Alta Tensão (Haute Tension, França, 2003)


O cinema de horror dos últimos anos definitivamente voltou a explorar a violência de forma altamente perturbadora, numa linha parecida com aquela utilizada por muitos filmes insanos principalmente da década de 70. Pois, nesse início de século 21 já tivemos muitos exemplos de filmes que não poupam o público de cenas carregadas de atrocidades.
Alta Tensão” (Haute Tension) é um filme francês de 2003, dirigido pelo jovem cineasta Alexandre Aja (o mesmo da igualmente violenta refilmagem “Viagem Maldita”), e que foi lançado em DVD por aqui pela “Europa”. O filme é cru, visceral, insano, ousado, ofensivo, sangrento, só para citar alguns adjetivos pertinentes. Tem cenas fortes que inclui decapitação, uma vítima com o pescoço brutalmente dilacerado, uma outra com a carne destroçada por uma motosserra circular, e tudo filmado de forma incrivelmente realista, isso graças ao trabalho eficiente da equipe de efeitos especiais, liderada por um especialista nesta arte, o italiano Gianetto de Rossi, freqüente colaborador do cultuado cineasta Lucio Fulci.
O apreciador do cinema mais extremo não tem do reclamar, tendo em vista que muitos filmes perturbadores têm chegado ao circuito comercial no Brasil, seja diretamente no mercado de vídeo ou exibidos nas salas de projeção, estando à disposição de todos, desde o australiano “Wolf Creek – Viagem ao Inferno”, passando pelos americanos “O Albergue” e “Viagem Maldita” (todos lançados nos cinemas), até o inglês “Plataforma do Medo” e esse francês “Alta Tensão”, que foram direto para as locadoras de vídeo, somente para citar alguns casos onde prevalece o vermelho do sangue manchando as lentes das câmeras.

A história é simples e resume-se basicamente em duas belas jovens, Marie (Cécile de France) e sua amiga Alexia (Maiwenn Le Besco), que estão viajando de carro para a casa dos pais desta última, que fica localizada bem afastada numa região rural. O objetivo delas é poder aproveitar a tranqüilidade do ambiente do campo para estudar. Mas o que elas não imaginariam é que durante a noite, um homem rude, cruel e maníaco, sem maiores explicações, iria aparecer no sítio e invadir a casa instaurando um verdadeiro horror em seu estado mais absoluto, atormentando seus moradores com o uso de extrema violência, espalhando sangue e dor para todos os lados.

O filme tem poucos personagens e diálogos, e muito suspense nas cenas de perseguição em filmagens noturnas, com ênfase no confronto entre o assassino e uma sobrevivente da chacina, além também de uma reviravolta final que procura dar sentido aos eventos mostrados logo no início da história, tentando surpreender o espectador.
A trama pode até ser considerada banal e já vista em inúmeros filmes anteriores, mas a maior qualidade de “Alta Tensão” reside no fato do psicopata aparentar ser uma pessoa normal como outra qualquer, com a incrível diferença que é um assassino frio e ultra violento, não precisando ter o rosto deformado, usar máscara ou apresentar poderes sobrenaturais para demonstrar o quanto é insano e temível. É um homem maldito que age naturalmente, não poupando suas vítimas de mortes violentas. Não há sangue escorrendo durante toda a projeção, como por exemplo em “The Evil Dead” ou “Fome Animal”, mas nos momentos onde ocorrem as mortes, o roteiro faz questão de evidenciar a violência e a terrível dor das vítimas.
Resumindo, o cinema de horror e filmes como “Alta Tensão” são fascinantes justamente por conseguirem incomodar e perturbar o espectador levando-o a analisar e refletir sobre o quanto selvagem, insana e irracional pode ser a raça humana, e que nosso mundo deve mesmo ser apenas um inferno de algum outro planeta (confirmando uma idéia do escritor Aldous Huxley).

“Alta Tensão” (Haute Tension, França, 2003) # 397 – data: 30/08/06 – avaliação: 9,5 (de 0 a 10)
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Assombração (Re-Cycle, Hong Kong / Tailândia, 2006)


Para a sorte e satisfação dos apreciadores do cinema de Horror, as produções orientais do gênero (oriundas de países como Japão, China, Coréia do Sul, Hong Kong e Tailândia), estão chegando com bastante intensidade ao Brasil, invadindo principalmente o mercado de vídeo, e até com algumas delas entrando em cartaz nos cinemas, distribuídas pela “PlayArte”.
Já tivemos a exibição nas telas grandes brasileiras de filmes interessantes sobre fantasmas como “Visões” (The Eye 2) e “Espíritos – A Morte Está Ao Seu Lado” (Shutter), ambos de 2004. E agora estreou nos cinemas em 04/08/06 o filme “Assombração” (Gwai Wik / Re-Cycle, Hong Kong / Tailândia, 2006), dirigido pelos irmãos Oxide e Danny Pang e com a mesma bela atriz de “The Eye – A Herança”, Angelica Lee Sinje, numa história povoada de elementos perturbadores de horror como ambientes desoladores, espíritos atormentados, suicidas desorientados, mortos errantes e esquecidos, bebês abortados e todo tipo de habitantes de um mundo de pesadelo.

A jovem escritora Chu Xun (Angelica Lee Sinje), conquistou um grande sucesso entre os leitores com um livro que trata de uma história de amor que teve inspiração em sua própria experiência pessoal com uma paixão do passado, e que deixou marcas profundas em sua vida. Para incitar a curiosidade em seus fãs, seu agente Lawrence (Lawrence Chou), anuncia o próximo livro da autora num evento para a imprensa, revelando a mudança de temática para uma história sobrenatural sobre fantasmas, e que também poderia ter elementos baseados em sua vida real.
Quando Chu Xun inicia o trabalho com o livro, ela encontra muitas dificuldades de criação para começar a história, e seus problemas aumentam ainda mais quando passa a ter visões estranhas em sua casa, com o surgimento da silhueta de uma misteriosa mulher que se parece com a protagonista de seu novo livro, originando uma sucessão de eventos confusos em sua mente, dificultando separar a realidade da ficção e culminando com uma incrível viagem que ela faz por um mundo onírico dominado por um horror em estado absoluto.

“Assombração” é uma verdadeira viagem pelo inferno, por um mundo de desolação e pesadelo. Uma jornada tortuosa e obscura feita pela escritora Chu Xun, obrigada a passar por locais devastados e esquecidos pelo tempo como um parque de diversões sinistro, ou uma biblioteca repleta de livros velhos e cheios de poeira, ou uma dimensão coberta de brinquedos antigos e abandonados, ou uma região com uma ponte transitada por zumbis desorientados, ou uma caverna habitada por fetos e bebês deformados, ou uma floresta fantasmagórica com enforcados para todos os lados, ou ainda um triste cemitério com os mortos ao lado de suas lápides, lamentando por terem sido esquecidos e abandonados pela eternidade. E para encontrar uma saída desse universo caótico, ela teria que chegar até uma região chamada de “Transição”. Para sair do pesadelo, ela tem a ajuda de uma misteriosa garotinha de oito anos que encontrou pelo caminho e que conhece alguns dos segredos desse mundo desolador, e cada passagem deve ser percorrida em pouco tempo, pois rapidamente as várias dimensões macabras recebem uma espécie de “reciclagem” e tudo que estão nelas é desintegrado e destruído.
O filme tem boas doses de sustos, uma especialidade do cinema oriental, efeitos especiais eficientes (que não fica para trás dos americanos, que gostam de investir nesse quesito), um roteiro que desperta a atenção do espectador, incitando a participar da jornada sobrenatural da escritora, e um desfecho interessante, além de toda a ambientação convincente de um mundo povoado por fantasmas e criaturas perdidas em meio a um cenário de depressão. Outros fatores positivos são o ótimo trailer de divulgação, que reuniu imagens interessantes do filme e que aguçaram a curiosidade em conhecer a história, o também ótimo pôster principal, mostrando a escritora perdida num ambiente lúgubre e perseguida por uma legião de espíritos putrefatos, e também a criativa tagline promocional “Como fugir de um pesadelo criado por você mesmo?”.
Porém, temos um ponto desfavorável: após uma revelação importante sobre a relação entre a escritora e a menina que a acompanha pela viagem nesse mundo distorcido, o roteiro exagerou na carga dramática, se afastando demais de todo aquele clima mórbido que envolvia a trama, mas nada que atrapalhe de forma significativa, tanto que no saldo final, “Assombração” é mais um dos vários bons filmes orientais de horror produzidos nesse início de século XXI, mostrando toda a força e potencial que o gênero ainda possui, despertando a admiração do público que acompanha o estilo.

A “PlayArte” está tendo o mérito de lançar nos cinemas e em vídeo vários filmes orientais interessantes no gênero Horror, porém a distribuidora também é conhecida por escolher péssimos títulos nacionais. Os responsáveis por nomear os filmes que chegam por aqui conseguem demonstrar uma incrível incompetência e cada vez superando-se ainda mais. Para comprovar isso, basta lembrar alguns poucos exemplos como o violento “Pânico na Floresta” (Wrong Turn, 2003), e três filmes já citados nesse texto: “Visões”, que na verdade é a continuação de “The Eye – A Herança”; “Shutter”, que recebeu o enorme, super manjado e sensacionalista título “Espíritos – A Morte Está Ao Seu Lado”; e agora esse “Assombração”, que é igualmente um nome óbvio demais, comercial demais e inadequado demais, pois o melhor seria apenas traduzir o original em inglês, algo como “Reciclagem”, que tem relações diretas com acontecimentos da história do filme.
Um detalhe interessante e que gostaria de registrar é que na sessão em que assisti “Assombração”, a sala estava cheia e as pessoas estavam lá para ver um filme oriental de horror em vez das tradicionais produções americanas, muito parecidas entre si, repletas de clichês cansativos e com pouca ousadia em suas histórias na maioria das vezes (claro que temos boas exceções como “O Albergue” e “Viagem Maldita”, entre outros).
Outro fato que merece registro é que não é só a “PlayArte” que precisa de um alerta de reprovação (na escolha ruim dos títulos nacionais), pois parte do público que freqüenta os cinemas é formada por aqueles adolescentes acéfalos e sem educação, que não respeitam um lugar público, atrapalhando quem quer ver o filme em paz, através de conversas e comentários inoportunos e em tom alto. Sinceramente (e acredito que muitos concordarão comigo), o mundo dos cinéfilos seria muito melhor sem essas criaturas indesejáveis freqüentando as salas dos cinemas.

“Assombração” (Gwai Wik / Re-Cycle, Hong Kong / Tailândia, 2006) # 396 – data: 06/08/06 – avaliação: 8 (de 0 a 10)
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(postado em 07/08/06)

Prelúdio Para Matar (Profondo Rosso / Deep Red, Itália, 1975)

A Editora “Works”, de Jundiaí/SP, responsável pelo selo “Dark Side”, uma coleção de filmes de horror lançados em DVD no Brasil, certamente fez um grande benefício aos colecionadores distribuindo uma infinidade de títulos obrigatórios e indispensáveis como “A Casa dos Maus Espíritos” (House on Haunted Hill, 58), de William Castle e com Vincent Price, “Despertar dos Mortos” (Dawn of the Dead, 78), de George Romero, e “O Homem de Palha” (The Wicker Man, 73), com Christopher Lee e Ingrid Pitt, entre outros, além de várias preciosidades do estúdio inglês “Hammer”, como “Drácula – O Príncipe das Trevas” (66), de Terence Fisher. É claro que fazem parte também do catálogo da editora, filmes menores e descartáveis como “Pelotão Vampiro” (91), “Invasão Mortal” (95) e “Werewolf – A Noite do Lobo” (96), somente para citar algumas tranqueiras. Mas, no geral, a “Dark Side” é uma coleção admirável, composta por filmes que merecem constar no acervo de qualquer colecionador do gênero.
Porém, vale registrar um erro grosseiro cometido pelos responsáveis da editora: o DVD de “Prelúdio Para Matar” (Profondo Rosso / Deep Red, Itália, 1975), dirigido por Dario Argento e escrito por ele em parceria com Bernardino Zapponi, está com um defeito grave nas legendas, pois muitas cenas faladas em italiano estão sem as legendas em português. Somente as passagens em inglês estão legendadas. Por sorte, a falha não chega a comprometer o entendimento do roteiro, desse que é um dos mais importantes thrillers da carreira do cineasta Dario Argento (responsável também por “Suspiria”, 77), com uma trama de assassinatos bastante envolvente (apesar da narrativa excessivamente lenta em certos momentos no decorrer dos 126 minutos de duração), mortes sangrentas carregadas de tensão e violência, e um desfecho interessante, amarrando satisfatoriamente todos os detalhes que foram apresentados aos poucos.
Mas, a falta de legendas em português em muitos diálogos em italiano certamente prejudicaram a diversão do espectador, causando um desconforto significativo e uma irritação inevitável, principalmente por se tratar de um erro na produção do DVD (algo que poderia ser facilmente evitado com uma atenção maior na revisão), uma vez que está anunciado na contra capa do estojo que o idioma original é o inglês e que há a opção de legendas em português. E na verdade há uma mistura de inglês com italiano e sem legendas durante longos minutos.

Na história, um pianista inglês chamado Marcus Daly (David Hemmings) é testemunha de um assassinato extremamente brutal envolvendo como vítima uma bela mulher com poderes de telepatia, Helga Ulmann (Macha Méril), e que havia se tornado uma ameaça ao assassino por sentir sua presença e influência maligna durante uma conferência para debater sua capacidade mediúnica.
Intrigado pela violência do ato, o pianista decide investigar o responsável pelo crime hediondo agindo por conta própria, contando apenas com o auxílio de uma jornalista em busca de notícia, Gianna Brezzi (Daria Nicolodi, atriz presente em vários filmes de Dario Argento). Enquanto eles tentam descobrir a identidade do criminoso, outras pessoas com envolvimentos na trama são também brutalmente mortas, até culminar num inevitável confronto decisivo entre o pianista e o assassino.

“Prelúdio Para Matar” é um dos principais representantes dos chamados giallos, a expressão que identifica os filmes italianos sobre mistérios e assassinatos. O nome, que significa “amarelo”, é inspirado nas capas dessa cor, um fato constante em livros populares sobre esse estilo literário que sempre conquistou a atenção e curiosidade do público. Como uma boa história de investigação e assassinatos, não faltam cenas gráficas de mortes violentas com facadas, queimaduras no rosto, cabeça esmagada, pescoço degolado e uma boa dose do “vermelho profundo” do sangue, conforme sugere o título original italiano (“Profondo Rosso”) e a tradução em inglês (“Deep Red”), que aliás são bem melhores e mais apropriados que a escolha do nacional “Prelúdio Para Matar”.
O filme foi lançado nas bancas encartado na revista “Cine Monstro” ano 2 número 8 (Março de 2006), sem materiais extras. Já a revista traz artigos sobre o filme em questão, um guia com a filmografia dos giallos entre os anos 1960 a 2004, resenhas de “Cry Wolf – O Jogo da Mentira” e “A Névoa” (refilmagem de “A Bruma Assassina”, de John Carpenter), matéria sobre o lançamento em DVD do clássico “Com a Maldade na Alma” (1964), com Bette Davis, Olivia de Havilland, Agnes Moorehead e Joseph Cotten, micro resenhas de seis DVD´s disponíveis nas locadoras, além de um cartaz original de “Prelúdio Para Matar”.

“Prelúdio Para Matar” (Profondo Rosso / Deep Red / The Hatchet Murders, Itália, 1975) # 395
data: 06/08/06 – avaliação: 9 (de 0 a 10)
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(postado em 07/08/06)

Viagem Maldita (The Hills Have Eyes, EUA, 2006)


Para contribuir ainda mais com a imensa quantidade de refilmagens que estão sendo lançadas todos os anos, ou seja, filmes inspirados em outros mais antigos, estreou nos cinemas brasileiros em 28/07/06 “Viagem Maldita” (The Hills Have Eyes, 2006), dirigido e escrito pelo francês Alexandre Aja (de “Alta Tensão” / “Haute Tension”), uma refilmagem do violento “Quadrilha de Sádicos” (77), escrito e dirigido por Wes Craven.

Na história, uma família em férias, viajando com destino a San Diego, na California, atravessando o deserto do Novo México num trailer puxado por uma pick-up, sofre um acidente quando todos os pneus são furados de forma criminosa numa armadilha para turistas, depois que eles entraram numa estrada secundária, orientados pelo velho atendente do único posto de gasolina em muitos quilômetros (Tom Bower). A família Carter é formada pelo pai Big Bobby (Ted Levine), um detetive aposentado, a mãe Ethel (Kathleen Quinlan), e três filhos, os adolescentes Brenda (Emilie de Ravin) e Bobby (Dan Byrd), além de Lynn (Vinessa Shaw), que por sua vez é casada com Doug Bukowski (Aaron Stanford), dono de uma loja de celulares, e tem uma filha ainda bebê, Catherine (a pequenina Maisie Camilleri Preziosi).
Uma vez perdidos no meio de um imenso deserto, eles não imaginavam que o pior problema não seria como voltar para a civilização, mas sim como enfrentar a terrível experiência de serem brutalmente ameaçados por um grotesco grupo de humanos mutantes e deformados, vítimas mentalmente perturbadas que sofreram os efeitos nocivos de testes nucleares que o governo americano realizou na área entre os anos de 1945 e 1962, e que tornaram-se canibais. Eles negaram abandonar sua casa na época e tiveram que se abrigar das bombas atômicas numa mina subterrânea, vivendo isolados escondidos nas colinas, apenas espreitando a oportunidade de se vingarem da humanidade, atacando os viajantes que atravessassem seu território proibido. Entre essas criaturas horrendas e bizarras, destaca-se o gigantesco e ultra violento Pluto (Michael Bailey Smith), que no original foi interpretado por Michael Berryman. Os outros mutantes são Lizard (Robert Joy), Goggle (Ezra Buzzington), Papa Jupiter (Billy Drago), Big Brain (Desmond Askew), com seu imenso cérebro descomunal, e Big Mama (Ivana Turchetto), além da jovem Ruby (Laura Ortiz), que tem um papel importante no destino específico de uma das personagens.

“Viagem Maldita” é mais um dos bons filmes de horror que entraram em cartaz nas telonas brasileiras nesse ano de 2006, aliás, um ano bem interessante para o cinema fantástico, somando-se ao australiano “Wolf Creek – Viagem ao Inferno” (com temática similar), ao tailandês “Espíritos – A Morte Está ao Seu Lado” (Shutter), e aos também americanos “O Albergue” (Hostel), de Eli Roth, a refilmagem “A Profecia” (The Omen), e a bagaceira super divertida “Seres Rastejantes” (Slither), esse numa co-produção com o Canadá. Sem contar ainda “Doom – A Porta do Inferno” e “Premonição 3” (Final Destination 3), que também são bem divertidos, dentro de suas limitações e temáticas clichês.
Wes Craven é um nome importante dentro do gênero horror, principalmente pelos violentos “Aniversário Macabro” (Last House on the Left, 1972), e o já citado “Quadrilha de Sádicos”, além de ser o criador das franquias “A Hora do Pesadelo” nos anos 80 e “Pânico” na década de 90. Mas, a maioria de seus outros trabalhos e principalmente os últimos, “Vôo Noturno” (Red Eye) e “Amaldiçoados” (Cursed), que são péssimos exemplos de cinema de suspense e horror, fizeram definitivamente seus admiradores desconfiarem de qualquer filme que tenha seu nome nos créditos. Por isso mesmo, não deixa de ser uma surpresa que a refilmagem de “The Hills Have Eyes”, com Craven na produção, seja um filme que merece destaque (com grandes méritos para o cineasta Alexandre Aja), principalmente pela ousadia na violência das cenas de mortes, todas bastante gráficas e perturbadoras, não poupando dor e sofrimento para as vítimas (tanto os humanos normais como os mutantes deformados): temos desde um corpo queimado vivo, passando por cabeça explodida à bala, e machadada no crânio.
O prólogo movimentado e a cena do primeiro ataque dos mutantes contra o trailer da família de viajantes são carregados de tensão e brutalidade e o roteiro foi bastante ousado no destino que reservou para alguns dos personagens. E apesar de um certo exagero na forma forçada como os sobreviventes lutaram por suas vidas e combateram os canibais insanos (a conduta do herói parece excessivamente fantasiosa), o resultado final até surpreendeu pela intensidade de violência em todos os confrontos, perseguições e fugas desesperadas, e mortes sangrentas.

Entre as curiosidades, vale citar o fato do produtor Peter Locke e o diretor Wes Craven, responsáveis pelo original dos anos 70, serem os produtores da refilmagem de quase 30 anos depois. As filmagens ocorreram no Marrocos, um país africano com altas temperaturas. O técnico em efeitos especiais Greg Nicotero participa do filme no papel do mutante deformado Cyst. As fotos reais de crianças mutantes apresentadas em meio aos créditos iniciais do filme não são provenientes do efeito nocivo de testes com a energia nuclear, mas sim por causa do temível agente laranja, um produto químico altamente tóxico utilizado como arma letal na Guerra do Vietnã, e que deixou seqüelas graves nas vítimas daquele conflito insano e seus descendentes.

A refilmagem ganhou uma sequência inferior em 2007, que recebeu o nome por aqui de “O Retorno dos Malditos”, e o filme original de 1977 recebeu uma continuação bem inferior em 1985, também produzida por Peter Locke e dirigida por Wes Craven.

A viagem pode até ser maldita, mas maldita mesmo é a incrível incompetência dos responsáveis pela escolha do título nacional dessa refilmagem, pois se eles tivessem pesquisado apenas um pouco, descobririam que seria muito mais coerente (e ajudaria imensamente um trabalho de catalogação dos filmes de horror que chegam ao Brasil) se a refilmagem recebesse o mesmo nome do original de 1977, “Quadrilha de Sádicos”, que se não é a tradução literal de “The Hills Have Eyes” (“As Colinas Possuem Olhos”), pelo menos é um bom título também. Agora, escolher “Viagem Maldita” não poderia ser mais oportunista, comum e trivial, pois é um nome óbvio demais, comercial demais, e sem criatividade.

“Viagem Maldita” (The Hills Have Eyes, Estados Unidos, 2006) # 393 – data: 29/07/06 – avaliação: 8 (de 0 a 10)
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(postado em 31/07/06)

Plataforma do Medo (2004)


Dos muitos filmes de horror que são lançados mensalmente nas locadoras no formato DVD, para a sorte e satisfação dos apreciadores e colecionadores desse fascinante estilo de cinema, sempre alguns deles conseguem um destaque maior e merecem uma citação especial. Um desses casos é “Plataforma do Medo” (Creep, 2004), uma co-produção entre Inglaterra e Alemanha, escrita e dirigida por Christopher Smith, e estrelada pela bela atriz alemã Franka Potente (de “Corra, Lola, Corra”, “A Identidade Bourne” e “A Supremacia Bourne”).

Kate (Franka Potente) é uma jovem que descobre que o ator americano George Clooney está na Inglaterra e planeja ir ao hotel onde ele está hospedado na esperança de conseguir um autógrafo. Porém, ao sair de uma festa, já bastante cansada e alcoolizada, ela vai no fim de noite para uma estação de metrô em Londres, e num descuido perde o último trem, após um cochilo. Ao acordar, ela descobre que a estação está fechada e todas as saídas bloqueadas. Passar a noite na estação de metrô é o menor de seus problemas, pois ela terá que enfrentar o intransigente assédio sexual de um colega que a seguiu desde a festa, Guy (Jeremy Sheffield).
O que Kate não imaginaria é que um psicopata deformado, Craig (Sean Harris), o “Creep” do título original, vive oculto nos corredores escuros do metrô, e que gosta de atacar violentamente as pessoas que invadem seu território, como um casal de mendigos, Jimmy (Paul Rattray) e Mandy (Kelly Scott), que mora numa fresta entre os diversos túneis. A jovem é então capturada e juntamente com outro prisioneiro do maníaco, George (Vas Blackwood), um funcionário do metrô que trabalha na manutenção hidráulica da estação, eles tentam desesperadamente lutar por suas vidas, fugindo das garras do assassino desfigurado.

O filme é um slasher que poderia ser comum pois o argumento básico pode ser definido como “uma noite de horror num metrô, com um psicopata assassino vivendo à espreita nos corredores escuros da estação, em busca de suas vítimas”. Mas, mesmo com essa idéia clichê, “Plataforma do Medo” consegue se destacar dos demais filmes similares por vários motivos:
* não exagerar na tentativa de sustos fáceis e previsíveis (ao contrário, as cenas de sustos são bem elaboradas);
* investir num clima de claustrofobia intensa, com a maior parte das cenas de correrias e perseguições ambientadas em longos e perturbadores corredores escuros, sujos, infestados de ratos e inundados com esgotos fétidos;
* não explicar demais, divulgando apenas poucas informações e deixando muitas situações subentendidas (principalmente quanto à origem e motivações do psicopata desfigurado);
* demorar para mostrar o assassino, que nos momentos de dor e raiva grita como um animal enlouquecido (ele só é visto pela primeira vez após quase 50 minutos de filme);
* deixar de lado aquelas piadas idiotas que estragam a maioria dos filmes com histórias parecidas (e também por não apresentar aqueles típicos personagens insuportáveis e patéticos que apenas nos incentiva a torcer por suas mortes dolorosas);
* não poupar esforços no quesito “sangue e violência”, presenteando o espectador com cenas bem chocantes (pescoço dilacerado, cabeça perfurada, cadáver estripado), além de outras atrocidades, como uma “cirurgia” doentia numa jovem indefesa, que tem seu corpo rasgado brutalmente por uma enorme lâmina;
* optar por uma duração curta (apenas 83 minutos), pois o tipo de roteiro apresentado não tem potencial para um filme mais longo, que obrigaria o diretor a inventar cenas desnecessárias ou insistir em situações repetitivas;
* mostrar um desfecho interessante, apesar de previsível, e que se destaca pelo humor negro da situação.

“Plataforma do Medo” foi lançado em DVD no Brasil pela “Imagem Filmes”, trazendo como materiais extras uma série de entrevistas curtas com parte da equipe de produção e elenco. Os pequenos depoimentos foram dados pelo diretor e roteirista Christopher Smith e os produtores Jason Newmark, Julie Baines, Martin Hagemann e Kai Kunnemann, além da atriz Franka Potente e dos atores Jeremy Sheffield e Vas Blackwood. Para completar os extras, o disco ainda traz as filmografias de Franka Potente, Sean Harris, Vas Blackwood e Jeremy Sheffield, uma pequena galeria de fotos, um trailer de dois minutos de duração, e novidades sobre outros filmes lançados pela distribuidora, e entre eles o horror “7 Múmias” (7 Mummies) e o drama de guerra “Combate na Escuridão” (Straight Into Darkness).

“Plataforma do Medo” (Creep, Inglaterra / Alemanha, 2004) # 394 – data: 29/07/06 – avaliação: 8 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 31/07/06)

O Aniversário do Demônio (Little Devils: The Birth, Canadá, 1993)

É melhor escrever merda do que pôr a mão nela

Essa frase, escrita na parede do quarto de um péssimo escritor de histórias pornográficas, é provavelmente a única coisa que presta no filme “O Aniversário do Demônio” (Little Devils: The Birth), produção canadense de 1993, dirigida por George Pavlou, de “Monster – A Ressurreição do Mal” (Rawhead Rex, 89). Digo isso porque a frase, que no filme tem a intenção de zombar com a qualidade sofrível da obra literária de um escritor de quinta categoria, reflete exatamente o que é o roteiro de Elliott Stein: uma merda de tamanho descomunal, e que sou obrigado a concordar que é muito melhor escrever do que pôr a mão.
Brincadeiras à parte, “O Aniversário do Demônio”, que tem um título nacional mal escolhido, sendo melhor uma tradução literal do original (“Pequenos Demônios: O Nascimento”), é um filme assumidamente trash ao extremo, muito ruim em todos os sentidos, desde história ridícula cheia de clichês e crateras no roteiro com piadas sem graça, passando pelos atores completamente inexpressivos (salvando-se apenas a atriz Nancy Valen, não pela atuação e sim apenas por sua beleza notável), e culminando com efeitos especiais grotescos e extremamente toscos. Mas, o problema maior é que o filme não diverte, é uma bomba intragável, ao contrário de outras bagaceiras que conseguem divertir justificando a existência de uma legião de apreciadores desse estilo de cinema.
Apesar da intenção clara dos responsáveis pelo projeto em fazer um filme ruim e que tenta parodiar o próprio gênero, o resultado final não conseguiu agradar, nem como comédia, nem como horror, nem como trash, nem como filme “B”, nem como porra nenhuma...

A história, completamente desprovida de lógica, mostra um jovem cientista nerd, Lionel Gray (Wayne McNamara), envolvido numa experiência macabra onde ele fazia esculturas de pequenos demônios, a partir da lama gosmenta retirada de um fosso que se encontrava numa cripta em um cemitério isolado. Descobrindo que havia uma inteligência maligna vivendo no fosso, ele é mentalmente manipulado para dar forma física a essa entidade, criando pequenas criaturas diabólicas (aliás, bonecos toscos de tão mal feitos), que gostavam de se armar para atacar as pessoas, utilizando desde maçaricos incineradores e arremessadores de dardos mortais, até bombas pulverizadoras de ácido corrosivo.
Para tentar salvar o planeta dos monstrinhos, surge o escritor Ed Reid (Marc Price), vizinho de quarto de Lionel na pensão onde ambos moram, de propriedade da lunática Sra. Clara Madison (Stella Stevens), uma mulher pervertida sexualmente e que é tarada pela limpeza do carpete da pensão. Para ajudar o péssimo escritor no combate aos diabinhos, temos a bela Lynn (Nancy Valen), que obviamente vai se apaixonar fazendo com Ed o par romântico e casal de heróis, além de um médico do tipo “amigo de todos”, o Dr. Clapton (Russ Tamblyn), que tem o hábito de servir de psiquiatra nas horas de folga para um grupo bizarro de malucos que vivem nas ruas (sendo que um deles é interpretado pelo próprio roteirista Elliott Stein).
A partir daí, temos os pequenos demônios massacrando algumas pessoas totalmente dispensáveis para a humanidade, utilizando suas armas exóticas, e o confronto entre eles e os heróis para evitar que o mundo esteja a um passo do verdadeiro inferno (como diz uma tagline na contra capa do DVD), sendo que nós, que estamos testemunhando essa história, estamos a um passo de jogar o filme no lixo e mandar seus realizadores para o inferno.

Não vale a pena gastar muita energia para comentar ainda mais essa tralha, mas não consigo deixar de citar algumas coisas: em nenhum momento aparece algum policial para investigar as várias mortes violentas; a arma utilizada para os heróis destruírem os demônios é um refrigerante, que derrete as criaturas (não dá nem para rir dessa solução tão ridícula); em determinado momento, o médico Dr. Clapton está precisando de um medicamento que está em seu consultório para ajudar a curar o cientista nerd, e pede para os demônios trazerem o remédio, mostrando para eles o nome num bilhete (para o roteirista os diabinhos sabem ler); em outro momento, Lynn e Ed estão presos no apartamento de Lionel, vigiados por alguns monstrinhos, e a moça faz um comentário sobre a situação surreal que enfrentavam, “Isto está parecendo ficção científica”, e o escritor responde, “Na verdade, o estilo certo é terror”. Ainda reproduzindo frases do roteiro, não posso deixar de citar uma dita pelo Dr. Clapton quando atacava os demônios com o refrigerante: “Isso mata o inimigo... e refresca quem o usa”. Deveria ser engraçado, mas não funcionou. E para finalizar, temos um desfecho em meios aos letreiros que é ridículo demais e prefiro nem comentar.

“O Aniversário do Demônio” foi lançado em DVD no Brasil pelo selo “Dark Side” da “Works Editora”, sem materiais extras e com imagens em “full screen”, sendo um dos piores filmes de seu catálogo, juntamente com tranqueiras como “Cemitério Macabro” (92), “Pelotão Vampiro” (91), “Invasão Mortal” (95) e “Werewolf – A Noite do Lobo” (96). Ainda bem que para compensar, a distribuidora lançou também diversos outros filmes indispensáveis como “Black Sabbath – As Três Máscaras do Terror” (63), “Drácula – O Príncipe das Trevas” (66), “O Homem de Palha” (73), “Suspiria” (77), “Despertar dos Mortos” (78), “Zombie – A Volta dos Mortos” (79), entre vários outros.

“O Aniversário do Demônio” (Little Devils: The Birth, Canadá, 1993) # 392 – data: 22/07/06 – avaliação: 2 (de 0 a 10)
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(postado em 23/07/06)

Olhos de Fogo (1983)


No século XVIII, por volta de 1750, quando os Estados Unidos ainda tinha seu território ocupado pela Inglaterra e França, um falso pastor católico, Will Smythe (Dennis Lipscomb), é acusado de adultério e poligamia pelos aldeões de um vilarejo chamado Dalton´s Ferry. Enfurecidos com a conduta imoral do reverendo, os moradores tentam puni-lo sentenciando-o à morte por enforcamento, mas ele é salvo no último momento pelos poderes sobrenaturais de uma jovem, Leah (Karlene Crockett), que tem a capacidade de premonição e mover objetos com a mente, e cuja mãe havia sido executada na fogueira acusada de feitiçaria.
O padre então é expulso da cidade viajando em direção à floresta procurar um lugar para viver, sendo acompanhado por um grupo de seguidores, formado por Eloise Dalton (Rebecca Stanley), a mulher que abandonou o marido sempre ausente (um caçador chamado Marion, interpretado por Guy Boyd) para ser amante do pastor, além de sua filha adolescente Fanny (Sally Klein), e outras duas famílias: Jewell Buchanan (Rob Paulsen), sua esposa Margaret (Kenny Sherman) e filha pequena Cathleen (Caitlin Baldwin), e o veterano Calvin (Will Hare), sua esposa Sister (Fran Ryan) e neta Meg (Erin Buchanan).
No caminho à procura de um lar, eles são atacados por índios Shawnee e recebem a ajuda de Marion, o marido traído que tenta reconquistar a esposa, e após se estabelecerem num vale utilizando algumas cabanas parcialmente destruídas como abrigo, eles passam também a enfrentar uma série de acontecimentos bizarros na floresta com aparições de fantasmas perturbados, aprisionados por uma terrível e ameaçadora bruxa.

Com roteiro e direção de Avery Crounse, e duração de apenas 84 minutos, “Olhos de Fogo” (Eyes of Fire, Estados Unidos, 1983) é um daqueles filmes que depois de ver a capa do DVD e ler a sinopse, inicialmente podemos até esperar algo descartável e facilmente esquecível, mais um outro filme trivial em meio a tantos que são lançados todos os anos, apenas mais uma história sobre lendas antigas e uma bruxa cruel.
Porém, ao contrário, trata-se de uma agradável surpresa, com um roteiro atraente misturando elementos de western (pioneiros viajando por terras perigosas e selvagens) com horror (entidades sobrenaturais que controlam a floresta), explorando de forma interessante as lendas folclóricas locais que falam de espíritos malignos habitando as árvores e o solo, e que estão à procura de mais almas para aumentar a legião de atormentados em seu mundo de escuridão.
E tudo isso filmado com o auxílio de efeitos especiais simples, típicos de uma produção de baixo orçamento, mas com resultados bastante eficientes, principalmente na caracterização da bruxa, interpretada por Russell James Young Jr., que atuou coberto por uma maquiagem sinistra com ênfase nos ameaçadores “olhos de fogo” do título da película.

“Olhos de Fogo” já havia sido lançado no Brasil em vídeo VHS (pela “Jaguar”, fora de catálogo há muito tempo), e também foi distribuído em DVD pelo selo “Dark Side” da “Works Editora”, imagens em “full screen”, trazendo como materiais extras a biografia do cineasta Avery Crounse e do ator Dennis Lipscomb, além de uma breve sinopse. O filme é também conhecido pelo título alternativo original “Cry Blue Sky”, e entre as taglines de divulgação tem uma bem interessante que vale a citação: “Quando a América era jovem e espíritos malignos reinavam numa floresta de escuridão”.

“Olhos de Fogo” (Eyes of Fire, 1983) # 391 – data: 16/07/06 – avaliação: 7,5 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 17/07/06)