Devils of Darkness (Inglaterra, 1965)

 


"Conde Sinistre. Nascido em 1588. Condenado por seus crimes infames e bárbaros, a ser enterrado vivo. Porque o seu olho é maligno, todo o seu corpo é cheio de escuridão.”


“Devils of Darkness” (Inglaterra, 1965) é mais um filme abordando a temática do vampirismo com elementos de ocultismo. Dirigido por Lance Comfort, está disponível na plataforma de vídeos “Youtube” em versão original inglesa com opção de legendas em português. 


O Conde Sinistre, Armond du Moliere (Hubert Noël), é um vampiro ancestral que lidera uma seita satânica num pequeno vilarejo na França. Depois de executado pelos aldeões, junto com sua noiva cigana Tania (Carole Gray), seus túmulos são encontrados séculos depois nas escavações de uma caverna, e seu culto maligno retorna às atividades, com vários seguidores numa conspiração satânica. 

Dois turistas ingleses, o escritor Paul Baxter (William Sylvester, de “Gorgo”, 1961) e Anne Forest (Rona Anderson), cruzam o caminho do vampiro, e numa fuga apressada a criatura da noite perde um talismã mágico poderoso, que fica em posse de Paul, devidamente escondido. 

Em paralelo, ocorrem várias mortes misteriosas que despertam a atenção da polícia, na investigação do Inspetor Hardwick (Victor Brooks), com as vítimas apresentando marcas no pescoço, como Keith (Geoffrey Kenion), o irmão de Anne, e o cientista Dr. Robert Kelsey (Eddie Byrne), amigo de Paul. 

Agora a missão do vampiro e seus seguidores é o resgate do talismã, que tem gravuras sinistras de uma serpente e um morcego. Para isso eles utilizam a bela Karen Steele (Tracy Reed), novo interesse amoroso de Paul, num ritual demoníaco que poderia servir de armadilha para recuperar o objeto mágico.  


Pelo título original sonoro e expressivo, “Demônios da Escuridão”, e sendo um filme inglês da década de 1960 com elementos de vampirismo, ocultismo e horror gótico, o apreciador do estilo logo ficaria animado ao lembrar das cultuadas produtoras “Hammer” ou “Amicus” e seus incontáveis filmes preciosos. Mas infelizmente, “Devils of Darkness” não consegue escapar do limbo dos filmes apenas comuns, com história arrastada e pouca atmosfera sombria. É pena que o trailer de divulgação já mostre praticamente tudo que é interessante, ou seja, algumas cenas sinistras de rituais satânicos. Porém, a maior parte do restante do filme é apenas enrolação para chegar na metragem final.


"Demônios das Trevas, Conde Sinistre, nascido em 1588, Armond du Moliere - artista parisiense, estava envolvido em todos os tipos de perversidade e maldade. Ele reivindicou suas vítimas por meio de feitiçaria hipnótica, até que na aldeia de Pelak, na Bretanha, acusado de ser um Vampiro, foi enterrado vivo. Para aqueles que seguiram sua busca pelo poder diabólico da Magia Negra, ele era conhecido como Conde Sinistre, o credo de seus iniciados era obter poder ilimitado sobre Deus, o Demônio e o Homem.”

– do livro “Talismans: The Power of Magic” (1675)


(RR – 24/05/23)




A Garota Diabólica de Marte (Devil Girl From Mars, Inglaterra, 1954, PB)

 


"Professor, eu observei o seu encontro com a parede eletrônica. 
Hoje é você que aprendeu sobre o poder de Marte. Amanhã será o mundo
 inteiro!
– marciana Nyah para o cientista Prof. Arnold Hennessey

 

A equação “disco voador fuleiro” + “robô alienígena tosco” só poderia ter como resultado mais uma divertida tranqueira de ficção científica e horror produzida na nostálgica década de 1950 do século passado, período fértil do cinema fantástico bagaceiro, com uma infinidade de filmes de orçamentos pequenos, roteiros carregados de clichês sem compromisso com lógica e exagerados em fantasia, além de efeitos práticos paupérrimos e divertidos. “A Garota Diabólica de Marte” (Devil Girl From Mars) é um filme inglês curto (só 77 minutos), dirigido por David MacDonald e produzido pelos irmãos Danziger (Edward J. e Harry Lee) com fotografia original em preto e branco.

 

O astrofísico Prof. Arnold Hennessey (Joseph Tomelty) e o jornalista Michael Carter (Hugh McDemott), partem de Londres para um vilarejo no interior da Escócia para investigar um suposto meteoro que passou pelo lugar. Em pleno inverno, eles chegam numa pousada de propriedade do casal de idosos Sr. Jamieson (John Laurie) e esposa (Sophie Stewart), que vivem com seu sobrinho pequeno Tommy (Anthony Richmond) e o ajudante geral David (James Edmond). Chegando lá, eles encontram apenas uma única hóspede, Ellen Prestwick (Hazel Court) e a garçonete Doris (Adrienne Corri). Em paralelo, surge também o presidiário fugitivo Robert Justin (Peter Reynolds), que está usando um nome falso, Albert Simpson, que é namorado de Doris e alega inocência.

Uma vez formado esse grupo de pessoas na pousada, ocorre um evento inesperado com uma nave espacial pousando nas proximidades, tripulada por uma bela mulher vestindo roupas de couro preto, Nyah (Patricia Laffan), que se identifica como vinda de Marte à procura de homens fortes na Terra para ajudar no repovoamento de seu planeta devastado por uma guerra. Com ar de arrogância e superioridade, e utilizando tecnologia muito mais avançada, ela informa que seu destino seria uma cidade mais populosa como Londres, mas erros de cálculos somados a um acidente na entrada em nossa atmosfera obrigou o pouso forçado da nave para o conserto das avarias.

Contando com a ajuda de um enorme robô assassino, Chani (nome bem estranho), responsável por mortes e destruição com uma arma de raios desintegradores, a marciana Nyah decide permitir que alguém do grupo do hotel possa acompanhá-la em sua missão, não imaginando que eles possuem um plano de sabotagem do disco voador.    

 

“A Garota Diabólica de Marte” é mais um filme da época da guerra fria abordando o tema de invasão alienígena hostil. Já vale conferir essa pérola do cinema antigo bagaceiro de FC & Horror, só pela história patética e exagerada no escapismo e pelas várias cenas com a nave alienígena parecendo uma luminária circular, tanto nos momentos de voo quanto parado em solo, além dos cenários de seu interior, o robô hilário de tão tosco e a líder marciana autoritária.

O robô Chani, que mais parece uma lata de sardinha gigante, até que possui algumas similaridades com Gort, na questão dos raios mortais de desintegração. De aparência humanoide, Gort é um dos mais memoráveis robôs do cinema, presente no clássico “O Dia Em Que a Terra Parou” (1951).

Parte da ideia básica da história também pode ser vista na tranqueira americana “Frankenstein Contra o Monstro Espacial” (1965), onde uma líder alienígena sarcástica também vem para a Terra, só que à procura de mulheres para auxiliar no repovoamento de seu planeta.

Para a satisfação de quem se diverte vendo essas preciosidades, “Devil Girl From Mars” está disponível no “Youtube” com opção de legendas em português e também numa versão colorizada. E para os colecionadores de mídia física, foi também lançado em DVD no Brasil com o título “Mulher Diabólica de Marte”, pela “Obras-Primas do Cinema”, na Coleção “Invasão Sci-fi: Extraterrestres”, acompanhado de outros três filmes: “Plano 9 do Espaço Sideral” (1959), “Ele! O Terror Que Vem do Espaço” (1958) e “O Homem do Planeta X” (1951). 

 

(RR – 17/05/23)










Guerra dos Satélites (War of the Satellites, EUA, 1958, PB)

 


"... O aviso do espaço sideral era válido. 
Veio de uma inteligência superior. Uma inteligência capaz
 de transformar energia em matéria, e vice-versa... 
Estou acima do humano... Este satélite nunca mais voltará
 à Terra. Sua desintegração ao entrar em contato com a
 barreira de energia encerrará o Projeto Sigma e todos os
 projetos semelhantes que virão. As criaturas do seu 
planeta ainda não estão prontas para o espaço.”
– Dr. Pol Van Ponder (clone alienígena)

 

Roger Corman é o eterno mestre dos filmes de horror e ficção científica de orçamentos minúsculos, efeitos práticos precários, cenários reaproveitados e histórias escapistas sem preocupação com lógica e conceitos científicos. E é exatamente por tudo isso que seus filmes são divertidos e cultuados. “Guerra dos Satélites” (War of the Satellites, 1958), dirigido e produzido por Corman, com fotografia em preto e branco e duração curta de apenas 66 minutos, é um dos primeiros de sua longa carreira e para a sorte dos apreciadores do cinema de gênero antigo bagaceiro, está disponível no “Youtube” com a opção de legendas em português.

 

O cientista Dr. Pol Van Ponder (Richard Devon) é o líder do projeto espacial “Sigma”, que consiste em explorar o espaço com satélites tripulados. Porém, um misterioso campo de força destrutivo está impedindo a livre movimentação dos satélites, que explodem no espaço. Essa barreira de energia é controlada por uma raça alienígena hostil que não deseja a exploração espacial pela humanidade.

Com o fracasso do projeto e enfrentando grande pressão de opositores devido aos gastos excessivos e mortes dos exploradores voluntários, o cientista decide ele mesmo liderar uma missão, que inclui seus amigos Dave Boyer (Dick Miller, que esteve em vários outros filmes bagaceiros de Corman) e Sybill Carrington (Susan Cabot, de outras tranqueiras preciosas como “A Mulher Vespa”).

Porém, o cientista é assassinado num acidente de carro causado pelos extraterrestres, que criam um clone de seu corpo para tentar sabotar a missão e impedir o sucesso do projeto, restando aos outros tripulantes do satélite descobrir sua real identidade e intenções, lutando por suas vidas, aumentando as fronteiras e eliminando os limites que impediam a exploração do Universo pela raça humana.     

 

Roger Corman utilizou suas habilidades de cineasta e produtor oportunista e ágil para lançar “Guerra dos Satélites” em apenas algumas semanas, aproveitando o momento favorável de marketing gratuito na época com o lançamento em 1957 do satélite Sputnik para orbitar a Terra. Um feito marcante para a humanidade, realizado pela antiga União Soviética durante a corrida espacial na guerra fria com os Estados Unidos.

O roteiro simples não tem compromisso com a ciência e é totalmente voltado para o entretenimento escapista. Os “astronautas” viajam em confortáveis poltronas reclináveis como turistas do espaço. Os efeitos práticos incluem miniaturas toscas de foguetes e satélites, cenários futuristas dos interiores das naves e salas de controle com os tradicionais e imensos painéis de comutação cheios de botões, interruptores, medidores e alavancas.

A narrativa é ágil, não perdendo tempo com futilidades, tanto que a metragem é bem curta com pouco mais de uma hora de filme, que até poderia se confundir devido suas características similares, com um episódio estendido de séries cultuadas de TV do mesmo período como “Além da Imaginação” (The Twilight Zone) ou “Quinta Dimensão” (The Outer Limits).  

Curiosamente, tem até a participação não creditada do próprio Corman como um controlador de voo operando diretamente do solo.   

 

(RR – 10/05/23)