Comentários de Cinema - Parte 30


Filmes abordados:

Bonecas da Morte, As (The Psychopath, Inglaterra, 1966)
Criatura da Mão Azul, A (Creature With the Blue Hand / Die blaue Hand, Alemanha Ocidental, 1967)
Cruz do Diabo, A (La Cruz del Diablo / Cross of the Devil, Espanha, 1975)
Fantasma de Frankenstein, O (The Ghost of Frankenstein, EUA, 1942, PB)
Fantasmas Que Ainda Vagam (Ghosts That Still Walk, EUA, 1977)
Latidos de Pánico (Panic Beats, Espanha, 1983)
Sol (São Paulo, Brasil, 2017, curta-metragem independente 14 min.)
Uivo da Bruxa, O (Cry of the Banshee, Inglaterra, 1970)

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* As Bonecas da Morte (1966)
A produtora inglesa “Amicus” foi uma valiosa rival da mais cultuada “Hammer”, e sua lista de filmes do gênero fantástico têm quase três dezenas, presenteando os apreciadores do estilo com preciosidades como “As Profecias do Dr. Terror” (1965), “A Maldição da Caveira” (1965), “As Torturas do Dr. Diabolo” (1967), “A Casa Que Pingava Sangue” (1971), “Contos do Além” (1972), “A Casa do Terror” (1974), entre vários outros. E atores consagrados como Christopher Lee, Peter Cushing e Vincent Price fizeram parte de vários filmes da “Amicus”.
“As Bonecas da Morte” (1966) tem direção de Freddie Francis (1917 / 2007), um nome conhecido principalmente no cinema de horror das décadas de 1960 e 70, e o roteiro é de autoria de Robert Bloch (1917 / 1994), autor do livro que inspirou o clássico “Psicose” (1960), de Alfred Hitchcock.
Um grupo de músicos ingleses enfrenta a ira de um assassino brutal que tem a característica bizarra de deixar sempre uma boneca com a aparência da vítima nas cenas dos crimes, intrigando a polícia. Eles faziam parte de uma comissão aliada que julgava criminosos de guerra alemães após a Segunda Guerra Mundial, e escondia um segredo misterioso do passado.
O grupo era formado por Reinhardt Klermer (John Harvey), pelo aposentado Frank Saville (Alexander Knox), pelo escultor Victor Ledoux (Robert Crewdson) e pelo funcionário da embaixada holandesa Martin Roth (Thorley Walters). As mortes eram investigadas pelo Detetive Inspetor Holloway (Patrick Wymark), auxiliado pelo Sargento Morgan (Tim Barrett). E as suspeitas recaíram para a idosa cadeirante Ilsa Von Sturm (Margaret Johnston), colecionadora de bonecas, e seu filho Mark (John Standing). Eles tinham fortes motivos para vingança por causa do suicídio do patriarca da família, um industrial que foi preso por crimes de guerra julgados pela comissão formada pelos músicos, que alegavam que ele utilizava trabalho escravo em suas fábricas.
Outros suspeitos investigados pela polícia eram o casal formado por Louise Saville (Judy Huxtable), desenhista de bonecas e filha de um dos violinistas assassinados, e seu noivo Donald Loftis (Don Borisenko), um estudante de medicina.
O filme é uma tradicional história de detetive com elementos de horror em mortes “off screen”, com uma ideia central sobre assassinatos misteriosos cometidos por um psicopata (do título original), e uma árdua investigação policial analisando os suspeitos. Apesar da previsibilidade dos eventos, dos inevitáveis clichês e da narrativa lenta em alguns momentos, ainda temos uma atmosfera de mistério interessante com um clima sinistro envolvendo os assassinatos, além de desfecho memorável e perturbador. Indicado para os fãs dos antigos filmes ingleses da “Amicus” e “Hammer”.
 (RR – 16/01/17)
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* Criatura da Mão Azul, A (1967)
 “A Criatura da Mão Azul” é mais um filme que surpreendentemente foi lançado no mercado brasileiro de vídeo VHS, distribuído pela obscura “MBA Home Vídeo”. Trata-se de uma produção da Alemanha Ocidental (na época conturbada dos anos 60 a Alemanha era dividida por questões políticas e a unificação somente ocorreu em 1990), com uma típica história de detetive com sutis elementos de horror nas ações de um assassino misterioso usando uma luva de ferro com dedos pontudos em lâminas afiadas para penetrar na carne de suas vítimas. Na Alemanha, esse sub-gênero de suspense policial é conhecido como “krimi”, equivalente aos “giallos” italianos”.
Essa arma conhecida como “mão azul” (do título), fazia parte de uma armadura medieval de guerra.  Curiosamente, podemos considerar essa ideia como precursora ou inspiração para a luva de facas do popular psicopata Freddy Krueger, criado pelo cineasta Wes Craven para a cultuada franquia “A Hora do Pesadelo”.
Com direção de Alfred Vohrer e Samuel M. Sherman (este não creditado), o roteiro foi baseado em história do escritor inglês Edgar Wallace (1875 / 1932), especialista em argumentos policiais e de mistério, e conhecido pela ideia conceitual do popular “King Kong”, o macaco gigantesco que apareceu em inúmeros filmes. Em “A Criatura da Mão Azul”, ambientado em Londres, Inglaterra, temos um homem condenado à prisão por assassinato, David Donald Emerson (Klaus Kinski), que alega inocência. Misteriosamente, ele é ajudado a fugir do manicômio judiciário dirigido pelo suspeito Dr. Albert Mangrove (Carl Lange), e retorna para a mansão sinistra de sua família rica, que fica nas proximidades do presídio.
Lá chegando, ele encontra seu irmão gêmeo Richard, que desaparece, assumindo seu lugar. Paralelamente, começa a ocorrer mortes misteriosas no interior do imenso casarão com estilo gótico, que é repleto de portas escondidas e passagens secretas para ambientes ocultos, com a identidade do assassino escondida por debaixo de um manto preto e utilizando a luva de pontas. Assustando seus moradores, como o aristocrático e igualmente enigmático mordomo Anthony (Albert Bessler) e os membros da família como a matriarca Lady Emerson (Ilse Steppat), e os irmãos do presidiário fugitivo, Robert e Charles (Peter Parten e Thomas Danneberg, respectivamente), além da jovem irmã Myrna (Diana Korner). As mortes em série despertam a atenção da polícia, sob a liderança das investigações pelo Inspetor Craig (Harald Leipnitz), da Scotland Yard, que recebe o auxílio esporádico de Sir John (Siegfried Schurenberg).
O filme tem um ritmo bastante ágil, com ações praticamente ininterruptas alternando momentos entre os ataques do maníaco e os assassinatos, com a condução das investigações da polícia, especulando a ideia de uma conspiração com vários suspeitos e a tentativa de surpresa na revelação da identidade da “criatura da mão azul”. Mas, tem algumas tentativas de humor que poderiam ser evitadas e a trilha sonora escolhida nas cenas de perseguição é muita estranha, minimizando a atmosfera de tensão. O grande nome do elenco, o polonês Klaus Kinski (1926 / 1991) poderia ser mais aproveitado, com maior presença apenas na primeira metade do filme. 
Curiosamente, recebeu outro nome alternativo, “The Bloody Dead”, que é um título exagerado e que seria mais apropriado para um filme de horror sangrento, que não é o caso aqui. Esse outro nome foi escolhido para o mercado americano de vídeo, numa versão com diferenças como cortes e também acréscimos de cenas adicionais, com redução na metragem final passando de 87 para 74 minutos (P.S.: aliás, essa versão reduzida é a que eu assisti).
(RR – 02/02/17)
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* Cruz do Diabo, A (1975)
Lançado em VHS no Brasil pela “Omni Vídeo”, “A Cruz do Diabo” (La Cruz del Diablo, 1975) é mais uma pérola do cinema bagaceiro espanhol da década de 70 do século passado. Foi dirigido pelo inglês John Gilling (1912 / 1984), o último filme de sua carreira significativa para o gênero, que inclui várias outras preciosidades. Como algumas produções da “Hammer”, “A Sombra do Gato” (1961), “A Serpente” (1966), “Epidemia de Zumbis” (1966) e “A Mortalha da Múmia” (também conhecido por aqui como “O Sarcófago Maldito”, 1967), além de “O Monstro do Raio Gama” (1956) e “A Carne e o Diabo” (ou “O Monstro da Morgue Sinistra”, 1960), este com Peter Cushing e Donad Pleasence. Aliás, conforme informado no site “IMDB” (Internet Movie Database), curiosamente John Gilling não tinha a intenção de dirigir “A Cruz do Diabo”, e quando estava de férias na Espanha foi convencido a assumir o projeto num convite do também cineasta Paul Naschy, um dos grandes nomes do gênero e com vasta filmografia e contribuição para a história do cinema de horror.
Um escritor e jornalista, Alfred Dawson (Ramiro Oliveros), vive na Inglaterra com sua namorada Maria (Carmen Sevilla). Fumante inveterado, viciado em ópio, ele tem pesadelos e alucinações constantes onde vê uma mulher sendo torturada por antigos templários da Idade Média. Ele viaja para Madri, Espanha, depois de receber uma carta de sua irmã Justine Carrillo (Monica Randall), que vive naquele país, casada com o Sr. Enrique (Eduardo Fajardo), um homem rico e bem mais velho que ela, pedindo a visita urgente do irmão por estar se sentindo ameaçada após o aborto do filho. Lá chegando, recepcionado pelo misterioso e suspeito Cesar del Rio (Adolfo Marsillach), secretário do Sr. Enrique, o escritor encontra a irmã morta e é informado que foi assassinada por um ladrão comum.
Porém, Alfred desconfia dos fatos e sente uma estranha atmosfera sobrenatural envolvendo a morte da irmã, decidindo investigar um lugar que abriga a “Cruz do Diabo” (do título do filme), localizado no “Monte das Almas”, onde ainda existem ruínas de um mosteiro que foi utilizado pelos templários. Segundo uma lenda a tal cruz foi forjada com o ferro da armadura do próprio diabo. Um território sinistro, temido por todos, e envolto em superstições que diziam que os cavaleiros medievais saíam de seus túmulos para praticar rituais de magia negra no “Dia de Todos os Santos”, numa vingança sangrenta contra quem invadia seus domínios.
“Os templários, membros de uma ordem militar da Idade Média. A missão da ordem era proteger os peregrinos que iam para a Terra Santa. Com o tempo, acumularam riquezas e poder, um poder maligno. Renunciaram ao catolicismo e se dedicaram aos rituais sombrios. Adoravam um ídolo chamado Baphomet. Espalharam-se pela Europa inteira e pela Espanha em particular. Porém, em 1312 a Ordem foi aniquilada.” – trecho de um livro sobre a história sangrenta dos templários.
Temos que agradecer o multifuncional espanhol Paul Naschy (também conhecido como Jacinto Molina) por ter convencido John Gilling a dirigir “A Cruz do Diabo”, tornando-se o último registro de sua carreira. Não que seja uma obra prima, pois é apenas mais um filme com elementos góticos que tem seu pequeno lugar na história do cinema de horror. Mas, porque foi uma oportunidade de Gilling encerrar suas atividades com um filme trazendo aquelas tradicionais características de horror sobrenatural onde não faltam ruínas macabras, uma floresta sombria envolta em neblina, carruagens como meios de transporte, candelabros e tochas para iluminação, mortos que deixam suas sepulturas para aterrorizar os vivos, e cenas de pesadelos perturbadores.
É verdade que temos alguns momentos com uma narrativa lenta que contribui para afastar o espectador da história. Mas, o desfecho com a dúvida sobre as ações do protagonista Alfred na busca pela verdade sobre o assassinato misterioso da irmã, numa confusão entre a realidade e as alucinações causadas pelo consumo de ópio, e os elementos góticos com a exploração do sempre macabro tema dos antigos cavaleiros templários em sua vingança sangrenta, desperta aquele esperado interesse nos apreciadores do estilo.      
(RR – 30/01/17)
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* O Fantasma de Frankenstein (1942)
A produtora americana “Universal”, assim como toda empresa que precisa lucrar para manter e continuar suas atividades, aproveitou a boa receptividade do público com a história do monstro de Frankenstein (criado pela escritora Mary Shelley em 1818) e explorou a ideia o máximo possível. “O Fantasma de Frankenstein” (1942) é o quarto filme da série, após “Frankenstein” (1931), “A Noiva de Frankenstein” (1935) e “O Filho de Frankenstein” (1939), sendo que nestes três filmes a criatura foi interpretada pelo lendário Boris Karloff (1887 / 1968), que não repetiu mais o papel. Em seu lugar foi escalado então outro ícone do cinema de horror, Lon Chaney Jr. (1906 / 1973), mais conhecido como o “lobisomem” no clássico de 1941.
Em “O Fantasma de Frankenstein”, dirigido por Erle C. Keaton, a história segue a partir dos acontecimentos do filme anterior, e o monstro estaria supostamente destruído, soterrado numa mina de enxofre debaixo da torre do cientista Frankenstein, e o ajudante Ygor, interpretado pelo húngaro Bela Lugosi (1886 / 1956), o eterno “Drácula” depois de surgir no filme homônimo de 1931, havia sido cravejado de balas. Porém, os aldeões do vilarejo estão descontentes com o declínio da região, alegando influência da maldição de Frankenstein. Nada prospera no local e então eles conseguem autorização das autoridades para explodir o castelo do “cientista louco”. Para a surpresa geral, encontram o manco Ygor ainda vivo e ele, depois da destruição do imenso casarão de pedras, localiza o monstro no subsolo, preservado pelo enxofre.
Ygor consegue resgatar seu companheiro e juntos fogem para a cidade de Visaria para procurar o outro filho de Frankenstein, o médico Ludwig (Cedric Hardwicke), especialista em doenças mentais. Após uma série de incidentes entre a criatura e os moradores da cidade, envolvendo também o promotor Erick Ernst (Ralph Bellamy), namorado de Elsa (Evelyn Ankers, filha de Ludwig Frankenstein), Ygor consegue convencer o também cientista e seu assistente ressentido Dr. Theodore Bohmer (Lionel Atwill), a realizarem novas experiências com o monstro, tentando trocar seu cérebro maligno. O Dr. Ludwig recebe também a influência de uma aparição do fantasma de seu pai, que aconselha não destruir a criatura feita de restos de cadáveres humanos.       
“No entanto, quase resolvi um problema que tem confundido o ser humano desde tempos imemoriais: o segredo da vida criada artificialmente” – fantasma do Barão Henry Frankenstein
Com fotografia em preto e branco e duração de apenas 67 minutos (era comum naquela época os filmes serem curtos), “O Fantasma de Frankenstein” desperta interesse quase que exclusivamente pela atmosfera gótica e pelos atores (Lon Chaney Jr. e Bela Lugosi sempre tiveram grande relação com o Horror). Enquanto Chaney continua fazendo do monstro de Frankenstein uma aberração assustadora, numa decisão acertada em manter os mesmos aspectos visuais da criatura dos filmes anteriores interpretada por Karloff, o sinistro Ygor de Bela Lugosi também continua convincente e de extrema importância para os rumos da história.
Por outro lado, o roteiro pouco contribuiu para esse universo ficcional já bastante explorado, mesmo em 1942. A necessidade de obtenção de lucros pelos realizadores pressionou os roteiristas, que por sua vez enfrentaram uma escassez de criação. Eles reciclavam as mesmas ideias, contando histórias similares com os descendentes do cientista, ressuscitando o monstro e outros personagens, e utilizando as mesmas motivações e elementos que caracterizaram os filmes anteriores. O ápice dessa falta de originalidade resultou em vários filmes “crossover” produzidos em seguida, misturando os monstros “Drácula”, “Lobisomem” e “Criatura de Frankenstein” numa mesma história, abandonando ainda mais qualquer regra de coerência. 
Por curiosidade, o filme recebeu primeiramente o título nacional “A Alma de Frankenstein” e depois também ganhou o mais apropriado “O Fantasma de Frankenstein”. Foi lançado em DVD tanto pela “Universal” quanto “Dark Side” num programa duplo com o filme anterior da série, “O Filho de Frankenstein”. E também sozinho, pela “Continental”.    
(RR – 05/02/17)
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* Fantasmas Que Ainda Vagam (1977)
Curiosamente, o mercado brasileiro de vídeo VHS, que iniciou seus lançamentos principalmente a partir de meados dos anos 1980, distribuiu por aqui vários filmes obscuros que normalmente apostaríamos que jamais fossem comercializados. É o caso da produção americana “Fantasmas Que Ainda Vagam” (1977), lançado pela D.I.V (Distribuidora Internacional de Vídeo), com direção e roteiro do desconhecido James T. Flocker.
Um adolescente de quinze anos, Mark Douglas (Matt Boston), está com fortes dores de cabeça e sua avó religiosa Alice (Ann Nelson) está tentando ajudá-lo a descobrir as causas. Depois de consultar um médico, ela é orientada a falar com a psiquiatra Dra. Sills (Rita Crafts), que estuda o caso e descobre uma série de incidentes estranhos com a família do garoto. Uma vez utilizando-se de hipnose descobre detalhes sobre um misterioso acidente com Alice e o avô do jovem doente, Harold (Jerry Jensen), que sofreu um ataque cardíaco depois de serem atacados por uma força sobrenatural enquanto viajavam pelo deserto num motorhome.
A psiquiatra se interessa mais pelo caso e descobre que a mãe do menino, Ruth (Caroline Howe), é uma escritora que estava trabalhando num livro sobre a história de uma antiga tribo indígena de mais de 500 anos. E que depois de resgatar uma misteriosa múmia índia de uma caverna, sofreu um colapso nervoso, intrigando a Dra. Sills e complicando progressivamente a solução da crise do garoto, que está piorando e se comportando estranhamente. 
“Fantasmas Que Ainda Vagam” certamente é um filme obscuro, pouco conhecido e que jamais imaginaríamos que fosse lançado em VHS no Brasil. A história até possui algum interesse, mesmo sendo um clichê já muito explorado, sobre um fantasma atormentado que aterroriza os vivos e está em busca de sua paz espiritual. Porém, a narrativa é bem arrastada na maior parte do tempo, num convite ao sono, apesar de algumas boas sequências de tensão como a cena do motorhome desgovernado em alta velocidade pelo deserto, controlado pelo fantasma. E o incrível ataque das pedras rolantes que se locomovem de forma ameaçadora pelas areias em direção ao motorhome das vítimas, numa longa sequência bem produzida, com efeitos convincentes numa época sem as facilidades da computação gráfica. Vale conhecer apenas pela curiosidade de um filme obscuro.    
(RR – 22/01/17)
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* Latidos de Pánico (1983)
 “Latidos de Pánico” (“latidos” em espanhol significa “batimentos cardíacos”) é um filme de horror “exploitation” de 1983, também conhecido pelo título em inglês “Panic Beats”. Foi dirigido e escrito pelo multifuncional Paul Naschy, que é o pseudônimo de Jacinto Molina Álvarez (1934 / 2009). Ele também é o ator principal e é considerado um nome cultuado no mundo do cinema de horror bagaceiro, com grande quantidade de créditos em sua vasta carreira.
Continuação da tranqueira divertida “El Espanto Surge de la Tumba” (1973), o roteiro volta a mencionar o temível Alaric de Marnac (Paul Naschy), um cavaleiro medieval com armadura que matou violentamente sua esposa por infidelidade (vista numa introdução de forte impacto de violência), além de ser conhecido por vários crimes hediondos, prática de bruxaria e por beber sangue humano. Segundo uma lenda, ele voltaria do mundo dos mortos a cada 100 anos para se vingar das mulheres da família Marnac.
Saltando no tempo para os dias atuais (década de 80 do século passado pela produção do filme), num pequeno vilarejo rural francês, próximo de Paris, somos apresentados para Paul Marnac (novamente Paul Naschy), que se muda para o interior justamente para preservar a saúde debilitada da bela e rica esposa Geneviéve (Julia Saly), que tem sérios problemas cardíacos. Ao chegarem à casa de campo do casal, eles são recebidos pela veterana governanta Mabile (Lola Gaos) e sua bela e jovem sobrinha Julie (Pat Ondiviela). Porém, uma sucessão de eventos estranhos e misteriosos, assassinatos violentos e traições constantes movimentam o ambiente instaurando o horror e manchando a casa com o vermelho do sangue.
Assim como os europeus Jesus Franco (1930 / 2013, também espanhol) e o francês Jean Rollin (1938 / 2010), realizadores muito produtivos, entre outros, com uma infinidade de trabalhos de direção, roteiro e atuação, é inegável também registrar a contribuição de Paul Naschy para o cinema fantástico bagaceiro. E em “Latidos de Pánico” não faltam todas aquelas características e clichês divertidos dos filmes de orçamentos reduzidos e história bizarras. Temos belíssimas mulheres nuas (especialmente Silvia Miró, que interpreta Mireille, uma amante de Paul Marnac), um assassino com luvas pretas, o casarão com atmosfera gótica, várias cenas sangrentas com mortes dolorosas em feridas gosmentas e tripas expostas, cadáveres putrefatos, e tudo sem a artificialidade do CGI, apenas com os nostálgicos, trabalhosos e sempre bem vindos efeitos de maquiagem.
É verdade também que o roteiro é extremamente previsível, onde sabemos sem esforço e com antecedência a sucessão dos eventos, porém a mistura de horror sangrento, com família amaldiçoada, fantasma vingativo, ganância do ser humano e conspirações, sempre desperta o interesse e garante a diversão.
Entre os destaques, temos o início ambientado no passado, com o sanguinário cavaleiro perseguindo uma mulher nua pela correndo pela floresta desesperada, as várias mortes sangrentas (principalmente os ataques com a arma medieval mangual, que rasga a carne e dilacera os ossos de suas vítimas), e o desfecho passado no interior de uma igreja, também carregado de muita violência.
(RR – 21/12/16)
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* Sol (2017)
O diretor e roteirista Carlos G. Gananian já nos presenteou com excelentes e muito bem produzidos curtas de horror como “Behemoth” (2003, sobre a evocação de uma entidade maligna), “Coagula” (2005, sobre as ações de um psicopata mascarado), e “Akai” (2006, sobre o tormento existencial de um vampiro), todos com produções caprichadas. Também faz parte de sua filmografia o curta de ficção científica “AM / FM” (2014).
Agora é a vez de “Sol” (2017), uma interessante história de possessão numa produção profissional, com grande quantidade de pessoas envolvidas no projeto.
Uma senhora religiosa, Solange (Thaia Perez), está sofrendo muito ao enfrentar uma situação bizarra que está acontecendo com seu marido Aristides (Ivan Giaquinto), encarcerado num quarto, ajoelhado num círculo desenhado no chão, as mãos amarradas, uma máscara cobrindo o rosto, agitado e balbuciando palavras estranhas. Sem se alimentar e com o corpo definhando perigosamente, ele é monitorado por dois padres. Um mais jovem, Dario (Lui Seixas), que está filmando o exorcismo, e outro mais experiente, Lucio (Plínio Soares), que tenta inutilmente expulsar o espírito maligno de sua vítima. Enquanto isso, para piorar ainda mais o cenário depressivo, vozes sinistras atormentam a Sra. Solange.
  Em apenas 14 minutos, Carlos G. Gananian e equipe conseguiram apresentar uma história perturbadora de horror sugerido, com uma atmosfera sombria explorando com maestria o velho clichê de possessão demoníaca. Sem gritarias, sangue em profusão ou violência exagerada, e apenas com eficientes efeitos sonoros e sugestões que evidenciam o poder avassalador do Mal. Altamente recomendável, tanto pela qualidade da produção como pela sutileza do roteiro.
 (RR – 20/01/17)
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* O Uivo da Bruxa (1970)
“No ouvido sobressaltado da noite, como eles gritam por seus temores! Aterrorizados demais para falar, a única coisa que podem fazer é choramingar, choramingar, fora do tom...” – Edgar Allan Poe
Baseado numa lenda irlandesa, “banshee” (do título original) é uma criatura sobrenatural invocada do inferno por magia negra, para executar uma vingança. “O Uivo da Bruxa” é um filme de horror gótico inglês da “American International Pictures” similar ao melhor estilo da produtora “Hammer”. Foi dirigido por Gordon Hessler em 1970 e tem na liderança do elenco o ícone eterno Vincent Price. Ele faz o papel do tirano inquisidor Lord Edward Whitman, que governa uma aldeia através da manipulação do medo, combatendo a bruxaria da época com julgamentos severos dos acusados e aplicação de penalidades violentas e dolorosas.
Ele persegue os seguidores de uma seita pagã, que realiza cultos na floresta e é liderada pela veterana Oona (a ucraniana Elizabeth Bergner). Muitos dos membros foram assassinados e em represália a bruxa convoca Satã para enviar um “banshee”, uma criatura sobrenatural que se apossa do corpo de um jovem, Roderick (Patrick Mower). O ser mitológico maligno então se vinga violentamente da família Whitman, formada ainda pela esposa infeliz do inquisidor, Lady Patricia (Essy Persson), e seus filhos Maureen (Hilary Heath), Harry (Carl Higg) e Sean (Stephan Chase).
Os moradores supersticiosos do vilarejo ouvem constantemente o uivo de um cão selvagem que aterroriza a região e mata as ovelhas, e sentem na pele as ações vingativas de um demônio invocado do inferno.
Em “O Uivo da Bruxa” temos uma história gótica com o tema de família amaldiçoada, enfrentando a fúria vingativa de uma criatura inumana. O roteiro de Tim Kelly e Christopher Wicking procura explorar a tensão constante do conturbado período de caça às bruxas na Europa do século XVI. Onde torturas dolorosas eram as punições comuns para obter confissões e delações, como podemos ver nas palavras de um inquisidor para uma mulher seguidora do culto pagão da “antiga religião”: “Podemos matá-la um minuto por dia durante um ano, ou tudo em um único minuto. Poupe-se da dor e diga-nos onde Oona está e prometo-lhe, você morrerá em paz.”
Vincent Price (1911 / 1993), um dos maiores e insuperáveis atores de horror de todos os tempos, repete o papel de um sádico tirano da Inquisição, assim como no filme anterior “O Caçador de Bruxas” (1968), Sua relação com o horror é tão sólida em incontáveis filmes preciosos para a história do gênero, que sua participação é a garantia do entretenimento.
O diretor alemão Gordon Hessler (1925 / 2014) tem no currículo filmes como “Embuste Diabólico” (1965), “O Ataúde do Morto Vivo” (1969) e “Grite, Grite Outra Vez” (1970), sendo os dois últimos também com Price.
Nos ataques do “banshee”, a criatura aparece pouco e seu visual é visto sempre rapidamente, numa aposta maior para a sugestão. Mas, ainda assim percebemos características que nos remetem para similaridades com lobisomens, em efeitos extremamente toscos de uma produção de baixo orçamento, garantindo a diversão dos apreciadores de cinema fantástico bagaceiro.
“Inglaterra no século XVI, uma época sombria e violenta. Bruxaria e os fantasmas da antiga religião ainda mantém o controle nas mentes das pessoas, preocupando tanto a Lei como a Igreja. Então quem pode ter certeza que isto é somente superstição primitiva e medo infantil?”
(RR – 17/12/16)

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