O Terror Veio do Espaço (The Day of the Triffids, Inglaterra, 1963)

 


"Todos os relatórios confirmam que o mundo está testemunhando uma chuva de meteoritos sem precedentes. Não há registro de uma exibição como essa na história. Nos observatórios, os astrônomos estão notando esse fenômeno fantástico e calculando cuidadosamente o efeito em nosso sistema solar. O consenso da opção é que os meteoritos queimam devido ao calor intenso antes de atingirem a Terra.”

 

O Terror Veio do Espaço” (The Day of the Triffids, Inglaterra, 1963) é uma ficção científica com elementos de horror situado na sempre interessante temática de invasão alienígena com monstros vindos do espaço sideral (validando o título nacional), através de plantas carnívoras (as tais trífides do nome original), desenvolvidas por esporos vindos numa chuva de meteoros.

Foi lançado no mercado brasileiro de vídeo VHS pela “VTI” na coleção “Vídeo Nostalgia”, e também está disponível no Youtube. A direção é de Steve Sekely, com sequências adicionais não creditadas de Freddie Francis, habitual colaborador das produtoras “Hammer” e “Amicus”. O roteiro é baseado na história homônima de John Wyndam publicada em 1951, o mesmo autor de “The Midwich Cuckoos”, que serviu de inspiração para outra preciosidade do mesmo período, “A Aldeia dos Amaldiçoados” (Village of the Damned, 1960).

 

Uma inédita chuva de meteoros atinge a Terra (conforme a narração reproduzida no início desse texto), e mesmo sendo incinerados no contato com a atmosfera, ainda criam um efeito apocalíptico causando cegueira na maior parte da humanidade, ficando imunes apenas aqueles que não tiveram contato visual. O fenômeno bizarro também é responsável por trazer esporos alienígenas de natureza hostil, que entram em contato com plantas carnívoras que crescem e se locomovem, aumentando ainda mais o clima perturbador com perseguições e mortes violentas.

Dentro desse cenário de histeria por causa da cegueira coletiva e luta pela sobrevivência contra os monstros vegetais do espaço, temos dois núcleos distintos com personagens que não perderam a visão e tentam combater os invasores.

Um deles é formado pelo oficial da marinha Bill Masen (Howard Keel), que acorda num hospital em Londres após uma cirurgia nos olhos e encontra o caos ao seu redor. Ele acolhe uma menina órfã nas ruas, Susan (Janina Faye), sobrevivente de um acidente de trem, e juntos partem para França onde encontram Christine Durrant (Nicole Maurey) refugiada numa casa de campo. Agora o grupo formado tenta escapar com destino a uma base naval americana no litoral da Espanha para serem resgatados, tendo que enfrentar no caminho a ameaça das plantas alienígenas, que por sua vez resistem ao fogo e se regeneram quando danificadas.

O outro núcleo em paralelo (dirigido por Freddie Francis para aumentar a metragem do filme) é formado por um casal de cientistas em crise de relacionamento, Tom Goodwin (Kieron Moore) com problemas de alcoolismo e sua esposa Karen (Janette Scott). Eles trabalham com pesquisas científicas isolados num farol de uma ilha e precisam lutar por suas vidas contra os ataques das plantas mutantes.        

 

A história do filme é bem interessante com a chuva de meteoros, a cegueira coletiva e a invasão com as plantas alienígenas, contada através da perspectiva de dois grupos diferentes de sobreviventes. Mas, o maior destaque certamente é aquilo que para muitos é motivo de piadas e para os apreciadores do cinema fantástico de baixo orçamento é a garantia do entretenimento, ou seja, os efeitos práticos toscos dos monstros bagaceiros, aqui representados por plantas assassinas que perseguem e matam as pessoas. Os ataques são extremamente hilários e divertidos, com atores fantasiados simulando as plantas rastejantes à procura de suas vítimas. Vale sempre lembrar e enaltecer as dificuldades com o orçamento reduzido para a criação dos efeitos práticos e numa época sem as facilidades da computação gráfica.

Curiosamente, existem outras duas versões inspiradas na história de John Wyndham, ambas minisséries para a televisão: “The Day of the Triffids” (1981) com seis episódios, e “O Dia Final” (2009), dividida em dois capítulos. Outra curiosidade é a semelhança do título nacional com outro filme também de produção inglesa, lançado em DVD por aqui com o manjado nome “O Horror Vem do Espaço” (Fiend Without a Face, 1958), sobre experiências de um “cientista louco” com a materialização de pensamentos e a influência destrutiva da energia radiativa dos reatores atômicos militares, criando monstros inicialmente “sem rostos” e depois visíveis na forma grotesca de um cérebro com espinha dorsal.

 

(RR – 28/01/25)







O Homem Imortal (The Man They Could Not Hang, EUA, 1939, PB)

 


"Vocês que me condenaram, eu conheço sua espécie. Seus antepassados envenenaram Sócrates, queimaram Joana d'Arc, enforcaram, torturaram todos aqueles cuja ofensa era trazer luz à escuridão. Para vocês que me condenaram em meu trabalho, é um crime tão vergonhoso que o julgamento da história será contra vocês por todos os anos que virão!”

 

O discurso acima com palavras indignadas contra um grupo de jurados de um tribunal, é de autoria do “cientista louco” Dr. Henryk Savaard, o “homem imortal” do título nacional ou “o homem que eles não conseguiram enforcar” do original, confrontando os carrascos que o condenaram à morte, não aceitando seu trabalho científico para o bem da humanidade, com experiências estranhas envolvendo um dispositivo mecânico que simula o coração, e que terminou com a morte de um jovem voluntário que aceitou a função de cobaia.

Lançado em 1939 com produção da “Columbia”, fotografia em preto e branco e direção de Nick Grinde, “O Homem Imortal” (The Man They Could Not Hang) tem apenas 65 minutos de duração e está disponível no Youtube.

 

O lendário Boris Karloff (1887 / 1969) é o brilhante e visionário cientista Dr. Henryk Savaard. Juntamente com o assistente Lang (Byron Foulger), eles estão trabalhando em seu laboratório repleto de equipamentos bizarros desenvolvendo uma máquina mecânica que poderia fazer a função do coração humano, ajudando a tornar as cirurgias mais fáceis sem a pressão de controlar o tempo.

O jovem estudante de medicina Bob Roberts (Stanley Brown) aceita ser cobaia, mas sua noiva Betty Crawford (Ann Doran), que é a enfermeira do cientista, decide denunciar a experiência para a polícia, aos cuidados do Tenente Shane (Don Beddoe), que interfere no processo causando a morte do rapaz.

O cientista é preso, julgado e condenado à morte. Após a execução por enforcamento, seu corpo foi requisitado pelo assistente Lang e reanimado pelo coração mecânico, retornando dos mortos com sede de vingança contra o juiz Bowman (Charles Trowbridge) e os jurados que decidiram por sua condenação, restando à filha do cientista Janet Savaard (Lorna Gray) tentar convencer seu pai a interromper a loucura do plano de vingança, com a ajuda do jornalista investigativo Foley (Robert Wilcox).

 

Boris Karloff, como sempre, tem grande atuação como o cientista com boas intenções e mal compreendido, que se transforma em vilão assassino, papel que repetiu muitas vezes na carreira. Sendo uma produção de baixo orçamento e filmada em apenas 16 dias, com a boa receptividade do público pela história bizarra de “cientista louco”, a produtora “Columbia” decidiu lançar outros filmes com Boris Karloff no papel do homem da ciência inicialmente bem-intencionado, e que após eventos trágicos torna-se criminoso com a mente distorcida pelo ódio e sentimento de vingança. “O Mago da Morte” (Before I Hang, 1940), “A Ilha dos Ressuscitados” (The Man With Nine Lives, 1940), “Os Mortos Falam” (The Devil Commands, 1941) e “Um Cientista Distraído” (The Boogie Man Will Get You, 1942) são alguns exemplos.  

Entre as curiosidades, a história de “O Homem Imortal” teve inspiração no caso real do bioquímico Dr. Robert Cornish, que na década de 1930 fez experiências com animais mortos e alegou ter conseguido trazer um cachorro de volta à vida. A ideia básica no filme com a criação de um coração mecânico pelo cientista Dr. Savaard, antecipou situações similares na vida real algumas décadas depois, com vidas humanas sendo prolongadas com cirurgias de transplantes de coração. O plano de vingança do ressentido “cientista louco”, enganando e aprisionando os inimigos em sua casa para matá-los um a um com armadilhas, apresenta similaridades com o livro “O Caso dos Dez Negrinhos” (And Then There Were None), de Agatha Christie, lançado no mesmo ano de 1939.   

 

(RR – 21/01/25)






O Altar do Diabo (The Dunwich Horror, EUA, 1970)

 


Produção executiva de Roger Corman e história baseada em H. P. Lovecraft na tentativa de retorno dos Antigos para dominar a Terra

“A lenda do Necronomicon diz que antigamente a Terra era habitada por uma espécie de outra dimensão. Com certos cânticos do livro, junto com antigos ritos de sacrifício, esta raça de outrora pode ser trazida de volta.”

“O Altar do Diabo”, dirigido por Daniel Haller, é baseado na história “The Dunwich Horror”, de H. P. Lovecraft, produzido pela nostálgica “American International”, de James H. Nicholson e Samuel Z. Arkoff, com produção executiva do “Rei dos Filmes B” Roger Corman, e elenco liderado por Dean Stockwell e Sandra Dee, além dos veteranos Ed Begley e Sam Jaffe.

Um jovem estudioso de ocultismo, Wilbur Whateley (Dean Stockwell), vive na pequena cidade de Dunwich em sua casa imensa e sinistra. Ele é temido pelos supersticiosos e assustados moradores locais, depois que sua mãe Lavinia (Joanna Moore Jordan) enlouquece após o parto e é internada num hospício. Ele tenta através dos ensinamentos do raro, poderoso e proibido livro “Necronomicon”, e com um ritual de sacrifício humano no “altar do diabo”, da bela e jovem Nancy Wagner (Sandra Dee), abrir um portal que permitiria a entrada dos “Antigos”, uma raça ancestral de outra dimensão, que habitava nosso planeta em tempos imemoriais, reassumindo o controle da Terra e destruindo a raça humana.
Para tentar combatê-lo e impedir o retorno dos “Antigos” ao nosso mundo, o Dr. Henry Armitage (Ed Begley), professor de filosofia da Universidade de Arkham, une forças com o médico Dr. Cory (Lloyde Bochner), de Dunwich, e juntos seguem de perto os passos do jovem ocultista, principalmente depois que o livro “Necronomicon” é roubado.

Filme de horror com uma atmosfera sinistra constante, explorando vários elementos presentes na mitologia dos “Mitos de Cthulhu”, criada por Lovecraft, com citações ao livro “Necronomicon” e à entidade cósmica maléfica “Yog-Sothoth”. A diversão é garantida, graças à presença de Roger Corman nos bastidores e pelo elenco interessante, formado por jovens em ascensão na época como Dean Stockwell e Sandra Dee, ou pelos veteranos Ed Begley e Sam Jaffe, rostos conhecidos por longas carreiras em séries diversas de TV. Mas, o resultado final certamente poderia ser ainda mais interessante com uma exploração maior das criaturas indizíveis de Lovecraft, algo que ficou mais restrito pelas questões de orçamento reduzido.
Entre as curiosidades, o filme foi exibido dublado na televisão brasileira na extinta TV Manchete, na Sessão “Terça Especial”, de onde gravei em VHS entre os anos 80 e 90 do século passado, e passei depois para a mídia DVD. Em 2009 tivemos outra versão, produzida pela “Nu Image”, conhecida pelas bagaceiras de seu catálogo. O elenco tem o cultuado ator Jeffrey Combs (de “Re-Animator”) como Wilbur e novamente Dean Stockwell, só que em outro papel, interpretando o Dr. Henry Armitage. O filme foi lançado em DVD por aqui pela “Focus Filmes” com o nome “Bruxas”.

“... e com o portão aberto, os Antigos vão passar. O Homem governa agora o que eles governavam antes. Eles aguardam pacientes e potentes. E por aqui eles reinarão de novo. E governarão por onde antes caminhavam...”

(RR – 07/01/18)



Kronos, o Monstro do Espaço (Kronos, EUA, 1957, PB)

 


"Temos metade da equação; podemos transformar matéria em energia. Mas lá em cima eles têm a segunda metade; eles podem transformar energia em matéria.” – cientista Dr. Hubbell Eliot, sobre o poder de alienígenas invasores

 

Lançado na produtiva década de 1950, conhecida pela infinidade de divertidos (a maioria) filmes bagaceiros com elementos de horror e ficção científica, e principalmente com orçamentos reduzidos, “Kronos, o Monstro do Espaço” (Kronos, EUA, 1957) aborda alguns temas sempre interessantes como invasão alienígena hostil, controle mental extraterrestre e paranoia nuclear da guerra fria com o medo do desconhecido e a exploração excessiva da energia atômica, além do alerta para seus perigos.

Com fotografia em preto e branco, produção e direção do alemão Kurt Neumann (de outras tranqueiras preciosas como “Da Terra à Lua”, 1950, e “A Mosca da Cabeça Branca”, 1958), o filme está disponível na internet pela plataforma “Youtube”.

 

O cientista Dr. Hubbell Eliot (John Emery) é o diretor do Laboratório Central, responsável por pesquisas com energia atômica, onde trabalham também o Dr. Leslie Gaskell (Jeff Morrow, de “Guerra Entre Planetas”, 1955) e sua namorada Vera Hunter (Barbara Lawrence), além do descontraído Dr. Arnold Culver (George O´Hanlon), o responsável por alguns alívios cômicos.

Um asteroide está em rota de colisão com a Terra e depois de tentativas frustradas de desvio com bombas, ele cai no oceano na costa do México. Os cientistas organizam uma expedição ao local da queda para tentar localizar o objeto que na verdade é uma nave alienígena, de onde surge uma máquina robótica colossal com 30 metros de altura (o “monstro do espaço” do subtítulo brasileiro).

Apelidado de “Kronos” (referência de um monstro maligno da mitologia grega), a bizarra criatura de metal brilhante criada por uma inteligência de outro mundo, revelou-se um acumulador com o intuito de drenar a energia da Terra, um recurso já esgotado no planeta natal dos alienígenas invasores. “O Destruidor de Planetas” (um subtítulo alternativo original traduzido de “Ravager of Planets”) espalha o caos por onde passa à procura de fontes de energia, sendo indestrutível para as nossas bombas, restando aos cientistas um confronto final na tentativa de neutralizá-lo, impedindo seu sucesso que abriria caminho para a vinda de outras máquinas iguais.     

 

O que mais diverte nesses filmes antigos de horror e ficção científica com orçamentos pequenos, além das histórias escapistas, cheias de falhas e descompromisso com a ciência, são os efeitos especiais práticos e toscos. Devido às dificuldades técnicas, foram utilizadas sequências de animação para simular a caminhada do gigante Kronos pelas cidades.

Um grande diferencial aqui é o próprio monstro do espaço, pois em vez das tradicionais criaturas bizarras orgânicas gosmentas e disformes, ou até mesmo humanoides com “olhos esbugalhados” ou “cérebros imensos”, temos uma máquina robótica de traços simples e retos, com armas de raios, sensores e antenas, focada em absorver energia elétrica e atômica do nosso planeta, servindo de alerta para a humanidade sobre o consumo exagerado dos recursos naturais, principalmente para fins bélicos.

Entre as curiosidades, temos um supercomputador da época chamado “Susie”, cujo nome vem das iniciais de “Synchro Unifying Sinometric Integrating Equitensor” ou algo como “Equitensor de Integração Sinométrica de Sincronização Unificadora”. É uma máquina imensa, repleta de fitas magnéticas, botões, luzes piscando e mostradores analógicos, elementos típicos e sempre presentes nos filmes do período. Interessante notar que em algumas décadas depois temos computadores infinitamente mais potentes com tamanhos extremamente reduzidos.

 

(RR – 09/01/25)







Drácula, o Perfil do Diabo (Dracula Has Risen From the Grave, Inglaterra, 1968)

 


 

Tem Christopher Lee e não faltam os esperados elementos tão característicos do horror gótico que se transformaram na marca registrada da “Hammer”.

 

Terceiro filme da produtora inglesa “Hammer” com o famoso vampiro Drácula interpretado por Christopher Lee. Antes tivemos “O Vampiro da Noite” (Horror of Dracula, 1958) e “Drácula: Príncipe das Trevas” (Dracula: Prince of Darkness, 1966), e depois mais quatro filmes, “O Sangue de Drácula” (Taste the Blood of Dracula, 1970), “O Conde Drácula” (Scars of Dracula, 1970), “Drácula no Mundo da Mini Saia” (Dracula AD 1972, 1972) e “Os Ritos Satânicos de Drácula” (The Satanic Rites of Dracula, 1973).

Drácula, o Perfil do Diabo” tem direção de Freddie Francis e roteiro de Anthony Hinds, creditado como John Elder. A história se passa um ano após os eventos do filme anterior, com a chegada do monsenhor Ernst Muller (Rupert Davies) ao vilarejo próximo do castelo de Drácula. Vendo que os aldeões continuavam aterrorizados mesmo após a suposta destruição do vampiro, ele decide subir ao castelo no alto das montanhas para recitar em latim um ritual de exorcismo, deixando uma imensa cruz na porta da imponente e sombria construção de pedra. Ele é acompanhado pelo padre local (Ewan Hooper) e após um acidente com sua queda e um ferimento na cabeça, seu sangue ressuscita o cadáver de Drácula, preso nas águas congeladas próximas ao castelo.

A criatura da noite ressurge e transforma o padre em seu servo, partindo para a vingança contra o monsenhor que lacrou a porta do castelo com a cruz. Chegando numa pequena cidade vizinha, ele espalha o horror fazendo vítimas como Zena (Barbara Ewing), a garçonete de um bar, e tem um interesse especial na jovem Maria. Ela é sobrinha do monsenhor e é interpretada pela bela Veronica Carlson, de filmes como “Frankenstein Tem Que Ser Destruído” (1969), “O Horror de Frankenstein” (1970) e “O Carniçal” (1975). Drácula tem que enfrentar uma batalha contra o namorado ateu da moça, Paul (Barry Andrews), que trabalha na pousada de Max (Michael Ripper, o recordista de papéis coadjuvantes na “Hammer”).

 Se no filme anterior, “Drácula: O Príncipe das Trevas”, o vampiro não diz uma única palavra, por imposição de Christopher Lee, insatisfeito com o roteiro e receoso por alguma repercussão negativa do personagem, em “Drácula, o Perfil do Diabo”, o temível vampiro sugador de sangue tem até algumas falas, mas são poucas. Sempre rude e agindo com selvageria e violência, certamente seria mais interessante se Drácula tivesse uma participação maior. Suas expressões faciais continuam intimidadoras e seus olhos vermelhos de sangue traduzem o ódio e horror de forma avassaladora. Mas, o vampiro aparece pouco, no meio de uma história comum e previsível, onde sabemos sempre antecipadamente como será o desfecho num confronto final (similar em todos os filmes com o vampiro, nem sendo mais considerado um “spoiler”). Geralmente sabemos o destino dos personagens, e nesse filme as coisas não são diferentes, contando ainda com um acréscimo de moralismo religioso católico.

Por outro lado, não faltam as esperadas cenas e elementos tão característicos do horror gótico que se transformaram na marca registrada da “Hammer”, motivo maior da existência de uma imensa legião de cultuadores eternos que o estúdio ganhou a partir de suas atividades iniciadas em meados dos anos 50 e permanecendo por mais duas décadas. Temos o castelo sombrio, as carruagens, os vilarejos em pânico com seus aldeões supersticiosos, as névoas sinistras, a floresta fantasmagórica e aquela atmosfera constantemente perturbadora de medo e insegurança.

Curiosamente, o mesmo ritual de exorcismo recitado em latim que foi proferido pelo monsenhor para livrar o castelo de Dráculo do mal absoluto, foi também reproduzido na introdução de uma música da banda de metal extremo “Marduk” (Suécia). Trata-se da faixa “Accuser / Opposer”, do álbum “Rom 5:12” (2007). No “Youtube” tem vários vídeos dessa música.

(RR – 30/12/15)

 

Nome Nacional: Drácula, o Perfil do Diabo

Ano: 1968

Original: Dracula Has Risen From the Grave

País: Inglaterra

Diretor: Freddie Francis

Roteiro: Anthony Hinds (creditado como John Elder)

Produção: Ainda Young

Elenco: Christopher Lee, Rupert Davies, Veronica Carlson, Barry Andrews, Barbara Ewing, Ewan Hooper, Michael Ripper.





O Gigante do Outro Mundo (Giant From the Unknown, EUA, 1958, PB)

 


O americano Richard E. Cunha (1922 / 2005) teve uma carreira curta como cineasta, mas deixou registrada a sua marca e contribuição para o cinema fantástico bagaceiro com quatro tranqueiras de horror e ficção científica lançadas em 1958: “Mulheres Demônio” (She Demons), “A Filha de Frankenstein” (Frankenstein´s Daughter), “Míssil Para a Lua” (Missile to the Moon), também conhecido no Brasil como “Terríveis Monstros da Lua”, e “O Gigante do Outro Mundo” (Giant From the Unknown), assunto deste texto e que está disponível no Youtube na versão original com fotografia em preto e branco e opção de legendas em português com tradução simultânea.

 

No século XVI o cruel conquistador espanhol Vargas (Buddy Baer), conhecido como “Diabo Gigante” e por ser um terrível assassino de índios na América, desaparece com seus seguidores numa expedição para encontrar ouro. Cerca de 500 anos depois, seu corpo enterrado retorna do mundo dos mortos graças ao raio de uma tempestade elétrica, revivendo de uma animação suspensa causada por alguma misteriosa substância orgânica com ação conservante. O gigante do desconhecido (do título original) ou do outro mundo (nome nacional) passa então a aterrorizar a pequena comunidade rural de Pine Ridge, na Califórnia.

O arqueólogo Dr. Frederick Cleveland (Morris Ankrum) e sua filha Janet (Sally Fraser) chegam ao local para procurar artefatos, espadas e ossadas dos antigos conquistadores. Eles recebem a ajuda do caçador de relíquias Wayne Brooks (Edward Kemmer), e juntos decidem explorar a região, ignorando os avisos do xerife Parker (Bob Steele, mais conhecido por dezenas de filmes de western), que alertou sobre os perigos e ameaças à segurança por causa de misteriosos desaparecimentos de gado e mortes violentas de pessoas pela ação de algum predador de grande porte.   

 

Em apenas 77 minutos (metragem comum dos filmes bagaceiros do período), “O Gigante do Outro Mundo” apresenta uma história apenas rasa que aposta nos velhos clichês com monstros que surgem de um evento misterioso, nesse caso um raio elétrico que desperta um enorme tirano impiedoso em animação suspensa, e que toca o terror em todos que cruzam seu caminho. Depois de algumas mortes violentas, um grupo de vigilantes tenta combater a ameaça caçando a fera e culminando no tradicional confronto final e previsível num moinho e em seguida numa ponte sobre uma cachoeira.

Para preencher o tempo sem a presença do monstro, temos o casal trivial que se apaixona, Wayne e Janet, o arqueólogo que representa a ciência, o xerife que lidera as investigações das mortes suspeitas, e os coadjuvantes que existem para servir de vítimas, tudo com muita enrolação, diálogos banais e óbvios, além de vários momentos cansativos. Infelizmente o vilão demora demais para entrar em cena (somente a partir da metade do filme) e ainda aparece pouco. Sem contar que seria mais interessante se fosse um monstro bizarro, disforme, mutante, asqueroso, alienígena ou qualquer coisa similar, em vez de um humano com apenas o diferencial da altura avantajada e crueldade exagerada, apesar do bom trabalho de maquiagem de Jack P. Pierce, o mesmo responsável por vários monstros clássicos da “Universal” nas décadas de 1930 e 40, como a criatura de Frankenstein.

A despeito de todos os problemas, defeitos e furos no roteiro, como o sumiço de animais e mortes de pessoas informado logo de início e o monstro sendo desenterrado de sua inatividade de séculos muito tempo depois, ainda assim é mais um filme de horror bagaceiro que pode até divertir um pouco sem exigência. Apesar também que ficaria melhor como um curta metragem com apenas as cenas do “gigante do outro mundo” e eliminando boa parte das futilidades do resto da história.

Curiosamente, tem um cartaz brasileiro feito para o lançamento nos cinemas daqui, que exagera no sensacionalismo e propaganda enganosa, acrescentando a frase “Ele tem 5 milhões de anos e 4,5 metros de altura”. Na verdade, o monstro furioso tem apenas cerca de 500 anos e menos da metade da altura anunciada, sem contar o erro grotesco no nome da atriz Sally Frazer, estampado como Grazaer. Aliás, essa bela atriz esteve em várias outras tranqueiras divertidas do mesmo período como “Ameaça Espacial” (It Conquered the World, 1956), “A Maldição da Aranha” (The Spider) e “War of the Colossal Beast”, ambos de 1958.

 

(RR – 03/01/25)










O Vale Proibido (The Valley of Gwangi, EUA, 1969)

 

Divertida combinação de western e dinossauros, com efeitos “stop motion” do mestre Ray Harryhausen


Numa época sem CGI, os efeitos dos monstros eram obtidos pela trabalhosa técnica “stop motion”, que teve no especialista Ray Harryhausen (1920 / 2013) o grande e eterno mestre. “O Vale Proibido” (The Valley of Gwangi, 1969), dirigido por James O´Connolly, é um daqueles típicos filmes da nostálgica “Sessão da Tarde” da TV Globo, uma aventura misturando elementos de western, fantasia, horror e ficção científica. A história é ambientada na virada do século 19 para 20, num vale proibido no México, onde dinossauros esquecidos pelo tempo viviam tranquilamente, até que os homens descobrissem essa região perdida e decidissem capturar um tiranossauro para exibição num circo.

“Gwangi” (do título original) é uma palavra nativa americana que significa “lagarto”, e tem referência ao vale onde ainda vivem animais pré-históricos, e que não deveriam ser importunados para não despertar uma maldição, conforme as palavras ameaçadoras de uma velha cigana cega, Tia Zorina (Freda Jackson). O vale, cercado por montanhas em círculo, picos gigantes e abismos profundos, ainda esconde monstros de uma época remota e que estariam supostamente extintos. E, depois que um cavalo anão, apelidado de “El Diablo”, é raptado dessa região inóspita com a intenção de ser apresentado como atração bizarra de um circo, a supersticiosa cigana organiza uma ação para devolvê-lo ao local de origem.

Em paralelo, a bela T. J.  (a polonesa Gila Golan), que lidera uma equipe de artistas circenses, ao lado de Champ (Richard Carlson) e de seu par romântico, o cowboy galã Tuck Kirby (James Franciscus), reúne um grupo para tentar capturar novamente o pequeno cavalo pré-histórico, e acabam encontrando o vale. O grupo também tem a companhia de um cientista paleontólogo, o Prof. Horace Bromley (Laurence Naismith), cujo interesse é estudar os animais de 50 milhões de anos atrás. Uma vez no vale proibido, eles enfrentam os ataques mortais de um réptil voador (pteranodonte), e de um temível tiranossauro, que está faminto por suas carnes. Porém, ele é capturado como atração de circo. Sem estrutura adequada para mantê-lo preso, o monstro foge e espalha o caos, causando grande confusão na cidade e experimentando a carne humana em sua dieta.

Diversão garantida, principalmente pelos efeitos especiais de Ray Harryhausen, dando vida aos impressionantes animais do mundo perdido de um vale onde o tempo parou, com direito até a um confronto mortal entre o tiranossauro e um elefante de nossos tempos.

“O Vale Proibido” é uma refilmagem de “The Beast of Hollow Mountain” (1956) e sua história tem elementos que nos remetem a outros filmes com ideias e temáticas similares. Como “O Mundo Perdido” (nas versões de 1925 e 1960), baseado em livro de Arthur Conan Doyle e que mostra uma região perdida no Amazonas que abrigava animais pré-históricos. E também “King Kong” (1933, e que teve versões mais modernas em 1976 e 2005), utilizando a ideia de capturar o monstro para uma exibição pública, terminando inevitavelmente em tragédia.   

O ator James Franciscus é lembrado por seu papel do astronauta Brent em “De Volta ao Planeta dos Macacos” (1970), Richard Carlson é um rosto conhecido pelos divertidos filmes bagaceiros do cinema fantástico como “The Magnetic Monster” (1953), “Veio do Espaço” (1953) e “O Monstro da Lagoa Negra” (1954). Já o inglês Laurence Naismith esteve em “A Aldeia dos Amaldiçoados” (1960) e “Jasão e o Velo de Ouro” (1963), outro clássico memorável de Ray Harryhausen.


(RR – 01/11/16)