A Sentinela dos Malditos (The Sentinel, EUA, 1977)


Há Perigo em todo lugar. Há o Mal... o Mal está em todo lugar. Há Horror. Há Trevas. Mas vigiando, esperando, espreitando o Mal está a esperança.” – reprodução parcial de narração em trailer de divulgação

Em 1977, o diretor Michael Winner (falecido em 21/01/2013 e responsável pelo cultuado “Desejo de Matar”, 1974) e o escritor Jeffrey Konvitz se uniram para produzir o filme “A Sentinela dos Malditos” (The Sentinel), que tem como maiores lembranças para os apreciadores do cinema de horror, a temática abordada de conspiração satânica, a exemplo de “O Bebê de Rosemary” (68), “O Exorcista” (73) e “A Profecia” (76), e pelo elenco excepcional, formado por tantos atores consagrados, conhecidos e cultuados que provavelmente nenhum outro filme do gênero tenha conseguido tamanha proeza. Dos experientes John Carradine, Martin Balsam, Arthur Kennedy e Eli Wallach, passando pelos não menos veteranos José Ferrer, Burgess Meredith e Ava Gardner, chegando aos mais jovens Chris Sarandon, Cristina Raines e Beverly D’Angelo, só para citar parte do elenco.

Alison Parker (Cristina Raines, de “Pesadelos Diabólicos”, 83) é uma bela modelo que namora o advogado Michael Lerman (Chris Sarandon, de “A Hora do Espanto”, 85 e “Brinquedo Assassino”, 88). Ambos tiveram problemas no passado, sendo que ela sobreviveu a uma tentativa de suicídio depois de flagrar o pai (Fred Stuthman) numa orgia com duas mulheres, e ele enfrentou o suposto suicídio da esposa, num caso obscuro ainda sendo acompanhado pelo detetive da polícia Gatz (Eli Wallach).
Eles vivem juntos, mas a modelo está procurando um apartamento mobiliado para morar sozinha. Encontrando uma oportunidade de aluguel num anúncio de jornal, Alison vai visitar um antigo prédio no Brooklyn, em New York, acompanhada pela corretora de imóveis Srta. Logan (Ava Gardner). Convencida pelo preço baixo, ela aluga o apartamento e conhece seus novos vizinhos, todos misteriosos e estranhos, liderados por Charles Chazen (Burgess Meredith). Outra peculiaridade do local é a presença constante de um sinistro padre cego, Francis Matthew Halloran (John Carradine), sempre estático na frente da janela do último andar. Entre os vizinhos “diabólicos” está o casal de lésbicas Gerde Engstrom (Sylvia Miles) e Sandra (Beverly D’Angelo), as irmãs Lilian (Jane Hoffman) e Emma Clotkin (Elaine Shore), Malcolm (Gary Allen) e sua esposa Rebecca Stinnett (Tresa Hughes), e a idosa Anna Clark (Kate Harrington).
A partir daí, Alison começa a enfrentar uma série de problemas de saúde, com vários desmaios, sendo constantemente assessorada pela amiga Jennifer (Deborah Raffin). Ela não consegue dormir à noite, toma remédios fortes, ouve ruídos no andar de cima, supostamente vazio, e tem visões assustadoras de seu passado trágico. O que a modelo não imaginaria é que seu destino já estaria determinado, sendo observada por uma irmandade católica secreta, liderada por um padre misterioso (José Ferrer) e pelo Monsenhor Franchino (Arthur Kennedy), e que ela estava sendo vítima de uma conspiração satânica para evitar a posse de uma nova “sentinela dos malditos”.

Através de mim você irá pela cidade da tristeza. Através de mim você irá pela dor, que é eterna. Através de mim você irá entre as pessoas perdidas. Abandone a esperança, todos que entrarem aqui.” – inscrição no portal de entrada do inferno

São muitos os destaques, e entre eles é interessante registrar a cena onde Alison é atormentada pelo fantasma do pai adúltero e promíscuo, e que morreu vítima de câncer. Ele está perseguindo-a e num momento de desespero e fúria, e ela desfere vários golpes de faca, acertando brutalmente seu olho e nariz. Tem ainda a sequência perturbadora onde ocorre um desfile de demônios e aberrações invocadas por Charles Chazen, para aterrorizar e enlouquecer Alison e influenciá-la a se suicidar, sendo na verdade aparições de pessoas deformadas na vida real, lembrando o filme “Monstros” (Freaks, 32), de Tod Browning. Aliás, o diretor Michael Winner enfrentou alguns problemas com reações negativas do público e críticos por causa da exposição dessas pessoas de forma pejorativa, qualificando-as como demônios deformados mesmo. Além de uma cena no mínimo inusitada, que certamente surpreende o espectador quando Sandra, a companheira lésbica de Gerde Engstrom, que não fala uma única palavra no filme, começa a se masturbar freneticamente na frente de Alison, quando ela estava fazendo uma simples visita para conhecer os novos vizinhos (sem dúvida, um momento ousado e corajoso do diretor, fugindo do convencional, e um ato merecedor de nossa admiração).

“A Sentinela dos Malditos” foi lançado em DVD no Brasil em 2003 pelo selo “Dark Side” da “Works Editora”, trazendo como material extra uma sinopse, as biografias dos atores Chris Sarandon e Cristina Raines, um trailer legendado em português de aproximadamente dois minutos e meio de duração, e uma galeria de fotos. E curiosamente, o filme também foi lançado em DVD em 17/08/05 pela “Ocean Pictures do Brasil” com o título “A Sentinela”, e sem extras disponíveis.

Entre as curiosidades, vale citar o periquito de estimação do demoníaco Charles Chazen, chamado Mortimer, e que segundo ele veio do “Brasil” (aliás, temos uma cena forte onde Alison presencia a gata Jezebel devorando brutalmente o passarinho). Outro fato interessante são as pequenas participações de então jovens atores que seriam populares mais tarde, com carreiras sólidas e rostos conhecidos como Jeff Goldblum, que fez o papel do fotógrafo Jack, e que seria o astro de “A Mosca” (86), “O Parque dos Dinossauros” (93) e “Independence Day” (96), além de Christopher Walken (“Os Anjos Rebeldes”, 94 e “A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça”, 99), que foi o policial assistente Rizzo, e Tom Berenger (“Platoon”, 86 e “D-Tox”, 2002), que apareceu rapidamente na cena final, juntamente com a esposa Nana Visitor (da série de TV “Star Trek: Deep Space Nine”), sendo eles os futuros inquilinos do prédio onde o portal do inferno é secretamente mantido sob vigilância.

Para ti, teu caminho é dado e bem vigiado, para que neste lugar de felicidade nada relacionado ao Mal se aproxime ou entre.” – John Milton, em “Paraíso Perdido”

“A Sentinela dos Malditos” (The Sentinel, 1977) # 343 – data: 13/10/05 – avaliação: 9,0
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 23/11/05 e atualizado em 23/01/13)

A Sentinela dos Malditos (The Sentinel, Estados Unidos, 1977). Duração: 92 minutos. Direção de Michael Winner. Roteiro de Michael Winner e Jeffrey Konvitz, baseados em obra literária de Jeffrey Konvitz. Produção de Michael Winner e Jeffrey Konvitz. Música de Gil Melle. Fotografia de Richard C. Kratina. Edição de Bernard Gribble e Terry Rawlings. Desenho de Produção de Philip Rosenberg. Maquiagem de Bob Laden e Dick Smith. Elenco: Chris Sarandon (Michael Lerman), Cristina Raines (Alison Parker), Martin Balsam (Prof. Ruzinsky), John Carradine (Padre Francis Matthew Halloran), José Ferrer (Padre da Irmandade), Ava Gardner (Srta. Logan), Arthur Kennedy (Monsenhor Franchino), Burgess Meredith (Charles Chazen), Sylvia Miles (Gerde Engstrom), Deborah Raffin (Jennifer), Eli Wallach (Detetive Gatz), Christopher Walken (Detetive Rizzo), Beverly D’Angelo (Sandra), Jerry Orbach (Michael Dayton), Hank Garrett (James Brenner), Robert Jerringer (Hart), Nana Visitor (Moça no final), Tom Berenger (Moço no final), William Hichey (Perry), Gary Allen (Malcolm Stinnett), Tresa Hughes (Rebecca Stinnett), Kate Harrington (Anna Clark), Jane Hoffman (Lilian Clotkin), Elaine Shore (Emma Clotkin), Jeff Goldblum (Jack), Fred Stuthman (Sr. Parker).