O famoso estúdio inglês “Hammer” é muito conhecido e cultuado graças aos inúmeros e maravilhosos filmes de horror, produzidos principalmente entre o final dos anos 50 e meados da década de 70 do século passado, explorando os típicos e tradicionais elementos góticos do gênero e os monstros clássicos como “Drácula”, “A Criatura de Frankenstein”, “A Múmia”, “Lobisomem”, “Fantasma da Ópera” e outros, os quais por sua vez já haviam sido largamente filmados nos anos 30 e 40 pela produtora americana “Universal” em preto e branco. Só que os filmes da “Hammer” possuíam como grande diferencial a fotografia colorida realçando o vermelho vivo do sangue, além também das significativas (principalmente para a época de produção) doses de erotismo e sensualidade de belas mulheres.
Porém, a “Hammer” também é lembrada pelos fãs e apreciadores do gênero por causa de seus trabalhos voltados especialmente para a televisão, como a série “A Casa do Terror” (Hammer House of Horror, 1980), apresentada em 13 episódios com aproximadamente cinqüenta minutos de duração cada, e que foi parcialmente distribuída no Brasil em DVD através de 3 volumes, pela “Works Editora”, entre o final de 2005 e início de 2006. Infelizmente, mesmo depois de ser anunciado pela editora o lançamento da série completa, o quarto e último DVD não foi lançado, e os últimos 4 episódios foram obtidos pela internet.
“A Casa do Terror” teve a produção executiva de David Reid e Brian Lawrence, e produção de Roy Skeggs, apresentando episódios independentes explorando os mais variados temas típicos do horror como bruxaria, vodu, antropofagia, insanidade, casas assombradas, seitas satânicas, fantasmas vingativos, lobisomens, mortos-vivos, doppelgangers, psicopatas, crianças malignas e todo tipo de elementos sobrenaturais. Entre os diretores, alguns nomes como Peter Sasdy, Alan Gibson, Don Charp e Robert Young, também realizaram filmes pela “Hammer”. Um destaque certamente é a abertura da série, evidenciando uma “casa do terror”, envolvida por uma trilha sonora memorável. E entre suas características podemos citar a utilização nos roteiros de uma ambientação contemporânea, com histórias mais atuais (década de 1980), mudando o estilo gótico utilizado na maioria dos filmes que a “Hammer” produzia para os cinemas, nos quais prevaleciam as ambientações bem mais antigas. Além também dos desfechos dos episódios, sempre ousados e trágicos, envoltos numa atmosfera perturbadora de pessimismo, fugindo totalmente daqueles finais convencionais e previsíveis.
O primeiro volume esteve disponível nas bancas encartado na revista “Dark Side DVD” ano 2, número 13 (Outubro de 2005), ao preço de R$ 19,90. O disco veio com três episódios da nostálgica série, e como material extra uma breve sinopse e pequenas biografias dos atores Denholm Elliott (1922/1992), Dinah Sheridan (1920/1986) e Jon Finch. O menu interativo do DVD possui um erro, pois as cenas que aparecem em pequenas janelas estão trocadas entre os episódios “A 13a Reunião” e “Despertar Repentino”. A revista traz textos, além da própria série em questão, também sobre os atores Peter Cushing e Christopher Lee, principais astros dos filmes da “Hammer”, e um artigo sobre a história do estúdio inglês, começando pela primeira parte “Os Primeiros Anos”.
Os episódios do primeiro DVD são “Tempo de Bruxaria” (Witching Time), onde uma estranha e sedutora mulher surge repentinamente no celeiro de uma fazenda e afirma ao proprietário que é na verdade uma bruxa vinda do século XVII e que havia escapado da morte na fogueira. O outro episódio é “A 13ª Reunião” (The Thirteenth Reunion), onde uma jornalista obstinada com seu trabalho investiga as atividades obscuras por trás de uma misteriosa clínica para emagrecimento. O último episódio do Volume 1 chama-se “Despertar Repentino” (Rude Awakening), onde um agente imobiliário vive um pesadelo acordado, quando todos os dias parecem se repetir, porém com eventos progressivamente mais trágicos.
O segundo volume saiu em Fevereiro de 2006 no número 16 (ano 3) da revista “Dark Side DVD” com mais três episódios: “Dor Intensa” (Growing Pains), “A Casa Que Sangrou Até a Morte” (The House That Bled to Death) e “Charlie Boy” (Charlie Boy). A revista traz artigos abordando a série em questão, com breves sinopses dos três episódios desse segundo volume, além da segunda parte (“Os Anos Sangrentos”) do artigo sobre a história da “Hammer”, e um cartaz original de um clássico da produtora, “A Múmia” (The Mummy, 59), com a “dupla dinâmica” Christopher Lee e Peter Cushing.
O terceiro DVD foi disponibilizado no mês de Abril encartado com o número 18 da revista, com os episódios: “Grito Silencioso” (The Silent Scream), “Filhos da Lua Cheia” (Children of the Full Moon), e “Águia dos Cárpatos” (Carpathian Eagle). A revista traz novamente um texto sobre a série em questão, com as sinopses dos três episódios desse terceiro volume, além de “As Outras Séries de TV da Hammer”, e a terceira e última parte do artigo sobre a história do estúdio (“Os Anos Sombrios”). Completa ainda a revista um cartaz original de “Mil Séculos Antes de Cristo” (One Million Years B.C., 66), com Raquel Welch.
Lista de Episódios
Atenção: as sinopses e os comentários podem conter “spoilers”.
1) Tempo de Bruxaria (Witching Time). 13/09/1980. Direção: Don Leaver. Roteiro: Anthony Read. Música: James Bernard. Elenco: Jon Finch (David Winter), Patrícia Quinn (Lucinda Jessup), Prunella Gee (Mary), Ian McCulloch (Charles).
Sinopse: David Winter (Jon Finch, de “Carmilla, A Vampira de Karnstein”, “Horror de Frankenstein” e “Frenesi”) trabalha como compositor de trilhas sonoras para filmes de horror, e é casado com uma atriz, Mary (Prunella Gee), que por sua vez tem um caso amoroso com o médico da família, Charles (Ian McCulloch). David mora numa fazenda chamada “Woodstock”, localizada nas imediações de Londres, e sua esposa costuma passar alguns dias fora, em trabalhos de filmagens. Certa noite, durante uma tempestade de raios e relâmpagos, o compositor ouve estranhos ruídos vindos do celeiro e encontra uma mulher misteriosa, que se apresenta como Lucinda Jessup (Patricia Quinn, de “Rocky Horror Picture Show”), uma bruxa de 1627 que conseguiu viajar no tempo e fugir dos inquisidores que a perseguiam e queriam condená-la à morte na fogueira. A feiticeira se deslocou mais de 300 anos no tempo para se salvar, vindo também decidida a transformar David em seu escravo, atormentando sua vida utilizando-se de magia negra e desestabilizando ainda mais a já frágil relação com sua esposa Mary.
Comentários: Uma história de bruxaria é sempre bem vinda, pois é um tema que sempre desperta interesse, principalmente da forma proposta pelo roteiro desse episódio, misturando horror, loucura, magia negra e viagem no tempo, e ainda não dispensando as sempre desejáveis cenas de nudez, numa cortesia da feiticeira interpretada por Patricia Quinn.
2) A 13ª Reunião (The Thirteenth Reunion). 20/09/1980. Direção: Peter Sasdy. Roteiro: Jeremy Burnham. Música: John McCabe. Elenco: Julia Foster (Ruth Cairns), Dinah Sheridan (Gwen Cox), Richard Pearson (Sir Humphrey Chesterton), Norman Bird (Basil), George Innes (Cedric), James Cosmos (Willis), Warren Clarke (Ben Faraday), Gerrard Kelly (Andrew), Michael Latimer (Dr. Bradley), Barbara Keogh (Joan O´Burden), Paula Jacobs (Joyce), Kevin Stoney (Jack Rothwell).
Sinopse: Uma jornalista, Ruth Cairns (Julia Foster), trabalha para um caderno feminino sob a editoria de Gwen Cox (Dinah Sheridan). Ela recebe como missão da chefe uma reportagem numa estranha clínica de emagrecimento de propriedade de Sir Humphrey Chesterton (Richard Pearson), onde o diretor e professor de educação física Willis (James Cosmos) utiliza métodos não convencionais com os pacientes obesos, incentivando-os a comer bastante em alguns casos como com Ben Faraday (Warren Clarke), ou humilhando-os em público evidenciando suas condições físicas desfavoráveis como aconteceu com Joyce (Paula Jacobs). Ruth decide então se internar como uma paciente para fazer a reportagem. Porém, depois de ser procurada pelo jovem Andrew (Gerrard Kelly), que trabalha como assistente na funerária “Ashford”, de propriedade dos sócios Basil (Norman Bird) e Cedric (George Innes), e informada de misteriosos acontecimentos envolvendo a funerária e a clínica de emagrecimento, ela decide investigar a verdade por trás dos fatos, podendo pagar um preço muito alto por suas descobertas.
Comentários: Esse episódio explora de forma interessante o tema da antropofagia, criando um motivo convincente para a tal “13a Reunião” do título, e utilizando como inspiração para a história o famoso caso verídico de Burke e Hare, criminosos que roubavam cadáveres para vender e servir de material científico nas pesquisas de um médico sem escrúpulos. Esse mesmo tema foi muito bem visto anteriormente no cinema em filmes como “O Túmulo Vazio” (45), com a dupla de ícones Boris Karloff e Bela Lugosi, e “A Carne e o Diabo” (60), com Peter Cushing e um ainda jovem Donald Pleasence.
3) Despertar Repentino (Rude Awakening). 27/09/1980. Direção: Peter Sasdy. Roteiro: Gerald Savory. Música: Paul Patterson. Elenco: Denholm Elliott (Norman Shenley), James Laurenson (Sr. Rayburn), Pat Heywood (Emily Shenley), Lucy Gutteridge (Lolly), Eleanor Summerfield (Sra. Stradwick), Gareth Armstrong (Dr. Malbury), Patricia Mort (Mabel, a empregada).
Sinopse: Norman Shenley (Denholm Elliott, de “A Casa Que Pingava Sangue”), é o proprietário de uma imobiliária, que vive uma vida tediosa com a esposa Emily (Pat Heywood) e sente-se atraído pela beleza de sua secretária Lolly (Lucy Gutteridge). Certo dia, ele recebe a visita no escritório do Sr. Rayburn (James Laurenson), que solicita sua ajuda para vender uma mansão chamada “Lower Moat”, um pouco afastada da cidade, e que pertencera à Sra. Stradwick (Eleanor Summerfield). Ele aceita o serviço e vai visitar o enorme casarão, mas a partir daí começa a ocorrer uma série de fatos misteriosos e estranhos, como uma casa assombrada, uma cabine telefônica que solta um gás venenoso, um prédio que está sendo demolido, um tumor cerebral que precisa ser extraído, sua bela secretária usando roupas e penteados totalmente diferentes a cada momento, que estimulam o agente imobiliário a acreditar que está preso numa incrível sucessão de pesadelos dentro de outros pesadelos, e com eventos cada vez mais desastrosos.
Comentários: O roteiro básico desse episódio lembra um pouco o clássico “Na Solidão da Noite” (45), onde um perturbado arquiteto vai visitar uma mansão numa proposta de trabalho, conhecendo as mesmas pessoas que estão nos sonhos que o atormentam constantemente e se vê preso num ciclo fechado no tempo, vivendo as mesmas situações continuamente, num pesadelo sem fim. No caso de “Despertar Repentino”, o corretor de imóveis Norman Shenley experimenta o drama de participar de um pesadelo dentro de outro, e assim sucessivamente, chegando ao ponto de não saber mais separar os eventos dos sonhos e a realidade.
4) Dor Intensa (Growing Pains). 04/10/1980. Direção: Francis Megahy. Roteiro: Nicholas Palmer. Elenco: Gary Bond (Terence Morton), Barbara Kellerman (Laurie Morton), Matthew Blakstad (James), Christopher Reilly (William Morton), Norman Beaton (Ngenko), Tariq Yunus (Charles Austin), Daphne Anderson, Michael Hughes, Karin Scott, Geoffrey Beevers.
Sinopse: Um cientista botânico, Terence Morton (Gary Bond), trabalha em sua casa fazendo pesquisas com animais e plantas com o objetivo de descobrir uma proteína especial que poderia diminuir a fome no mundo, um problema que atinge cerca de 70% da população. O excesso de trabalho faz com que ele não disponha de tempo para dar atenção ao seu filho infeliz de dez anos, William (Christopher Reilly), que morre repentinamente num acidente em seu laboratório, abalando bastante sua esposa Laurie (Barbara Kellerman). Para amenizar a dor pela perda do filho, o casal adota um menino num orfanato, James (Matthew Blakstad). Com a chegada do garoto, inicialmente bem educado, seu comportamento torna-se estranho e uma série de eventos misteriosos e bizarros começa a acontecer como o carro da família ficar desgovernado sem motivo, ou a alteração do comportamento do cão de estimação Nipper, que de dócil passa a ser agressivo e assassino, invadindo o laboratório e destroçando vários coelhos, além de ameaçar a segurança de dois agentes do “Fundo Mundial de Comida”, Srs. Ngenko (Norman Beaton) e Charles Austin (Tariq Yunus), que faziam uma visita para conhecer o trabalho do cientista.
Comentários: “Dor Intensa” é um episódio de conteúdo fraco, abaixo da média de qualidade da série. A história explora um clichê já muito desgastado no cinema de horror: as ações de um fantasma vingativo. Nesse caso, é o espírito atormentado do garoto William, frustrado pela falta de atenção do pai, mergulhado no trabalho, e que passa a exercer uma influência maligna no menino recém chegado para substituí-lo na família. A história é arrastada em seus 50 minutos, além de ser também previsível (pois imaginamos todo o tempo o plano de vingança do fantasma do garoto). Os elementos sobrenaturais não foram bem aproveitados e a confusão da seqüência final ajudou no desinteresse geral pelo episódio.
5) A Casa Que Sangrou Até a Morte (The House That Bled to Death). 11/10/1980. Direção: Tom Clegg. Roteiro: David Lloyd. Elenco: Nicholas Ball (William Peters), Rachel Davies (Emma Peters), Emma Ridley (Sophie), Milton Johns (Andrew James Powers), Brian Croucher (George Evans), Pat Maynard (Jean Evans), Joanne White (Sophie, adolescente), George Tovey (Homem velho), Una Brandon-Jones (Mulher velha).
Sinopse: Uma casa foi palco de um terrível assassinato com esquartejamento envolvendo um casal de velhos (George Tovey e Una Brandon-Jones), com o caso instigando a curiosidade das pessoas. Algum tempo depois, novos moradores se mudam para o local, após adquirirem o imóvel do Sr. Powers (Milton Johns). É uma família formada pelo pai William Peters (Nicholas Ball), a mãe Emma (Rachel Davies) e a filha pequena Sophie (Emma Ridley). Eles são recepcionados por um simpático e prestativo casal de vizinhos, Jean Evans (Pat Maynard) e George (Brian Croucher), que conheciam o passado violento da casa e queriam evitar constrangimentos para os recém-chegados. Porém, eventos bizarros começaram a ocorrer como a morte do gato de estimação de Sophie, objetos dos antigos proprietários que surgiam do nada, uma mão decepada na geladeira, entre outros mistérios, os quais inevitavelmente trouxeram perturbação e tormento para a família.
Comentários: O roteiro desse episódio é a contribuição da série para o subgênero de casas assombradas. Temos aqui a tradicional casa com um passado histórico violento e que seria a morada de uma nova família que não imaginaria os fatos misteriosos que teria que enfrentar. Os destaques ficam por conta de um banho literal de sangue num grupo de crianças que comemoravam um aniversário, além de uma inesperada reviravolta culminando com um desfecho ousado e bem diferente do trivial. O argumento básico lembra a franquia “Horror em Amityville” e outros filmes similares.
6) Charlie Boy (Charlie Boy). 18/10/1980. Direção: Robert Young. Roteiro: Bernie Cooper e Francis Megahy. Elenco: Leigh Lawson (Graham), Angela Bruce (Sarah), Marius Goring (Heinz Hoffman), Frances Cuka (Gwen Williams), David Healsey (Peter McCaudron), Michael Culver (Mark), Michael Deeks (Phil Peters).
Sinopse: Um boneco de vodu esculpido em madeira originário da África Central é adquirido por Graham (Leigh Lawson) através de um inventário organizado por Heinz Hoffman (Marius Goring), logo após a morte trágica de seu tio Jack, de quem herdou vários objetos de antiquário. Apelidando o bizarro boneco de “Charlie Boy”, o novo proprietário do objeto não imaginaria o perigo que iria desencadear quando mortes misteriosas e violentas passam a ocorrer no momento em que ele mentalizava sentimentos de raiva e frustração contra outras pessoas, como um motorista psicopata que enfrentou numa briga de trânsito, ou com o primo que o enganou na criação de uma sociedade comercial. E a situação se complica ainda mais quando a influência maligna do boneco exerce seu efeito em pessoas queridas ao seu redor como a namorada Sarah (Angela Bruce), a governanta da mansão do tio, Gwen Williams (Frances Cuka) e o amigo diretor de cinema Phil Peters (Michael Deeks).
Comentários: Entre os diversos argumentos básicos do Horror, não poderia faltar o tema do vodu para ser explorado pela série. Em “Charlie Boy”, um boneco amaldiçoado tem o poder sobrenatural de converter o sentimento de ódio de seu dono em resultados trágicos aos desafetos, e que uma vez fora de controle pode perigosamente também voltar sua fúria maligna contra os amigos e si próprio. Vale destacar a presença incômoda de um tradicional psicopata urbano, que após um simples desentendimento no trânsito passa a perseguir e ameaçar o protagonista Graham usando o carro como arma (numa similaridade interessante com a nossa própria vida real). Aqui, como também em toda a série, temos um desfecho bem longe do comum.
7) Grito Silencioso (The Silent Scream). 25/10/1980. Direção: Alan Gibson. Roteiro: Francis Essex. Elenco: Peter Cushing (Martin Blueck), Brian Cox (Chuck Spillers), Elaine Donnelly (Annie Spillers), Anthony Carrick (Inspetor Aldridge).
Sinopse: Um homem, Chuck Spillers (Brian Cox), acaba de sair da cadeia e volta para casa ao encontro de sua bela esposa Annie (Elaine Donnelly). No presídio, ele recebia constantes visitas de um senhor misterioso, Martin Blueck (Peter Cushing), dono de uma loja de animais, que ofereceu para ele uma oportunidade de emprego em sua nova tentativa de reintegração social. Na loja, Chuck descobre a existência de vários animais selvagens presos em jaulas no porão, e que eles fazem parte de uma bizarra experiência de treinamento do Sr. Blueck, que tem por objetivo condicionar os animais para que um dia existam zoológicos sem jaulas e talvez até presídios sem paredes e celas. Chuck só não imaginaria os perigos que o aguardavam fora da prisão e o destino reservado pelo enigmático Sr. Blueck para ele e sua esposa.
Comentários: Esse episódio tem como curiosidade especial a presença do grande astro Peter Cushing (o persistente Dr. Frankenstein e o incansável caçador de vampiros Van Helsing em vários filmes da própria “Hammer”), motivo mais que suficiente para a garantia de bom entretenimento. E além desse ícone da história do cinema de horror, o elenco ainda conta com Brian Cox, de “Dragão Vermelho” (Manhunter, 86) e “O Chamado” (The Ring, 2002). O tema básico explorado pelo episódio é o horror ao confinamento, sendo que Chuck tem um trauma de criança, quando ficava preso de castigo num armário, e o Sr. Blueck alega que sofreu num campo de concentração controlado pelos nazistas na guerra. É bem interessante a idéia de um experimento científico para treinar os animais no relacionamento com suas jaulas e os métodos pouco convencionais utilizados pelo Sr. Blueck para alcançar seus objetivos. Como principal característica de toda a série, novamente aqui temos um desfecho perturbador.
8) Filhos da Lua Cheia (Children of the Full Moon). 01/11/1980. Direção: Tom Clegg. Roteiro: Murray Smith. Elenco: Christopher Cazenove (Tom Martin), Celia Gregory (Sarah Martin), Diana Dors (Sra. Ardoy), Robert Urquhart (Harry), Jacob Witkin (lenhador), Adrian Mann (Tibor), Victoria Wood (Sophy), Sophie Kind (Eloise), Natalie Payne (Irenya), Daniel Kipling (Andreas), Matthew Dorman, Wilhelmina Green, Corinna Reardon, Daniel Payne (crianças).
Sinopse: Tom Martin (Christopher Cazenove) é um jovem e bem sucedido advogado, sócio do experiente Harry (Robert Urquhart). Ele se casa com a bela Sarah (Célia Gregory), e sai alguns dias de férias, viajando de carro para o interior da Inglaterra, com destino a um chalé pertencente a Harry, próximo da pequena cidade de Applegrove. Porém, cerca de 30 Km antes de chegar na cidade, o carro apresenta pane mecânica nos freios, obrigando-os a parar e procurar ajuda nos arredores. Saindo da estrada em direção à floresta, eles encontram uma casa enorme onde são muito bem recepcionados pela misteriosa Sra. Ardoy (Diana Dors), que vive com um grupo de nove belas e aparentemente inocentes crianças, com destaque para o garoto Tibor (Adrian Mann) e a menina Eloise (Sophie Kind). A partir daí, o casal passa a enfrentar uma série de situações insólitas e perigosas envolvendo a misteriosa família de descendência húngara que vive isolada num casarão no meio do mato.
Comentários: “Filhos da Lua Cheia”, como o próprio título já revela, aborda em seu argumento a licantropia. Quando vemos um filme, sempre guardamos uma ou mais imagens que se destacam das demais e ficam armazenadas em nossa memória como uma forma de resgate histórico imediato do que assistimos. No caso de “A Casa do Terror”, para mim a imagem associada à série e que está registrada sempre na memória, é justamente a cena de abertura desse episódio, com uma bela, “frágil” e “inocente” garotinha com a boca manchada de sangue, cercada de seus cães de estimação e tendo aos seus pés a carcaça de uma ovelha morta e com o pescoço destroçado. Esse episódio é um dos melhores e mais marcantes de toda a série, investindo na idéia de crianças aparentemente inofensivas e que se revelam perigosamente ameaçadoras. A história também lembra bastante aquela ambientação gótica característica dos filmes da década de 60 da “Hammer”, com uma mansão escondida no meio de uma floresta, envolta num clima de mistério.
9) Águia dos Cárpatos (Carpathian Eagle). 08/11/1980. Direção: Francis Megahy. Roteiro: Bernie Cooper e Francis Megahy. Elenco: Anthony Valentine (Inspetor Clifford), Suzanne Danielle (Natalie), Siân Phillips (Sra. Hanska), Barry Stanton (Sargento Tony), Jonathan Kent (Tadek Kuchinsky), Matthew Long, Ellis Dale, Gary Waldhorn, Jeffrey Wickham, Morgan Sheppard, Barry Stokes, Pierce Brosnan, Richard Wren, Diana Adderley.
Sinopse: Um Inspetor da polícia, Clifford (Anthony Valentine), juntamente com o seu auxiliar, Sargento Tony (Barry Stanton), está investigando uma série de brutais assassinatos com características ritualísticas, onde as vítimas são sempre homens com os corações violentamente arrancados do peito com um punhal. Na investigação, o policial descobre relações entre as mortes e uma antiga lenda sobre a “Águia dos Cárpatos” do título, uma maldição que se abateu sobre uma família que tem como únicos descendentes a Sra. Hanska (Siân Phillips) e seu sobrinho transformista Tadek Kuchinsky (Jonathan Kent), que se tornam suspeitos. Clifford conhece também uma misteriosa e bela jornalista, Natalie (Suzanne Danielle), que escreveu um livro sobre a lenda, e com quem acaba se apaixonando, não imaginando os perigos que teria que enfrentar para descobrir a verdade dos fatos.
Comentários: Assassinatos em série motivados por uma histórica maldição familiar é o tema desse episódio, que mesmo não sendo exatamente ruim, também não empolga. A história pode ser considerada um típico thriller policial com todos os seus clichês característicos, enfatizando os trabalhos de investigação e a ocorrência de mortes violentas, tudo muito previsível e convencional demais. Somos rapidamente apresentados ao assassino e à revelação de suas inspirações para os crimes. De positivo, temos apenas algumas cenas discretas de nudez feminina e o já tradicional desfecho trágico, uma marca registrada da série. Como curiosidade, tem a presença super rápida de Pierce Brosnan (que não diz uma única palavra) como uma das vítimas. Ele que mais tarde se transformaria num ator de sucesso e muito conhecido principalmente pelo papel do agente secreto James Bond em alguns filmes da franquia.
10) Guardião do Abismo (Guardian of the Abyss). 15/11/1980. Direção: Don Sharp. Roteiro: David Fisher. Elenco: Ray Lonnen (Michael Roberts), Rosalyn Landor (Allison Lussan), John Carson (Charles Randolph), Paul Darrow (Simon Andrews), Barbara Ewing (Laura Stephens), Caroline Langrishe (Tina).
Sinopse: Uma sociedade secreta de ocultistas, liderada pelo hipnotizador Charles Randolph (John Carson, de “Epidemia de Zumbis” e “O Sangue de Drácula”), está tentando invocar a presença do poderoso demônio Choronzon, conhecido como o “Guardião do Abismo”, através de um sacrífício humano numa missa negra, e com a utilização de um espelho mágico, que permitiria a comunicação com a entidade maligna. Sem sucesso nos rituais, os membros da seita satanista estão procurando por um espelho original, que pertenceu ao famoso astrólogo e alquimista Dr. John Dee, e que estava sendo disputado num leilão pelos negociantes Simon Andrews (Paul Darrow) e Laura Stephen (Barbara Ewing, de “Drácula – O Perfil do Diabo”), juntamente com seu amigo, o exportador de antiguidades Michael Roberts (Ray Lonnen). Porém, após se envolver com uma bela mulher chamada Allison Lussan (Rosalyn Landor), fugitiva da seita após ser escolhida como sacrifício num ritual, Michael não imaginaria a sucessão de eventos turbulentos que iria enfrentar, colocando sua vida em risco.
Comentários: Não poderia faltar na série um bom roteiro dentro do subgênero que explora o satanismo e as ações secretas de seitas ocultistas. Na qualidade de um tema sempre atraente, o episódio “Guardião do Abismo” tem todos aqueles elementos indispensáveis e sempre esperados pelos apreciadores do cinema de horror, como um rito de magia negra envolto numa atmosfera sombria de celebração do Mal e invocação de um demônio, com direito ao tradicional sacrifício humano, além do clima sinistro de conspiração. A direção é de Don Sharp, de filmes da “Hammer” como “O Beijo do Vampiro” (1963) e “Rasputin, o Monge Louco” (1966), além de “A Maldição da Mosca” (1965). Tem a presença de uma belíssima mulher (Rosalyn Landor) como a vítima em fuga, e confirmando a caracterísitca da série, não faltam reviravoltas e a conclusão depressiva evidenciando o vencedor da eterna batalha do bem contra o mal.
11) Visitante do Túmulo (Visitor From the Grave). 22/11/1980. Direção: Peter Sasdy. Roteiro: Anthony Hinds. Elenco: Kathryn Leigh Scott (Penny Van Brutten), Simon MacCorkindale (Harry Wells), Gareth Thomas (Policial Richard / Swami Gupta Krishna), Mia Nardi (Margaret Tabori), Stanley Lebor (Charles Willowbee).
Sinopse: Uma americana rica, Penny Van Brutten (Kathryn Leigh Scott, da longa série de TV “Sombras da Noite” / “Dark Shadows”, 1966/71), sofre de problemas psiquiátricos e vive com seu marido Harry Wells (Simon MacCorkindale) numa casa de campo no interior da Inglaterra. Numa noite, sozinha em casa, ela é surpreendida pela invasão de um homem violento, Charles Willowbee (Stanley Lebor), à procura de seu marido para cobrar dívidas. Ela reage e mata o homem com um disparo de rifle num dos olhos. O marido decide encobrir o crime eliminando as evidências e enterrando o corpo. A partir daí, a moça perturbada piora progressivamente em seu estado de sanidade, alegando que está tendo visões com o homem assassinado, como um “visitante do túmulo” à procura de vingança. Ela solicita ajuda para uma médium e cartomante, Margaret Tabori (Mia Nardi), que realiza uma sessão espírita e por sua vez, prefere chamar alguém mais poderoso e experiente, o indiano Swami Gupta Krishna (Gareth Thomas), para tentar resolver o problema com o fantasma vingativo e atormentado.
Comentários: Aqui temos novamente um episódio com uma história de fantasma vingativo (o outro é o de número 4, “Dor Intensa”), sendo dessa vez um homem violentamente assassinado que retorna da tumba para atormentar a mulher que o matou em legítima defesa. Temos uma grande reviravolta nos momentos finais, mas a história esbarra em clichês desgastados e não empolga como deveria, com um resultado geral apenas mediano. Curiosamente, o roteiro é de John Elder, pseudônimo de Anthony Hinds, o criador da “Hammer” ao lado de Michael Carreras. Apesar de não acertar nesse episódio, com uma história fraca em conteúdo, ele foi o responsável pelo roteiro de muitos filmes divertidos do estúdio inglês como “A Maldição do Lobisomem” (1961), “O Fantasma da Ópera” (1962), “O Monstro de Frankenstein” (1964), “Drácula – O Príncipe das Trevas” e “A Serpente” (ambos de 1966), “O Sangue de Drácula” (1970), entre outros.
12) As Duas Faces do Mal (The Two Faces of Evil). 29/11/1980. Direção: Alan Gibson. Roteiro: Ranald Graham e Gerald Savory. Elenco: Anna Calder-Marshall (Janet Lewis), Gary Raymond (Martin Lewis), Paul Hawkins (David Lewis), Pauline Delaney (Enfermeira Ward), Philip Latham (Dr. Hargreaves), Jenny Laird (Sra. Roberts), William Moore (Sr. Roberts), Jeremy Longhurst (Dr. Cummings), Brenda Cowling (Enfermeira Davies), Mike Savage (P. C. Jenkins).
Sinopse: Uma família em férias está viajando para uma casa de campo. A família Lewis é formada pelo pai Martin (Gary Raymond), a mãe Janet (Anna Calder-Marshall), e o filho adolescente David (Paul Hawkins). No caminho, durante uma forte tempestade na estrada, o carro deles sofre um acidente após darem carona para um homem estranho vestindo capa de chuva e que atacou o motorista, causando uma capotagem do carro. Socorridos por um hospital próximo, aos cuidados dos médicos Dr. Cummings (Jeremy Longhurst) e Dr. Hargreves (Philip Latham) e pelas enfermeiras Ward (Pauline Delaney) e Davies (Brenda Cowling), a mulher começa a ter visões desconfiando que seu marido não é o mesmo, e que há um grande e perigoso mistério envolvendo o corpo encontrado pela polícia próximo ao acidente, e que está no necrotério do hospital.
Comentários: Ao longo dos 13 episódios da série, foram abordados diversos tipos de temas nas histórias. Aqui, o argumento explorado pelos roteiristas tem como foco central os misteriosos “doppelgangers”, aquelas criaturas lendárias de outra dimensão que seriam cópias idênticas das pessoas, porém evidenciando o lado mal e perverso do ser humano, e que poderiam tomar o seu lugar. A idéia é bem interessante, e “As Duas Faces do Mal” está entre os melhores episódios, com uma narrativa que prende a atenção, mantendo um clima constante de mistério e conspiração.
13) A Marca de Satã (The Mark of Satan). 06/12/1980. Direção: Don Leaver. Roteiro: Don Shaw. Elenco: Peter McEnery (Edwyn Rord), Georgina Hale (Stella), Emrys James (Dr. Harris), Anthony Brown (Padre Mackintosh), Conrad Phillips (Dr. Manders), Peter Birrel (John Markham), James Duggan (Enfermeiro John Sampson), Andy Bradford (Steve), James Curran (Enfermeiro Pritchard).
Sinopse: Um homem solteiro de meia idade, Edwyn Rord (Peter McEnery), que mora com sua mãe idosa e parcialmente surda (Annie Dyson), está completamente obcecado pelo número 9, que ele vê em todas as coisas. Após a morte misteriosa de um homem, Samuel Holt, que tentou se auto operar com uma broca elétrica no cérebro sem anestesia, para eliminar um coágulo de sangue e se livrar de uma terrível paranóia de perseguição, Edwyn, que trabalha como assistente no necrotério de um hospital, acredita que se infectou com um vírus especial quando estava costurando o cadáver de Holt, e que agora está sendo vítima de uma conspiração satânica envolvendo seus colegas de trabalho, médicos e enfermeiros, além da própria mãe e uma inquilina dela, a jovem Stella (Georgina Hale). Uma vez paranóico com a idéia desse vírus, que simularia algo como a meningite, criando uma pressão no cérebro, ele passa a ver o número 9 em tudo e vai entrando perigosamente num crescente estado de insanidade, pedindo ajuda ao padre Mackintosh (Anthony Brown), alegando que as forças do mal estão em ação.
Comentários: “Deixe minha alma em paz” – o último episódio da série envolve uma interessante idéia de conspiração, satanismo e paranóia, onde acompanhamos a degradação mental do protagonista, que acredita ter contraído um vírus a serviço da consolidação do Mal na humanidade, sendo intimado pela conspiração demoníaca, entre outras coisas, a comer a carne e beber o sangue de um inocente bebê. O diretor Don Leaver é o mesmo do episódio de abertura da série, “Tempo de Bruxaria” (Witching Time). “Aquele que tem entendimento para contar o número da besta, pois é o número de um homem, e esse número é seiscentos e sessenta e seis” – Livro do Apocalipse.
“A Casa do Terror” (Hammer House of Horror, Inglaterra, 1980) # 356
Datas: 01/11/05 + 06/03/06 + 02/05/06 + 21/11/07 + 31/01/11
site: www.bocadoinferno.com.br
blog: www.juvenatrix.blogspot.com.br (postado em 04/01/06 + 07/03/06 + 03/05/06 + 22/11/07 + 31/01/11)