Comentários de Cinema - Parte 22

Filmes abordados:

Ataque da Mulher Aranha, O (Mesa of Lost Women, EUA, 1953, PB)
Ataque do Tubarão de 3 Cabeças, O (3 Headed Shark Attack, EUA, 2015)
Forca, A (The Gallows, EUA, 2015)
Guerras na Estrada (Road Wars, EUA, 2015)
Pânico em Seattle (Seattle Superstorm, EUA, 2012)
Pé Grande, O (Bigfoot, EUA, 2012)
Queda da Terra, A (Earth Fall, EUA, 2015)
Sobrenatural: A Origem (Insidious: Chapter 3, EUA / Canadá, 2015)
Vinte Milhões de Léguas a Marte (World Without End, EUA, 1956)



Ataque da Mulher Aranha, O (1953) – Mais uma história de “cientista louco” do cinema bagaceiro de horror e ficção científica dos anos 50 do século XX. Com fotografia em preto e branco e curto com apenas 70 minutos de duração, a direção é de Ron Ormond e Herbert Tevos, sendo que este último também é o responsável pelo roteiro. Um avião faz um pouso forçado num deserto no México, próximo à fronteira com os Estados Unidos, conhecido como “Deserto da Morte”. Os passageiros são o piloto Grant Phillips (Robert Knapp), o milionário Jan van Croft (Nico Lek), sua esposa Doreen Culbertson (Mary Hill), bem mais jovem e aparentemente interessada no dinheiro do marido rico e no amor do piloto jovem, além do serviçal Wu (Samuel Wu), do Dr. Leland J. Masterson (Harmon Stevens), paciente fugitivo de um manicômio, e de George (George Burrows), funcionário do hospício que está em seu encalço. Perdidos no deserto, eles são observados e atacados à noite por um grupo de misteriosas mulheres e anões, que fazem parte de experimentos de um “cientista louco”, Dr. Aranya (Jackie Coogan, o tio Fester da série de TV “A Família Addams”, 1964/1966). Ele está trabalhando num laboratório escondido no subterrâneo de uma montanha, realizando experiências com a mistura de hormônios de crescimento entre aranhas e mulheres humanas. Segundo ele, no mundo dos insetos o macho é débil e sem importância, e sua intenção é obter criaturas mistas de aranha e mulher, com a inteligência e beleza humanas, e os poderes e instintos dos aracnídeos, e que um dia poderiam controlar o mundo, dominados por sua vontade como mestre criador. Em “O Ataque da Mulher Aranha" (Mesa of Lost Women), temos um exemplo típico de um filme ruim, de baixíssimo orçamento, bagaceiro ao extremo em todos os aspectos, representando o cinema fantástico tranqueira daquele período da década de 1950 do século passado. De história absurda a elenco inexpressivo, passando por efeitos precários e risíveis de tão toscos. As aranhas aparecem pouco e é nítida a utilização de um bicho de pelúcia gigante arremessado em cima de um homem, simulando um ataque mortal. É para figurar na galeria das cenas mais patéticas da história do cinema bagaceiro. Além de toda a precariedade da produção, que inclui um laboratório científico com os tradicionais aparelhos estranhos e máquinas elétricas bizarras, e a simulação do pouso forçado no deserto com a miniatura de um avião, ainda temos uma trilha sonora irritante com acorde de viola e acompanhamento de piano, que atrapalha ainda mais a narrativa lenta e entediante. Somado com uma extensa narração do experiente ator Lyle Talbot, que só funciona bem no início do filme, servindo de interessante introdução para a história, mas que se perde e deixa de agregar posteriormente. É o tipo de filme que a duração curta é uma virtude bem vinda, pois o tédio do espectador termina mais rápido. Por outro lado, além da cena bizarra do ataque da aranha gigante, ainda vale registrar a presença da bela atriz Tandra Quinn no papel de Tarantella, uma dançarina que não diz uma única palavra e que fez parte das experiências do “cientista louco”, com a mistura de hormônios de aranha em seu corpo. Curiosamente, o “Mesa” do título original refere-se ao imenso platô do deserto altiplano mexicano onde o “cientista louco” se refugiou para colocar em prática seu plano maquiavélico com a criação das “mulheres perdidas” com hormônios de aranhas. (RR – 10/08/15)

* Ataque do Tubarão de 3 Cabeças, O (2015) – Mais um filme picareta da produtora “The Asylum”, conhecida pela incontável lista de tranqueiras com elementos de ficção científica, horror e catástrofes, com apresentação do canal de TV a cabo “SyFy”, que também gosta de apoiar essas bagaceiras. O tubarão provavelmente seja o animal mais utilizado pelo cinema fantástico na produção de filmes ruins. São tantas porcarias que torna extremamente árduo um trabalho de catalogação dos títulos. O renomado cineasta Steven Spielberg, criador do clássico “Tubarão” (Jaws, 1975) jamais imaginaria que seu filme seria o precursor de uma infindável lista de produções toscas envolvendo esse temível predador dos mares, tão maltratado pelos roteiristas. Com o sonoro título de “O Ataque do Tubarão de 3 Cabeças” (3 Headed Shark Attack, 2015), de Christopher Ray, o mesmo diretor de outras bagaceiras similares como “Megaconda” (2010) e “Mega Shark vs. Kolossus” (2015), já é possível imaginar a tranqueira absurda que será apresentada. E que curiosamente tem a participação rápida do cultuado ator veterano Danny Trejo (de “Machete”) e é uma sequência de “O Ataque do Tubarão Mutante” (2 Headed Shark Attack, 2012), do mesmo diretor e com um tubarão com duas cabeças. Na história, temos um grupo de cientistas e estudantes que estão numa estação de pesquisa de biologia marinha. O local é atacado e destruído por um imenso tubarão mutante de três cabeças, transformado pela ingestão de lixo e poluição nos mares causando graves anomalias nos peixes. Entre os sobreviventes do ataque estão os cientistas Maggie Peterson (Karrueche Tran), o Dr. Nelson (Jaason Simmons) e a Professora Laura Thomas (Jena Sims), entre outros, que tentam fugir num barco e são perseguidos pelo monstro marinho. Na fuga desesperada pela salvação, eles encontram pelo caminho outro barco maior cheio de passageiros se divertindo numa festa, com as pessoas servindo de cardápio para a bizarra criatura carnívora. Nesse momento junta-se ao grupo Stanley (Rob Van Dam), e eles conseguem contato por rádio com Mike Burns (Danny Trejo), que está numa lancha nas proximidades e tenta ajudar os jovens. Mas, a fúria do tubarão de três cabeças deixa um rastro por onde passa com manchas vermelhas na água do sangue de suas vítimas. O comentário mais adequado que posso registrar até já se transformou num clichê repetitivo quando o assunto são filmes com o selo da parceria entre o canal de TV “SyFy” e a produtora “The Asylum”. Ou seja, uma combinação entre história incrivelmente ruim e inverossímil, com atores amadores (exceto por Danny Trejo, que deve ter aceitado o papel apenas para ser divertir um pouco) e CGI vagabundo. “O Ataque do Tubarão de 3 Cabeças” tenta se sustentar apostando unicamente na presença do tal monstro aquático mutante comendo gente, em cenas artificiais que não convencem. A maior parte do elenco está no filme apenas para servir de alimento ao bicho. A pequena participação do personagem de Danny Trejo se resume quase na totalidade em tomadas onde ele está dirigindo sua lancha, proferindo palavras de espanto e surpresa ao se deparar com um tubarão imenso com três cabeças, culminando inevitavelmente no esperado confronto com o monstro. Ele tem dois ajudantes insignificantes que praticamente falaram uma única frase e cuja função é apenas alvejarem o tubarão com disparos de armas de fogo e depois preencher o estômago do animal com suas carnes. Aliás, o enorme peixe cabeçudo é um perigoso predador também fora da água, pois salta como um ágil golfinho para abocanhar suas vítimas. Por outro lado, parece existir uma intenção até honesta por parte dos realizadores desses filmes tranqueiras, ao oferecerem um produto despretensioso e assumidamente ruim. A ideia deles não é enganar o público, ficando claro que não há preocupação com um bom roteiro, elenco profissional e efeitos de qualidade. Vendo por este lado, é só desligar o cérebro, tentar entrar no clima da bizarrice do cinema fantástico bagaceiro do século 21, e se divertir um pouco. (RR – 05/08/15)

* Forca, A (2015) – Em 1999 o filme “A Bruxa de Blair” utilizou uma bem sucedida campanha de marketing pela internet para promover seu roteiro no estilo “found footage”, ou seja, com imagens gravadas em câmeras e encontradas posteriormente, cujas evidências registradas seriam tratadas como supostamente “reais” e poderiam esclarecer algum mistério envolvendo a história. Não foi o primeiro filme a usar esse recurso, pois em 1980 o italiano “Holocausto Canibal”, de Ruggero Deodato, já tinha causado polêmicas com uma história violenta de canibalismo com imagens encontradas em fitas revelando o destino trágico de uma equipe de filmagens que se aventurou pela floresta e encontrou índios comedores de carne humana. Mas, “A Bruxa de Blair” incentivou a produção de inúmeros filmes utilizando a mesma técnica, com imagens tremidas e correrias dos personagens segurando câmeras. Foram tantas histórias que depois de quinze anos esse sub-gênero do cinema fantástico tornou-se extremamente saturado. Porém, para os produtores da indústria do entretenimento, sempre existirão oportunidades de lucros, não se importando com a qualidade dos resultados. “A Forca” (The Gallows), dirigido e escrito por Travis Cluff e Chris Lofing, também utilizou uma campanha de marketing pela internet que obteve êxito, com as pessoas brincando com um jogo de evocar o espírito perturbado de Charlie, que morreu enforcado num acidente durante a encenação de uma peça escolar de teatro. Esse marketing viral tornou-se mais interessante que o próprio filme. A história de “A Forca” é bem simples e pouca atrativa. Um grupo de estudantes está ensaiando uma peça de teatro para homenagear o aniversário de 20 anos da apresentação original que ocorreu na escola no início dos anos 90 e que foi marcada por uma tragédia, quando num acidente fatal um jovem chamado Charlie morreu enforcado. Seu papel original era o de carrasco, mas ele teve que assumir na última hora o posto do galã depois que um dos atores não compareceu, e o roteiro da peça reservaria um destino trágico para esse personagem, fato que ocorreu na realidade. Muitos anos depois, os jovens Reese Mishler (Reese Houser), que tem um interesse romântico com Pfeifer Brown (Pfeifer Ross), e o casal de namorados Ryan Shoos (Ryan Shoos) e Cassidy Gifford (Cassidy Spilker), ficam presos na sala de teatro durante a noite, e são perseguidos e atacados misteriosamente por um fantasma vingativo. O filme é curto, com apenas 81 minutos, e a badalada campanha de marketing não se justifica de modo algum, pois não passa de mais uma história trivial que se junta às dezenas que são produzidas o tempo todo, fadada certamente ao limbo em pouco tempo, por não apresentar nenhuma atração que mereça algum destaque ou lembrança posterior, num imenso e cansativo clichê. Aliás, o filme deverá ser lembrado unicamente pela campanha de marketing, que também não é grande coisa, mas que conseguiu chamar a atenção. Em “A Forca” você encontrará sustos fáceis com a já manjada técnica dos “jump scares” e algumas poucas mortes violentas, mas sem sangue ou tensão, tudo muito previsível e óbvio. E num dos únicos momentos com um interesse maior, a cena é entregue totalmente na exibição dos trailers de divulgação, revelando o destino de um dos estudantes em pânico. (RR – 03/08/15)

* Guerras na Estrada (2015) – Exibido pelo canal de TV a cabo “SyFy” e produzido pela “The Asylum”, “Guerras na Estrada” é o mockbuster de “Mad Max: Estrada da Fúria” (2015). A direção e roteiro são de Mark Atkins, que já fez várias tranqueiras para a mesma produtora como “A Batalha de Los Angeles” (2011), “Jack: O Matador de Gigantes” (2013) e “Android Cop” (2014), entre outros, com todos sendo cópias baratas de similares com distribuição nos cinemas. Num futuro pós-apocalíptico, grupos de sobreviventes vagam em carros estranhos pelos desertos de um planeta com escassez de água, e tomado por uma contaminação de um vírus que transforma as pessoas em vampiros sedentos por sangue. O líder de um dos grupos é Dalas (John Freeman), que tenta manter sua equipe reunida à procura de artefatos que possam auxiliar na construção de armas e munições, além de equipamentos médicos para tentar encontrar a cura para a epidemia. Nesse cenário de desolação, o desafio é sobreviver contra os ataques de infectados conhecidos como “corredores da noite”, e outros chamados de “andarilhos do dia”, que não são sensíveis à luz, além das gangues rivais. Entre os sobreviventes desse mundo caótico, temos o misterioso Thorne (Cole Parker), que foi encontrado sem memória vagando sem rumo pelo deserto, e a guerreira Nakada (Chloe Farnworth), que vive com o dilema entre matar seu namorado Kevin (Phillip Andre Botello) depois que foi mordido por um infectado, ou mantê-lo vivo até conseguir encontrar uma cura para a doença. Em “Guerras na Estrada” temos alguns elementos que nos remetem ao universo ficcional de “Mad Max”, com seu violento mundo pós-apocalíptico e o desafio de sobreviver em meio ao caos. Mas, como uma cópia reconhecida de baixo orçamento produzida pela “The Asylum”, que tenta aproveitar o movimento em torno de um filme popular com apelo comercial como “Mad Max: Estrada da Fúria”, comprovamos aquilo que já era esperado: um exmplo de cinema ruim ao extremo. Uma vez apresentado como um filme de ação com elementos de ficção científica e horror, o resultado final é lento, chato e com pouca ação, indo na contra mão do entretenimento mínimo esperado num filme desses. E ainda com uma mistura no roteiro, incluindo as manjadas temáticas de contaminação e vampirismo, num conjunto de clichês dispensáveis. É o cinema bagaceiro do século XXI. Porém, que mais aborrece do que diverte. (RR – 23/08/15)

* Pânico em Seattle (2012) – O canal de TV a cabo “SyFy” é conhecido pelas tranqueiras que exibe em sua programação, com especial atenção para o cinema fantástico e sobre desastres. Em parceria com a produtora “Marvista Entertainment”, foi lançado em 2012 a bagaceira “Pânico em Seattle” (Seattle Superstorm), dirigido por Jason Bourque, o mesmo cineasta de “Stonados” (2013), outra porcaria colossal no mesmo estilo. Com esse manjado e totalmente sem criatividade título nacional que começa com “Pânico” (a lista de filmes cujos nomes escolhidos no Brasil iniciam dessa forma é tão extensa que dificulta a catalogação), temos novamente aqui uma história banal com elementos de ação e ficção científica, com uma catástrofe ameaçando uma grande cidade americana. Um objeto voador não identificado surge nos céus em rota de colisão com Seattle, no Estado de Washington. Rapidamente um sistema de defesa entra em ação e o objeto é destruído por um míssil teleguiado disparado de um navio militar. Porém, fragmentos caíram na cidade causando estranhas reações com uma misteriosa fumaça preta, gerando uma combinação de tornados, terremotos e tempestades com relâmpagos que podem causar grande destruição na cidade. Para liderar os esforços de defesa temos o arrogante e desequilibrado Jacob Stinson (Martin Cummins), chefe em comando da “DMA” (Agência de Gerenciamento de Desastres), que precisa trabalhar em conjunto com a Tenente Comandante Emma Peterson (Ona Grauer), que tem contato direto com o Presidente. Ela é noiva do cientista da NASA Tom Reynolds (Esai Morales), que participa da equipe científica que está estudando o fenômeno, juntamente com a Dra. Carolyn Gates (Michelle Harrison). Os filhos dos casamentos anteriores deles são os adolescentes Wyatt Reynolds (Jared Abrahamson) e Chloe Peterson Mackenzie Porter), que sempre estão em constante conflito, dificultando a formação de uma nova família. Após o surgimento de um veterano bioquímico russo, Dimitri Kandinsky (Jay Brazeau), que trabalhava na antiga União Soviética no final dos anos 60 do século passado, são reveladas informações importantes relacionadas ao incidente climático e uma arma biológica de destruição em massa da guerra fria. Resta aos heróis de plantão, a família em conflito, se unir para descobrir um meio de combater o desastre e impedir a aniquilação de Seattle. Os filmes de catástrofes naturais apresentados pelo canal de TV “SyFy”, um sub-gênero do cinema bagaceiro do século XXI com seus roteiros ruins e CGI vagabundo, tem conseguido uma grande legião de fãs. Tanto que as produções similares não diminuem o ritmo e todos os anos são lançadas diversas tranqueiras sobre desastres ameaçando as cidades americanas. Mas, é fácil notar a precariedade do roteiro de “Pânico em Seattle”, assinado pela dupla David Ray e Jeff Renfroe, onde basicamente ocorre um desastre (nesse caso uma mistura de tornados, terremotos e tempestades) causado por algum motivo que será investigado por cientistas. Aí temos a apresentação das personagens principais, sendo aqui uma família que tenta se estabelecer, apesar das constantes brigas entre os adolescentes, além de comentários irritantes e deslocados em meio ao caos. Em paralelo, surge o elenco secundário que por vilania ou heroísmo, irá morrer. E, num completo exercício de inverossimilhança, não veremos as ações das autoridades, exército ou defesa nacional, e sim a evidência de lição de moral e virtudes do manjado lema da “união que faz a força”, e a superação da família de heróis americanos que dribla as adversidades e salva a cidade, encerrando a ameaça do desastre. Essas revelações nem podem ser consideradas “spoilers”, pois é o modelo básico das histórias de todos os filmes dentro desse sub-gênero patrocinado pela “SyFy” em parceria com produtoras e distribuidoras, com pequenas variações. Curiosamente, existem várias cenas onde aparece um dos principais pontos turísticos de Seattle, o “Obelisco Espacial” (Space Needle), uma torre extremamente alta com um restaurante giratório no topo, um monumento com arquitetura futurista construído em 1962. E, logicamente, os realizadores do filme fizeram questão de derrubar com um tornado e mostrar no cartaz. (RR – 17/08/15)

* Pé Grande, O (2012) – Apresentado pelo canal de TV a cabo “SyFy”, especializado em exibir filmes tranqueiras do gênero fantástico, e produzido pela “The Asylum”, companhia conhecida pelas bagaceiras inacreditáveis, “O Pé Grande” (Bigfoot, 2012) tem direção de Bruce Davison, que é mais conhecido como um veterano ator com mais de duzentos créditos em sua carreira. O elenco traz também uma pequena participação do cantor Alice Cooper, cultuado roqueiro com grande proximidade com o cinema de horror. Dois músicos de rock dos anos 70, Harley Anderson (Danny Bonaduce) e Simon Quint (Barry Williams), são agora rivais. Harley é locutor de uma rádio e quer a realização de um festival de música na pequena e gelada cidade de “Deadwood”, no Estado americano da Dakota do Sul, para atrair visitantes e promover a economia local. Já Simon, abandonou a música e virou defensor da natureza, sendo contrário à realização do evento pelo impacto ambiental na floresta em volta da cidade. O prefeito Tommy Gillis (Howard Hesseman) apoia o festival e entre as atrações está o cantor Alice Cooper. Porém, a destruição de parte da floresta com tratores para preparar o local do show e o som alto despertam a ira de uma imensa criatura lendária conhecida como “Pé Grande”, que decide abandonar seu esconderijo numa caverna e atacar as pessoas na cidade. Obrigando a dupla de xerifes formada pelo veterano Walt Henderson (o cineasta Bruce Davison) e pela não menos experiente Becky Alvarez (Sherilyn Fenn) a organizar uma estratégia de reação de defesa. A lendária criatura conhecida como “Pé Grande” ou “Sasquatch” ou “Yeti”, entre outros nomes, é um tema sempre muito recorrente no cinema, com uma infinidade de filmes abordando e especulando sua misteriosa existência. Nesse filme da “SyFy” e “The Asylum”, a dupla dinâmica do cinema fantástico bagaceiro do século 21, encontramos o que já se podia esperar antecipadamente, ou seja, uma tranqueira colossal, tão grande quanto o tamanho do imenso antropoide que sai da floresta para se vingar dos humanos que o incomodaram em seu refúgio. De um roteiro ruim e sem criatividade, passando por atores inexpressivos, erros de continuidade e CGI vagabundo e completamente não convincente, “O Pé Grande” pode até divertir justamente pela precariedade geral da produção. Tem até a presença rápida de Alice Cooper, nitidamente se divertindo com sua contribuição, tocando para um público formado por algumas poucas pessoas, uma vez que o orçamento não permitiria uma multidão como esperava os organizadores do festival de música. O monstro antropoide aparece em muitas cenas, com grande quantidade de mortes, sempre pisoteando, mastigando ou arremessando para longe suas vítimas, mas com ausência total de sangue ou tripas espalhadas, em efeitos fuleiros, sendo em alguns casos à distância, para esconder os defeitos e minimizar a artificialidade das cenas. Curiosamente, em certo momento o macaco gigante escala o famoso ponto turístico “Monte Rushmore”, localizado na região montanhosa de “Black Hills”, na Dakota do Sul. É uma montanha de granito com os rostos esculpidos de quatro significativos presidentes americanos, George Washington, Thomas Jefferson, Theodore Roosevelt e Abraham Lincoln. O enorme primata escolheu esse local para um confronto com helicópteros do exército, causando uma inevitável destruição. (RR – 04/08/15)

* Queda da Terra, A (2015) – Dirigido por Steven Daniels e escrito por Colin Reese, em seus primeiros trabalhos, “A Queda da Terra” é mais um daqueles filmes sobre catástrofes naturais exibidos pelo canal de TV a cabo “SyFy”. Representando o moderno cinema fantástico bagaceiro do início do século XXI e produzido pela “Cinetel Films”, estúdio responsável por uma infinidade de outras tranqueiras similares, o filme traz os esperados elementos que devem relegar sua existência inevitavelmente ao limbo, ou seja, um elenco inexpressivo num roteiro óbvio, previsível e cheio de clichês, além de efeitos de CGI vagabundos. Um corpo celeste imenso em alta velocidade passa próximo da Terra criando um magnetismo intergaláctico que ocasiona a inclinação do eixo do planeta em noventa graus. Outro efeito desse evento foi que a Terra passou a ser atraída por ele, se afastando do Sol. E uma vez vagando sem rumo pelo espaço, nosso planeta ficou no caminho de uma chuva de meteoros, numa provável rota de colisão. Para completar o cenário apocalíptico, ainda temos a ocorrência devastadora de tempestades de fogo e gelo, arrasando as cidades e dizimando milhões de pessoas. Em meio ao caos, uma típica família americana tenta se reagrupar. Uma vez que o pai, o escritor Steven Lannon (Joe Lando), a mãe, uma cientista trabalhando para o governo, Nancy (Michelle Stafford), e a filha adolescente Rachel (Denyse Tontz), que estava num evento de música numa cidade do interior, estão todos separados quando se inicia a tragédia com a Terra saindo de seu eixo. Paralelamente, o governo dos Estados Unidos, o país que sempre salva o mundo, tenta encontrar uma solução para o problema, com o objetivo de recolocar o planeta na posição original e impedir a extinção da humanidade. “A Queda da Terra” apenas colabora ainda mais com a “queda da qualidade” desses filmes de catástrofes com elementos de ficção científica que são produzidos em grande quantidade nos Estados Unidos e exibidos na televisão pela “SyFy”. Tudo é muito previsível na história, não fugindo do trivial. Algo ameaça destruir o planeta (nesse caso, um corpo celeste que tirou a Terra de seu eixo). Algo passa a ser o foco das atenções para justificar os 90 minutos de projeção (uma família separada tentando se unir novamente no meio da destruição global). E algo surge como uma tentativa desesperada de salvação para o fim iminente (o governo tenta colocar em prática um plano para reverter o processo de desestabilização do planeta, envolvendo armamento nuclear e uma colossal reserva de gás natural). Se o espectador desligar o cérebro, e estiver disposto a ver uma história de catástrofe natural repleta dos mesmos velhos clichês, talvez até consiga alguma diversão discreta. Caso contrário, provavelmente o tédio virá à tona. (RR – 24/08/15)

* Sobrenatural: A Origem (2015) – “Quando você chama um morto, todos os outros podem ouvi-lo.” Em 30/07/15 entrou em cartaz nos cinemas brasileiros o terceiro filme da franquia “Sobrenatural”, que explora o sub-gênero do horror com assombrações e fantasmas. “Sobrenatural: A Origem” (Insidious: Chapter 3) tem agora direção de Leigh Whannell, o criador das personagens e também conhecido pela história de outra franquia bem sucedida, “Jogos Mortais” (Saw). O roteiro apresenta agora eventos anteriores aos primeiros dois filmes, que tiveram o foco nas assombrações perturbadoras envolvendo a família Lambert e as ações da sensitiva veterana Elise Rainier (Lin Shaye) na tentativa de ajudá-los a enfrentar a ameaça de seres atormentados que povoam o obscuro mundo dos mortos. Dessa vez, como o próprio título nacional anuncia, trata-se de uma pré-sequência, que concentra as atenções na figura da adolescente Quinn Brenner (Stefanie Scott), que quer se comunicar com a mãe falecida. Ela pede ajuda para a experiente médium, mas o contato com o mundo “mais além” permite que a garota seja perseguida por uma entidade sobrenatural maléfica conhecida como “o homem que não pode respirar” (Michael Reid MacKay). Já é fato estabelecido que a franquia “Sobrenatural” tem despertado o interesse de boa parte dos fãs, tanto que a série tem três filmes. Porém, exceto pela carismática e veterana atriz Lin Shaye, que interpreta uma sensitiva com poderes para transitar por uma dimensão habitada por espíritos perturbados, a história esbarra inevitavelmente nos tradicionais clichês do gênero, com os manjados sustos fáceis e um desfecho previsível, com direito na cena final para uma “surpresa que não surpreende”. Até temos a impressão de uma tentativa honesta dos realizadores em apresentar elementos de horror que satisfaçam a diversão dos apreciadores do cinema de horror, mas com um sub-gênero tão saturado, fica extremamente árdua a tarefa de fugir dos clichês. Dentro dessa ideia, a franquia “Sobrenatural” é apenas levemente acima da média, mas o bom retorno das bilheterias tem impulsionado a consolidação de seu universo ficcional. (RR – 13/08/15)

* Vinte Milhões de Léguas a Marte (1956) – Ficção científica da saudosa década de 50 do século XX, época de inúmeras produções divertidas do cinema fantástico. A direção e roteiro de “Vinte Milhões de Léguas a Marte” é de Edward Bernds (1905 / 2000), o mesmo cineasta de “Rebelião dos Planetas” (1958), “O Monstro de Mil Olhos” (1959, segunda parte da série “A Mosca”), e “Valley of the Dragons” (1961), além de alguns filmes de comédia com “Os Três Patetas”. A história mostra um grupo de aventureiros espaciais a bordo de um foguete orbitando o planeta Marte. Liderado pelo cientista Dr. Eldon Galbraithe (Nelson Leigh), a expedição ainda conta com o Herbert Ellis (Rod Taylor, de “A Máquina do Tempo”, 1960), John Borden (Hugh Marlowe, de “O Dia Em Que a Terra Parou”, 1951) e Henry Jaffe (Christopher Dark). Após observações ao planeta vermelho sem pousar em sua superfície, eles iniciam o retorno para casa. Porém, a nave repentinamente entra numa torção de tempo, um deslocamento exponencial no espaço, atingindo uma velocidade absurdamente alta que impulsiona o foguete para um salto no futuro, indo parar na Terra de 2508. Após um pouso forçado numa região com neve, amortecendo o impacto, o grupo escapa ileso e inicia um reconhecimento do local. Entre os perigos que enfrentam, está o ataque de aranhas gigantes do tamanho de cachorros de grande porte, que cresceram de forma descomunal após contato com radiação. Além de um confronto violento com humanóides mutantes, parecidos com os primitivos homens da caverna do passado remoto da Terra. Eles descobrem que o planeta sofreu uma guerra atômica e encontram uma civilização de remanescentes da catástrofe que vive escondida em câmaras subterrâneas, lideradas pelo Presidente do Conselho Timmek (Everett Glass). Dotados de inteligência, eles sobrevivem com segurança e conforto por séculos, produzindo o próprio alimento, mas com a população diminuindo drasticamente com o passar dos anos, com os homens não demonstrando coragem para saírem à procura de um mundo novo na superfície sem radiação da guerra, dissipada pelo tempo. O recém chegado grupo de viajantes do espaço que veio do passado, tenta inspirar o povo subterrâneo a combater os mutantes da superfície e reconstruir sua civilização. Contando com o apoio das belas mulheres locais com vestidos curtos como as jovens Garnet (Nancy Gates), filha de Timmek, Elaine (Shawn Smith, de outras bagaceiras como “A Ameaça do Outro Mundo”, 1958), responsável pelos jardins hidropônicos que geram os alimentos, e a ajudante geral Deena (Lisa Montell). Mas, por outro lado, eles enfrentam a resistência e oposição política de Mories (Booth Colman, o orangotango Zaius da série de TV “Planeta dos Macacos”, 1974). “Vinte Milhões de Léguas a Marte” é curto, com apenas 80 minutos, e tem um título sonoro, exagerado e bem diferente do original, que traduzido literalmente seria “Mundo Sem Fim”. É uma produção com orçamento menor, como podemos perceber nos efeitos toscos e precários da maquete do foguete espacial enfrentando a turbulência na torção de tempo, balançando como um brinquedo descontrolado, ou na cena de aterrissagem forçada na neve, tão patética que diverte. Cenas da nave espacial foram aproveitadas do filme “Voando Para Marte” (1951). O ataque das aranhas gigantes numa caverna também comprova a precariedade da concepção dos efeitos, uma vez que não passam de bichos toscos de borracha e pelúcia, que apesar de motorizados, parecem estáticos, e que são arremessados contra suas vítimas. Por outro lado, os cenários coloridos e em formatos geométricos que formam os cômodos da cidade subterrânea são bem interessantes e com aspectos futuristas. As portas deslizantes serviram de inspiração na nave “Enterprise” da série clássica de TV “Jornada nas Estrelas”. É fácil notar também várias similaridades com o posterior “A Máquina do Tempo”, que é um filme bem mais conhecido pela produção caprichada do especialista George Pal e história baseada em livro homônimo de H. G. Wells. Elementos como a viagem no tempo e o futuro apocalíptico da humanidade, com a divisão entre duas classes sociais distintas, uma vivendo na superfície e outra no subsolo do planeta. O roteiro traz elementos sempre interessantes no cinema de ficção científica, principalmente naquele período dourado da década de 1950, com a abordagem de viagens espaciais, deslocamentos no tempo e cenários pós-apocalípticos, com a humanidade sabendo do perigo de uma destruição global numa catástrofe nuclear, mas não conseguindo exercer a sabedoria para evitá-la. Após o rompimento da barreira do som com jatos propulsores e a descoberta do poder do átomo em bombas, a humanidade em crescente evolução tecnológica, estava agora partindo para exploração do espaço e outros planetas. Mas, contrapondo às sempre bem vindas especulações científicas e a ambientação no século 26, temos no roteiro vários elementos que nos remetem para uma aventura banal de romance, com os homens do século XX despertando o interesse amoroso das mulheres do futuro, por sua beleza, coragem e características altruístas, diminuindo um pouco o interesse da história. (RR – 15/08/15)