Parceiro do Diabo (Devil´s Partner / Enter the Devil, EUA, 1960, PB)

 


"Metade homem, metade fera – ele vendeu sua alma pela paixão!"

 

Parceiro do Diabo” (Devil´s Partner / Enter the Devil, EUA, 1960) utiliza um slogan sensacionalista e um cartaz bem produzido, mas não muito honesto, sendo jogadas de marketing muito utilizadas para chamar a atenção do público para os filmes bagaceiros de horror dos anos 50 e 60 do século passado. A história é basicamente sobre um homem velho meio maluco que fez um pacto com o diabo e se transformou em jovem novamente para tentar conquistar uma bela mulher. Fazendo uso de poderes sobrenaturais e se transformando em animais para atacar quem atrapalhasse seus planos malignos. Mas, bem longe de um monstro metade homem metade fera como estampado no cartaz e informado na tagline promocional.

 

Com direção de Charles R. Rondeau e curto com apenas 74 minutos, o filme está disponível no “Youtube” com legendas em português, tanto a versão original com fotografia em preto e branco quanto uma versão colorizada por computador.

Numa pequena cidade do interior árido da Califórnia, Pete Jenson (Ed Nelson) é um velho decrépito evitado por todos e que faz um pacto com o diabo utilizando o sangue do sacrifício de uma cabra, vendendo sua alma em troca de juventude.

Ele reaparece como Nick Richards (também Ed Nelson), se apresentando como um sobrinho do velho, causando boa impressão na proprietária de uma lanchonete, Ida (Claire Carleton), e depois na jovem Nell Lucas (Jean Allison), filha do único médico da cidade, Dr. Lucas (Edgar Buchanan), e namorada de David Simpson (Richard Crane), o dono de um posto de gasolina.

Interessado na moça, o recém-chegado Nick (ou o “parceiro do diabo” do título), começa então a enganar as pessoas em benefício próprio, principalmente o velho bêbado Papers (Byron Foulger), e utiliza seus poderes sobrenaturais para se transformar em animais como um cachorro, cavalo ou cobra, atacando mortalmente quem cruzasse o seu caminho ou pudesse atrapalhar seus objetivos sinistros de cobiça. Os misteriosos crimes chamam a atenção da polícia local, com o xerife Tom Fuller (Spencer Carlisle) liderando as investigações, com a ajuda do auxiliar Joe (Joe Hooker).

 

O filme parece um episódio estendido de séries com elementos fantásticos como a cultuada “Além da Imaginação” (The Twilight Zone), com uma história envolta em mistérios e momentos sutis de horror com um pacto com o demônio, além de algumas mortes discretas, apostando mais num clima atmosférico que pode servir como diversão rápida (literalmente, com pouco mais de uma hora de duração).

Curiosamente, o ator Ed Nelson (1928 / 2014) teve uma carreira com quase 200 créditos e esteve em vários filmes bagaceiros e preciosos de Horror e Ficção Científica como “A Ilha do Pavor” (1957), “Os Monstros Invasores” (1957), “Os Devoradores de Cérebro” (1958), “Teenage Caveman” (1958), “Night of the Blood Beast” (1958) e “Um Balde de Sangue” (1959).

 

(RR – 20/05/25)





Inferno / O Mal / O Enigma da Mansão Sinistra (The Evil, EUA, 1978)

 


"A propósito, onde está aquele pedaço de excremento sagrado? A sua cruz?” –

do Diabo para o torturado C. J. Arnold

 

Para os apreciadores de cinema de Horror é sempre indispensável um bom filme de mansão assombrada, seja por fantasmas perturbados ou pelo próprio Demônio. E um exemplo disso pode ser o divertido e principalmente nostálgico “Inferno” (The Evil, EUA, 1978), que também recebeu outros nomes nacionais como o literal “O Mal” e o sonoro e mais sensacionalista “O Enigma da Mansão Sinistra”.

Dirigido por Gus Trikonis, um cineasta mais associado aos trabalhos voltados para a televisão, temos um elenco liderado por Richard Crenna, ator mais conhecido como o Coronel Trautman nos primeiros filmes da franquia “Rambo”, e com a participação especial do Diabo, interpretado por Victor Buono, ator reconhecido como o vilão Rei Tut da série de TV “Batman”, dos anos 1960. E para a satisfação dos fãs, o filme está disponível no “Youtube” com legendas em português.

 

O psicólogo C. J. Arnold (Richard Crenna), que trabalha com reabilitação de drogados e acredita que a igreja é uma organização hipócrita, compra uma velha e abandonada mansão da época da Guerra Civil americana, de propriedade do antigo General Emilio Vargas (Galen Thompson), por um preço bem abaixo do normal, devido a sua fama sinistra na região como um local de acidentes e eventos misteriosos. Sua intenção, juntamente com a esposa e médica, Dra. Caroline Arnold (Joanna Pettet), é recuperar o lugar para transformar numa clínica para dependentes químicos.

Para isso eles contam com a ajuda de alguns amigos como o casal formado pelo Prof. Raymond Guy (Andrew Prine) e sua namorada, a estudante Laurie Belman (Mary Louise Weller), além de Mary Harper (Cassie Yates) e seu cão pastor alemão “Kaiser”, a ex-usuária de heroína Felicia Allen (Lynne Moody) e o brincalhão Pete Brooks (George O´Hanlon Jr.). E para ajudar com a instalação elétrica da casa foi contratado Dwight (George Viharo).

Apesar da estranha ausência do zelador Sam (Ed Bakey), que deveria recepcionar o grupo em sua chegada à imensa casa vazia por décadas, conforme informado pelo corretor de imóveis (Milton Selzer), eles iniciam um processo de limpeza de alguns cômodos. Porém, depois que um portal para o inferno localizado no porão é inadvertidamente aberto, libertando uma força maligna, os novos ocupantes são aprisionados na mansão e terão que lutar por suas vidas ameaçadas pelo “Mal” (do título original).   

 

“Inferno” tem todos aqueles elementos divertidos dos filmes de casas assombradas, com o fantasma do antigo proprietário tentando avisar os novos moradores sobre os perigos em abrir o portal para o inferno e como combater o Diabo depois de livre para atormentar os inocentes recém-chegados. A história é simples e cheia de clichês, mas é eficaz na proposta de explorar o tradicional confronto entre o “Bem” e o “Mal”, com a esperada atmosfera de tensão de um ambiente dominado pelo horror de mortes violentas em divertidos efeitos práticos com vítimas queimadas vivas, eletrocutadas, afogadas em lama, atacadas por animais ou forças invisíveis, além de uma cena especialmente sangrenta envolvendo uma serra elétrica circular.

Entre as curiosidades, existe uma versão alternativa sem a presença de Victor Buono, optando pela assombração da mansão sinistra apenas por uma força invisível demoníaca. A versão legendada no “Youtube” é a original com o Diabo. E o “Rei dos Filmes B” Roger Corman (1926 / 2024) é um dos produtores executivos.

 

(RR – 13/05/25)






As Torturas do Dr. Diabolo (Torture Garden, Inglaterra, Amicus, 1967)

 


As Torturas do Dr. Diabolo” (Torture Garden, 1967) é uma produção inglesa do também cultuado estúdio “Amicus”, de Max Rosenberg e Milton Subotsky, rival da “Hammer”, com direção de Freddie Francis, de diversos filmes de horror dos nos 60 e 70 como “O Monstro de Frankenstein” (1964), “A Maldição da Caveira” (1965) e “A Essência da Maldade” (1973).

Trata-se de uma antologia de contos de horror com roteiro de Robert Bloch, autor do clássico “Psicose”, e no elenco temos nomes consagrados como Jack Palance, Peter Cushing e Burgess Meredith. Com esses créditos indicando a qualidade dos realizadores, já dá para imaginar a diversão garantida.

 

Em “As Torturas do Dr. Diabolo”, um título nacional sonoro, uma atração de circo com foco no horror é apresentada pelo Dr. Diabolo (Meredith), que convida os espectadores a conhecer situações trágicas em seus destinos futuros, ao olharem fixamente para a imagem da deusa dos destinos Átropos (da mitologia grega). São apresentadas então quatro histórias de horror.

A primeira chama-se “Enoch” e mostra um homem ganancioso, Colin Williams (Michael Bryant) visitando o tio doente interessado na herança de sua misteriosa riqueza, e não imagina o terrível segredo que envolve sua casa, habitada anteriormente por uma bruxa.

Em seguida temos “Terror Over Hollywood”, onde uma atriz ambiciosa, Carla Hayes (Beverly Adams), não mede esforços para conseguir um papel de destaque no cinema, envolvendo-se com um produtor, Eddie Storm (John Phillips) e um veterano e famoso ator, Bruce Benton (Robert Hutton), que também escondem um misterioso segredo sobre suas longevidades.

O terceiro episódio, “Mr. Steinway”, apresenta um famoso pianista, Leo Winston (John Standing), que se apaixona pela bela Dorothy Endicott (Barbara Ewing), mas não consegue manter o romance por causa de um piano amaldiçoado.

A última história, “The Man Who Collected Poe”, tem Jack Palance no papel de Ronald Wyatt, um obcecado colecionador de livros e objetos do cultuado escritor americano de horror Edgar Allan Poe. Ele visita outro colecionador, Lancelot Canning (Peter Cushing), que entre livros e manuscritos raríssimos, também esconde um terrível segredo sobre o próprio escritor Poe.

 

Todos os episódios são muito bons, carregados de elementos de horror e até FC (no segundo episódio), e que ficam guardados por muito tempo em nossas memórias. Como o sinistro gato preto Balthazar, da primeira história, ou o piano assassino tocando a marcha fúnebre, do terceiro conto, ou ainda a dupla Palance e Cushing obcecada pela literatura sombria de Edgar Allan Poe, com graves consequências.

Curiosamente, “As Torturas do Dr. Diabolo” é o sucessor direto de outro filme de antologia de contos também produzido pela “Amicus” e dirigido por Freddie Francis, “As Profecias do Dr. Terror” (Dr. Terror´s House of Horrors, 1965), com Christopher Lee e Peter Cushing.

 

(RR – 27/12/13)






A Mansão da Meia-Noite (House of the Long Shadows, Inglaterra, 1983)

 


Produzido pela “Cannon Group”, “A Mansão da Meia-Noite” (House of the Long Shadows, Inglaterra, 1983) é o único filme da história que conseguiu reunir quatro dos mais consagrados nomes do cinema de horror de todos os tempos: Vincent Price, Christopher Lee, Peter Cushing e John Carradine.

 

Um jovem escritor americano, Kenneth Magee (Desi Arnaz), aceita uma aposta de seu editor, Sam Allyson (Richard Todd), para escrever um livro em 24 horas, se isolando numa mansão abandonada no interior do País de Gales, cujo ambiente tétrico e atmosfera sombria poderia servir de inspiração. Porém, várias pessoas misteriosas aparecem em seu caminho, como dois idosos caseiros da mansão (interpretados por John Carradine e Sheila Keith), a secretária de seu editor, Mary Norton (Julie Peasgood), antigos moradores do casarão e membros da histórica família Grisbane (Vincent Price e Peter Cushing), e um empresário investidor em imóveis antigos, Sr. Corrigan (Christopher Lee). Além da existência de um terrível segredo do passado da mansão e da família amaldiçoada que vivia nele quarenta anos antes.

 

O roteiro de Michael Armstrong, baseado no livro “Seven Keys to Baldpate”, de Earl Derr Biggers, não foge muito dos habituais clichês do gênero, explorando sutilmente elementos de horror psicológico e apostando em reviravoltas. Mas, o que interessa mesmo é a presença num único filme dos ícones Price, Lee, Cushing e Carradine, alguns dos mestres que deram vida ao fascinante cinema de horror, e que povoaram nossos sonhos e pesadelos com o puro entretenimento de seus filmes. Este fato torna “A Mansão da Meia-Noite” um filme único, indispensável e altamente recomendável, com seu lugar garantido na memória do gênero.

Curiosamente, foi apenas lançado no Brasil em VHS, através da “Globo Vídeo”, cuja mesma cópia original em inglês e com legendas em português, pode também ser encontrada na internet em blogs que permitem que sejam baixados em versão DVD.

 

(RR – 27/12/13)




O Navio Fantasma (The Mystery of the Mary Celeste / Phantom Ship, Inglaterra, Hammer, 1935, PB)

 


"Esta história foi inspirada pelas descobertas do Procurador-Geral em Gibraltar e retrata a terrível tragédia marítima do navio americano 'Mary Celeste', encontrado à deriva e abandonado no meio do Atlântico em 5 de dezembro de 1872 – um dos capítulos mais estranhos e dramáticos da história marítima."

 

O estúdio inglês “Hammer” é conhecido e cultuado por seus filmes de horror e ficção científica do final dos anos 50 até meados da década de 70 do século passado, com histórias de todos os tipos e especialmente com os monstros clássicos do gênero como o vampiro “Drácula”, a “criatura de Frankenstein”, “Múmia”, “Lobisomem” e outros.

 Curiosamente, “O Navio Fantasma” (The Mystery of the Mary Celeste, 1935) foi o segundo filme da produtora, estrelado por Bela Lugosi (em seu primeiro filme inglês). Ele que é um dos mais importantes atores da história do Horror, ao lado de Boris Karloff, Vincent Price, Peter Cushing e Christopher Lee. Ficou eternizado como o “Drácula” do estúdio americano “Universal”, e dessa vez o papel foi diferente dos seus tradicionais vilões, interpretando agora um marinheiro insano e vingativo.

O filme está disponível no “Youtube” com legendas em português, tanto a versão original com fotografia em preto e branco quanto uma versão colorizada por computador. Aliás, a versão que tive acesso foi a americana com o título original “Phantom Ship”, editada com 62 minutos de duração, com 18 minutos de cortes da versão inglesa, que supostamente parece estar perdida.

Dirigido por Denison Clift, a história é ambientada em 1872 e baseada em eventos reais sobre o mistério do navio “Mary Celeste” que foi descoberto navegando à deriva no oceano, com os tripulantes e passageiros desaparecidos, conforme informa a introdução do filme, reproduzida no início desse texto.

 

O capitão Benjamin Briggs (Arthur Margetson) e seu imediato Toby Bilson (Edmund Willard) estão tentando reunir uma tripulação para seu navio que iria fazer uma entrega de barris de álcool em Gibraltar. Ele pede para sua futura esposa Sarah (Shirley Grey) para acompanhá-lo na viagem, e mesmo sendo a única mulher a bordo, acaba aceitando o convite. Em paralelo, há um triângulo amoroso envolvendo o também Capitão Jim Morehead (Clifford McLaglen), que queria se casar com Sarah, gerando uma tensão entre eles.

Eles conseguem uma tripulação formada por Tommy Duggan (George Mozart), Peter Tooley (Johnnie Schofield), Ponta Katz (Gunner Moir), Andy Gilling (Gibson Gowland), Boas Hoffman (Ben Welden), Tom Goodschild (Dennis Hoey), Charlie Kaye (Terrence de Marney), Arian Harbens (J. Edward Pierce) e Grot (Herbert Cameron), sendo que este foi cedido pelo Capitão Morehead. Para completar ainda tem a presença de Anton Lorenzen (Bela Lugosi), um marinheiro falido e ressentido por ter sido sequestrado numa viagem anterior, que também é recrutado dessa vez, mas utiliza um nome falso (Gottlieb).

Além da exaustiva rotina do navio na viagem pelo vasto oceano, com as inevitáveis tensões entre os tripulantes e a ocorrência de fortes tempestades, uma atmosfera de morte e violência se instala na embarcação, com um misterioso assassino agindo nas sombras.       

 

O filme especula sobre o que poderia ter acontecido com a tripulação do navio, um mistério que jamais será esclarecido. Bela Lugosi está muito bem como sempre, deixando de lado suas performances de “vampiro” ou “cientista louco” para um papel com intensa dramaticidade como um marinheiro perturbado em busca de vingança.

O ritmo carece um pouco de ação, algumas cenas com cantorias são bem entediantes, alguns personagens desaparecem vítimas do assassino, mas essas mortes não são exploradas, e apenas sutilmente informadas. Ou seja, os realizadores perderam várias oportunidades em apresentar as ações do assassino misterioso ao eliminar os membros da tripulação.

Porém, ainda assim o filme tem seus momentos de interesse como um exemplo do cinema de horror dos longínquos anos 30 do século passado e principalmente pela presença sempre bem-vinda de Bela Lugosi. 

 

“Quando este navio parte, a morte navega nele.” – Anton Lorenzen

 

(RR – 03/05/25)