of Mystery and Suspense), numa produção em parceria com a Fox (por isso também era conhecida como “Fox Mystery Theatre”). Foram 13 episódios com histórias independentes e duração de 70 minutos. O primeiro episódio foi “Tatuagem – A Marca do Diabo” (Mark of the Devil), dirigido por Val Guest (1911 / 2006), conhecido cineasta por assinar vários filmes importantes da “Hammer” como “Terror Que Mata” (1955), “Usina de Monstros” (1957), “O Monstro do Himalaia” (1957). E no elenco temos Dirk Benedict, que foi o homem transformado em monstro no divertido “O Homem-Cobra” (1973) e também seu rosto é conhecido e identificado pelos fãs da série de TV “Galactica: Astronave de Combate” (1978 / 1979), como o Tenente Starbuck. Frank Rowlett (Dirk Benedict) está apaixonado pela bela Sara Helston (Jenny Seagrove), que é filha de um rico empresário (John Paul) e que torna-se sua esposa. Mas, ele está envolvido em negócios obscuros, devendo dinheiro para o Sr. Westcott (Tom Adams), que o ameaça para receber o pagamento. Pressionado, ele tentar ganhar algum dinheiro num jogo de cartas e para conseguir entrar na partida de poker ele vende seu relógio (um presente de Sara) para um misterioso tatuador chinês, Hai Lee (Burt Kwouk), também conhecido por envolvimento com magia negra. Porém, Frank descobre que o chinês guarda muito dinheiro em sua casa e decide roubá-lo. Eles entram em confronto e Frank é ferido levemente no peito por uma adaga de tatuagem. O que ele não imaginaria é que a pequena mancha vermelha se transformaria numa enorme tatuagem que cobre seu corpo e cujos desenhos tornam-se reveladores, obrigando-o a evitar exposição com a esposa, se esconder e cometer assassinatos. Além de fugir também de uma investigação policial liderada pela dupla formada pelo Inspetor Grant (George Sewell) e Sargento Kirby (Peter Settelen). A história é simples e curta, mas mesmo com essas características, é bastante eficiente. Possui tudo aquilo que queremos ver num filme de suspense com elementos de horror: eventos sobrenaturais, magia negra, mistério, tensão, vingança, assassinatos, investigação policial e principalmente o pesadelo vivido pelo protagonista, que luta para se livrar de uma terrível maldição. Curiosamente, a cópia desse filme que tive acesso é uma gravação tosca em VHS convertido para DVD, de quando foi exibido na televisão no final doa anos 80 pela TV “Alterosa”, de Belo Horizonte/MG, afiliada do “SBT”. Rever “Tatuagem – A Marca do Diabo” com a dublagem original da época foi um exercício de pura nostalgia, em mais um presente que a “Hammer” deixou para seus cultuadores. (RR – 19/12/15)

* Tempestade Solar (2013)O canal de TV a cabo “SyFy” é conhecido pela exibição de filmes de ação com elementos de ficção científica e histórias de catástrofes globais abordando a destruição de nosso planeta. São tantos filmes similares com os mesmos clichês exaustivos, que dá pena da Terra sendo tão maltratada pelos roteiristas sem imaginação e preguiçosos em tentar desenvolver alguma ideia no mínimo razoável. Em “Tempestade Solar”, uma produção canadense dirigida pelo inexpressivo Michael Robison e roteiro patético de Jeff Schechter, que não tem nenhuma importância para o cinema fantástico, a única diferença para a imensidão de outros filmes ruins do mesmo estilo e temática, é que sua duração tem quase três horas, com a exibição dividida em dois filmes, dobrando o sofrimento do espectador. Depois que termina a péssima primeira parte ainda vem em seguida a continuação ainda pior. Apesar da duração enorme do filme, é plenamente possível resumir a sinopse em poucas linhas de tão ruim e sem interesse que é a história. Uma empresa privada está anunciando a primeira viagem espacial civil, com um avião projetado especialmente para dar a volta na Lua e retornar em poucas horas, graças à capacidade de viajar numa velocidade extremamente alta. Porém, um defeito ocorre com os motores após uma tempestade solar com explosão de raios cósmicos e a nave perde o controle rumando para uma colisão com o Sol. Após o trágico acidente, a Terra passa a ser terrivelmente ameaçada com uma imensa descarga de raios solares que se dirige ao planeta. Para evitar o apocalipse final, o destino do mundo fica nas mãos do cientista Craig Bakus (Anthony Lemke) e do astronauta Don Wincroft (David James Elliott), que partem rumo ao Sol numa nave similar da agência espacial americana, para tentar criar um evento que anule os efeitos destrutivos dos raios solares. A primeira parte é centrada na nave “Roebling Clipper” com seus seis passageiros, entre tripulação e civis, apresentando os personagens e mostrando a aventura do vôo espacial inaugural para a Lua. Perde-se tempo demais com personagens que não despertam interesse, com uma overdose de clichês e cenas carregadas de pieguice. Onde o ápice do tédio gira em torno de um triângulo amoroso entre os protagonistas que tentam salvar o mundo e a conselheira científica do presidente americano, Cheryl Wincroft (Natalie Brown), ex-esposa de um deles e atual mulher do rival. Na segunda parte de noventa minutos, a ação se volta, depois da tragédia da nave civil que se chocou com o Sol, para a tentativa banal de evitar o fim do mundo. Com a utilização de outra nave, pertencente à NASA e copiada e melhorada a partir da primeira, para reverter o processo da tempesatde solar que acabaria com a vida na Terra. É difícil dizer qual das duas partes é a pior. Imagine dois filmes péssimos que se complementam, com o roteirista inventando uma série de tramas paralelas para conseguir preencher o total de três horas do filme. São cenas envolvendo personagens secundários que só contribuem para o sono do espectador. Temos vários momentos descartáveis com o presidente americano Mathany (Frank Schorpion), sua filha adolescente Lara (Charlotte Legault) e a primeira dama Simone (Jane Wheeler), que era uma das passageiras da nave que foi para a Lua, contribuindo para promover a viagem. Temos também cenas tediosas com Joan Elias (Julia Ormond), a responsável de um acampamento humanitário no Afeganistão, esposa de Alan (John Mclaren), outro passageiro do primeiro vôo espacial civil. E a pior de todas as subtramas está reservada para uma pequena cidade americana onde vive Marta Hernandez (Cristina Rosato), esposa de outro passageiro, que ganhou a vaga numa loteria e tem medo de avião. Se eu fosse enumerar e descrever a imensa quantidade de erros, furos de roteiro, situações inverossímeis e cenas patéticas, provavelmente não conseguiria terminar esse texto. Então, prefiro parar por aqui e finalizar com um pequeno alerta de um apreciador de cinema fantástico bagaceiro: “Tempestade Solar” é um completo desperdício de um longo tempo de três horas que poderia ser melhor aproveitado com outros filmes ruins, mas que pelo menos divertem. (RR – 08/02/16)

* The Man and the Monster (1959) – Entre o final da década de 1950 e meados da seguinte, o cinema de horror gótico mundial recebeu a significativa e valiosa contribuição de muitos filmes mexicanos produzidos e estrelados por Abel Salazar (1917 / 1995), como “O Morcego” (The Vampire / El Vampiro, 1957), a sequência “O Ataúde do Vampiro” (The Vampire´s Coffin / El Ataúd del Vampiro, 1958), “Black Pit of Dr. M” (Misterios de Ultratumba, 1959), “The Brainiac” (El Barón del Terror, 1962), “The Living Head” (La Cabeza Viviente, 1963) e “A Maldição da Chorona” (The Curse of the Crying Woman / La Maldicion de la Llorona, 1963), entre outros. Em “The Man and the Monster” (El Hombre y el Monstruo), uma produção em preto e branco dirigida por Rafael Baledón a partir de roteiro de Alfredo Salazar, temos a história sinistra de um pianista, Samuel Magno (Enrique Rambal), que vive na pequena cidade mexicana de San José. Ele fez um pacto com o diabo para se tornar o melhor músico do mundo, satisfazendo sua ambição paranoica e eliminando a frustração de ser considerado sempre inferior em relação à rival, a pianista Alejandra (Martha Roth). Porém, como pagamento da dívida eterna, sempre que ele toca ao piano uma determinada partitura sobrenatural, se transforma fisicamente num monstro deformado e assassino violento, voltando ao normal apenas com a intervenção da mãe severa e rude, Cornelia (Ofelia Guilmáin). Transtornado pela maldição que carrega, o pianista frustrado enfrenta uma terrível luta interna para não ceder à tentação de tocar o instrumento, enquanto exerce a função de professor para outra jovem pianista, Laura (também interpretada por Martha Roth). Para complicar a situação, o jornalista Ricardo Souto (Abel Salazar) surge para fazer uma reportagem sobre a moça como promessa de sucesso, e descobre o mistério que envolve a ocorrência de assassinatos brutais e o segredo do pianista amaldiçoado, apesar das dificuldades em convencer a polícia local sobre a verdade, através do oficial encarregado das investigações (José Chávez). A caracterização do monstro é bem bagaceira, típica do cinema de baixo orçamento daquele período mágico do cinema fantástico. Mas, a diversão está garantida, entre outras coisas, justamente por esse trabalho tosco de maquiagem, onde o rosto e mãos deformados do pianista após a transformação lembram um lobisomem selvagem à procura de vítimas. Outros fatores que merecem destaque são a constante atmosfera de horror gótico num casarão sombrio e elementos do roteiro que nos remetem a uma mistura de “Fausto” com “O Médico e o Monstro”. Em “Faust” (1926), do alemão F. W. Murnau, temos a referência com oo acordo do músico com o diabo com consequências trágicas, e na clássica história “Dr. Jekyll and Mr. Hyde”, de Robert Louis Stevenson, que teve várias versões para o cinema como as de 1932 e 1941, temos a transformação do protagonista em monstro sempre após tocar uma partitura específica amaldiçoada. (RR – 25/01/16)

* Vingança da Deusa, A (1968)Em 1965 a produtora inglesa “Hammer” lançou a aventura com elementos de fantasia “A Deusa da Cidade Perdida” (She), com a dupla dinâmica Peter Cushing e Christopher Lee, e a estonteante Ursula Andress no papel título. Três anos depois, o cultuado estúdio retornou com o mesmo assunto lançando “A Vingança da Deusa”, dirigido por Cliff Owen (1919 / 1994), e sem os astros do filme anterior, tendo apenas o retorno de John Richardson e de André Morell, este em outro papel. Uma belíssima jovem escandinava, Carol (a Tcheca Olinka Berova), surge desorientada caminhando por uma estrada francesa, indo parar numa praia onde decide nadar até o iate de propriedade de George (Colin Blakely), casado com Sheila Carter (Jill Melford) e amigo do médico psiquiatra Philip (Edward Judd). A garota tem um comportamento estranho e misterioso e abandona o barco sem avisar, sendo ajudada em terra pelo sacerdote místico Kassim (André Morell). Mas, coisas sobrenaturais acontecem com as pessoas próximas à garota e ela desaparece num deserto no norte da África. Philip, que nutre um interesse amoroso por ela desde que a viu pela primeira vez, se une ao capitão do barco Harry (George Sewell), e juntos partem em sua procura. A jovem garota tem habilidades que ainda não sabe controlar, e que consistem no conhecimento e no uso de um profundo poder mental transformado por rituais e símbolos numa força real viva para o bem ou para o mal. Ela pode ser a reencarnação de uma rainha tirana chamada Ayesha (”aquela que deve ser obedecida”), e sente que está sendo atraída pelo controle mental do sacerdote Men-Hari (Derek Godfrey). Após se encontrar com Philip, eles caminham pelo deserto e chegam à cidade perdida de Kuma, governada pelo rei Killikrates (John Richardson), que conquistou a imortalidade num ritual mágico envolvendo um fogo sagrado. Agora, o apaixonado Philip terá o desafio de tentar impedir o destino de Ayesha reencarnada, e voltar com Carol para casa. O roteiro de “A Vingança da Deusa”, de autoria de Peter O´Donnell, tem elementos que o aproximam mais de uma refilmagem do que propriamente uma sequência. Trocando os papéis da rainha imortal Ayesha do primeiro filme com o rei imortal Kallikrates do segundo filme, sobram muitas situações similares entre ambos. Por ser um filme da “Hammer”, sempre desperta um interesse especial, mas é evidente que a falta da participação de Peter Cushing e Christopher Lee, e claro, da beleza e carisma de Ursula Andress, o segundo filme perdeu muito de sua força e potencial, tornando-se apenas comum e com história reciclada. (RR – 24/12/15)