Comentários de Cinema - Parte 27


Filmes abordados:

Lago dos Tubarões, O (Shark Lake, EUA, 2015)
Maldição de Ghor, A (Dark Echoes, Iugoslávia / EUA, 1977)
Perigo Vem do Lago, O (Beneath, EUA, 2013)
Terror Tropical (Dragon Wasps, EUA, 2012)
Tubarões de Gelo (Ice Sharks, EUA, 2016)

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* Lago dos Tubarões, O (2015)
Os tubarões são os animais mais maltratados pelos roteiristas no cinema. São tantos os filmes ruins abordando essas feras do mar que uma missão de catalogação é bem difícil. Esses animais foram transformados em fantasmas, zumbis, demônios, monstros geneticamente modificados, criaturas pré-históricas, assassinos que habitam lagos e rios, criaturas que se locomovem através de tornados e avalanches, surgem debaixo da areia, e inúmeras outras coisas absurdas. Quase em sua totalidade, os filmes são patéticos ao extremo, e em alguns poucos e raros casos até proporcionam alguma diversão discreta justamente por suas características bagaceiras.
Não é o caso de “O Lago dos Tubarões” (Shark Lake, 2015), dirigido por Jerry Dugan. Aqui, a regra se mantém como um filme sem atrativos e totalmente descartável, tendo como único diferencial a presença no elenco do ator sueco Dolph Lundgren (das franquias “O Soldado Universal” e “Os Mercenários”), que aparece no cartaz apelativo estampando seu rosto para tentar chamar a atenção dos fãs. Ele que é um ator conhecido pelos filmes de ação com tiroteios, porradas, perseguições e explosões para todos os lados, mas que pertence a um escalão menor, ficando o topo desse gênero do cinema para astros lendários como Sylvester Stallone e Arnold Schwarzenegger. Uma vez precisando de trabalho, Lundgren obviamente aceitou o papel, independente da história ruim e precariedade geral da produção, e teve como resultado apenas mais um filme que não agrega nada em sua carreira.
Ele é o viúvo Clint Gray, que passou cinco anos preso por fazer parte de um esquema de tráfico de animais, deixando sua filha pequena Carly (Lily Brooks O´Briant) para ser cuidada pela policial Meredith Hernandez (Sara Lane), xerife de uma pequena cidade americana no Estado de Nevada. As coisas começam a se complicar quando ocorrem mortes sangrentas misteriosas num lago, creditadas inicialmente e de forma equivocada para um urso. Porém, com a investigação de um professor de oceanografia, Peter Mayes (Michael Aaron Miligan), descobre-se logo que a autoria dos assassinatos brutais no lago é de uma família de tubarões (nem é “spoiler”, pois o título do filme já entrega a revelação). Resta ao herói Clint salvar a cidade da ameaça das feras aquáticas.
A história é carregada de clichês que não despertam interesse. As cenas de mortes não impressionam. Os efeitos em CGI vagabundo não convencem e só contribuem para tornar a produção ainda mais descartável. Tudo é muito óbvio e sem graça, num convite ao sono. Dolph Lundgren nem é o protagonista, ele aparece pouco e sua participação resume-se ao velho clichê de um personagem canastrão metido a durão, e que luta com os tubarões de borracha numa cena tão patética que dá pena. “O Lago dos Tubarões” certamente está entre os piores de todos os filmes ruins com tubarões, mesmo sem exagerar nas ideias absurdas que normalmente o cinema utiliza para ridicularizar essas feras das águas. Mas, a história é tão desinteressante que o resultado foi apenas mais um filme destinado ao limbo dos esquecidos.
(RR – 26/07/16)

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* Maldição de Ghor, A (1977)
Um exemplar tosco e bagaceiro do cinema fantástico de meados dos anos 1970, numa co-produção entre a antiga Iugoslávia e Estados Unidos, dirigido e escrito pelo americano George Robotham (1921 / 2007), em seu único trabalho nesse ofício, uma vez que sua carreira foi como ator de séries de TV e principalmente dublê. Estamos falando de “A Maldição de Ghor” (Dark Echoes), lançado no Brasil em VHS, com a típica história de uma pequena cidade no meio das montanhas amaldiçoada por um fantasma zumbi vingativo.
Em 1874 um navio com cerca de oitenta pessoas afundou num lago próximo de uma cidadezinha na Áustria. A culpa pelo naufrágio recaiu para o capitão Manfred Ghor (Norman Marshall), que voltou do mundo dos mortos para se vingar dos moradores da cidade, especialmente os descendentes dos promotores responsáveis por sua condenação. Quando mortes violentas começam a acontecer, aterrorizando a cidade e dando-lhe a fama de assombrada, um detetive da polícia, Inspetor Woelke (Wolfgang Brook), coordena as investigações e chama para ajudá-lo seu amigo americano Bill Cross (Joel Fabiani), que tem poderes mediúnicos. Juntamente com uma jornalista, Lisa Bruekner (Karin Dor), eles investigam os assassinatos, entrevistam os moradores como a misteriosa Sra. Ziemler (a atriz húngara Hanna Hertelendy), que tem um corvo de estimação e lidera um estranho culto secreto de feitiçaria, e tentam localizar o fantasma do capitão Ghor.
A história é um grande clichê, sem novidades e previsível do início ao fim, principalmente no desfecho. Mas, independente disso, o filme até diverte justamente pelas características bagaceiras da produção, somadas às atuações inexpressivas do elenco e dos efeitos toscos do monstro assassino, com um trabalho risível de maquiagem, numa época sem computação gráfica. Tem também boas cenas com mortes violentas como uma decapitação sangrenta. A condução da investigação policial não empolga e é até bem sonolenta, mas o filme tenta passar um clima sinistro no interior de cavernas e nas ruínas de um castelo de uma pequena cidade atormentada por um fantasma em busca de vingança contra seus algozes. Além de interessantes sequências aquáticas quando um grupo de mergulhadores investiga o barco naufragado no fundo do lago e é surpreendido pelo capitão Ghor apodrecido e ansioso para aumentar sua coleção de vítimas.
As primeiras cenas de ataques do fantasma zumbi até conseguem estabelecer um atmosfera sombria onde o assassino sobrenatural não é visto, aparecendo apenas sua sombra e ouvindo seus grunhidos nos últimos momentos que antecedem a morte das vítimas. E depois que ele é mostrado, com uma maquiagem tosca de cadáver podre, suas aparições tornam-se os destaques do filme, justamente pelas características bagaceiras. Vale conhecer o obscuro “A Maldição de Ghor” por curiosidade e para comprovar como os efeitos toscos são bem mais divertidos que o CGI vagabundo do cinema tranqueira do século XXI.
(RR – 10/08/16)

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* Perigo Vem do Lago, O (2013)
Exibido pelo canal de TV a cabo “SyFy”, “O Perigo Vem do Lago” (Beneath) parece tratar-se num primeiro momento de apenas mais um filme bagaceiro com tubarões. É até compreensível a comparação, pois ao invés de um tubarão assassino temos um imenso peixe carnívoro que ataca um grupo de jovens num barco à deriva num lago. Porém, a história traz elementos interessantes, ao contrário das incontáveis tranqueiras com roteiros completamente desprovidos de conteúdo. Nesse filme dirigido por Larry Fessenden (que também é ator e produtor com muitos trabalhos no currículo), o foco é evidenciar a fragilidade da amizade entre os jovens, que em situações perigosas com ameaças reais de morte, permite que venha à tona a verdadeira face da natureza humana. Outro diferencial é a troca dos efeitos vagabundos de CGI que tornam tudo muito artificial por um monstro mecânico de borracha que devora suas vítimas, lembrando aquelas preciosas bagaceiras dos anos 1950 que faziam do cinema fantástico de baixo orçamento uma grande opção de diversão sem compromisso.
Em “O Perigo Vem do Lago”, seis estudantes que acabaram de se formar decidem se reunir pela última vez para comemorar a amizade da escola, antes de cada um deles tomar seus próprios rumos em novos desafios. O grupo é formado por quatro homens e duas mulheres. Eles decidem passear de barco num lago localizado numa região rural próxima à propriedade do avô de Johnny (Daniel Zovatto), e que parece esconder um segredo mortal em suas águas. O grupo de amigos é ainda formado pelo nerd Zeke (Griffin Newman), que gosta de filmar tudo que acontece, além da morena Deb (Mackenzie Rosman), os irmãos Matt (Chris Conroy) e Simon (Jonny Orsini), e a loira Kitty (Bonnie Dennison), que é a namorada de Matt, o líder do grupo.
A diversão com direito a nadar no lago e beber cerveja logo é interrompida quando um enorme peixe com dentes pontiagudos ataca o grupo e começa a colecionar vítimas, degustando o sangue e carne humanos. A partir daí, sem remos e com rachaduras no casco do barco, eles não conseguem voltar para a segurança da margem do lago, E precisam lutar por suas vidas combatendo o monstro e também uns aos outros, depois que os laços de amizade que pareciam fortes se rompem facilmente com conflitos. Onde cada um deles passa a defender seus próprios interesses, não hesitando em colocar em prática e hipocrisia da raça humana com traição e exposição do rancor que todos carregam dentro de si.
No final das contas, o filme é simples e não tem nada de especial, utilizando uma ideia básica com clichês já muito explorados. Mas, o fato dos realizadores optarem em não utilizar ridículos efeitos de computação gráfica para o monstro aquático e contar uma história destacando o conflito entre os personagens num ambiente ameaçador de morte com desfecho pessimista, já o torna diferente da infinidade de produções do mesmo tema, as quais priorizam CGI vagabundo com histórias fúteis e dispensáveis.
(RR – 05/08/16)

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* Terror Tropical (2012)
Dirigido por Joe Knee, “Terror Tropical” é outra bagaceira moderna com elementos de horror e ficção científica que o canal de TV a cabo “SyFy” gosta de exibir em sua programação. Faz parte daquela manjada equação que pode ser representada como “roteiro desinteressante” + “elenco inexpressivo” + “CGI vagabundo” = tranqueira dispensável.
O cientista entomologista Dr. Humphries (David Stasko), especialista em engenharia biogenética, está trabalhando para uma empresa misteriosa chamada “Transgen Tech” e se perde numa floresta tropical na América Central. Sua filha Gina (a polonesa Dominika Juillet) e a amiga Rhonda Guiterrez (Nikolette Noel) partem em sua procura, unindo-se com um grupo do exército americano que patrulha a floresta combatendo terroristas e traficantes, liderado por John Hammond (Corin Nemec) e entre os soldados, Willy Meyers (Benjamin Easterday). Ao investigarem a mata fechada, são obrigados a enfrentar dois grandes problemas, sendo um deles um grupo de guerrilheiros fortemente armados e supersticiosos, sob o comando de Jaguar (Gildon Roland), um líder violento que acredita em magia e na proteção de espíritos da floresta. O outro, bem pior, é enfrentar um inesperado ataque de vespas gigantes mutantes que cospem fogo.
O desfile de clichês é enorme. Tem o imperialismo americano num país “que não consegue cuidar de suas fronteiras”, o militar metido a herói, as piadas banais, o “cientista louco” (que nesse caso não tem quase importância na história, deixando o protagonismo para sua filha), os tiroteios óbvios na floresta, e os ataques dos insetos modificados geneticamente. De um filme apresentando vespas dragões incendiárias (daí o título) logicamente já se espera um roteiro absurdo e carregado de clichês, perdido numa avalanche de produções com temática similar. Talvez um dia num futuro distante, essas porcarias até possam se tornar cultuadas dentro de um estilo de cinema fantástico bagaceiro produzido exaustivamente nesse início de século XXI, de forma parecida com o que aconteceu com os nostálgicos filmes dos anos 1950. Porém, pelo menos por enquanto, filmes como esse “Terror Tropical” ainda são extremamente ruins e difíceis de assistir, com uma história patética e insetos gigantes não convincentes, criados por efeitos artificiais de computação gráfica.
Curiosamente, as filmagens ocorreram em Belize, na América Central. E Corin Nemec, o ator que interpretou o soldado durão e herói, também foi um dos produtores do filme. Seu nome está envolvido em inúmeras outras tranqueiras como “Tubarões Assassinos” (Raging Sharks, 2005), “Mosquito Man” (2005), “Tubarões da Areia” (Sand Sharks, 2012), “Dracano” (2013), “Robocroc” (2013) e “Pânico no Lago: Projeto Anaconda” (Lake Placid vs. Anaconda, 2015).
(RR – 06/07/16)

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* Tubarões de Gelo (2016)
Como a moda é lançar filmes ridículos com ataques de tubarões, numa espécie de sub-gênero do cinema fantástico bagaceiro do início do século XXI, a parceria entre a produtora “The Asylum” e o canal de TV a cabo “SyFy”, conhecidos pelos filmes ruins, resultou em outra tranqueira chamada “Tubarões de Gelo” (Ice Sharks, 2016). A direção e o roteiro são de Emile Edwin Smith, que têm muitos trabalhos na área de efeitos visuais (como na franquia “Sharknado”), e dirigiu a tranqueira “Mega Shark vs. Mecha Shark” (2014).
As histórias são sempre as mesmas, e o objetivo é encontrar um meio de colocar tubarões atacando as pessoas, não importando como, onde ou os motivos. No Ártico, uma pequena estação de pesquisas chamada “Oásis” está trabalhando para identificar as razões do derretimento do gelo na região. Entre os técnicos e pesquisadores temos o casal David (Edward DeRuiter) e Tracy (Jenna Parker). Ao investigarem o misterioso desaparecimento de vários caçadores, eles descobrem que tubarões vindos da Groenlândia evoluíram e tornaram-se mais ágeis e violentos, atacando animais e pessoas rompendo facilmente as finas camadas de gelo enfraquecidas pelo derretimento. Os animais conseguem isolar a estação de pesquisas, que primeiramente flutua à deriva no mar, e depois afunda sem controle, obrigando seus ocupantes a lutarem pela vida combatendo os tubarões ávidos por suas carnes, enquanto esperam a possibilidade de resgate por um navio quebra gelo.
Trata-se de apenas mais um filme com história ruim e elenco inexpressivo, utilizando tubarões em efeitos vagabundos de computação gráfica. Tem algumas mortes sangrentas bem artificiais e cenas que tentam passar sem sucesso a tensão e claustrofobia de um ambiente fechado atacado pelas criaturas aquáticas assassinas. Mas, até os tubarões, que obviamente são os elementos principais da trama, aparecem pouco quando em comparação com outros filmes similares, e então temos menos cenas ridículas do que o habitual visto nas dezenas de produções genéricas do tema. O filme tenta ser sério, sem apelar para o tradicional “pastelão” que vemos na maioria dos filmes de tubarão, mas ainda assim não funcionou. Percebemos que o diretor preferiu investir mais num suspense com a luta dos pesquisadores para sobreviver ao ataque dos tubarões, mas o convite ao tédio é inevitável. O espectador, mesmo com muito esforço, não consegue estabelecer qualquer tipo de empatia com os personagens, não se importando com suas mortes. Se, até eles próprios não demonstram nenhuma reação convincente em relação à perda violenta dos amigos, é praticamente impossível para quem está assistindo também se importar com eles.
Seria ótimo se os realizadores parassem de explorar esses animais e os deixassem em paz nos oceanos.  
(RR – 01/08/16)