Vingança do Túmulo (Dead Men Walk, EUA, 1943, PB)

 


“Vocês, criaturas da noite, como podem se certificar que a profundidade insondável da noite não esconde nada? Por que reduzir as legiões do mal a meros frutos da imaginação, a pretexto de que a sua mente estreita negaria a sua existência? Uma história sussurrada com angústia ao longo dos séculos, uma lenda aproxima as bruxas, lobisomens, vampiros e os lacaios do diabo. Levada nas asas escuras da noite, para a comunhão odiosa do sabbath das bruxas.”

 

Vingança do Túmulo” (Dead Men Walk, EUA, 1943), tem direção de Sam Newfield, produção da PRC (Producers Releasing Corporation), fotografia em preto e branco e é estrelado pelo ator inglês George Zucco, nome associado ao cinema fantástico de baixo orçamento, principalmente da década de 1940. Está disponível no “Youtube” com a opção de legendas em português.

 

Ambientado numa pequena cidade, George Zucco é o físico Dr. Lloyd Clayton, que tem um irmão gêmeo chamado Elwyn envolvido com ocultismo, feitiçaria e vampirismo. Depois de morto e enterrado, ele é ajudado pelo servo Zolarr (Dwight Frye), que resgata seu caixão para retornar ao mundo dos vivos e colocar em prática um plano de vingança contra o irmão e também assediando a sobrinha Gayle (Mary Carlisle), que fica doente. Para tentar salvá-la, o Dr. Clayton recebe o auxílio do noivo dela, o Dr. David Bentley (Nedrick Young), e precisa convencer o xerife Losen (Hal Price) e um grupo de aldeões furiosos que o responsável por mortes misteriosas na região é seu irmão gêmeo vampiro.

 

Filmado em apenas seis dias, o roteiro de Fred Myton é bem simples e previsível, numa história curta de 64 minutos, narrativa lenta, atmosfera sombria sutil e com os clichês característicos do gênero. É apenas mais um filme menor perdido entre vários outros similares do mesmo período, com o diferencial da presença de George Zucco (1886 / 1960), ator reconhecido pelos papéis de vilão ou “cientista louco” em diversos filmes de horror com pequenos orçamentos como “O Gato e o Canário” (1939), “A Mão da Múmia” (1940), “A Bela e o Monstro” (1941), “O Monstro Sinistro” (1942), “A Tumba da Múmia” (1942), “O Abutre Humano” (1943), “O Corvo Negro” (1943), “Mistério da Magia Negra” (1944), “A Sombra da Múmia” (1944), “A Volta do Homem Gorila” (1944), entre outros, ao lado em alguns casos, de ícones como Bela Lugosi e John Carradine. Ele também esteve no elenco de “A Mansão de Frankenstein” (1944), junto com Boris Karloff e Lon Chaney Jr.

Curiosamente foi um dos últimos filmes do ator Dwight Frye (1899 / 1943), que interpreta o servo do vampiro Elwyn, e que também teve papel similar nos clássicos de 1931 da produtora “Universal”, “Frankenstein” e “Drácula”.

 

“Vampiros! Criaturas do diabo, nem mortos nem vivos. De dia eles descansam nas suas sepulturas, mas à noite caminham entre os vivos.”

 

(RR – 28/12/23)







The Hideous Sun Demon (EUA, 1958, PB)

 


“A chama do Sol fez dele um Monstro!”

 

É significativa a quantidade de filmes de orçamentos minúsculos com elementos de Horror e Ficção Científica principalmente das décadas de 50 e 60 do século passado, que utilizam como tema o sub-gênero “Homem Transformado em Monstro”. Geralmente são “cientistas loucos” obcecados pelo trabalho incansável para o suposto bem da humanidade, perdendo o controle das experiências bizarras mal sucedidas com resultados catastróficos, utilizando cobaias humanas e muitas vezes até eles próprios, transformando-se em monstros ameaçadores com suas mentes ainda mais distorcidas.

The Hideous Sun Demon” (EUA, 1958) é mais um filme bagaceiro situado nesse contexto, abordando a ideia de transformação em monstro, apesar que de forma mais sutil em relação ao perigo na manipulação de elementos radioativos e ações inescrupulosas dos responsáveis pelas pesquisas e experiências. A direção, roteiro e produção são Robert Clarke, que também atua na liderança do elenco como o homem da ciência que virou um monstro disforme. Com fotografia original em preto e branco, o filme está disponível gratuitamente na internet pela plataforma “Youtube”, com a opção de legendas em português e também numa versão colorizada por computador.

  

O cientista Dr. Gilbert McKenna (Robert Clarke) está trabalhando num projeto com um isótopo radioativo, auxiliado pelo colega Dr. Frederick Buckell (Patrick Whyte) e a assistente Dra. Ann Russell (Patricia Manning). Acidentalmente ele recebe grandes doses de radiação e é levado ao hospital ficando aos cuidados do Dr. Stern (Robert Garry). Porém, sempre que exposto aos raios solares, que funcionam como catalisador na alteração de suas células, ocasionando um processo de reversão, ele se transforma num monstro assassino parecido com lagarto (daí o título do filme).

Transtornado com sua nova condição, tendo que sair apenas à noite e com problemas recorrentes com alcoolismo, o cientista recebe a tentativa de ajuda de um especialista em envenenamento por radiação, o Dr. Jacob Hoffman (Fred La Porta), mas sentindo-se solitário e deprimido, conhece uma cantora e pianista numa boate, Trudy Osborne (Nan Peterson), e se envolve em várias confusões, sendo perseguido pela polícia, com equipe liderada pelo Tenente Peterson (William White), se escondendo num capo de extração de petróleo e culminando num desfecho no alto de uma torre.   

 

O filme explora principalmente o drama pessoal do cientista transformado em monstro quando exposto ao sol, na dificuldade em administrar as mudanças para uma criatura mutante e ameaçadora, deixando mais de lado as questões científicas, tanto que não temos o esperado laboratório com aparelhos bizarros, nem a rotina das experiências com radioatividade e não é mostrado o acidente com o cientista.

Filmado apenas em finais de semana com poucos recursos, equipe de produção com estudantes e elenco amador, é indicado para quem aprecia esses filmes tranqueiras com efeitos práticos paupérrimos, com destaque para o monstro pré-histórico reptiliano, bagaceiro e divertido como sempre, o “Horrível Demônio do Sol”, com o ator Robert Clarke vestindo um traje tosco de borracha, e que ainda assim é bem interessante e melhor que muitos outros monstros similares de filmes da mesma época e temática.

Robert Clarke (1920 / 2005) é um nome conhecido por diversas outros filmes bagaceiros divertidos do gênero fantástico como “O Homem do Planeta X” (1951), “The Astounding She-Monster” (1957), “The Incredible Petrified World” (1959), “Além da Barreira do Tempo” (1960), e até tranqueiras no fim da carreira como “Alienator – A Exterminadora Indestrutível” (1990).

 

(RR – 17/12/23)





O Elo Perdido (Land of the Lost, EUA, 1974/1976, série de TV)

 


“Marshall, Will e Holy, em uma viagem de rotina enfrentaram o maior terremoto já visto. Descendo a correnteza que atingiu seu pequeno bote, e os lançou para outra dimensão. Para o Elo Perdido.”

 

Essa é a introdução da série de TV “O Elo Perdido” (Land of the Lost, EUA, 1974 / 1976), apresentada como música tema que ficou eternizada na memória de quem assistiu na televisão nas décadas de 70 e 80 do século passado.

Os roteiros apresentavam elementos sobrenaturais e de ficção científica, com ambientação numa dimensão paralela, povoada por dinossauros variados e criaturas humanoides parecidas com macacos, chamados de “pakuni”, e alienígenas similares a lagartos conhecidos como “sleestak”, entre outras bizarrices. Mas as histórias eram bem ingênuas e fantasiosas, com efeitos práticos toscos utilizando a técnica de “stop motion”. Independente disso, ou justamente por isso tudo, por essas características bagaceiras, a série sempre despertou um estranho fascínio que garantiu a diversão de gerações que ficavam grudadas na televisão para ver seus episódios curtos de aproximadamente 25 minutos.

Produzida por Marty e Sid Krofft, a série teve três temporadas com total de 43 episódios (17 + 13 + 13). Para a satisfação dos colecionadores e apreciadores de mídia física, foi lançada por aqui em DVD e também está disponível completa em vários canais na plataforma de vídeos on line “Youtube”, dublada ou com opção de legendas em português.

 

O guarda florestal Rick Marshall (Spencer Milligan) e seus dois filhos adolescentes, Will (Wesley Eure) e Holly (Kathy Coleman) estavam fazendo um passeio despretensioso de barco quando foram surpreendidos por um terremoto e a correnteza do rio em que estavam os levou direto para uma cachoeira que abriu um portal do tempo, lançando-os para uma dimensão dominada por animais pré-históricos, o “Elo Perdido”.

A partir daí, num primeiro instinto de sobrevivência num ambiente hostil, eles se refugiam numa caverna no alto de uma montanha para depois tentarem entender o que aconteceu e onde estão, passando a explorar a região, e se defendendo da ameaça mortal de dinossauros ferozes, como o tiranossauro macho “Zangado” e o alossauro fêmea “Alice”, que mora na “Cidade Perdida”, um complexo de ruínas que esconde cavernas e corredores no subsolo, povoadas pelos “sleestaks”.

A família Marshall encontra também um filhote de brontossauro, “Tonto”, e um grupo de “pakunis” formado pelo macho “Ta” (papel dividido entre Scutter McKay e Joe A. Giamalva), a fêmea “Sa” (Sharon Baird) e a criança “Cha-Ka” (Phillip Paley), que faz amizade com eles, principalmente com Holly.

Os encontros com os noturnos e esverdeados “sleestaks” sempre são turbulentos, com confrontos para definir uma suposta supremacia nesse mundo selvagem. Eles não falam nas primeiras temporadas, apenas emitem um ruído que ficou na memória dos fãs da série, exceto por Enik (Walker Edmiston), um ancestral superior em inteligência, de cor dourada e estatura menor, que tem participação importante em vários episódios nas tentativas de solucionar os diversos problemas e desafios que surgiam.

Entre as diversas aventuras e situações bizarras, a família descobre a existência de pequenas estruturas piramidais misteriosas chamadas de “pylons” (pilões), que guardam em seu interior painéis com cristais coloridos que possuem o poder de controlar o clima, com tempestades, escuridão ou excesso de calor. Essas estruturas estranhas se revelam portais do tempo, com possibilidades de abrir passagens para outras dimensões e épocas.

 

Com o sucesso das duas primeiras temporadas e a criação de uma rede fiel de fãs, foi produzida uma terceira que teve muitas alterações, desde o elenco até as histórias que tornaram-se ainda mais fantasiosas e com personagens novos e nitidamente deslocados da ideia básica.

O ator Spencer Milligan decidiu sair da série por questões financeiras e então seu personagem Rick Marshall foi sugado por um portal do tempo, saindo do “Elo Perdido”. Em seu lugar veio o irmão “Tio Jack” (Ron Harper, um rosto conhecido pela série de TV “O Planeta dos Macacos”, 1974). Ele estava à procura da família desaparecida e seguindo seus passos também atravessou o mesmo portal, sendo lançado ao passado no vale dos dinossauros e reencontrando os sobrinhos.

Nesta terceira e última temporada, um terremoto destrói a caverna onde moravam, obrigando-os a se mudarem para um templo dos “sleestaks” na “Cidade Perdida”. Os “pakunis” Ta e Sa saem de cena e Cha-Ka agora aprendeu o idioma dos humanos. O filhote de brontossauro “Tonto” também desaparece e surgem outros novos dinossauros, um deles bem extravagante, que mora no pântano e tem duas cabeças, uma espécie de plesiossauro, um réptil aquático apelidado de “Lulu”, e outro chamado de “Maçarico” ou “Tocha”, algo similar a um dimetrodon que solta fogo pela boca.

Além do inteligente Enik, agora temos um líder dos “sleestaks” (Jon Locke) que também fala ao invés de apenas soltar aqueles ruídos característicos da raça.

Will Marshall também decide cantar pequenas músicas bregas nessa terceira temporada, e as histórias ficam ainda mais exageradas na fantasia com a adição de personagens estranhos e fora do contexto. Na segunda temporada já tinha surgido o sarcástico alienígena iluminado “Zarn” (Van Snowden), que tem um robô, vive em sua nave encalhada num pântano nebuloso e que não suporta as emoções humanas.

Na temporada final apareceram vários personagens bizarros como o humano pré-histórico “Malak” (Richard Kiel), a criatura mitológica “Medusa” (Marion Thompson), com serpentes na cabeça e que vive no “Jardim da Eternidade” (talvez o episódio mais extravagante de toda a série), e o monstro peludo “Konak”, um “Abominável Homem das Neves” que vive nas “Terras Altas”.

Além dos que vieram de outras dimensões e tempos como o baloeiro explorador “Coronel Roscoe T. Post” (David Healy), vindo de 1920, o consertador “William Blandings” (Laurie Main), cuja missão era reparar erros cometidos no passado que poderiam alterar o futuro, o espírito amaldiçoado do “Capitão Ruben Van de Meer” (Rex Holman) de um navio fantasma, inspirado na lenda do “Holandês Voador” (outro episódio extremamente bizarro), um índio pajé chamado “Lobo Solitário” (Ned Romero), que veio de 1877 e é perseguido por um soldado, o “Capitão Elmo Diggs” (Gregory Walcott), entre outros.

 

“O Elo Perdido” seguiu os passos de várias outras séries e também virou franquia inspirando a produção de outra série similar em 1991/1992 e um filme homônimo em 2009, desnecessário e entediante, dirigido por Brad Silberling e com o comediante Will Ferrell.

Em 2019, a “Editora Estronho” lançou o livro “A Família Marshall e o Elo Perdido”, de Saulo Adami, com informações de bastidores da cultuada série.

 

(RR – 17/11/23)







Monster From Green Hell (EUA, 1957, PB)

 


 

“Esta é a Era do Foguete, o jato, energia atômica. Quando o Homem se prepara para alcançar as estrelas. Mas, antes que Ele ouse lançar-se ao espaço, há uma ótima pergunta a ser respondida: O que acontece com a vida no vazio sem ar acima da atmosfera da Terra? A vida permanecerá intocada, ilesa por seu voo no espaço, ou vai se transformar em quê? Havia apenas uma maneira de descobrir, e estávamos trabalhando nisso.” – cientista Dr. Quent Brady

 

Com esse prólogo narrado tem início “Monster From Green Hell” (1957), título sonoro e sensacionalista para mais um filme com elementos de Ficção Científica e Horror típico do divertido e extravagante cinema fantástico de baixo orçamento dos anos 50 do século passado. Com a temática de “monstros gigantes”, mais especificamente “big bug”, apresentando um inseto colossal, uma vespa mutante contaminada por radiação cósmica, e também flertando de forma um pouco mais sutil com o subgênero “cientista louco”, através de experiências envolvendo animais lançados em foguetes ao espaço para testar a sobrevivência num ambiente desconhecido, como informa a narração de abertura.

Dirigido por Kenneth G. Crane e fotografia original em preto e branco, está disponível no “Youtube” com a opção de legendas em português e também em versão colorizada por computador.

 

Os cientistas americanos Dr. Quent Brady (Jim Davis) e Dan Morgan (Robert Griffin) estão trabalhando num projeto para estudar os efeitos da radiação cósmica em animais enviados ao espaço, como macacos, vespas, caranguejos e aranhas. O objetivo é tentar assegurar a sobrevivência saudável de humanos astronautas num programa espacial pioneiro. Depois que eles perdem o controle de um dos foguetes que caiu no continente africano, e com a notícia de um inseto gigante instaurando pânico nos nativos com mortes causadas por grandes doses de veneno nas vítimas, os cientistas decidem realizar uma expedição para uma região inóspita conhecida como “Inferno Verde” (do título original) para investigar.

Auxiliados pelo experiente guia árabe Mahri (Eduardo Ciannelli), eles desejam chegar até o hospital comunitário do Dr. Lorentz (Vladimir Sokoloff), que cuida dos nativos supersticiosos. Ele trabalha com sua filha Lorna (Barbara Turner) e recebe o apoio fiel de um líder local, Arobi (Joel Fluellen).

A expedição enfrenta muitas dificuldades no caminho, com forte calor, excesso de chuvas e ataques de nativos hostis, e após localizarem o acampamento do Dr. Lorentz, eles partem em busca do monstro gigante, próximo de um vulcão ativo, culminando num confronto decisivo. 

 

Numa época com simulação de computadores gigantescos, “Monster From Green Hell” é um daqueles filmes toscos e divertidos justamente pela história exagerada abordando a paranoia nuclear que se estabeleceu após o fim da Segunda Guerra Mundial e início da guerra fria entre EUA e URSS. Um período de medo das consequências do uso de energia atômica e a possibilidade de seus efeitos destrutivos sobre o planeta e a humanidade, na pressão da corrida pela exploração espacial e da disputa armamentista das grandes potências para a criação de bombas de destruição em massa.

O filme é bem curto, com apenas 70 minutos, e boa parte dessa duração ainda é preenchida por imagens de arquivo, com aproveitamento de cenas de outros filmes. Com orçamento reduzido, os efeitos práticos são bem precários, mas divertidos, com os ataques da vespa gigante, numa época sem as facilidades da computação gráfica, e que infelizmente aparece pouco (fato comum nos filmes bagaceiros do período), justamente pelas dificuldades técnicas. Para simular o inseto gigante foram utilizadas maquetes toscas da vespa em tamanho descomunal, ou filmagens em “stop motion” de miniaturas, como no caso de um confronto da vespa com uma cobra.    

 

(RR – 14/11/23)





Monstrosity / The Atomic Brain (EUA, 1963, PB)

 


“A morte pode ser derrotada? O segredo da vida eterna está logo ali? Hoje em dia a ciência médica faz reparações de corpos mutilados, transplantando pele, olhos, membros e até órgãos vitais. O próximo passo será o transplante de cérebro humano? Muitos cientistas dizem que sim, mas fazem uma pausa e d/ao um aviso sombrio. Pois as antigas lendas populares falam de vampiros sugadores de sangue que saem de suas tumbas para se alimentarem dos corpos de suas vítimas indefesas. Estará o Homem condenado a produzir uma raça de monstros imortais pior do que os vampiros das lendas? Poderão homens e mulheres impiedosos de grande riqueza e poder comprar ou roubar corpos vivos jovens e belos para que seus cérebros possam viver para sempre? Estas questões podem parecer extravagantes, mas neste extato momento os cientistas estão trabalhando para realizar transplantes de cérebros. E eles utilizam corpos humanos.”

 

Com fotografia original em preto e branco e disponível no “Youtube” com a opção de legendas em português e também em versão colorizada por computador, “Monstrosity” (1963), dirigido por Joseph V. Mascelli e finalizado pelo produtor Jack Polexfen (não creditado), é mais um filme picareta do cinema fantástico bagaceiro do extremamente produtivo período entre os anos 50 e 60 do século passado. Explorando os temas de “cientista louco” e “pessoas transformadas em monstros”, o filme é curto com apenas 65 minutos num roteiro absurdo com experiências envolvendo radiação, numa época conturbada com o medo constante das consequências do uso indevido de energia atômica.   

 

Uma idosa avarenta e rica, Sra. Hetty March (Marjorie Eaton), interessada em vida eterna, está financiando as experiências bizarras de um “cientista louco”, Dr. Otto Frank (Frank Gerstle), que aceita os recursos para seus projetos científicos envolvendo reanimação de cadáveres e transplantes de cérebros com o uso de radioatividade, alegando a sempre boa intenção de fazer algo para o bem da humanidade como um incompreendido homem da ciência (clichê da maioria dos “cientistas loucos” do cinema bagaceiro). Inicialmente com transplantes de animais em pessoas, com resultados fracassados criando “monstruosidades” como um homem com cérebro de cachorro e uma mulher com cérebro de gato, além de outra bela mulher (Margie Fisco) cujo cadáver foi roubado do cemitério e que se transformou em zumbi vagando sem rumo pela casa e arredores.

A ideia era transplantar o cérebro da tirana Sra. March num corpo mais jovem, através de uma cirurgia pioneira do cientista e para a escolha do modelo adequado, foram recrutadas três belas moças estrangeiras com a falsa promessa de trabalho na mansão, como a mexicana Anita Gonzalez (Lisa Lang), a inglesa Beatrice Mullins (Judy Bamber) e a austríaca Nina Rhodes (Erika Peters), com o serviço sujo sempre executado por Victor (Frank Fowler), uma espécie de gigolô interessado apenas na fortuna da velha.

 

“Ele encontrou uma maneira para enganar a morte? Ou criou outra monstruosidade?

 

“Monstrosity” é um filme ruim e é uma pena que diverte pouco, pois o apreciador do antigo cinema fantástico bagaceiro terá que se contentar apenas com alguns elementos sutis de horror gótico com os porões sombrios da mansão da idosa milionária, que abriga o laboratório do “cientista louco” com seus aparelhos e máquinas elétricas bizarras, incluindo um cíclotron, numa atmosfera levemente sinistra nos corredores e salas onde a morte parece rondar à espreita. Os efeitos práticos do laboratório são de Ken Strickfaden, o mesmo criador da parafernália similar nos clássicos “Frankenstein” (1931) e “A Noiva de Frankenstein” (1935), da produtora “Universal”.

Faltam monstros toscos e os realizadores perderam uma grande oportunidade, mesmo com um orçamento pequeno, de apresentar um desfile de atrocidades com criaturas mutantes obtidas pelas experiências misturando animais domésticos e pessoas.   

O filme foi feito em 1958, mas somente foi lançado em 1963 depois de muitas dificuldades financeiras. Também é conhecido pelo título original alternativo “The Atomic Brain”. Seguindo uma prática vista em inúmeros filmes similares da época, tem um narrador não creditado para tentar criar uma ideia sensacionalista, e parte de suas frases ilustram esse texto. Ele é o ator Bradford Dillman (1930 / 2018), que esteve em vários filmes divertidos do cinema de gênero como “Balada Para Satã” e “A Fuga do Planeta dos Macacos” (ambos de 1971), além de outras tranqueiras como “Praga Infernal” (1975) e “Piranha” (1978). Ele é irmão de um dos roteiristas, Dean Dillman Jr..

  

“Tal como acontece com os outros corpos roubados de cemitérios, as terminações nervosas do cérebro estavam demasiado danificadas para receberem um transplante adequado. O experimento não conseguiu produzir nada além de uma criatura parecida com um zumbi que andava e respirava. Mas o médico permitiu que ela andasse pelo laboratório - ela era inofensiva e às vezes até divertida.”

 

(RR – 31/10/23)







Night Fright (EUA, 1967)


 

Até para os apreciadores do cinema antigo bagaceiro de Horror e Ficção Científica existem filmes ruins difíceis de digerir. “Night Fright” (1967), de James A. Sullivan, é certamente um deles. Mesmo sendo curto com apenas 1h15min., a história é tão carregada de clichês e com um ritmo tão arrastado que deveria ser apenas um curta metragem com aproximadamente 25 minutos e já estaria dando o seu recado. Mas, com a decisão dos realizadores em estender a duração convidando o espectador ao sono por pelo menos dois terços do filme, deixando apenas para o final algumas cenas de perseguição com o monstro assassino, o destino inevitável é o limbo do esquecimento dos filmes ruins. 

 

Com fotografia em cores e disponível no “Youtube” com a opção de legendas em português, a sinopse básica utilizada para a divulgação do filme já apela para prováveis “spoilers” na tentativa de atrair algum interesse para os fãs de bagaceiras com monstros, ao revelar que numa experiência secreta do programa espacial do governo americano, um foguete com cobaias animais é lançado ao espaço para estudar os efeitos da radiação cósmica, e ao retornar para a Terra uma enorme criatura mutante parecida com um macaco distorcido, começa a aterrorizar uma pequena comunidade rural assassinando violentamente as pessoas que cruzarem o seu caminho.

O xerife local Clint Crawford (John Agar, cujo nome estampa os cartazes promocionais), lidera as investigações das mortes, auxiliado pelos ajudantes Ben Whitfield (Bill Thurman) e Pat Lance (Bill Holly), além de sua noiva, a enfermeira Joan Scott (Carol Gilley) e o jornalista Wes Blau (Gary McLain). O policial também pede ajuda ao amigo Prof. Alan Clayton (Roger Ready) para descobrir alguma informação científica sobre a fera que ataca na floresta. E tenta em vão impedir um grupo de jovens rebeldes apenas interessados em diversão com músicas, danças, festas e futilidades, de fazer parte do cardápio do monstro. Entre eles, o casal de namorados Chris Jordan (Ralph Baker Jr.) e Judy (Dorothy Davis), irmã de Joan e futura cunhada do xerife.    

 

Durante a maior parte de “Night Fright” não acontece nada de relevante, com o roteiro apenas mostrando os jovens se divertindo, mais algumas poucas mortes fora da tela em cenas escuras demais e propositais para ajudar a esconder a criatura mutante, e a investigação sempre trivial do xerife. Apenas no terço final com a exposição mais clara do monstro e alguma movimentação com ataques e perseguições, o espectador emerge de uma sessão de relaxamento induzido e acorda para o que realmente interessa nesses filmes bagaceiros de orçamentos minúsculos, através do confronto final entre o monstro assassino e seus algozes.  

Curiosamente, o título do filme é parecido e pode se confundir com o clássico de vampirismo dos anos 80 “A Hora do Espanto” (1985), de Tom Holland e com Roddy McDowall, cujo nome original é “Fright Night”.

O ator John Agar (1921 / 2002) é o principal nome do elenco, com um currículo repleto de bagaceiras divertidas como “Tarântula!” (1955), “O Templo do Pavor” (1956), “O Cérebro do Planeta Arous” (1957), “Invasores Invisíveis” (1959), “Monstro do Planeta Perdido” (1962) e “O Monstro de Vênus” (1967), entre outros.

  

(RR – 24/10/23)




Evil Dead - A Morte do Demônio - Arquivos Mortos (livro de Bill Warren, 2000)

 


Assim como fez com o clássico “O Massacre da Serra Elétrica” (The Texas Chainsaw Massacre, 1974), dirigido por Tobe Hooper, lançando no Brasil um livro com os bastidores da franquia, a Editora “Dark Side” também presenteou os fãs brasileiros com um livro sobre a saga “The Evil Dead”, de Sam Raimi.

Com autoria de Bill Warren, “Evil Dead – A Morte do Demônio (Arquivos Mortos)” foi lançado em 2000, e no Brasil em 2013 em duas versões, sendo uma delas com capa dura, fazendo parte da “Coleção Dissecando – Filmes Clássicos de Terror”.

São muitas informações e curiosidades sobre a produção dos filmes, com detalhes que devem interessar especialmente os apreciadores do cinema de Horror e fãs de Sam Raimi e sua equipe, responsáveis por uma franquia que registrou sua marca na história do gênero.

No início, o livro conta as dificuldades sobre as primeiras produções do grupo formado principalmente pelo diretor Sam Raimi, o ator Bruce Campbell e o produtor Rob Tapert, que culminou com o filme “Evil Dead”, de roteiro simples, mas carregado de tensão, mortes violentas, sangue em profusão e excelentes efeitos práticos, típicos dos saudosos anos 80 do século passado.

Entre as informações interessantes, temos os bastidores do curta metragem “Within the Woods” (1978), projeto que inspirou “Evil Dead”, e revelações como o fato de que Sam Raimi e Bruce Campbell eram fãs de comédia pastelão no estilo de “Os Três Patetas”, e por outro lado também eram apreciadores de filmes de baixo orçamento, bagaceiros, divertidos e criativos, que influenciaram a produção de “Evil Dead”, como “A Noite dos Mortos-Vivos” (1968), “O Massacre da Serra Elétrica” (1974) e “Quadrilha de Sádicos” (1977).

Depois de concluídas as filmagens de “The Evil Dead” e iniciado os esforços para vender o filme, o trio formado por Raimi,  Tapert e Campbell percebeu que não tinha registros fotográficos da produção para utilizar em campanhas promocionais, então chamaram uma atriz e montaram fotos para os posters de divulgação, incluindo a cena de Ash ensanguentado com a motosserra, protegendo uma moça indefesa atrás de si e a famosa montagem de uma mão saindo da cova agarrando o pescoço de uma mulher, cena que não existe exatamente no filme, mas ilustra muito bem a ideia conceitual do roteiro, e estampa um dos principais cartazes.

O filme recebeu uma grande ajuda para impulsionar o interesse do público vinda do popular escritor Stephen King, que elogiou bastante numa resenha que escreveu para a revista “Twilight Zone”, sendo decisiva para o sucesso de “The Evil Dead”, juntamente com o distribuidor Irvin Shapiro. Curiosamente, o filme foi considerado tão sangrento e violento que teve proibições de exibição na Inglaterra e Alemanha.

                Entre a infinidade de informações do universo ficcional de “Evil Dead”, as mais interessantes são os comentários de Bruce Campbell sobre cenas e curiosidades de bastidores da trilogia, no melhor estilo dos tradicionais materiais extras que temos em lançamentos dos filmes em versões físicas de DVD.

Tem também um breve capítulo extra sobre a refilmagem de 2013 do diretor uruguaio Fede Alvarez.

Não foram abordados no livro, mas vale a pena citar que além da trilogia original e a refilmagem de 2013, fazem parte ainda da franquia a série “Ash vs. Evil Dead”, com três temporadas de 10 episódios cada entre 2015 e 2018, extremamente sangrenta, porém mais voltada para o “humor negro”, e “A Morte do Demônio: A Ascensão” (Evil Dead Rise, 2023), que estreou nos cinemas brasileiros em 23/04/23.

 

Evil Dead – A Morte do Demônio (Arquivos Mortos)” (The Evil Dead Companion, 2000)

Autor: Bill Warren

Editora “Dark Side” (Rio de Janeiro/RJ). Lançado no Brasil em 2013. Tradução de Dalton Caldas.

“Coleção Dissecando – Filmes Clássicos de Terror”. Formato: 16 x 23 cm. 320 páginas.





Teenage Monster (EUA, 1957, PB)

 


“Em um fatídico dia em Junho de 1880 numa remota cidade do velho oeste americano, um objeto misterioso que caiu do céu mudou as vidas e destinos de toda uma pequena comunidade. Esta história é baseada numa lenda que passou adiante através dos anos... ela poderia ter acontecido...”

 

Juntando elementos sutis de “Ficção Científica” (a queda de um meteoro que causou um efeito de mutação numa criança), com “Horror” (transformação dessa criança num monstro assassino), e “Western” (ambientação no velho oeste americano de 1880, numa pequena cidade nas proximidades de uma mina de ouro), temos como resultado o filme bagaceiro “Teenage Monster” (1957), de Jacques R. Marquette e que está disponível no “Youtube” em versão original em preto e branco e também colorizada por computador, com a opção de legendas em português.

 

O menino Charles Cannon (Stephen Parker) está com seu pai Jim (Jim McCulloug) tentando encontrar ouro em escavações numa mina, quando um meteoro cai do céu. O pai morre no acidente e o garoto fica gravemente ferido.

Passados sete anos, ele já é um adolescente impetuoso que vive escondido com sua mãe Ruth (Anne Gwynne), pois acabou se transformando num monstro cabeludo com rosto deformado e mãos peludas, interpretado pelo dublê Gilbert Perkins (com 50 anos na época), que comete assassinatos brutais na região, despertando a atenção do xerife Bob Lehman (Stuart Wade), que é apaixonado pela viúva Ruth, e seu assistente Ed (Norman Leavitt).

Enquanto isso, o deformado Charles sequestra a jovem camareira Kathy North (Gloria Castillo), que se revela uma pessoa inescrupulosa que vira o jogo se aproveitando da inocência infantil do “monstro adolescente” do título, para conquistar sua confiança e usar sua força selvagem para matar e obter dinheiro desonesto, usando de chantagem e tentando colocá-lo contra sua mãe protetora.    


“Teenage Monster” tem apenas 65 minutos de duração e trata-se de mais uma diversão literalmente rápida e também passageira, com uma história que se esquece exatamente logo em seguida de seu final, como muitos filmes tranqueiras de horror semelhantes produzidos nos anos 50 do século passado. Sem destaques, com roteiro explorando a temática de “homem transformado em monstro”, com algumas cenas de mortes sem sangue, uma maquiagem fuleira do assassino deformado, e desfecho previsível. Vale apenas por curiosidade e indicado aos apreciadores do cinema fantástico bagaceiro do passado.

O filme recebeu também o título alternativo “Meteor Monster”, que até seria utilizado inicialmente, mas com a onda de sucessos do mesmo período com vários filmes similares de monstros utilizando a palavra “teenage” no nome, os produtores decidiram mudar também numa estratégia de marketing, somando-se com “Teenage Caveman”, “Teenage Zombies”, “I Was a Teenage Werewolf”, “I Was a Teenage Frankenstein”, entre outros.

  

(RR – 26/09/23)






O Primeiro Homem no Espaço (First Man Into Space, Inglaterra, 1959, PB)

 


“A conquista de novos mundos sempre faz exigências de vida humana. E sempre existirão homens que aceitarão o risco.” – Dr. Paul von Essen

 

A guerra fria entre Estados Unidos e a antiga União Soviética após o fim da Segunda Guerra Mundial, gerou uma tensão constante em nosso planeta com o medo de um holocausto nuclear com bombas atômicas e também uma corrida de conquista espacial entre as duas grandes potências. Os soviéticos saíram na frente colocando o primeiro homem no espaço em 1961, o astronauta Yuri Gagarin, e a resposta americana viria em 1969 com a nave Apollo 11 chegando até a Lua. De qualquer forma, a corrida espacial instigou a imaginação dos roteiristas de cinema e uma infinidade de filmes sobre o tema foi lançada durante as décadas de 1950 e 1960. “O Primeiro Homem no Espaço” (First Man Into Space) é um filme inglês de 1959, dois anos antes da viagem do astronauta russo pelo espaço sideral, e é uma produção de baixo orçamento inglesa, com direção de Robert Day.

 

Em Albuquerque, cidade no Estado americano do Novo México, uma base militar está realizando testes com o lançamento de foguetes para o espaço. Sob a liderança do Comandante Charles Ernest Prescott (Marshall Thompson), auxiliado pelo Capitão Ben Richards (Robert Ayres) e o médico da Aeronáutica Dr. Paul von Essen (Carl Jaffe), um projeto com o foguete Y-13 está em andamento. Com o piloto de testes Tenente Dan Milton Prescott (Bill Edwards), irmão do Comandante, sendo lançado ao espaço a partir de um avião em grande altitude. O piloto tem uma bela namorada, Tia Francesca (a italiana Marla Landi, de “O Cão dos Baskervilles”, produção da “Hammer” de 1959), que trabalha com cardiologia para o Dr. von Essen, mas graças a sua rebeldia de jovem impetuoso, ávido em ser o “primeiro homem no espaço” (do título do filme), ele desobedece as regras e o foguete supera os limites de controle, ficando à deriva no espaço e sendo afetado por uma tempestade de poeira cósmica de meteoritos. Um módulo com o piloto é ejetado do foguete e retorna à Terra, porém com um estranho recobrimento na fuselagem que intriga as autoridades. O piloto de testes não é localizado e é dado inicialmente como desaparecido. Porém, tem início uma série de mortes misteriosas de animais e pessoas nas proximidades, com as gargantas cortadas e ausência de sangue, sempre com a presença de misteriosos pontos brilhantes nas vítimas, despertando a atenção das investigações.

 

“O Primeiro Homem no Espaço” está disponível no “Youtube” tanto em sua versão original em preto e branco quanto numa versão colorizada por computador, com a opção de legendas em português. É um filme com roteiro pretensioso e produção com características do cinema fantástico bagaceiro dos anos 50 do século passado. O centro de comando tem todos aqueles computadores imensos e painéis de controle cheios de mostradores, botões e luzes, o foguete é uma maquete tosca e o monstro assassino é um homem deformado vestido numa roupa bizarra de borracha, com os sempre divertidos efeitos práticos. Com fotografia em preto e branco, o filme faz parte do subgênero conhecido como “homem transformado em monstro”, tão comum na época, com uma infinidade de histórias similares onde as pessoas transformavam-se em monstros como consequência da curiosidade em desbravar o desconhecido, ultrapassando os limites da ciência. Vale destacar os ataques do monstro, o piloto mutante que voltou do espaço recoberto com uma camada de poeira de meteoritos, uma espécie de crosta criada pela exposição aos raios cósmicos que servem como uma blindagem contra disparos de armas de fogo, mas que também necessita do sangue de suas vítimas.

A abordagem desses homens intrépidos que se transformam em monstros perturbados sempre é interessante, enfatizando o drama de suas novas condições, como nas palavras de desespero do piloto de testes, “... andei sem rumo por um labirinto de medo e dúvidas...”. Os ataques do monstro podem ser considerados até bem violentos para a época da produção, e certamente os realizadores conseguiram impressionar a plateia. Mas, projetando um paralelo com os dias atuais, as cenas são inocentes e ingênuas quando comparadas com similares numa infinidade de filmes onde a violência é explícita, com um horror gráfico repleto de mutilações e sangue em profusão, que deixariam as audiências dos anos 50 traumatizadas. São as mudanças que ocorrem com o passar dos anos, e a humanidade cada vez mais está se acostumando com a violência e se impressionando menos.

Curiosamente, uma história bem similar foi filmada em 1977 na divertida bagaceira “O Incrível Homem Que Derreteu” (The Incredible Melting Man), escrito e dirigido por William Sachs, e com efeitos de maquiagem de Rick Baker. Nesse filme, um astronauta parte numa missão espacial aos anéis de Saturno, e ao retornar para a Terra, seu corpo começou a se deteriorar de forma crescente, derretendo literalmente e transformando-se numa massa gosmenta de fluídos, músculos, carne e ossos partidos, deixando um rastro de sangue e vítimas por seu caminho.

Outra curiosidade interessante é que o ator americano Marshall Thompson (1925 / 1992) participou de outras pérolas do cinema fantástico bagaceiro dos anos 50 como “Maldição da Serpente” (Cult of the Cobra, 1955), “O Horror Veio do Espaço” (Fiend Without a Face, 1958) e “A Ameaça do Outro Mundo” (It! The Terror From Beyond Space, 1958). Além de uma grande variedade de séries de TV como a popular “Daktari” (1966 / 1969).

 

(RR – 21/09/15 + 17/09/23)





In the Year 2889 (EUA, 1969)

 


“O dia em que o Senhor virá como um ladrão na noite. Nesse dia os céus irão passar como um assobio. E os elementos serão dissolvidos pelo calor ardente. E a Terra e as obras que nela se encontram serão completamente queimados.”

 

Um dos primeiros filmes de horror e ficção científica do lendário produtor e diretor Roger Corman foi “Day the World Ended” (1955), com fotografia em preto e branco e história explorando o tema da devastação global por uma guerra com bombas nucleares. Em 1969 foi lançada uma refilmagem em cores extremamente fiel, produzida e dirigida por Larry Buchanan, com o título “In the Year 2889”. Curiosamente, esse é o nome de um conto com história diferente do cultuado escritor francês Jules Verne, que seria utilizado de base para um filme, mas cujo projeto não se concretizou e então a produtora “American International Pictures” decidiu usar como título para a refilmagem da película original de Corman.

 

Logo após a hecatombe nuclear, algumas pessoas conseguiram sobreviver ao caos refugiadas numa casa rural no meio de um vale cercado por falésias com reservas de chumbo, ficando protegidas da radiação letal. A casa é de um militar veterano que participou de exercícios com testes de bombas, Capitão John Ramsey (Neil Fletcher), que vivia com sua filha Joanna (Charla Doherty). Apesar de não imaginarem a existência de sobreviventes, eles acabaram recepcionando outras pessoas que tiveram a sorte de chegar ao local, o geólogo Steve Morrow (Paul Petersen), seu irmão doente contaminado pela radiação, Granger (Max. W. Anderson), além do alcoólatra Tim Henderson (Bill Thurman) e um casal de namorados em crise formado pelo playboy arrogante Mickey Brown (Hugh Feagin) e a dançarina de boate Jada (Quinn O´Hara).

Com a necessidade de racionamento dos alimentos e o medo de ocorrerem chuvas saturadas com radiação e morte nuclear, entre outras dificuldades, o grande desafio do grupo é sobreviver no mundo pós-apocalíptico, com os inevitáveis conflitos internos por interesses pessoais. Além também de enfrentar uma criatura mutante (interpretada por Byron Lord), deformada pelos efeitos da radiação, que está vagando pelas redondezas da casa à procura de vítimas.

 

“In the Year 2889” é um filme de ficção científica bagaceira com elementos de horror, explorando a paranoia da guerra nuclear e seus efeitos catastróficos para a continuidade da espécie humana, como a criação de monstros mutantes tão ameaçadores quanto a exposição à radiação.

O tema básico da história é sempre interessante, mesmo sendo um clichê exaustivamente explorado, principalmente pelo medo real que a humanidade enfrentava naquele conturbado período de guerra fria nas décadas de 1950 e 1960 entre as potências Estados Unidos e a antiga União Soviética.

É pena que mesmo sendo um filme curto com apenas 80 minutos, a narrativa é arrastada demais com situações banais de conflitos entre os personagens, perdendo oportunidades para explorar mais as consequências devastadoras da guerra atômica com seus efeitos destrutivos e a nova realidade de um mundo morto. E o que se salva para os apreciadores do cinema fantástico bagaceiro são os efeitos práticos toscos nas poucas cenas com a criatura mutante deformada pela radiação, apesar de ainda ser bem inferior ao monstro de três olhos e chifres do original “Day the World Ended”.

  

 “... Através dos tempos, os profetas advertiram-nos de que um dia, milhares de anos de realizações poderiam ser apagados pela mão destrutiva do poder. Agora esse dia chegou. Todas as comunicações com o mundo exterior cessaram. Apenas 15 horas após a primeira bomba nuclear ter caído. O mundo inteiro foi silenciado, aniquilado por bombas nucleares. Três bilhões de pessoas assassinadas por mil bombas nucleares e as suas consequências letais. Talvez não haja mais ninguém para ouvir a minha voz, nenhum Homem vivo para registrar o fim do mundo...”

 

(RR – 11/09/23)