Horror de Frankenstein (Horror of Frankenstein, Inglaterra, 1970)

 


“O objetivo da Ciência é mergulhar no desconhecido.” – Victor Frankenstein.

 

A produtora inglesa “Hammer” fez sete filmes inspirados na história “Frankenstein”, de Mary Shelley. São eles: “A Maldição de Frankenstein” (1957), “A Vingança de Frankenstein” (1958), “O Monstro de Frankenstein” (1964), “Frankenstein Criou a Mulher” (1967), “Frankenstein Tem Que Ser Destruído” (1969), “Horror de Frankenstein” (Horror of Frankenstein, 1970) e “Frankenstein e o Monstro do Inferno” (1974).

O penúltimo filme da série foi dirigido por Jimmy Sangster, que é mais conhecido por seus trabalhos como roteirista em muitos filmes da própria “Hammer”. “Horror de Frankenstein” não tem dessa vez o cultuado ator Peter Cushing como o cientista (ele esteve em todos os outros filmes da série), deixando o papel agora para Ralph Bates. E o monstro foi interpretado por David Prowse, que tem seu nome sempre lembrado como o vilão Darth Vader na primeira trilogia de “Star Wars” (com a voz cavernosa de James Earl Jones).

 

Victor Frankenstein (Bates) é um jovem em crise com seu pai dominador (George Belbin). Depois de estudar medicina em Viena, ele retorna para o castelo da família e inicia um trabalho de pesquisa científica com experiências de reanimação de partes mortas de animais e pessoas, apesar de não obter a aprovação do ajudante e colega de faculdade, Wilhelm Kassner (Graham James).

Insistindo com suas experiências macabras, ele cria um monstro a partir de pedaços de cadáveres, e que devido ao cérebro danificado por um corte com estilhaço de vidro, torna-se violento e assassino, espalhando o horror no castelo e na floresta em volta.

 

Aqui o cientista dessa vez é um jovem psicopata, inescrupuloso, frio e calculista, não medindo esforços para atingir seus objetivos na criação de vida artificial. Eliminando todos em oposição aos seus planos maquiavélicos ou que pudessem atrapalhar seu trabalho científico, incluindo desde o pai, o colega de faculdade, a bela amante e governanta, Alys (Kate O´Mara) e o fornecedor de cadáveres frescos (um ladrão de túmulos interpretado por Dennis Price).

Mesmo recebendo uma atenção especial da bela Elizabeth Heiss, antiga colega de escola da época de adolescentes e filha do prestigiado, porém falido, Prof. Heiss (Bernard Archard), Victor Frankenstein continua só se importando com suas obscuras pesquisas científicas e com o monstro feito de cadáveres que desperta a atenção da polícia do vilarejo próximo do castelo, com a investigação do tenente Henry Becker (Jon Finch), depois que várias mortes misteriosas e violentas ocorrem na região.

Quanto ao monstro, ao contrário de vários outros filmes da série da “Hammer”, não tem as deformações, cicatrizes e bandagens típicas, com apenas a simulação não convincente de cortes em partes do corpo e algumas maquiagens na cabeça com placas e rebites discretos. Além dessa caracterização fraca, o ator David Prowse também não conseguiu transformar o monstro em algo necessariamente sinistro e ameaçador, com um resultado apenas mediano. Ele também interpretou o monstro no filme seguinte da série, “Frankenstein e o Monstro do Inferno”, porém com uma maquiagem mais carregada e interessante.

“Horror de Frankenstein” é divertido dentro dos moldes característicos da “Hammer”, com sua ambientação gótica, castelo imponente, laboratório bizarro de “cientista louco”, e a criatura artificial composta de pedaços de cadáveres espalhando o horror e deixando um rastro de morte. Mas, dentro do universo ficcional com vários outros filmes sobre o mesmo tema produzidos pelo cultuado estúdio inglês, é um filme menor e com menos atrativos que o habitual, além de perder bastante com a falta da presença do carismático Peter Cushing.         

 

Curiosamente, é considerado uma espécie de refilmagem de “A Maldição de Frankenstein”, o primeiro filme da série produzido em 1957, com a adição de algumas cenas de sexo e humor negro.  Foi lançado no Brasil em DVD em 2003 pela “Works / Dark Side / London”, trazendo materiais extras como biografias de Jimmy Sangster e Ralph Bates, sinopse, trailer, galeria de fotos e posters, além de um espaço especial dedicado à atriz Veronica Carlson, com fotos e galeria de arte com suas pinturas. Também foi lançado em DVD pela “Obras Primas”, na “Coleção Estúdio Hammer Volume 4”.

 

(RR – 12/10/21)








O Castelo Maldito / Herança Maldita (Castle Freak, EUA / Itália, 1995)

 


O cineasta Stuart Gordon (1947 / 2020) tem seu nome registrado na história do cinema de horror pela notável carreira dentro do gênero, e principalmente por uma série de filmes cultuados inspirados em histórias de H. P. Lovecraft, como “Re-Animator: A Hora dos Mortos-Vivos” (1985), “Do Além” (1986) e “Dagon” (2001), além de um divertido filme de 1995 que é conhecido aqui pelos títulos nacionais “Herança Maldita” e “O Castelo Maldito” (Castle Freak).

A produção é da “Full Moon”, empresa de Charles Band especializada em filmes de horror (nos mesmos moldes do estúdio anterior do produtor, que se chamava “Empire”). Com um roteiro utilizando uma pequena referência do conto “O Intruso” (The Outsider), de Lovecraft, “O Castelo Maldito” tem um elenco liderado por Jeffrey Combs e a musa Barbara Crampton, que já estiveram juntos em outros filmes da mesma equipe.


Na história, o americano John Reilly (Jeffrey Combs) recebe a notícia que herdou um castelo do século XII no norte da Itália, após a morte da amargurada Duquesa D´Orsino (Helen Stirling). Ele decide levar a família para conhecer o castelo, sua bela esposa Susan (Barbara Crampton) e a filha adolescente cega Rebecca (Jessica Dollarhide), com o objetivo de inventariar o imóvel e seus bens para uma possível venda. 

Os americanos são recepcionados pelo advogado italiano Giannetti (Massimo Sarchielli), responsável pelas questões legais envolvendo o castelo, e por sua irmã Agnese (Elisabeth Kaza), que é a cozinheira e arrumadeira na nova e imensa moradia. Mas, o casal Reilly está enfrentando uma complicada crise conjugal depois da morte trágica do filho pequeno num acidente de carro que também deixou a filha cega.

Porém, eles não imaginavam que ao herdarem o imponente castelo, teriam que enfrentar um morador indesejável, Giorgio (Jonathan Fuller), a aberração do título original do filme. A criatura monstruosa foi um prisioneiro deformado física e mentalmente, que ficou acorrentado por dezenas de anos numa masmorra sombria nos porões do castelo. Uma vez conseguindo escapar do cárcere, ele persegue os novos moradores, espalhando o horror sangrento com a ocorrência de mortes violentas, despertando a atenção da polícia do vilarejo local, sob a investigação do Inspetor Forte (Luca Zingaretti).    


Em “O Castelo Maldito” a diversão torna-se garantida quando temos uma equipe formada pelo produtor Charles Band, o diretor e roteirista Stuart Gordon e os atores Jeffrey Combs e Barbara Crampton, todos com proximidades com o cinema de horror. Deixando de lado o humor negro dos filmes anteriores, dessa vez aqui a atmosfera é mais sombria e depressiva, a história é trágica e pessimista, com os personagens sofrendo e enfrentando crises pessoais, além principalmente do vilão assassino ser na verdade uma vítima torturada e incompreendida, que foi mantido prisioneiro por anos em busca de liberdade e eventual vingança. Não faltam cenas com mortes sangrentas e perseguições insanas nos corredores sinistros de um castelo assombrado pela dor e agonia.

Sem o uso artificial dos efeitos gráficos de computador, o assassino é um homem disforme e atormentado, com o ator Jonathan Fuller coberto de próteses e maquiagens aplicados em sessões de longas seis horas, porém tendo como resultado final um trabalho excepcional na transformação em uma criatura humana grotesca.     


O filme foi lançado no Brasil primeiramente em VHS pela “VTI” como “Herança Maldita” e depois em DVD pelo selo “Works / Dark Side / London” com o nome “O Castelo Maldito”, numa versão sem cortes e trazendo alguns materiais extras como sinopse, trailer, biografias do diretor Stuart Gordon e do ator Jeffrey Combs, além de um curto, mas interessante documentário com informações de bastidores e depoimentos de Combs, Barbara Crampton, Jonathan Fuller e Jessica Dollarhide.

Também foi lançado em DVD pela “Versátil” como "Herança Maldita", na coleção “Lovecraft no Cinema Volume 3”, junto com “Dagon” (2001), “A Maldição do Altar Escarlate” (1968) e “O Altar do Diabo” (1970).

Em 2020 teve uma refilmagem dirigida por Tate Steinsiek e com Charles Band e Barbara Crampton na equipe de produção, recebendo o título “Herança Maldita”.


(RR – 05/10/21)






Papai Noel Conquista os Marcianos (Santa Claus Conquers the Martians, EUA, 1964)

 


“Veja: Os marcianos sequestram o Papai Noel! Oficina do Polo Norte do Papai Noel! A fantástica fábrica de brinquedos marciana! Crianças da Terra se encontrando com crianças de Marte! Viagem de nave espacial da Terra a Marte! Papai Noel transforma o robô de Marte em um brinquedo mecânico!” – slogan promocional


No cinema fantástico bagaceiro, a maioria dos filmes são divertidos justamente por causa da precariedade geral da produção, roteiro exagerado no escapismo e elenco amador, além principalmente dos monstros toscos de borracha e efeitos especiais e maquiagens risíveis. Mas, também existem aqueles filmes tão ruins que não conseguem divertir o suficiente. É o caso do patético “Papai Noel Conquista os Marcianos” (Santa Claus Conquers the Martians, 1964), que já começa pelo título sonoro e incomum que anuncia uma história absurda mais voltada para o humor com elementos de ficção científica.


Com direção de Nicholas Webster, o filme mostra as crianças marcianas entediadas com a overdose de conhecimentos que são obrigadas a receber através de máquinas acopladas as suas mentes. Sem diversão na infância e fascinadas com programas de televisão da Terra que mostram o Papai Noel (John Call) espalhando alegria e brinquedos para as crianças, elas por outro lado são tristes e apáticas, despertando a preocupação do líder dos marcianos, Kimar (Leonard Hicks), ao sentir o desânimo de seus filhos Bomar (Chris Month) e Girmar (Pia Zadora). 

Para tentar resolver o problema, ele decide consultar um sábio ancião, Chochem (Carl Don), que recomenda uma expedição à Terra para trazer o Papai Noel na tentativa de divertir as crianças marcianas. Porém, o líder Kimar terá que administrar a oposição de um chefe conselheiro conservador, Voldar (Vincent Beck), que insiste em manter a disciplina guerreira de Marte.

Eles vão à Terra e sequestram duas crianças, Billy Foster (Victor Stiles) e sua irmã mais nova Betty (Donna Conforti), que ajudam a localizar o Papai Noel em sua fábrica de brinquedos no Polo Norte. De volta à Marte, eles implantam o espírito natalino e se divertem numa oficina automatizada de brinquedos, contando com a ajuda do atrapalhado Dropo (Bill McCutecheon), que sempre traz para si as cenas mais cômicas e que quer assumir o papel de Papai Noel marciano. Mas, terão que enfrentar também a ira persistente de Voldar e seus comparsas.


A diversão fica comprometida pela história patética, e o que pode talvez se salvar, para os apreciadores do cinema bagaceiro de ficção científica dos anos 50 e 60 do século passado, são os elementos típicos como as roupas coloridas ridículas e os capacetes fuleiros com antenas que os marcianos usam. O líder ainda tem uma capa adicional no estilo dos super-heróis. Tem também a bizarra arquitetura interna das casas, com aberturas ovalizadas servindo de portas e móveis arredondados. E a espaçonave ultra tosca com os cenários internos repletos de luzes piscando, painéis com botões, alavancas e mostradores analógicos. Ainda tem um urso polar exageradamente tosco (um ator vestindo uma péssima fantasia) e um robô chamado Torg, que aparece pouco em cena e está entre os piores do cinema bagaceiro de FC (um ator dentro de uma caixa metálica com dois mostradores com os ponteiros fixos e um balde na cabeça). Apesar de todas essas tranqueiras que divertem nos filmes bagaceiros, “Papai Noel Conquista os Marcianos” não desperta atenção pelo roteiro banal e carregado de humor infantil.


O filme está em domínio público e foi lançado em DVD no Brasil em 2007 pela “Works / London / Dark Side” em sua “Sci-Fi Collection”, num mesmo disco trazendo a tranqueira “Os Adolescentes do Espaço” (Teenagers From Outer Space, 1959), de Tom Graeff. De material extra tem a sinopse e biografias dos atores Bill McCutecheon e Pia Zadora (que virou cantora).


(RR – 02/10/21)








Expresso do Horror (Horror Express, Espanha, 1972)

 


“O seguinte relatório à Royal Geological Society pelo abaixo-assinado, Alexander Saxton, é um relato verdadeiro e fiel dos eventos que aconteceram à expedição da Sociedade na Manchúria. Como líder da expedição, devo aceitar a responsabilidade por seu término em desastre, mas deixo ao critério dos honoráveis ​​membros da Sociedade a decisão de onde reside a culpa pela catástrofe.”

– Professor Alexander Saxton.

 

Essa é a introdução narrada de “Expresso do Horror” (Horror Express, 1972), um clássico espanhol do cinema fantástico bagaceiro, exibido à exaustão na televisão brasileira, geralmente nas divertidas madrugadas com monstros toscos e roteiros exagerados na fantasia.

Foi dirigido por Eugenio Martin e estrelado pela famosa dupla dinâmica do Horror, os ícones ingleses Christopher Lee e Peter Cushing, além de uma pequena participação de Telly Savalas (o detetive Kojak da série homônima da TV da década de 1970).

 

Ambientado em 1906, o arqueólogo inglês Prof. Sir Alexander Saxton (Christopher Lee) é o líder de uma expedição científica nas regiões geladas da China à procura de ossos e fósseis. Ele descobre uma misteriosa criatura presa na geleira, um macaco pré-histórico de dois milhões de anos. Com o objetivo de transportá-la para a Europa Ocidental, ele utiliza um trem transiberiano que viaja por longas distâncias.

Uma vez a bordo do “expresso do horror”, ele encontra o rival Dr. Wells (Peter Cushing), acompanhado pela assistente veterana, a bacterióloga Srta. Jones (Alice Reinheart). Carismático e curioso, o cientista não mede esforços para descobrir o que está dentro de uma grande caixa de madeira lacrada com correntes.

Porém, depois que a criatura (interpretada por Juan Olaguibel) desperta e escapa da caixa, vários assassinatos violentos começam a ocorrer no trem, com as vítimas ficando cegas e com suas memórias e conhecimentos drenados dos cérebros, chamando a atenção para uma investigação policial liderada pelo Inspetor Mirov (Julio Peña).

Entre outros passageiros ilustres ou misteriosos candidatos a vítimas fazendo parte do exército de zumbis controlados pelo monstro devorador de mentes, estão o Conde polonês Maryan Petrovski (George Rigaud) e sua esposa Condessa Irina (Silvia Tortosa), o padre fanático e não confiável Pujardov (Alberto de Mendoza) e a espiã internacional Natasha (Helga Line), além do tirano cossaco Capitão Kazan (Telly Savalas), que interceptou o trem no caminho para tentar colocar ordem no pânico entre os passageiros.

 

“Expresso do Horror”, como todos os filmes do cinema bagaceiro de horror e ficção científica, tem alguns momentos equivocados com situações pouco convincentes e eventuais furos no roteiro, mas certamente o que garante a diversão são os ataques sangrentos do monstro ancestral tosco que se alimenta das informações dos cérebros de suas vítimas. E também a presença de Christopher Lee e Peter Cushing, que sempre possuem uma química incrível em cena, nos diversos filmes que fizeram juntos num período que vai principalmente do final da década de 1950 a meados dos anos 1970. Dessa vez trabalhando mais em cooperação contra uma ameaça comum, sendo que na maioria de seus filmes eles estão em lados opostos. Tanto Lee (falecido em 2015) quanto Cushing (morreu em 1994), ao lado de Vincent Price, Boris Karloff e Bela Lugosi, entre outros, estão imortalizados na história do cinema de horror, com seus nomes eternamente associados ao gênero.

O filme foi lançado no Brasil em VHS pela “Videocast” e em DVD pela “Dark Side”. É conhecido também pelo título original espanhol “Pánico en el Transiberiano”. Apesar de não creditado, é considerado o segundo filme adaptado da história de ficção científica “Who Goes There?”, de John W. Campbell Jr., sobre uma criatura alienígena congelada que desperta e sobrevive em hospedeiros, e que já tinha virado filme em 1951 com “O Monstro do Ártico” (The Thing From Another World), que recebeu outras duas versões, “O Enigma de Outro Mundo” (1982) e “A Coisa” (2011).

 

(RR – 22/09/21)





















O Monstro de Frankenstein (The Evil of Frankenstein, Inglaterra, Hammer, 1964)

 


“Eu pretendo refutar as velhas teorias sobre a evolução da vida e a origem da força vital e reformulá-las simplesmente em termos de química biofísica como ações e reações químicas controladas por impulsos externos.” – Barão Frankenstein.


O cultuado estúdio inglês “Hammer” é conhecido principalmente por seus incontáveis filmes com atmosfera e ambientação gótica, e pela exploração dos famosos monstros do cinema de horror, consagrados anteriormente pela produtora americana “Universal”.

Sua série de filmes baseados na famosa história de Mary Shelley, “Frankenstein”, tem sete filmes no total: “A Maldição de Frankenstein” (1957), “A Vingança de Frankenstein” (1958), “O Monstro de Frankenstein” (The Evil of Frankenstein, 1964), “Frankenstein Criou a Mulher” (1967), “Frankenstein Tem Que Ser Destruído” (1969), “Horror de Frankenstein” (1970) e “Frankenstein e o Monstro do Inferno” (1974).

O terceiro filme da série foi dirigido por Freddie Francis e estrelado novamente pelo ícone Peter Cushing no papel do “cientista louco” obcecado pela criação de vida artificial, a partir de um monstro formado por partes de cadáveres.


O Barão Frankenstein (Cushing) e seu jovem assistente Hans (Sandor Elès), estão envolvidos em experiências bizarras de reanimação de um coração retirado de um cadáver recente, mas logo são descobertos por um padre (James Maxwell) e são obrigados a fugir. O barão decide retornar, após dez anos de ser expulso, ao seu castelo próximo da cidade de Karlstaad, onde reencontra seus antigos opositores, o prefeito do vilarejo (David Hutcheson) e o agora chefe de polícia (Duncan Lamont). 

O cientista insiste em continuar seu macabro trabalho após encontrar congelado numa geleira a criatura (Kiwi Kingston) de suas antigas experiências, graças a ajuda de uma jovem mulher surda (Katy Wild), maltratada pelos aldeões, e que auxiliou na fuga do cientista e seu assistente ao indicar uma caverna como refúgio da perseguição policial.

Retomando seus experimentos com a reanimação do monstro no laboratório do castelo através da captura de energia elétrica de um raio de uma forte tempestade, o cientista é obrigado a utilizar os serviços de um hipnotizador ganancioso e traiçoeiro, Zoltan (Peter Woodthorpe). Ele é o único capaz de controlar a mente da criatura, incitando-a depois a roubar artefatos valiosos no vilarejo e atacar as autoridades, contra a vontade do Barão Frankenstein, gerando um conflito trágico entre o cientista, seu monstro distorcido e os aldeões furiosos.


Para quem é apreciador do estilo, os filmes góticos da “Hammer” acabam sempre despertando grande interesse, independente até do roteiro, graças aos elementos característicos comumente encontrados, sendo nesse caso o imponente castelo sombrio e maltratado pelo tempo e abandono e o laboratório do “cientista louco” repleto de equipamentos bizarros. 

A história desse “O Monstro de Frankenstein” desconsidera os eventos dos dois filmes anteriores, que por sua vez possuem ligação direta. A decisão dos realizadores foi agora optar pela liberdade de criação artística nesse universo ficcional do cientista e seu monstro.    

Ao contrário do filme imediatamente anterior, “A Vingança de Frankenstein”, lançado seis anos antes, o visual da criatura interpretada por Kiwi Kingston voltou para um estilo mais macabro, repleto de cicatrizes, remendos e deformidades, lembrando um pouco o monstro interpretado pelo ator Boris Karloff nos filmes da “Universal”, explicado pelo fato do grande estúdio americano ser o distribuidor do filme e por isso finalmente ter liberado os direitos sobre a maquiagem do monstro e dos aparelhos científicos do laboratório.

Parte dos cenários do filme foram reaproveitados em “A Górgona”, também de 1964 e um dos melhores filmes da produtora, dirigido por Terence Fisher e novamente com Peter Cushing, dessa vez contracenando com Christopher Lee.

“O Monstro de Frankenstein” foi lançado no Brasil em DVD pela “NBO”, que utilizou uma capa oportunista evidenciando uma ilustração estilizada de Boris Karloff, em vez de mostrar alguma foto da criatura do próprio filme em questão. De material extra, temos biografias do diretor Freddie Francis e dos atores Peter Cushing e Duncan Lamont. 


(RR – 13/09/21)










Fahrenheit 451 (Inglaterra, 1966)

 


“Temos todos de ser semelhantes. A única maneira de sermos felizes é se todos formos iguais. Por isso que temos que queimar os livros.” – Capitão Beatty.


Ray Bradbury (1920 / 2012) é um cultuado escritor de Ficção Científica com várias de suas obras adaptadas para o cinema. Uma delas é “Fahrenheit 451”, livro distópico escrito em 1953 e transformado em filme em 1966 pelo diretor francês François Truffault, numa produção inglesa estrelada por Julie Christie e Oskar Werner.

Num futuro próximo, uma sociedade governada por um regime totalitário que não quer que os cidadãos tenham liberdade de pensamento, impõe leis rígidas contra a leitura de livros e revistas, que segundo eles, causam a infelicidade das pessoas. Então, nesse cenário opressivo, os bombeiros possuem uma função inversa, em vez de apagar incêndios, eles são treinados para localizar livros escondidos e queimá-los.

Guy Montag (Oskar Werner) é um bombeiro que fala pouco e executa sua função com disciplina, recebendo elogios do rígido Capitão Beatty (Cyril Cusack) para uma possível promoção, e despertando a ira do ciumento colega de trabalho Fabian (Anton Diffring). Montag é casado com Linda (Julie Christie, de cabelo comprido), e sua vida é uma rotina sem emoções, com sua esposa ingerindo drogas narcotizantes fornecidas pelo governo e sendo consumidora de programas estatais patéticos de televisão que mantém as pessoas pacatas e obedientes. 

Tudo começa a mudar depois que Montag conhece a professora de crianças Clarisse (também Julie Christie, de cabelo curto), que é sua vizinha e sempre se encontram no trem monotrilho a caminho de casa. Clarisse faz parte de um grupo secreto de pessoas que adoram livros e tentam se esquivar do controle opressivo do governo. O bombeiro passa então a questionar seu trabalho e se aproximar da leitura, tendo que decidir entre sua vida monótona de cidadão disciplinado e obediente, ou lutar pela liberdade se dedicando para que os livros continuem existindo.

“Fahrenheit 451” é uma crítica social sempre muito válida e atual, no sentido de evidenciar o quanto nocivo pode ser qualquer regime político que queira controlar a liberdade de pensamento das pessoas e suas relações sociais. É também uma declaração de apoio e admiração à literatura, aos livros e revistas que são indispensáveis no cotidiano da humanidade, registrando informações, ideias e histórias para divertir, emocionar e passar conhecimentos. 

Entre as curiosidades vale citar que os créditos de abertura são todos narrados, sem nada escrito na tela. O título do filme é uma referência à escala de temperatura Fahrenheit, com o número 451 sendo a quantidade de graus onde o papel dos livros incendeia (algo equivalente aos 233 graus Célsius, uma escala mais conhecida e utilizada). Na comunidade secreta das chamadas pessoas-livros, onde seus integrantes escolhem um livro para decorá-lo com o objetivo de voltar um dia a ser impresso num mundo mais livre, temos obras como “As Crônicas Marcianas”, do próprio Ray Bradbury, e “Histórias de Mistério e Imaginação”, do cultuado escritor de horror Edgar Allan Poe. 

Se eu fosse uma pessoa-livro, e pensando em nossa literatura fantástica nacional, escolheria para decorar o livro de lobisomens “Jarbas”, de André Bozzetto Junior, uma overdose de horror sangrento e tripas dilaceradas, e certamente quando fosse declamar o livro, teria que vomitar sangue.  

Entre os filmes baseados em histórias de Ray Bradbury podemos citar “Veio do Espaço” (1953), “O Monstro do Mar” (1953), “Uma Sombra Passou Por Aqui” (1969), “Um Grito de Mulher” (1972), “No Templo das Tentações” (1983), “A Ameaça Que Veio do Espaço” (1996) e “O Som do Trovão” (2005). 

“Fahrenheit 451” foi lançado no Brasil em DVD pela “Silver Screen”. E em 2018 foi lançada uma nova versão, dessa vez priorizando os elementos de ação, com direção de Ramin Bahrani e com Michael B. Jordan. 


(RR – 07/09/21)






Os Malditos (These Are the Damned, Inglaterra, 1963, PB)

 


No final dos anos 1950, a produtora inglesa “Hammer” surgiu com a proposta de explorar novamente os tradicionais monstros do cinema de Horror como o vampiro “Drácula”, “Criatura de Frankenstein”, “Múmia”, “Fantasma da Ópera”, “Lobisomem”, entre outros. Apostando na fotografia colorida e no vermelho do sangue, tivemos muitos filmes que ficaram eternizados, agregando muito valor às carreiras de atores como Christopher Lee e Peter Cushing, que se transformaram em ícones do gênero.

Mas, não é só de filmes de horror com monstros que a “Hammer” é lembrada, pois o estúdio também tem em seu extenso catálogo filmes com histórias de ficção científica. No caso de “Os Malditos” (These Are the Damned, 1963), o tema é a paranoia atômica que foi criada nas décadas de 50 e 60 do século passado, com o medo do fim do mundo numa destruição com bombas nucleares, durante a guerra fria entre Estados Unidos e a antiga União Soviética, pelo domínio do planeta após o fim da Segunda Guerra Mundial.

Com direção de Joseph Losey, fotografia em preto e branco e história baseada no livro “The Children of Light”, de H. L. Lawrence, o filme foi lançado em DVD no Brasil em 2015 pela “Versátil”, na coleção “Clássicos Sci-Fi – Volume 1”, e também recebeu anteriormente os títulos “O Mundo os Condenou” e apenas “Malditos”.

Um turista americano, Simon Wells (Macdonald Carey), está na Inglaterra em férias quando conhece a jovem Joan (Shirley Anne Field), irmã de King (Oliver Reed), o líder de uma gangue de motoqueiros arruaceiros que roubam turistas com o uso de violência. Simon e Joan acabam saindo juntos num passeio de barco, sendo perseguidos pelo irmão ciumento da garota.

Eles passam a noite numa casa isolada localizada perto de uma estação militar secreta e entram em contato com um grupo misterioso de crianças que vivem em instalações subterrâneas da base do exército. Inocentes, elas recebem bem os estranhos, ajudando-os a se esconderem tanto do violento King quanto dos militares. Geladas e radioativas, as crianças fazem parte de um sinistro experimento científico confidencial, liderado pelo cientista Bernard (Alexander Knox), que esconde seu trabalho obscuro da amante Freya Neilson (Viveca Lindfors), uma artista que faz esculturas bizarras.

“Os Malditos” é um filme diferente da “Hammer”, bem longe dos monstros e horror gótico que normalmente caracteriza o estilo da produtora. Com a fotografia em preto e branco, a história pessimista explora o medo e tensão constantes gerados pela paranoia de uma catástrofe nuclear, com um projeto científico sombrio envolvendo as crianças “malditas”. A primeira metade é um pouco arrastada e a gangue de motoqueiros ladrões de turistas não desperta muito interesse. Mas, as coisas melhoram bastante quando efetivamente surgem as crianças sinistras, vítimas de uma conspiração militar com objetivos sombrios. Carregado de mistério, o grupo não tem contato com o mundo exterior, as crianças só conhecem as coisas no interior do subterrâneo e nem imaginam quem são seus pais, não fazendo a menor ideia do propósito do projeto científico em que fazem parte.

Entre as curiosidades, vale citar que o filme é um dos primeiros trabalhos do ator Oliver Reed, com uma carreira bem sucedida, e que esteve antes em “A Maldição do Lobisomem” (1962), também da “Hammer”, no papel do homem transformado em lobo. Também é curioso o fato de que as crianças misteriosas formavam um grupo de nove e todas tinham nomes de reis ou rainhas da história da Inglaterra, como Henry e Victoria, as principais crianças do grupo.

 

(RR – 16/02/21)